MADA EM REVISTA

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O largo da rua Chile exibia suas fachadas coloridas recém-pintadas e alguns velhos casarões mantinham suas portas abertas para a boêmia, quando a lona do circo foi armada em junho de 1998. Eram outros tempos, como se diz de uma boa história que já se desdobra há 23 anos. O festival Música Alimento da Alma, Mada, nasceu de uma efeméride, tal qual o bairro que primeiro o abrigou. Eram as comemorações de aniversário dos 400 anos de Natal, iniciadas em meados de 1998. Época de grande efervescência do movimento indie no Brasil, quando a cena musical crescia na diversidade e no diálogo com ritmos brasileiros. Bandas e artistas cujos trabalhos já não cabiam mais em palcos escondidos e bares alternativos. Longe do eixo e sem redes sociais, o festival queria mostrar a produção do Rio Grande do Norte. Diretamente do bairro da Ribeira para o Brasil, nascia o Música Alimento da Alma, disse o então repórter Fábio Júdice, do Multishow, enquanto via-se a rua Chile apinhada de gente para ver bandas como Memória Rom, Ravengar, Alphorria, General Junkie, Pedro Mendes, Cleudo e os Bambelocos, Valéria Oliveira, entre outras.

https://www.youtube.com/watch?v=FqeYI1gzwDI&t=79s


O público foi atiçado pela mistura de atrações, convidados de estados vizinhos e a imprensa musical para ver de perto a cena. De Pernambuco veio o Jorge Cabeleira. Ao todo, 17 atrações, 4 convidadas. A primeira edição do festival contou com um patrocínio do projeto Boca da Noite, do Governo do Estado. O MADA atravessou fases, tendências, formas de consumir música e se conectou com as novas gerações, fortalecendose como vitrine para a música feita no Nordeste e no Brasil, e como canal formador de plateias. Diferentes lugares já sediaram o festival, como o bairro histórico Ribeira (1998 a 2003), a Arena do Imirá na beira mar da Via Costeira (2004 a 2011), o bairro das Rocas (2012 e 2013) e o Estádio de futebol Arena das Dunas (2014 a 2017).

Após uma primeira edição de sucesso de público e crítica, especiais em programas Multishow e MTV, nascia oficialmente o Mada. Até então era chamado de Música Alimento da Alma, mas o nome foi sublimado por “culpa” de um repórter da Folha de S. Paulo que esteve em Natal. A segunda edição retornava com o desafio de se firmar diante da repercussão de dois anos atrás. Com dificuldades, o produtor Jomardo Jomas armou o circo de volta à Rua Chile. A diferença: bilheteria,

A partir de acervos de jornais, matérias de

sonhos e muita banda boa, numa

tv, documentários, conversas e fotografia,

edição que teve de tudo:

trazemos recortes de momentos mais

de energia, chuvarada, ciranda à

celebrados do festival, remontando

luz da lua puxada por Clêudo e os

sua trajetória através dos artistas que

Bambelocos. Foram 27 bandas numa

passaram por ela. Alimente-se dessa

maratona de dois dias e meio — a

história.

sexta-feira foi “cancelada” por

Falta

conta do tal blackout que aconteceu na Ribeira (ironia dos tempos da Segunda Guerra?) O ano de 2000 revelou para a cena nacional grupos como a paraibana Flávio Cavalcanti e a potiguar Officina.


“Fazer um festival é um ato de bravura”, definiu o criador do Abril pro Rock. “Acho que daqui se começa uma coisa grande, acreditando na cena local como fez o Abril pro A 3ª edição do Festival Mada

Rock lá atrás”, comentou à época.

bombou. Ganhou até um programa

Da Paraíba e Rio Grande do Norte se

especial no canal Multishow

apresentaram Pau de Dar em Doido,

trazendo a cobertura das três

Cabruêra, Peixe Coco, General

noites e reportagens divertidas

Junkie, Embolafunk, Brigite Beréu,

em cenários icônicos da Cidade do

Parole, Deadly Fate,

Sol, produzidas pelo apresentador

dos destaques do ano foi o alagoano

Fábio Judice.

O ano contou com 25

Sonic Júnior, que sozinho com suas

atrações de vários lugares, Rio de

programações eletrônicas, bateria,

Janeiro, Alagoas, Paraíba, Ceará,

percussão e vozes, fez um dos

Brasília. Por aqui o festival

melhores shows na primeira década

já atraía críticos de música e

do Mada, retornando em 2009, já com

produtores musicais, como Paulo

a carreira consolidada no exterior.

Mad Dogs. Um

André do Abril pro Rock, Felipe Lerena do selo Nikita, Marco Lyrio, André Cananea e outros.

https://www.youtube.com/watch?v=WcJ_F-ymgzM&t=68s



O TÍTULO DA REPORTAGEM DE JUNHO DE 2002 NO JORNAL O GLOBO ESTAVA JUSTIFICADO. O CAMINHO DOS FESTIVAIS ERA PARTE DO PLANO DE CARREIRA DE QUALQUER BANDA ALTERNATIVA QUE BUSCAVA VISIBILIDADE. TRÊS ESTAVAM EM ALTA: O PIONEIRO ABRIL PRO ROCK (PE), FESTIVAL MADA (RN) E O PORÃO DO ROCK (DF). NAQUELE ANO, O MÚSICA ALIMENTO DA ALMA FOI A PLATAFORMA DE VÔO DOS CARIOCAS DO DETONAUTAS, POIS GRAÇAS A ÓTIMA REPERCUSSÃO DO SHOW, O GRUPO CONSEGUIU GRAVAR SEU PRIMEIRO DISCO, “SILVER TAPE”. O festival também projetou o Cabruêra para além da cena paraibana. Para os potiguares, um festival do porte do Mada era meio caminho andado sem sair de casa. Segundo o jornalista Bruno Porto, ‘vale usar parte do dinheiro economizado para gravar o Cd e fazer shows em galpões para conseguir bancar a passagem de avião, ou o aluguel de van”, como fizeram as 21 bandas do Sudeste e Nordeste que tocaram na 4ª edição do Mada. A edição já ocupava o largo da rua Chile, numa ainda charmosa Ribeira, com seus

bares revitalizados servindo de backstage. Com quatro noites (de 22 a 25 de maio), o Mada cresceu e ganhou a atenção da mídia. A ótima estrutura e palcos maiores, o festival também estreava seu primeiro patrocinador, a empresa de telefonia BCP, além dos apoios municipal e estadual. General Junkie (RN), Jumenta (CE), Candhum B (PB) e Som Tomé (RJ) e Acid-X (RJ) foram alguns sons que mandaram bem e chamaram a atenção do público, conseguindo aquele registro nos cadernos culturais de então. Nomes da cena regional já conhecidos também fizeram a alegria do público local, caso do paraibano Totonho e os Cabra. O músico Marcelo Gandhi também não passou despercebido com sua música falada em bases eletrônicas e berimbau. Entre as headliners, o público pode ver de perto Ira!, Jorge Ben Jor, Planet Hemp, em momentos históricos.


2003


O ANO DE 2003 MARCOU A DESPEDIDA DO MADA DA RIBEIRA, ONDE TUDO COMEÇOU. O FESTIVAL JÁ ESTAVA PRONTO PARA VOOS – E ESPAÇOS – MAIORES (A ARENA IMIRÁ, A PARTIR DE 2004), E DEU SEU ADEUS AO VELHO BAIRRO COM MUITO ESTILO. A 5ª EDIÇÃO (15, 16 E 17 DE MAIO) FOI GRANDIOSA E MARCANTE, REUNIU 14 MIL PESSOAS, TROUXE MEDALHÕES DA MÚSICA BRASILEIRA E TEVE UMA BOA COBERTURA DA IMPRENSA NACIONAL. E A TRADICIONAL CHUVA COMPARECEU COM FORÇA NO PRIMEIRO E TERCEIRO DIAS DO FESTIVAL. A quinta-feira foi o dia mais cheio daquele Mada 2003. A noite foi aberta pelos paraibanos do Zeferina Bomba, continuou na pegada rocker do Folcore e Zero8Quatro, para depois cair no reggae do Reggalyze. Verdade Suprema mostrou que o nu metal ia bem por aqui, e o Bugs manteve o status de seu rock de garagem alternativo. Os Agregados FDR provaram que o rap potiguar estava pronto para brilhar e fez a plateia pular. E por fim,



os donos da noite, O Rappa, tocando o

forró com a pernambucana Chá de

mesmo som da turnê “Instinto Coletivo” e

Zabumba; os Autoramas, fazendo sua

agradando geral mesmo debaixo de

primeira aparição em Natal e já botando

um toró.

o povo pra dançar com seu rock bem

A sexta foi aberta pelos batuques do grupo Zambê, seguidos pelo veterano

humorado; e o Acid X, que trouxe soul e jazz pra festa.

Arnaldo Brandão (ex-Hanói-Hanói e

Lan Lan, ex-percussionista de Cássia Eller,

Brylho), que tocou o material de sua

surpreendeu com um show pesado e

carreira solo. A banda natalense Jane

estridente. Em seguida, foi a vez de Frejat,

Fonda, queridinha da cena rock/pop local

em plena carreira solo, dispensando as

da época, também impressionou a crítica

músicas do Barão Vermelho e focando

do sul. Pitty e banda, em sua primeira

em seus dois discos autorais. Tocou uma

chegada a Natal, também agradou

versão de “Stone free”, de Jimi Hendrix. O

bastante. Foi o começo de uma

festival foi encerrado por Fernanda Abreu,

longa parceria.

que tocou sua dance music de sotaque

O Modus Vivendi, banda local dos anos 80, foi remontada para um comeback especial para o Mada. O manguebeat voltou a dar as caras em Natal com o Eddie, pernambucanos que esbanjaram suingue com muito samba-rock e reggae. Os Detonautas Roque Clube, banda carioca descoberta pelo Mada passado, já voltaram com status de rockstars, e o público respondeu à altura. A noite terminou com a Nação Zumbi, que já se firmava na época sem Chico Science, com o mesmo peso e balanço. O sábado foi o dia mais eclético do Mada. Teve o folclore psicodélico do Jaraguá Mulungu, o coletivo Chico Correa e suas misturas eletrônicas regionais, o momento

carioca carregado, com direito a medley de funk dos morros, e seus velhos hits. https://www.youtube.com/watch?v=rCNgMI7j68Y&t=594s



A 6ª EDIÇÃO DO MADA FOI UMA DAS MAIORES E MAIS BADALADAS DO FESTIVAL. O EVENTO EXPERIMENTOU UM ALCANCE NACIONAL E MIDIÁTICO QUE AINDA NÃO HAVIA TIDO ATÉ ENTÃO. BOA PARTE POR CAUSA DE SUA PRIMEIRA ATRAÇÃO INTERNACIONAL, A BANDA THE WALKMEN, QUERIDINHOS DA CENA ALTERNATIVA DE NOVA YORK, VINDOS EXCLUSIVAMENTE PARA O FESTIVAL NATALENSE. A IMPRENSA QUE COBRIA CULTURA POP NO PAÍS VEIO EM PESO. O número de bandas novas potiguares surpreendeu até os organizadores na edição de 2004w. Na quinta-feira se apresentaram Parole, Funk Samba Soul, Jane Fonda, Peixe Coco, Bugs e Agregados FDR. Na sexta foi a vez de Mooganjah, Pangaio, Uskaravelho e Dub da Loca; e no sábado subiram ao palco os grupos Allface, The Automatics e Mad Dogs. Era a cena local dando seus sinais de vitalidade.


O misto de atrações independentes com

expectativas e surpresas. Todo mundo

artistas bem conhecidos do mainstream

queria ver a banda que abria pros Strokes

garantiu uma fórmula poderosa em 2006.

e já tinha status cult na cena indie. O grupo

A quinta-feira foi encerrada com o peso

foi anunciado no palco por Edgar Picolli,

metal do Sepultura, a banda brasileira com

então VJ da MTV. O quinteto novaiorquino

o maior reconhecimento no exterior, e os

tocou músicas de seus dois discos,

cariocas do O Rappa, uma das atrações

“Everyone who pretended to like me is

mais queridas do Mada, garantia de pista

gone” e “Bows + Arrows”, ressaltando

cheia e gente pulando feliz.

suas referências de Joy Division e U2

Na sexta, a banda paraibana Chico Correia Electronic Band chamou a atenção pela sua mistura criativa de música eletrônica, jazz e ritmos regionais. “A receita não soou

para agradar o público. Segundo a crítica, a música da banda ganha mais peso e presença ao vivo. O público foi respeitoso e interessado.

desgastada, muito ajudada pela economia

A noite termina com a presença luxuosa

e substância musical de cada integrante e

de Jorge Benjor, que mesmo não repetindo

a afinação da cantora Larissa Montenegro”,

o mesmo pique de seu show anterior nos

escreveu Shin Oliva Suzuki, enviado da

tempos da Ribeira, botou todo mundo pra

Folha de S. Paulo.

dançar com uma maratona de clássicos.

O popstar Lulu Santos entrou em cena com seus 20 anos de hits, reencontrando Natal após muito tempo sem fazer show por aqui. Como sempre, o mestre hitmaker provocou polêmica ao mandar “desligar” a tenda eletrônica, que segundo ele, estava atrapalhando o show. O rapper carioca Marcelo D2 também agitou a noite em dose dupla: mostrando o som de sua carreira solo, “À procura da batida perfeita”, e depois fazendo MC para o DJ Patife, de surpresa, na tenda. Todo mundo caiu no drum ‘n bass. O sábado foi uma noite de altas

Na tenda eletrônica, o DJ e produtor paulista Xerxes fez o chão tremer mais uma vez com seu drum ‘n bass.




A MARATONA DE TRÊS DIAS CONTINUOU ALIMENTANDO A ALMA DO PÚBLICO PELA MOLDURA DA MÚSICA E DA PAISAGEM À BEIRA-MAR DA VIA COSTEIRA. O CHARME DO FESTIVAL CONSOLIDADO TRAZIA AQUELE CLIMA DE LUAU PROPORCIONADO PELO EVENTO NO TERRENO DO IMIRÁ PLAZA HOTEL. O FATO DOS ARTISTAS ESTAREM HOSPEDADOS NO LOCAL DO SHOW FAVORECIA A INTERAÇÃO ENTRE AS BANDAS. A sétima edição se consolida como importante evento de projeção de novas bandas, grandes apresentações incomuns e a tentativa de trazer grupos internacionais pouco conhecidos no país. Se em 2004 foram os nova iorquinos do The Walkmen, no ano seguinte o nome anunciado foi Fiction Plane, vinda do Reino Unido. “Infelizmente, por um problema da embaixada dos Estados Unidos, a banda não conseguiu chegar em tempo e foi substituída por Mundo Livre”, contou o diretor Jomardo Jomas.


Nem as constantes ameaças de temporal fizeram o festival sair do mês de maio. No dia 26 o clima era de “revival” com Barão Vermelho, Marcelo Nova e Camisa de Vênus. De Natal, os escalados foram Jane Fonda, Folcore, Adriano Azambuja, Experiência Ápyus, Seu Zé. O Rio de Janeiro, que já sediava uma seletiva do Mada, trouxe Nervoso,o Som da Rua e Colúmbia, que se apresentaram no sábado. O festival ainda compôs seu line-up com Zackarias Nepomuceno, da Paraíba, Astronautas e Rádio de Outono (ambas de PE), Norman Bates (PA), Brinde (BA) e DuSouto ( RN). Planet Hemp, Mundo Livre SA, Luxúria, Ronei Jorge, Kohbaia e Karppus. O sábado, como sempre mais festivo, veio com Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Alphorria, Rádio de Outono, Os Bonnies e Brinde.




A 8ª EDIÇÃO DO MADA, EM 2006, FIRMOU O EVENTO COMO UM DOS MAIORES FESTIVAIS DE MÚSICA INDEPENDENTE DO NORDESTE. A ARENA IMIRÁ RECEBEU TODA A ESTRUTURA DA FESTA DURANTE OS DIAS 04, 05 E 06 DE MAIO, COM 25 BANDAS ALTERNATIVAS DE 11 ESTADOS DO PAÍS, E MAIS SEIS ATRAÇÕES NACIONAIS, TOCANDO ENTRE DOIS PALCOS. ENTRE OS DIVERSOS ESPAÇOS PARALELOS, A TENDA ELETRÔNICA REAFIRMAVA SUA POPULARIDADE NO FESTIVAL, RECEBENDO UMA ÁREA MAIOR E TRAZENDO 18 DJS PARA EMBALAR AS NOITADAS. A CHUVA, UMA “CONVIDADA” CONSTANTE DO MADA, DEU AS CARAS COM INTENSIDADE NA QUINTA-FEIRA DO FESTIVAL. MESMO ASSIM, AS ÁGUAS DE MAIO NÃO ESPANTARAM AS OITO MIL PESSOAS QUE COMPARECERAM ÀQUELA NOITE – BOA PARTE ATRAÍDAS PELA BANDA CARIOCA O RAPPA, QUE FEZ O SHOW MAIS ESPERADO DA OCASIÃO. OUTROS DESTAQUES POSITIVOS DA NOITE FORAM NEGUEDMUNDO



E DU SOUTO QUE, MESMO DEBAIXO DE UMA TEMPESTADE, SEGUROU A PLATÉIA COM BEATS E BALANÇO.

mais que um hype do momento e agitou o palco com hits do underground e o carisma da vocalista Luísa LoveFoxxx. A noite teve ainda as bandas Banzé (SP), Seu Zé (RN), MopTop (RJ), Relespública (PR),

Os rappers do Pavilhão 9, pioneiros

Impar (MG), e Tantra (RJ).

nacionais na fusão de rap com rock, chamaram a atenção por uma gafe: O

Quase sempre cheia, a tenda eletrônica

líder do grupo, Mc Rhossi, abriu o show

também exibiu com êxito o seu apelo para

chamando Natal de Recife e pagou caro: a

as massas, e seguiu como uma animada

vaia da galera.“Aê, Recife!”, disse antes de

rave até as primeiras horas da manhã. Foi

tentar arrumar o estrago com a desculpa

o ano em que o psy trance comprovou

de que tinha um amigo de Recife na

ser o gênero mais popular da eletrônica

cidade. Na mesma noite também tocaram

no Brasil, ainda que outros sons) do rock

Agregados FDR (RN), Volver (PE),

à house) também tenham dado o ritmo

Macaco Bong (MT), Montgomery (RN), e

no local. DJ Magão tocou rock, e o inglês

ZeroOitoQuatro (RN).

Julian Liberator trouxe fez a tenda vir abaixo com muito acid techno.

Na sexta-feira, o Revolver colocou o público no bolso e fez um show divertido, mesmo enfrentando problemas com o equipamento. A disposição que sobrou na banda de terninho e gravata faltou no Os Bonnies, orgulho indie local. Foi uma noite de grandes atrações, como a baiana Pitty e o gaúcho Cachorro Grande, mais Daniel Belleza e os Coraçõesem Fúria (SP), Reação em Cadeia (RS), Zeferina Bomba (PB), The Automatics (RN) e Los Porongas (AC). O sábado recebeu dois ícones do rock/ pop nacional, Biquíni Cavadão e Nando Reis, mas quem roubou a cena foi a banda Cansei de Ser Sexy, que mostrou ser



A 9ª EDIÇÃO DO MADA FOI REALIZADA NOS DIAS 03, 04 E 05 DE MAIO. A PREOCUPAÇÃO EXTRA DA PRODUÇÃO PARA AQUELE ANO FOI SE PRECAVER CONTRA AS CHUVAS, AMPLIANDO A ESTRUTURA DO FESTIVAL NA ARENA IMIRÁ PARA EVITAR TRANSTORNOS. FORAM 52 ATRAÇÕES NAQUELE ANO. O ECLETISMO MAIS UMA VEZ DEU O TOM, COM DIREITO A TRIBUTO AO FORROZEIRO ELINO JULIÃO, E UM SHOW ELETRÔNICO NO PALCO PRINCIPAL, COM O CANADENSE RUSSIAN FUTURISTS. NO ROL DOS MEDALHÕES, UM TIME DE PESO PARA ENCERRAR CADA NOITE: NAÇÃO ZUMBI, PARALAMAS DO SUCESSO, SKANK, E DETONAUTAS. Era comum algumas bandas ainda desconhecidas do grande público roubarem a cena. A passagem da banda paraense Madame Saatan deixou uma impressão curiosa. Enquanto a carismática Sammiz era um esporro cantando no palco, lá embaixo algumas pessoas viam uma semelhança física da moça com a conterrânea Joelma, a então vocalista da banda Calypso. Por conta do peso do som da banda, tinha gente rebatizando o grupo de “Apocalypso - O Calipso do mal”.


A banda Móveis Coloniais de Acaju foi destaque na programação, botando o povo pra dançar e fazer suas famosas cirandas até mesmo debaixo de chuva. Já The Russian Futurists causou estranhamento geral na plateia: sem bateria, guitarrista e baixista, só três figuras num palco imenso, tirando sons de máquinas. O bom electropop com melodias “fo-fas” se perdeu na multidão apática. “Por que vocês estãotão quietos? É noite de sábado!”, indagou o vocalista Matthew Hart. O show acaba, alguns aplaudem. O Skank entra, toca todos os seus hits, do reggae ao rock, e o público adora. Samuel Rosa faz discurso em prol da nova cena musical e pôs a platéia no bolso.


Como braço para escoar a produção audiovisual que surgia na música, nasceu o Festival Curta Natal, que promoveu mostras de filmes musicais, premiou clipes e curtas, premiou e lançou o concurso de produção Curta Celular. Na foto, uma das edições da mostra na Casa da Ribeira




A 10ª EDIÇÃO DO MADA MUDOU DE MÊS E FOI PARA AGOSTO, NOS DIAS 14, 15 E 16. EM UMA COLETIVA REALIZADA NA SEMANA DO FESTIVAL, O PRODUTOR JOMARDO JOMAS ANUNCIOU AS MUDANÇAS PROGRAMADAS PARA O PRÓXIMO ANO, INCLUINDO A REDUÇÃO DO EVENTO PARA DOIS DIAS. NA OCASIÃO TAMBÉM REALIZOU O SEMINÁRIO “MADA 10 ANOS: PRATICANDO CULTURA NO SÉCULO XXI”. “ANTES DO MADA, NATAL NÃO ESTAVA INSERIDA EM NENHUM CONTEXTO MUSICAL DO PAÍS. A GENTE MUDOU ISSO. ABRIMOS A CABEÇA DAS PESSOAS PARA O CONCEITO DE UM DIFERENCIADO FESTIVAL DE MÚSICA, E AGORA QUEREMOS MOSTRAR NOVAS IDÉIAS. NÃO É SÓ FAZER SHOW”, DECLAROU.

A última quinta-feira do Mada foi uma noite e tanto, entre o balanço e o barulho. Foi o que exemplificou os dois destaques da noite: o Rappa maisuma vez provou sua enorme empatia com o público natalense, pondo todos pra dançar, enquanto o uruguaio Motosierra assustou tímpanos despreparados diante de seu rock alto e sujo. Markus, vocalista da banda uruguaia, entregou uma performance irreverente e selvagem, livremente “inspirada” em Iggy Pop. Algumas pessoas ficaram chocadas.


Mesmo em mês diferente, a chuva

que causava furor na crítica e púbico da

não deixou de dar as caras no festival.

época. No palco, tocando banjo, violão

Desafiando explicações esotéricas e,

e gaita, e menina exibiu uma segurança

principalmente, meteorológicas, a edição

notável. Mallu soube usar sua voz frágil

de dez anos do festival terminou debaixo

com precisão. A noitada também teve um

de uma chuva torrencial que encharcou a

elogiado show da banda Poetas Elétricos,

todos que compareceram à arena do Imirá

a new wave desengonçada do Barbiekill, o

no sábado. Mas nem o temporal abalou

roots de Rastafeeling, e o peso da Brand

o elogiado show do Cordel do Fogo

New Hate.

Encantando, com seus batuques místicos, ou o suingue refinado de Seu Jorge – que cantou “Negro Drama”, dos Racionais MCs,

No fim da madrugada, uma badalada jam session no piano bar do hotel, com

debaixo de chuva.

músicos, equipe técnica, produção,

Uma das atrações mais aguardadas da

direito a participação de Josh Rouse

noite foi a jovem cantora e compositora

no violão, Lirinha do Cordel, músicos

Mallu Magalhães, então com 15 anos de

debandas como Falcatrua e Sem Horas,

idade, um fenômeno indie da internet

Mallu Magalhães, e até Seu Jorge apareceu.

hóspedes e fãs, até 6h da manhã, com



O MADA AGORA TEM DOIS DIAS, E PELA PRIMEIRA VEZ É REALIZADO EM OUTUBRO. É TAMBÉM O PRIMEIRO ANO EM QUE O CAMAROTE SAI DE FRENTE AO PALCO PARA SE INSTALAR NA LATERAL, COM DIREITO A FRONTSTAGE. MAIS COMPACTA - E SEM CHUVA - A EDIÇÃO 2009 DO FESTIVAL CONCENTROU UM PÚBLICO ESTIMADO EM 20 MIL PESSOAS. Marcelo D2, com o novo disco, “A arte do barulho”, era o destaque do primeiro dia. Que tinha ainda Natiruts (DF), ChicoAntronic Embola Dub (RN/SP), Fungos Funk (MG), Du Souto(RN), Sick Life (RN), Calístoga(RN), MC Priguissa (RN), e Carcará na Viagem (RN).

dançou, fez vocal, tocou percussão, e gritava a todo o tempo o nome de Chico Science, parecendo evocá-lo. Entre as novidades, MC Priguissa chamou a atenção pela sua mistura de xote com ragga. Foi a sua estréia para um grande público. O DuSouto também agradou com as músicas de seu novo disco, “Malokero High Society”, que rendeu à noite natalense hits como “Fazendo a cabeço”, “Aonde está o meu outro par?” e “Cachaça a go-go”. A dupla alagoana Sonic Junior levou a música eletrônica mais uma vez para o palco maior do festival, unindo breakbeats, drum ‘n bass e dub. O quinteto curitibano Copacabana Club chegou no embalo do hype, e divertiu com sua mistura de garage rock e dance music. Ana Cañas, um dos shows aguardados da noite, mostrou que

A Nação Zumbi voltou para uma noite

estava mais para rock do que para MPB –

memorável: a banda celebrou o aniversário

e agradou muito a plateia. A baiana Pitty

de seu clássico “Da Lama ao Caos”,

já entrou com o jogo ganho e deu – e até

tocando todos os clássicos na íntegra. O

repetiu – todos os hits que seus numerosos

show ainda teve participação do cantor

fãs queriam ouvir. A cantora estava no

Otto, parceiro da turma. Essa apresentação

embalo de “Me adora”, até hoje seu

foi a segunda no Nordeste. No palco, Otto

maior sucesso.



PARA COMEÇO DE CONVERSA, NÃO CHOVEU. UM CÉU LIMPÍSSIMO BRINDOU OS DOIS DIAS EM QUE O FESTIVAL MÚSICA ALIMENTO DA ALMA VOLTOU À VIA COSTEIRA, NOS DIAS 07 E 08 DE OUTUBRO, APÓS A AUSÊNCIA DO ANO PASSADO. O público também não esqueceu a marca forte que o evento significa. O Mada voltou com tudo, explorando a sua fórmula tradicional, alternando atrações super populares ao lado de nomes ainda pouco conhecidos do grande público. O 12º reservou um lugar para todos os gostos. Entre os destaques do primeiro dia, o grupo Pedubreu, de São Gonçalo doe Amarante, jogou coco e xote com possantes solos de guitarra para conquistar a plateia. O resultado foi uma espécie de hard rock regional. Tiveram ainda o pop melódico e romântico do A Nave (PE), AK-47 e seu metal de letras apocalípticas, o indie 80 do Planant, a new wave moderna da Tipo Uísque (RJ), Sabonetes (PR), e DuSouto com os seus hits festeiros de sempre.

destaque da sexta. Foi, na verdade, um show de lançamento do novo trabalho do grupo, “As lendas datribo Toshi Babaa”. O grupo trouxe um coquetel de soul/funk setentista e eletrônica low tech. Também tocou músicas antigas mais raras, como “Mistério do samba”, “A expressão exata”, “Terra escura”, e “Bolo de ameixa”. Mas a comoção causada pelo Natiruts – da plateia ao camaroteVIP – provou que era por eles que boa parte das pessoas estava ali. No sábado, o potiguar Maguinho da Silva foi a primeira atração a chamar a atenção do público, com sua mistura de funk, rock e samba. Maguinho defendeu as boas canções do seu primeiro álbum (“E o pior é que isso tudo não é ficção”). Marcelo Jeneci era uma das atrações mais esperadas da noite. Ele conseguiu segurar a platéia, apesar do repertório aparentemente parado para uma arena. Músicas como “Felicidade”,“Feito para acabar”e “Dar-te-ei” foram acompanhadas verso a verso por parte do público. Outro nome com muitos fãs, a banda Biquini

Novidade e maturidade fizeram diferença

Cavadão fez o show à gosto da freguesia:

no show do Mundo Livre S/A, o grande

covers de anos 80, hits prórios, dançou com fã, se jogou na plateia e subiu no alambrado.



O FESTIVAL MADA DE 2012, DIAS 19 E 20 DE OUTUBRO, PODERIA SER RESUMIDO EM UM NOME: CRIOLO. O SHOW DO RAPPER PAULISTANO NA PRIMEIRA NOITE DO EVENTO FOI O ASSUNTO DO ANO E ENCANTOU O PÚBLICO DE UMA FORMA MARCANTE. A MISTURA DE RITMOS, A ENERGIA E A POSITIVIDADE DE SUA APRESENTAÇÃO ENTRARAM PARA O PANTEÃO DO FESTIVAL. A EDIÇÃO TAMBÉM FOI MARCADA PELA VOLTA DO EVENTO À “CIDADE BAIXA”, SENDO REALIZADO PELA PRIMEIRA VEZ NO ESPAÇOSO E AREJADO ESTÁDIO JOÃO CÂMARA, NUMA ÁREA FRONTEIRIÇA ENTRE A RIBEIRA E AS ROCAS.


CRIOLO GANHOU O PÚBLICO SÓ COM O REPERTÓRIO DE SEU CELEBRADO ÁLBUM “NÓ NA ORELHA”, UM CLÁSSICO MODERNO. AOS PRIMEIROS BATUQUES DE “MARIÔ” A PLATÉIA JÁ ESTAVA NA MÃO. O RITUAL SEGUIU EM CANÇÕES COMO O BOLERÃO IRÔNICO “FREGUÊS DA MEIANOITE”, “SUCRILHOS”, OS HITS “NÃO EXISTE AMOR EM SP” E “SUBIRUSDOISTIOZIN”, E AINDA “LIONMAN”, “GRAJAUEX” E “SAMBA SAMBEI”. TODO DE BRANCO E COM UM LENÇO NA MÃO, CRIOLO ABRAÇOU SUA BANDA E JUNTOS SAUDARAM UMA PLATÉIA QUE ERA SÓ APLAUSOS. Os embalos de sexta-feira à noite continuaram com Seu Jorge, que desta vez voltou sem chuva, comandando seu Conjunto Pesadão para um baile azeitado de samba, funk e soul. O show começou dançante, com banda afiada, coreografias, sucessos...até que o músico embarcou num longo monólogo com a platéia, o que acabou esfriando o show. No final, trouxe Criolo mais uma vez ao palco para cantar samba com ele.

Outro destaque da noite foi o pernambucano Tibério Azul, que veio coma missão de conquistar o público com seu som meio ‘vaudeville-hermanísticopoético-indie-fofo’. O foi bem recebido com bastante aplausos. A noite de sábado foi marcada pela entrega dos que foram à Ribeira para ver Pitty e seu parceiro Martin tocarem as melodias folk/blues/rock do projeto Agridoce. O segundo dia do evento teve um número de pessoas bem menor que o da incendiária noite de sexta, e ficou concentrado na presença dos fãs que vieram assistir determinadas atrações. O Rastafeeling entregou seu reggae roots em português, oferecendo o de sempre, junto com o hit local “Me dá umreal”, cantado em uníssono pela plateia. O carioca For Fun tocou o mais longo desfile de clichês do rock ‘n roll “enso-larado”. No final, a banda portuguesa The Gift agradou com pop refinado, acústico e eletrônico, rock e soul em círculos. Uma citação de “Índios”, do Legião Urbana, foi a tentativa da banda de se conectar com a platéia brasileira.




O FESTIVAL COMPLETOU 15 ANOS E FOI REALIZADO EM SETEMBRO, NOS DIAS 20 E 21, MAIS UMA VEZ NO ESTÁDIO JOÃO CÂMARA. O MADA TROUXE CRIOLO PELO SEGUNDO ANO, NO RASTRO DO ENORME SUCESSO QUE O RAPPER FEZ EM 2012, E TAMBÉM PÔS UM VETERANO DE PESO NA PISTA, A BANDA TITÃS. E EM MEIO A TUDO ISSO, APOSTOU NUMA NOVIDADE: A RAPPER CURITIBANA KAROL CONKÁ, QUE DALI A MAIS ALGUNS ANOS SE TORNARIA UMA POPSTAR NACIONAL. CONSTA QUE O FESTIVAL REUNIU SETE MIL PESSOAS NOS DOIS DIAS. Os destaques da primeira noite de shows, tirando o aguardado repeteco do rapper paulista Criolo, ficaram por conta da rapper Karol Conká e do mossoroense Artur Soares. A “sociedade” natalense se rendeu fácil ao rap, suor e ouriço de Karol. Com apenas um disco no currículo – o festejado “Batuk Freak” - a MC mostrou que a atitude cênica do hip hop não precisa ser sempre cara feia e marra. Pelo contrário: senso de humor, ironia e muito deboche deram o tom na curta, porém certeira, apresentação da artista. Mais

tarde, ela fez uma participação no show de Criolo. Seria o primeiro de muitos shows no Mada. No sábado, os destaques foram para a banda natalense Far From Alaska, Fukai, e o carioca Rodrigo Santos (do Barão Vermelho). O rock consistente do Alaska, sob o comando da vocalista Emmily Barreto, comprovou a boa fase do quinteto. Já Rodrigo Santos precisou conferir mais peso ao repertório para garantir um bom público após a performance histórica dos Titãs, que levou vantagem em uma noite irregular. A edição teve ainda Banda Pietá, Esteban Tavares, e o grupo de reggae Planta e Raiz.



A EDIÇÃO DE 2014 MARCOU UM MOMENTO IMPORTANTE PARA O MADA: A ESTRÉIA NA ARENA DAS DUNAS, O ESTÁDIO QUE VIRIA A SER A NOVA CASA DO FESTIVAL DALI EM DIANTE. ESPAÇOSO, AREJADO, PLANO E VISUALMENTE MODERNO, O NOVO ENDEREÇO AGRADOU RAPIDAMENTE. BEM INSTALADO NA ÁREA EXTERNA DO LOCAL, O PÚBLICO SE MOSTROU AINDA MAIS DISPOSTO A RECEBER A VARIEDADE DE GÊNEROS MUSICAIS QUE PASSOU PELOS DOIS PALCOS DO EVENTO. O MADA FOI REALIZADO NOS DIAS 24 E 25 DE OUTUBRO.

seu clássico “Mandamentos black”. Pronto

A sexta-feira foi uma noite de clássicos,

brincou, interagiu bastante com a plateia,

black music, dança, e presenças especiais.

e encerrou com “Trem das onze”, de

O bailão rockabilly do The Bop Hounds

Adoniran Barbosa.

foi o esquenta que o público estava precisando. Mixando Elvis, Little Richard e Johnny Cash, a banda natalense fez a gente – muito jovem – da plateia rodopiar como se estivesse num salão de 1950.

pra também fazer história no Mada, o pernambu-cano Di Melo mostrou seu afiado funk/soul psicodélico para um público que praticamente o desconhecia. Energia impressionante, e ótima banda, Di Melo tocou seu álbum clássico de 1975. O fã confesso, Emicida, entrou no palco e cantou “Kilariô” com o mestre. Melhor show da noite. Ovacionados, Mallu e Marcelo Camelo trouxeram fãs de suas respectivas carreiras anteriores para conferir a Banda do Mar. O show teve tudo que os fãs quiseram, de todas as fases. Emicida fechou a noite com muita classe e groove. Com uma banda “de verdade” aliada aos beats eletrônicos, fez um show extremamente musical. Rimou,

No sábado, Tulipa Ruiz, acompanhada do pai e do irmão, fez o melhor show da noite de encerramento do festival: arrebatou o público com repertório do álbum “TudoTanto” e hits do primeiro disco,

A banda carioca Gilber T marcou por

“Efêmera”. Falando em público, o perfil da

ter trazido ao palco o lendário soulman

plateia em 2014 chamou atenção pelo ar

Gerson King Combo para uma participação

renovado, detalhe que pode ser atribuído a

especial. “Eu tô maravilhoso!”, disse ele.

mudança de endereço e encarado (quase)

E estava mesmo, de capa, chapelão,

como uma redenção se comparado às

e voz rascante. Cantou “Dia incrível”,

duas últimas edições no estádio João

parceria com Gilbert, e depois mandou

Câmara, na Ribeira.



EM 2015, OUTRA INOVAÇÃO NO ESPAÇO: O MADA FOI PARA DENTRO DA ARENA DAS DUNAS, OCUPANDO PARTE DO GRAMADO E DAS ARQUIBANCADAS. OS DIAS 30 E 31 DE OUTUBRO SERVIRAM MAIS DE 20 HORAS DE MÚSICA SEM INTERRUPÇÃO. A PROGRAMAÇÃO DAQUELE ANO DEU UM BOM ESPAÇO PARA OS VETERANOS DO ROCK/POP FAZEREM A FESTA, AO LADO DE JOVENS ATRAÇÕES DO MEIO ALTERNATIVO.

Crise”), após dez anos sem novidade. O show foi bem animado. O sábado foi marcado pela estréia da

A sexta-feira contou com uma abertura

banda Luísa e Os Alquimistas no festival

conduzido pelo fino na cena alternativa

natalense. Ainda com seu primeiro disco

natalense, entre a psicodelia do Igapó de

recém lançado, o grupo chamou atenção

Almas, a sujeira sonora do Automatics, e

e consagrou seu primeiro hit, “Brechó”.

o instrumental experimental do Mahmed.

Agradaram também os veteranos

O pernambucano Romero Ferro estreou

Agregados FDR, pioneiros do rap

no Mada com seu brega/pop moderno.

natalese, e o bailão rock instrumental dos

A dupla francesa Juveniles foi a atração

Camarones, que já tinha agitado o Rock in

internacional do ano, botando o povo pra

Rio e a Europa.

dançar com um synthpop/indie bem típico da época.

A noite trouxe ainda o Scalene, banda de rock que ficou conhecida pelo reality de

A baiana Pitty, eterna queridinha do

TV Super Star, mas quem marcou mesmo

festival, fez mais um show para mostrar

foi a sequencia de peso formada pelo

seu amadurecimento musical. Trouxe

paraense Felipe Cordeiro, conhecido por

na bagagem daquele ano o novo álbum

modernizar o carimbó e a guitarrada; a

“Setevidas”, que tocou ao lado de seus hits

clássica Nação Zumbi, com disco novo e

mais antigos. Outro veterano da noite, o

muitos hinos na bagagem, e o hitmaker

rapper Gabriel Pensador, foi resgatado das

titânico Nando Reis, ainda no embalo do

cinzas com um disco novo na praça (“Sem

disco “Sem”, lançado em 2012.



O 2016 FOI O ANO EM QUE O MADA CHEGOU À SUA “MAIORIDADE”, COM 18 ANOS DE ESTRADA. O FESTIVAL FEZ QUESTÃO DE REAFIRMAR SUA PROPOSTA INICIAL, OFERECENDO UM RECORTE ABRANGENTE DA MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA, COM NOMES CONSAGRADOS E EM ASCENSÃO, DE ESTILOS E GERAÇÕES DIFERENTES. NAQUELE ANO, PARA ACONTECER NA ARENA DAS DUNAS, O EVENTO TEVE QUE ASSINAR UM TERMO DE AJUSTAMENTO QUE O OBRIGAVA A TERMINAR A PROGRAMAÇÃO ÀS 1H30 DA MADRUGADA. O Mada de 18 anos trouxe 16 atrações. Nomes em alta no cenário nacional tocam na cidade pela primeira vez. Foi o caso do paraense Jaloo, que apresentou um dos shows mais instigantes da sexta-feira. Eletrônico e quente, rebolou, interagiu, foi carregado pela plateia, e também fez o povo dançar. A música é moderna e global, absorvendo electro, synthpop e experimentalismos, ao mesmo tempo em que expõe o sotaque paraense e suas sonoridades.


Outro destaque da noite, Emicida abriu

ecos, e as letras misteriosas de Luísa

o show com um trecho de “Ó pai, ó” e

envolveram a platéia numa atmosfera

repetiu o feito do show anterior, em2014,

psicodélica e sensual - até o hit “Brechó”

agradando de novo. No palco, percussões

entrar em cena e transformar a pista num

à frente interagindo com os beats do DJ,

bailão tecno-brega.

mais baixo e guitarra ao vivo. Emicida entoou canções de seu último disco - que boa parte da plateia sabia cantar de cor. Três anos após lançar o álbum “Batuk Freak”, Karol Conka voltou ao Mada e viu a plateia cantar suas músicas como se fossem hits há décadas. Carismática, a rapper curitibana aproveitou seu atual momento de popularidade pop e levou a plateia no flow das rimas e na cadência

Após o hiato de uma década, Marcelo D2, B.Negão e companhia voltaram para apresentar uma série de hits cheios de peso e mensagem. Apesar do joelho bichado do D2 (o músico rompeu os ligamentos e estava em tratamento) que subiu no palco de bengala e cadeira de praia -, a performance foi honesta, vibrante e esfumaçada. Abriram com a

dos beats.

clássica “Legalize já”, sucedida pelas não

Liniker e Os Caramelows chegaram ao

“Fazendo a cabeça”, “Queimando

MADA como uma das atrações mais

tudo”,”Quem tem seda?” e “Ex-quadrilha

esperadas do sábado. A música “Zero”

da fumaça”, com direito a roda de pogo

foi um dos momentos mais bonitos do

e muitos isqueiros acesos cinzas com um

festival, com o público cantando junto e na

disco novo na praça (“Sem Crise”), após

mesma sintonia que a artista. Liniker fez

dez anos sem novidade. O show foi bem

todo o show baseado no disco “Remonta”,

animado.

mas alguns acharem que ela ficou devendo uma performance com mais energia e entrega. A segunda apresentação de Luísa e Os Alquimistas no Mada obteve uma recepção bem mais calorosa que a do ano passado. Com o disco “Cobra Coral” na bagagem, a proposta de banda pôde ser melhor exposta no palco. Dub e reggae, beats lentos e quebrados, timbres enfumaçados,

menos bandeirosas “Mantenha o respeito”,




O MOTE DO MADA DE 2017 FOI A CELEBRAÇÃO À DIVERSIDADE. O FESTIVAL ELABOROU UMA PROGRAMAÇÃO QUE REFLETIU OS GOSTOS E ‘PLAYS’ DAS REDES SOCIAIS, BLOGS, SITES DE STREAMING, RÁDIOS VIRTUAIS, E DEMAIS CANAIS POR ONDE A MÚSICA SE ESPALHA NOS DIAS ATUAIS. O rapper soteropolitano Baco Exu do Blues foi um dos destaques da sexta-feira, sendo a primeira atração a levantar em peso os natalenses. Foi o primeiro festival do artista baiano. Baco mostrou na cidade seu bem repercutido disco de estreia “Esú”, lançado em setembro daquele. Músicas como “Esú” e “Te Amo, Disgraça”



encontraram eco nos presentes e instigou

a habitual mistura eletrônica/jamaicana/

o artista a descer do palco e cantar com o

brasileira que faz a delícia dos fãs.

público.

Karol Conka voltou para sua terceira

A carioca Mahmundi mostrou seu pop

apresentação no Mada.Com mais tempo e

eletrônico com influências oitentistas em

(ainda) mais hits à disposição, a MC teve a

uma apresentação elegante, mas não

plateia na palma da mão. Rimou,embalou,

cativou o grande público ainda bastante

fez brincadeira de lipsync (dublagem),

disperso durante a apresentação. O show

afrontou e tirou onda na medida que seu

acabou ganhando alguns minutos extras e

público gosta.

no final o público já ensaiava um bailinho.

Pitty, também velha conhecida dos palcos

Jogando em casa, a banda Plutão

do Mada, fez a sua apresentação mais

Já Foi Planeta reforçou a boa fase

eclética. A cantora, que sempre gostou

de popularidade, fazendo um show

de citar outras canções de rock em suas

competente e em plena sintonia com a

músicas, ampliou o repertório. Vieram

plateia. Os goianos da Banda Uó fizeram

citações a “Asa branca”, de Luís Gonzaga,

jus à história de que são uma festa que

“Dê um rolê”, dos Novos Baianos, uma

virou banda ao promoverem o show

versão de “Respect”, de Aretha Franklin,

mais dançante do primeiro dia do Mada.

com participação de Karol Conka, e de

Nando Reis encerrou a sexta com show

“Duas Cidades”, com o conterrâneo Russo

que destacou as músicas do disco novo

Passapusso nos vocais. Ao lado das

“Jardim-Pomar” (2016). A apresentação

versões, os velhos hits como “Me adora” e

só esquentou mesmo da metade pro final,

“Máscara” fizeram a alegria dos fãs.

quando o ex-Titã lembrou os grandes sucessos da carreira.

O festival encerrou com o catártico

No sábado, a incensada banda goiana

Russo Passapusso é um frontman cheio

Carne Doce embalou a plateia com seu

de carisma, que atravessa as fronteiras

rock cheio de camadas psicodélicas e

entre o MC, o cantor de rock e o puxador

melodias envolventes. A vocalista Salma

de trio elétrico, encarnando todos ao

Jô, autora de letras poéticas que são

mesmo tempo. Levou o público para

marcado grupo, declama, canta e dança.

onde quis, e formou as populares “rodas”,

O DuSouto fez o primeiro show oficial

onde o pogo punk encontra o “tira o pé do

do novo álbum, “Conecta”,que continua

chão” carnavalesco.

carnaval cyberpunk do Baiana System.





O MADA CELEBROU 20 ANOS DE HISTÓRIA COM UMA DE SUAS EDIÇÕES MAIS NOVIDADEIRAS E ECLÉTICAS. A NOVIDADE EXTRA FOI A CRIAÇÃO DE UM TERCEIRO PALCO, LOCALIZADO NO CORREDOR DE LANCHONETES DO ARENA DAS DUNAS, ONDE TAMBÉM ESTAVA MONTADA A FEIRA MIX DO EVENTO. O FESTIVAL DE 2018 ATRAIU 15 MIL PESSOAS.

do carnaval baiano, compraram com

A noite de sexta foi aberta pela futura

Radiola NZ.

popstar nacional Duda Beat, em sua primeira apresentação em Natal. A música “Bixinho” fez todo mundo dançar e ainda rendeu bis em versão remix no final do show. A pernambucana saiu consagrada. A cantora pop catarinense Jade Baraldo embalou o público com coreografias e hits dançantes, incluindo a sua “Brasa”, além de versões para Lady Gaga e Lykke Li. O grupo baiano Àtooxxá foi o primeiro a incendiar o festival naquela noite. Os natalenses, mais familiarizados à energia

vontade o som da banda, que pode ser descrito como suingueira indie ou pagode eletrônico. Depois dos baianos, entram ao som de “Lua de Cristal”, da Xuxa, os potiguares do Far From Alaska. Apesar do gracejo, o show foi peso total com o repertório focado no elogiado disco “Unlikely” (de 2017). Mais atrações pernambucanas marcaram presença na edição: O Cordel do Fogo Encantado voltou ao Mada depois de oito anos parado e fez os olhos dos fãs brilharem com um espetáculo poético/ percussivo. Já a Nação Zumbi fez uma apresentação que uniu os clássicos da época de Chico Science, com canções dos álbuns “Fome de Tudo” (2007) e “Nação Zumbi” (2014), além de faixas do projeto

A edição de 2018 também contou com várias manifestações políticas. No sábado, em sua terceira apresentação no festival, Luísa e os Alquimistas tocou músicas do disco “Vekanandra”, lançado em 2017, mas foi nas canções de “Cobra Coral” (2016) que o povo soltou a voz. Luisa encerrou com “Take my breatha away”, hit romântico oitentista do Berlin. A poderosa performance funk/rock/soul da baiana Larissa Luz foi outra surpresa da noite. Sempre exaltando a imagem da



mulher negra, ela homenageou a escritora

Uma das bandas mais esperadas da noite,

Carolina de Jesus, fez uma releitura

o Baiana System provou que o hype não

radical de “Feeling good”, de Nina Simone,

foi fogo de palha. Assim como em 2017,

criticou o racismo religioso, e cantou

o grupo arrastou o público para seu

sua versão “ressignificada” de “A carne”.

carnaval futurista. A projeção de um vídeo

Khrsytal fez uma participação especial no

da atriz natalense Alice Carvalho, com

show.

sua mensagem de orgulho nordestino,

Na sequência de batidas graves com mensagem, o rapper paulista Rincon Sapiência chegou com tudo. Ele, que é realmente um “MC acima da média” - sem falsa modéstia e muito senso de humor segurou a plateia com as canções de seu elogiado primeiro álbum,“Galanga Livre”. A banda Francisco, El Hombre uniu o tom político da noite ao desbunde, como nos ‘happenings’ dos anos 60: com a palavra “Lute” pintada nos corpos nus, para o embaraço de alguns e delírio de outros. Depois, já vestidos, tocaram sua mistura habitual de rock, música brasileira e latinidades. Os escoceses do Franz Ferdinand fizeram um show impecável. Profissional, preciso e elegante, o grupo tocou novidades, mas deu preferência ao material dos três primeiros discos – para a alegria dos fãs mais antigos. A banda entregou o que sabe fazer: rock turbinado com bases dançantes, filtrado pela tradição do pop britânico.

já adiantou o que viria a seguir. Ao vivo, a banda remixa suas próprias músicas e entrega uma nova experiência aos fãs. Russo Passapusso embalou novamente a plateia com sucessos do elogiado “Duas Cidades”, apontando a guitarra baiana para novas direções.



O FESTIVAL MADA DE 2019 APOSTOU EM NOVAS TENDÊNCIAS DA MÚSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA. TROUXE COMO GRANDES ATRAÇÕES ARTISTAS E BANDAS DE PROJEÇÃO NACIONAL RECENTE E QUE PELA PRIMEIRA VEZ SE APRESENTAVAM EM SOLO POTIGUAR. SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO, A SEXTAFEIRA TEVE O MAIOR PÚBLICO DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS. NO SÁBADO, A PRODUÇÃO PRECISOU AUMENTAR A ÁREA DO GRAMADO EM ALGUNS METROS QUADRADOS. A sexta-feira foi aberta pelo baixista potiguar Júnior Groovador, alçado à fama nacional pela internet e a participação no show da banda do ator Jack Black. O público esquentou de vez no show da drag cantora Potyguara Bardo, em sua segunda passagem pelo festival. No embalo de seu único disco, “Simulacre”, ela sabe como embalar o ovo com um bom coquetel de funk, reggae, house e brega. A música delicada de Luiza Lian - cujo álbum “Azul Moderno” esteve em todas as listas de melhores de 2018 – encheu o palco de texturas sonoras e imagéticas. Um trip hop atual cheio de misticismo afro


e poesia. O batuque subiu de velocidade

para mudar o clima, com as canções

para outro terreiro entrar em cena: MC Tha

melancólicas e enfumaçadas do disco

fez o seu “rito de passá” com a plateia. A

“Clockinwg Days”. Já a baiana Luedji Luna

cantora encarnou uma entidade sensual

assumiu o palco mostrando sentimento e

para passar sua música quente e vigorosa.

força espiritual pungente. Conquistou fácil

A anarquia clubber da banda Teto Preto tomou conta do palco, assustando alguns

a todos com sua afro-MPB romântica e dançante.

desavisados. O grupo paulista ofereceu

O Plutão Já Foi Planeta jogou mais

uma interessante mistura de música

uma vez para os fãs com um show que

e performance – boa parte apoiada no

prega a diversidade e exalta o Nordeste.

impressionante dançarino Loïc Koutana,

A apresentação ainda contou com a

um artista que faz o que quiser com

participação de Samara Alves, potiguar

o corpo. A vocalista Laura Díaz tem a

que participou do The Voice Brasil. O

virulência punk necessária para levar a

Natiruts levou ao palco do Mada o show

loucura adiante.

“I Love”, uma mistura de seus grandes

Uma das atrações mais aguardados da noite, o rapper baiano Baco Exu do Blues deu o que seu público queria. As

sucessos com trabalhos do novo álbum, que leva o mesmo nome. Foi o sucesso de sempre, mais uma banda “da casa”.

projeções iniciais do show emocionaram. A

Um menino que nasce querendo ser Deus

primeira parte da apresentação fluiu bem,

não poderia ter uma apresentação menos

com seus hits “quase” românticos, como

ambiciosa. Djonga incendiou o racismo (e

“Flamingos” e “Queima minha pele”. O

os racistas) e se impôs no palco do Mada

Baiana System veio ao festival pelo terceiro

como um rei - não à toa, foi carregado nos

ano consecutivo, dessa vez com um disco

braços pelo público e chegou botando o

novo na bagagem – mas tocou pouco de

pé na porta com o verso “Abram alas para

“O futuro não demora”, e privilegiou “Duas

o rei”. O rapper traduziu com seu estilo

cidades”.

brutal as diferenças sociais entre negros e

O sábado começou cheio de cor e sons dançantes com a banda Bule, de Pernambuco. O grupo resgatou a new wave em sons, imagens e figurinos. A musa potiguar do trip hop, BEX, veio depois

brancos, com direito a muitas músicas de “Ladrão”, seu terceiro álbum.