Os grifos de Bira Dantas
encontram Nietzsche
PÁGINAS 21,22,23
JOSE WEIS
Nova edição dos Prêmios, de Julio Cortazar
PÁGINA 18
POR AQUI
O Rio Grande do Sul e Porto Alegre continuam à venda
PÁGINAS 12,13
Nº 36 JUN/JUL 2023
O JORNAL QUE RI
Os grifos de Bira Dantas
encontram Nietzsche
PÁGINAS 21,22,23
JOSE WEIS
Nova edição dos Prêmios, de Julio Cortazar
PÁGINA 18
POR AQUI
O Rio Grande do Sul e Porto Alegre continuam à venda
PÁGINAS 12,13
Nº 36 JUN/JUL 2023
O JORNAL QUE RI
O bailado de Lira para garantir a chantagem nacional
Páginas 3,4,5,6,7
Miguel Paiva trouxe para nossa capa o resumo do presidente da Câmara Federal no bailado político do Brasil: o pé direito apoiado no centrão. Ele dança como o quebra-nozes da literatura e do balé, aquele que derrotou os ratos malvados, mas não é fiel seguidor do príncipe sonhado pela menina Clara: nunca enfrenta os roedores da democracia e do dinheiro público.
Enquanto Lira faz performances e rodopios nos palácios e avenidas de Brasília e Alagoas, seu amiguinhos do centrão refestelam-se em CPIs e projetos de lei, negociações ou chantagens tentando emparedar governo e a esquerda em geral, a melhor distribuição de renda, a taxação de grandes fortunas, o combate ao racismo, à misoginia, à lgbtfobia.
No dia 1º de junho o Partido Liberal pediu a cassação dos mandatos das deputadas federais Juliana Cardoso (PT-SP), Célia Xakribá (PSOL-MG), Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Erika Kokay (PT-DF), Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Talíria Petrone (PSOL-RJ), por terem votado contra e criticado apoiadores do Marco Temporal.
Quando não é no Congresso, é fora. A deputada Joana Darc, do Amazonas, comandou uma invasão à sede do Ibama para retirar uma capivara e fazer denúncias sem provas.
Não restou nada do lirismo romântico do conto do alemão E. T. A. Hoffmann, O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos, e da adaptação Alexandre Dumas (o pai) que inspiram o balé de Tchaikovsky. Talvez seja isso a tal Inteligência Artificial.
Grifo do Eugênio Neves
O Grif0
Jornal de humor e política,desde outubro de 2020.
Eletrônico, mensal e gratuito. Publicação de cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do RS)
Editores: Celso Augusto Schröder e Marco Antônio Schuster.
Editores adjuntos: Celso Vicenzi e Gilmar Eitelwein
Editor Licenciado: Paulo de Tarso Ricordi
Projeto Grafico: Bruno Cruz e Caco Bisol
Diagramação: Schröder
Mídias sociais: Lu Vieira
Participam desta edição: Rio de Janeiro: Miguel Paiva. Rio Grande do Sul: Bier, Carlos Roberto Winckler, Donga, Edgar Vasques, Ernani Ssó, Eugênio Neves, Fabiane Langona, Gilmar Eitelwein, Jeferson Miola, Lu Vieira, Martin Suffert,Máucio Rodrigues, Moisés Mendes, Santiago, Schröder, Uberti.
Santa Catarina: Celso Vicenzi.
São Paulo: Bira Dantas, Jota Camelo, Mouzar Benedito
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No país onde a direita se intitula centrão e a extrema-direita finge que é democrática, índio tem que apresentar documento do cartório para provar que seus antepassados moravam nas terras que ocupam ou de onde foram expulsos.
Qualquer um pode ser preso por andar com um cigarro de maconha, preto pode ser acorrentado nas mãos e nos pés sem que isso seja classificado como tortura e avião com 290 quilos de maconha é fait divers. Mesmo que seja avião de um pastor, tio de ex-ministra.
E o Congresso desse país? Partido com três ministros nunca vota unânime a favor do governo, o presidente da Câmara é denunciado por corrupção e violência doméstica e reivindica cargos no governo. Ah, tem gente tentando ressuscitar o orçamento secreto.
Os líderes do bolsonarismo receberam com enorme surpresa a derrota de outubro passado. Foi como se o impossível tivesse acontecido, pois, mesmo enfrentando sua máquina de propaganda, rios de dinheiro e uma avalanche de corrupção no processo eleitoral, Lula venceu. Atônitos, enviaram mensagens obscuras aos apoiadores incitados contra o resultado eleitoral. Alguns imaginaram antecipar o golpe planejado para ocorrer em algum momento do que seria o segundo mandato de Bolsonaro e instigavam seus apoiadores a se manterem mobilizados, enquanto outros, mais cautelosamente, tratavam de formular novos planos.
Implantar um regime autoritário sempre foi o objetivo das lideranças militares e civis desse movimento neofascista. Entretanto, o fracasso da intentona de 8 de janeiro exigiu uma mudança tática. A palavra de ordem de agora é “Lula não pode governar”. Bolsonaristas e seus aliados passaram a usar os espaços de poder de que dispõem para tentar paralisar o governo eleito enquanto preparam seu retorno. Para tanto, abriram três frentes de batalha.
A primeira dentro da própria administração, onde servidores bolsonaristas tratam de sabotar o funcionamento de órgãos essenciais para a realização do projeto de desenvolvimento econômico e democracia social com redução da pobreza, da desigualdade e da discriminação. A sabotagem é facilitada pelo desmonte de inúmeros departamentos e organismos deixados à míngua de pessoal e recursos desde o governo Temer.
Luiz A. Estrella FariaA segunda frente da contraofensiva da extrema direita são as políticas fiscal e monetária. Em se tratando da política fiscal, o absurdo Teto de Gastos foi substituído pelo chamado Arcabouço, mecanismo que autoriza um pequeno crescimento das despesas. Mesmo assim, ainda representa um freio para o financiamento das políticas sociais e para o investimento. Vai ser necessária muita criatividade da Fazenda para viabilizar recursos para as áreas de infraestrutura, saúde e educação. E o BNDES precisará suprir com seus financiamentos os investimentos que o Tesouro não poderá fazer.
A outra perna da política econômica, a política monetária, poderia impulsionar o crescimento ao reduzir a despesa estéril do pagamento de serviços da dívida baixando os juros. Entretanto, o monetarismo tosco do Banco Central mantém a taxa em inacreditáveis 13,75%. Ora, a inflação brasileira caiu, está abaixo de 4%, menor que sua média histórica neste século e, de forma inédita, àquelas de Europa e EUA. Juros na marca de 6% ainda atrairiam capital estrangeiro remunerando bem os investidores. Entretanto, o presidente do BC alega que a
taxa precisa permanecer elevada porque a dívida pública é grande. O curioso é não haver qualquer medida objetiva do que seria “grande”. Os juros altos não apenas fizeram a dívida crescer como causaram uma crise de crédito que quebrou não apenas as Lojas Americanas como está produzindo recessão e desemprego.
A terceira frente é o Congresso, onde a maioria de direita pode se aliar aos bolsonaristas para obstruir o governo com pautas negativas. Como princípios não são o que motiva essa gente, fica a possibilidade de, com sabedoria e arte, fazer alguns agrados e isolar o neofascismo em troca de autorização para efetivar suas políticas. Entretanto, o desgaste será permanente e a obstrução recorrente.
O destino desse terceiro mandato de Lula depende da capacidade de vencer as batalhas travadas nessas quatro frentes. Será preciso prevalecer sobre empresários do agro, banqueiros e outros endinheirados e também as classes médias que os seguem. Herdeiros dos senhores de escravos no ódio ao povo e na falta de compaixão farão de tudo para impedi-lo de dar aos sofridos, desamparados e explorados uma vida melhor.
O presidencialismo de coalizão, conceito criado por Sérgio Abranches no final dos anos 1980, já pode ser considerado como “um rio que passou em nossas vidas”, como diz a canção do Paulinho da Viola.
Aquele sistema, por mais questionável que fosse do ponto de vista ético, moral e republicano, pelo menos tinha como premissas a lealdade e a reciprocidade políticas. Tinha, também, uma lógica racional e, por isso, certa previsibilidade.
No presidencialismo de coalizão, o/a presidente eleito/a entregava ministérios a políticos aderentes e, em troca, partidos adversários, ou até mesmo antagônicos, retribuíam com votos para aprovar no Congresso o programa eleito e os projetos de interesse do governo.
Com sua corrupção intrínseca, o “negócio” tinha funcionalidade e fluía razoavelmente. Isso, no entanto, morreu; não existe mais.
No lugar do finado presidencialismo de coalizão, porém, não voltou a vigorar o sistema presidencialista “original” previsto na Constituição. Tampouco foi adotado o semipresidencialismo. E, menos ainda, o parlamentarismo.
Hoje, o sistema de fato vigente no Brasil é o sistema deputadocráticobaseado na extorsão, chantagem e achaque.
Esse sistema viola a Constituição, pois usurpa poderes, competências e prerrogativas privativas do Poder Executivo, e sabota a soberania popular, pois impede o governo legitimamente eleito de governar com o programa escolhido nas urnas.
No sistema deputadocrático os deputadocratas sequestram o orçamento da União, os fundos públicos, a administração dos
Jeferson Miolanegócios de Estado e as políticas públicas.
Quem decretou a morte do presidencialismo de coalizão foi o deputadocrata Arthur Lira/PP, o chefe da Deputadocracia.
Em março passado Lira sentenciou que “um governo de coalizão, com troca de ministérios por apoios, está comprovado que não vai dar certo”.
Na visão dele, “as emendas resolvem isto sem ser necessário um ministério”. A “isto”, Lira está se referindo à estabilidade política, à governabilidade tutelada e, óbvio, à própria sobrevivência do governo – seja da ameaça de morte por impeachment ou por asfixia.
Os deputadocratas são totalmente viciados no orçamento secreto. Eles não conseguem viver sem as emendas parlamentares que manuseiam sem controle público e nenhuma transparência.
Quanto mais consomem verbas públicas de modo corrupto através
de emendas parlamentares nas paróquias eleitorais, mais precisam da droga viciante.
No sistema deputadocrático, não importa quem é eleito para a presidência da República e qual programa foi escolhido nas urnas, porque os deputadocratas entendem que são eles, e não o presidente eleito, que devem conduzir o país – sempre, claro, na direção do atraso, do conservadorismo, da preservação das desigualdades, das injustiças sociais e do roubo continuado da riqueza e da renda nacional.
Sem correlação de forças no Congresso para se contrapor à Deputadocracia que achaca o governo para saquear a República, Lula está desafiado a construir uma governabilidade popular, ancorada em formas de democracia direta e plebiscitária, para garantir sua sustentação e poder materializar o programa de governo eleito em 30 de outubro.
As ações diplomáticas do governo Lula realizam-se em mares tempestuosos, em águas que escondem rochas traiçoeiras em espaços exíguos. Mais parecem as frágeis caravelas que procuravam o caminho entre os oceanos Atlântico e Pacífico, desbravado por Fernão de Magalhães no século XVI. Guardam uma coerência temida pelo império estadunidense, aliados europeus subservientes e por setores reacionários sul-americanos. Dois momentos recentes evidenciaram os riscos envolvidos e as pressões diretas e indiretas: o encontro com países do G7 e o encontro com países sul-americanos.
Após 14 anos, o G7, que reúne os países capitalistas industrializados mais ricos (EUA,Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá, mais um representante da União Europeia) convidou o Brasil, que deverá assumir a presidência do G20 proximamente. Foram também convidados países do Sudeste Asiático, Índia, representante de ilhas do Pacífico e da União Africana. As sessões trataram de questões de desenvolvimento, energia, meio ambiente e segurança, mas o foco real foi marcadamente geopolítico. Já na abertura da Cúpula foram anunciadas novas sanções contra a Rússia e ameaças a quem apoiasse os russos. Desde o início do conflito a América Latina e a África negaram-se a participar das sanções. No mínimo se deseja neutralizar a Índia e o Brasil, participantes do Brics com a China e África do Sul, a mais importante iniciativa de se formar uma região econômica independente, em uma concepção multilateral de relações interna-
Carlos Roberto Wincklercionais, com inúmeros candidatos a participar do bloco.
Nas sessões de trabalho as intervenções de Lula foram no sentido de crítica ao poder das nações mais ricas, da retomada de discurso ao estilo da Guerra Fria, da necessidade da paz fundada no diálogo, reforçando a posição de neutralidade no conflito ucraniano, à necessidade de romper alianças excludentes, de uma agenda climática efetiva, de trânsito a uma matriz energética sustentável e de reforma das instâncias internacionais como o Conselho Segurança da ONU.
Logo após o G7, sob iniciativa do governo brasileiro, realizou-se a Cúpula Sul-Americana. A intenção era retomar a União de Nações Sul-Americanas, bloco criado em 2008, que ao longo da retomada conservadora pós-anos 10 entrou em declínio. Chegou a reunir a totalidade de países da região, hoje reúne apenas sete: Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname, Peru, além de Brasil
e Argentina que retornaram ao bloco. Juntaram-se à reunião, além dos países mencionados, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai. No discurso de abertura realizado por Lula foi mencionada a Unasul, omitida no documento final denominado Consenso de Brasília. Fala-se em formar grupos de cooperação, há convergências genéricas sobre a importância da crise climática, a defesa da integração regional, promoção de transição energética, do respeito à diversidade, ao Estado de Direito e estabilidade institucional, não interferência em assuntos internos e crítica à desigualdade. As críticas à Unasul, como bloco não legítimo, vieram de Lacalle Pou, presidente neoliberal e conservador do Uruguai, e de Gabriel Boric, do Chile, hoje um centrista liberal. O ambiente político na América Latina não é exatamente tranquilo com o fortalecimento da extrema direita, além de recados nem tão sutis do Grande Irmão e do feroz ataque da mídia empresarial.
Se a coisa continuar assim, o PL vai começar a despachar na Papuda...
Falando nisso, nem quero imaginar o Dia dos namorados dentro da Papuda.
Depois que o Hernandez Catá disse que o bacalhau é uma múmia comestível, decidi que nunca vou comer bacalhau quando estiver no Egito.
Calcinha elegante é aquela que não se importa de ser posta pro lado .
Esse negócio de azeitar articulação política tá mais pra uso de vaselina...
E Curitiba, hein, com aquela festa da cueca furada?
A vida deve ser levada de coração aberto. Velhos Enfartados do Mundo, uni-vos!
General Heleno: inesquecível no Haiti. E também aqui.
Você já foi ao culto na Igreja do ERVAngelho Quadrangular?
O Código Penal não merece essa turma do Arthur Lira.
Um cara estacionou o fuscão na frente do bar, desceu e pediu um café. Alguém na mesa disse que tinha saudades do seu fusca e o papo virou uma algazarra. A coincidência foi que nós quatro já tínhamos sido donos de um. Fora os desconfortos na hora do amor, era uma viatura eficiente e barata. A conversa me fez lembrar de um episódio durante a FENAMILHO, ali por 1993, quando eu trabalhava como repórter e chargista no Jornal das Missões, em Santo Ângelo. Eu colhia informações num trailer da Polícia Rodoviária Estadual, instalado na RS ao lado do trevo que dava acesso ao parque, em meio a grande movimento. No fim da tarde, um fusca azul vindo de Giruá
Fala o xamã:
Se batizar na igreja
Eu desbatizo no mato
Esta foi a razão
Por não ter surgido na obra Um único padre índio
Sem culpa e sem pecado Como ser cristão E feliz ao mesmo tempo?
freou bruscamente diante do trailer, e quase atropelou uma mulher. O motorista desembarcou visivelmente molhado, cambaleou até o guardinha que tava sentado no lado de dentro, fincou o cotovelo no balcão e ordenou em alta voz:
- Me dá um xis galinha e uma Kaiser beeeeem gelada!
Uma empresa constrói shopping sem cumprir as normas e a prefeitura só percebeu a irregularidade quando o prédio estava inaugurado e ocupado. Milhares de kits escolares comprados sem licitação por 14 milhões estão abandonados em depósitos há seis meses. Soma aí 9 milhões de livros também em depósitos e mais mil chromebooks (quase 2 mil cada um) sem uso. Vai ter CPI da Educação de Porto Alegre. Poderia ser mais ampla, a coleta de lixo entrou em colapso em alguns bairros, obras da Copa do Mundo não concluídas e ruas esburacadas. Mas tem cada pista de skate na beira do Guaíba que só vendo!
Tenho poucos instrumentos para análises de conjuntura além da minha intuição, composta de dados ainda não processados, de uma certa experiência que aumenta com os anos e uma, também relativa, leitura cotidiana de notícias. Não foi preciso mais do que isto para entender imediatamente o que era aquele “movimento colorido” em junho de 2013.
A aparente articulação juvenil contra o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus mostraria rapidamente sua verdadeira e velhusco cara e desencadearia um processo que praticamente líquidou com o país e do qual ainda tentamos sair, dez anos depois.
A mobilização de jovens repreendidos pela polícia por todo o Brasil parecia reeditar 1968 e as lutas pela redemocratização dos anos 1970 das quais eu participara tão entusiasticamente. Isto até eu sair para a rua com meus filhos e ver uma desconhecida multidão de classe média quebrando tudo o
que via pela frente, numa prática diferente do que tínhamos praticado nas lutas de rua dos anos 1970 e 1980. A radicalização das ações num governo popular e a quase imediata adesão da Rede Globo depois de Dilma ser vaiada num jogo da Seleção me deram a certeza imediata de que iniciava no Brasil o que eu havia acompanhado como dirigente Internacional dos jornalistas e testemunhado pela imprensa no mundo todo com o apelido carinhoso de “Primaveras Árabes”, depois rebatizadas de “Invernos Árabes”.
Ainda hoje reivindicada por parte da esquerda como um movimento que foi apropriado pela direita, eu nunca tive dúvidas do seu verdadeiro projeto ideológico. Já contei por aqui quando, numa noite no saudoso Café Cartum, conversávamos depois de uma seção de desenho ao vivo e chegou um bando de gurizada das “batalhas” da rua e junto uma linda jovem tunisiana. Já na nossa mesa, pitoresca pelo sotaque e beleza, a revolucionária árabe nos informa que tinha “vindo lutar pela democracia”. Com os meus poucos cabelos em pé perguntei se fazia parte de alguma organização internacional e ela, lampeira e prontamente responde que não. Era uma lutadora pela liberdade individual. Buenas, como desconfio de lobisomem e almas penas, não tive dúvidas que Dilma estava em perigo e que a democracia do Brasil estava comprometida como esteve a do Egito, a da Líbia e a da Síria, além da do Paraguai que testemunhei ruir sob os aplausos de “una esquerda cirandeira”. O resto sabemos como foi. A Lava Jato foi a face adulta do movimento juvenil que foi tudo, menos inocente.
O problema é que quando se trata de bolsonaristas e lavajatistas tudo é verossímil. Suruba de cueca então é mais do que provável.
Na prática a imprensa cobra submissão de Lula às chantagens de Lira.
Lira se atira num jogo de soma zero. É um sicário que chama de “pragmatismo” a chantagem que realiza para reassumir o “orçamento secreto” a maior bandidagem já concebida pelo parlamento brasileiro.
Partido político e sindicato são as duas únicas organizações que te devolverão o investido.
As duas CPIs, a do golpe e a do MST, são, em si mesmas, fake news acolhidas pela mídia comercial.
A solução final, projeto nazista de extermínio judeu, também era lei. Parlamento brasileiro dá indícios claros de esgotamento ético com aprovação do Marco Temporal, o legal imoral.
Boric, o presidente chileno cirandeiro que entregou a constituição para a direita, subiu no palco anti-venezuelana montado pela mídia.
Marco Temporal é a grilagem de terra mais escandalosa e grosseira destes últimos séculos. É o equivalente às Capitanias Hereditárias.
AEDES, O MOSQUITO DENGOSO João Xavier e Diomar Konrad
Quando se fala em crime organizado, a gente logo pensa no Dom Corleone e no Pablo Escobar. Ou, patrioticamente, no PCC, no Comando Vermelho, no jogo do bicho. Mas o buraco é mais embaixo, como sempre.
Li República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro, de Bruno Paes Manso, me sentindo na cadeira do dragão a cada página. Imagina se Bruno se chamasse Bravo, não Manso. Só não fugi do Bananão porque não tenho mais pernas. Então escrevo, é tarde pra trocar de loucura.
Bruno traça o mapa completo, com detalhes acachapantes. Num mau resumo: da formação dos esquadrões da morte ao uso desses matadores pelos milicos na execução e tortura de guerrilheiros, sob o aplauso da imprensa e da classe média. Da contradança dos milicos com os bicheiros, da polícia civil e militar com o tráfico, até o crime se tornar o melhor negócio para todos. Não vamos esquecer a ligação nada fortuita entre milicianos e políticos, às vezes milicianos políticos. Como se diz, tudo junto e misturado – e indistinto.
A omissão do Estado deu espaço pra essa gentalha. É grave, não? O Estado se aliou muitas vezes com essa gentalha. Às vezes até incentivou.
Impressiona a riqueza acumulada a partir da rapina do bolso dos mais pobres. Impressiona o número de mortos, principalmente de inocentes. Mas é aquilo, nascer pobre e preto, no Bananão, é atitude suspeita. Que o Lessa me desculpe o jip-jip-nheco-nheco. Foi inevitável.
O crime organizado não está restrito ao território das favelas,
claro. O que é o Centrão, me diga? Olha que o Centrão age à luz do dia, muitas vezes sendo televisionado, mas é dado como uma guilda de partidos. O que são certas igrejas na lavagem da grana do tráfico, quando não estão elas mesmas no tráfico? O que são certos grupos do Judiciário, feito a gangue da Lava-jato?
Como se explica que uma carga de cocaína no avião de um rico não dê nem prisão preventiva, mas o furto de um pacote de fraldas por uma mãe desesperada dê quatro anos de cana?
Deixe eu tomar fôlego. Melhor me benzer também. Se o garimpo legal é perigoso, imagina o ilegal. E as privatizações por dois tostões, o desmatamento e a grilagem? Sempre se cometeu barbaridades em nome do progresso. Vai se continuar cometendo. O que não se viu
mesmo foi progresso. Eu, pelo menos – fora água encanada, penicilina e xampu pra cabelo seco e oleoso –, não vi grande coisa. Prótese peniana, quem sabe? Pela cara do general Heleno, não funciona. Mas a maior organização criminosa é a elite do atraso, como a chamou Jessé Souza. Há séculos age impunemente, num esquema muito simples: chegaram ao Bananão pra enriquecer rapidamente e depois voltar pra Europa. Quer dizer, vale tudo, foda-se a terra arrasada. Não construíram uma nação. Mantêm até hoje um acampamento, sob o aplauso da grande imprensa, parte interessada nos despojos.
Me benzi dois parágrafos antes. Não adiantou de nada. Vai ver, Deus não é nosso conterrâneo, não. Ou imigrou, como tantos que se cansaram.
O lançamento de uma nova tradução de Os Prêmios e a passagem dos 60 anos da publicação de O Jogo da Amarelinha (Rayuela), do escritor argentino Julio Cortázar, mobilizam o meio livreiro, acadêmico e os devotos leitores de Julio Florencio Cortázar (1914-1984). Estes dois volumes, editados pela Companhia das Letras, são justamente os primeiros romances de Cortázar. Os Prêmios saiu em 1960 e Rayuela, em 1963. Até então, este argentino nascido na Bélgica era conhecido por sua excelente autoria de contos, muitos dos quais beiravam a narrativa fantástica, escritos com a maestria e o requinte que o gênero exige.
Publicado no Brasil nos anos 1970, com tradução de Glória Rodriguez pela Editora Civilização Brasileira, Os Prêmios vem agora numa tradução de Ernani Ssó. O livro traz uma atmosfera que flerta com o realismo mágico: um grupo de pessoasé sorteado para participar de uma viagem a bordo de um navio, que seria um divertido cruzeiro não fosse uma sucessão de eventos envoltos em mistério que atingem cada um dos passageiros de algum modo.
São pessoas de diversas origens, homens e mulheres, jovens e crianças que tentam interagir em busca de explicações e justificativas para o que lhes acontece a bordo. O clima e a construção das personalidades adiantam o que depois seria ampliado e detalhado em Rayuela, o romance que alçou em definitivo o nome deCortázar no panteão dos grandes autores latino-americanos que começaram a escrever em meados dos anos 1950 em diante.
Passado mais de meio século, a leitura de Os Prêmios e sua atmosfera pode ser interpretada como uma antecipação dos realities shows que se popularizaram mundo afora. Esses, claro, filtrados e equipados com o apurado texto, o senso de humor e a formação literária que Cortázar sempre soube trazer em seus livros. Exemplo disso é uma de suas lembranças da infância e juventudeque viveu em Banfield, subúrbios de Buenos Aires, “numa casa com jardim cheio de gatos, cachorros, tartarugas e periquitos: o paraíso”. Deste tempo, Cortázar presta uma homenagem a um amigo em especial: “Um dos que mais o defendia era, e que quando adulto seria caminhoneiro, se chamava AtilioPresuti. Algumas vezes, já adulto, passou e cumprimentou a família. Herminia (a mãe de Cortázar) disse: ‘Se ele soubesse que figura na obra de Julio...’. Presuti sabia que seu protegido da infância agora era um escritor famoso, mas nunca leu uma linha dele. E é nada menos que o célebre Pelusa, de Os Prêmios. Ele, que aparece primeiro como um ‘grosso’, que fala mal, é comum e não gente fina como certos intelectuais do grupo, no final é o que mais se empenha e termina sendo um dos heróis da história”, lembra Mario Goloboff, um ilustre compatriota e biógrafo de JúlioCortázar.
Todavia, antes da publicação de Os Prêmios, amigo e editor desde os primeiros livros de contos, Francisco Paco Porrua, diretor da Editora Sudamericana, observou que as “pessoas reunidas neste barco Malcolm eram demasiadamente inteligentes e, portanto, algo inve-
rossímil. Todos falam da música de Schenberg ou conhecem a pintura de Kadinskyo leram Breton”. A avaliação do editor segue, segundo Goloboff: “Seria algo extraordinário todos serem contemplados com a sorte numa mesma loteria”. Cortázar teria acatado a observação e disse que alteraria alguma coisa no seu texto.
Leitor de Cortázar desde cedo, Ernani Ssó, responsável pela tradução, revela que para ele, o autor de tantos contos que o consagraram sempre, foi maltratado nas traduções brasileiras. “Das que li, Cortázar só se salva nas da Heloísa Janh”, afirma. No texto em que comenta seu trabalho, o tradutor Ernani rende uma homenagem e o reconhecimento do apoio de Heloísa Jahn, reconhecida tradutora que faleceu há pouco tempo. Ernani esclarece que se baseou em duas edições originais de Los Premios, porque tinha receio de que “Cortázar houvesse feito alterações (cortes ou acréscimos) depois das primeiras edições”.
Os Prêmios, de JulioCortázar,Companhia das Letras (382 páginas), São Paulo, 2022.
A mídia cobre política fiscal como se fosse fiscal de política.(Celso Vicenzi)
Criminosos comandam CPIs e chantageiam o governo, e a imprensa trata eles como vossa excelência. O mais nefasto nas fake news não são demências como mamadeira de piroca, mas a papa de papagaio servida diariamente, a destruição do sentido das palavras, os fatos distorcidos ou abordados de modo que se tornem meras sombras. No fim das contas, as pessoas só lembram dos slogans. (Ernani Ssó)
Já são tão poucos homens honrados que se tornou cada vez mais difícil atingir a hora de alguém. (Celso Vicenzi)
Bozó “incorporou” mais de 9 mil itens da República ao acervo pessoal. E eu, que não incorporo nem a Pomba Gira, vou em cana!
A Damares, trepada na goiabeira, vê Jesus. Roberto Jefferson, em cana, ouve vozes. Milico expulso do exército é dado oficialmente como morto pra mulher não perder a pensão. O bozo, como álibi, alega que estava doidão. O Bananão é um imenso Macondo. (Ernani Ssó)
Tão obcecado que mantinha sob regime até a caixa de gordura da casa.(Celso Vicenzi)
E o Lira? Delira!(Celso Vicenzi)
Na real, Bolsonaro não foi presidente do Bananão. Foi presidente do Rio das Pedras. (Ernani Ssó)
Meninos Guerreiros
Dia 1 de julho Paulo de Tarso Riccordi autografa a segunda edição (a primeira foi e-book) de Meninos Guerreiros. Uma história de adolescentes criados num Exército no século 19 que, agora civis, usam seus talentos servem para atos de violência; Encomendas até 26 de junho no site editoracoragem.com.br. Autógrafos dia 1° de julho, na livraria Via Sapiens - rua da República, 58.Porto Alegre - RS
O Brasil está tão dividido que além das extremas direita e esquerda tem ainda o extremo centro – aqueles que não saem de cima do muro de jeito nenhum.(Celso Vicenzi)
"Temos sesquicentenário próprio" (Pasquim 150)
"Um jornal mais para o EPA do que para o OBA" (Pasquim 158)
"Um jornal que sempre foi independente, não era?"( Pasquim 161)
"Um jornal que não se vende, a não ser aos seus leitores" (Pasquim 161)
"É relinchando que a gente se entende" (Pasquim 188)
"Tesoura sim! Alicate não!" (Pasquim 188)
"Prontos a resistir até a primeira gota de sangue" (Pasquim 196)
O que é pior? Um cálice de amargura ou um copo cheio de mágoa? (Celso Vicenzi)
No Brasil, a língua portuguesa é a que mais fala e escreve em inglês. (Celso Vicenzi)
Há gente espantada com os crimes cometidos pelo marreco de Maringá desde os tempos do caso Banestado. O que devia espantar é como o Judiciário segurou essa peteca por duas décadas. Devia, mas, sejamos realistas, quem ainda se espanta com esta instituição? Basta lembrar que ela pune um juiz que vende sentenças com aposentadoria integral.(Ernani Ssó)
É tanta gente fazendo plástica no Brasil que a tecnologia de reconhecimento facial não vai funcionar.(Celso Vicenzi)
Lu Vieira ganhou seu primeiro prêmio internacional em junho. Terceiro lugar na escolha do público na 18ª edição do Festival de Trento. Ilustração publicada no GRIFO 11. Parabéns, Lu!
No início era o Verbo. Mas assim que Adão e Eva, nus, se entreolharam, surgiram os adjetivos. (Celso Vicenzi)
Sem-terra, merece CPI?
Sim... é gente atrevida: Não obedece “coroné”, E ousa produzir comida!
Vaso ruim não quebra? Berlusconi já não está vivo. Se tivesse levado seus iguais... Ah... que dia mais festivo!
Dá pra escapar dos fardados, Mesmo que venham com fuzil. Mas uma arma que parece música, Lira, é a mais perigosa do Brasil.
Bons costumes, o que são, fariseus?
Propagandeiam ir à missa ou ao culto, Não ter desejos, na vida ser só um vulto Sem prazer, como manda seu Deus.
O trabalho enobrece o homem, Tenta nos convencer o patrão. Pergunto: alguém já virou nobre Trabalhando e não sendo ladrão?
Todos os caminhos levam a Roma.
Ah... que tempos, até invejo. Às vezes parece que pra mim Que todos levam ao brejo!
Se os babacas do Brasil se juntassem, Que multidão portentosa! Cantaria louvores ao capitalismo Achando a desgraça gostosa!
Enxerguem, enxerguem...
Falar isso às vezes é tedioso. Para cegos políticos, Quem tem um olho é mentiroso.
De pensar morreu um burro, Disse um que nasceu pra obedecer.
De não pensar morrem muitos, Mas não há como o convencer
(Continuação do número anterior)