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Um dia de fúria, orações, fezes e lágrimas

Carlos Roberto Winckler

Golpe malogrado em 8 de janeiro, Brasília. Cômico, patético, com imenso potencial de violência, com protagonistas ocultos e com prepostos que cumpriam, algo invisíveis, a missão de comandar em meio à malta entregue ao ódio, depredando o que encontrava pela frente no Congresso, Palácio do Planalto e STF.

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Não bastassem as imagens das câmeras de segurança, muitos da horda filmaram suas ações, tiraram selfies e as distribuíram pelas redes, produzindo provas contra si. Um oceano de ressentidos pela derrota eleitoral.

Golpe anunciado. Dois meses em frente aos quartéis pelo país, exigindo intervenção militar. Os atores: agrofascistas, setores da alta burocracia, especuladores variados, militares, apoiados pela “família militar”, temerosos do "retorno de comunistas”, preocupados com a perda de privilégios e cargos públicos, reforçados após o golpe de 2016, a pequena burguesia atrelada ao agrofascismo, trabalhadores seduzidos ou contratados, pequenos criminosos, além de setores religiosos pentecostais. Golpe articulado por militares e Bolsonaro, em retiro espiritual nos EUA, além de apoiadores, secundados pela PM do Distrito Federal. Na surdina, o alto comando militar aguardava que Lula aceitasse, em meio ao caos, a aplicação da GLO, oportunidade das Forças Armadas tutelarem o governo.

A pronta intervenção federal, sob comando civil, restabeleceu a autoridade sobre as forças necessá- rias à repressão do golpe. O recuo militar não foi por pendores democráticos; foi cálculo do custo de isolamento político.

Do início da marcha dos sediciosos acampados em frente ao QG de Brasília com anuência militar, à invasão de prédios dos Três Poderes e repressão com derrota transcorreram oito horas. Ao final: escritórios, salas e equipamentos destruídos, mutilação de obras de arte, quarenta policiais feridos.

Houve resistência da polícia legislativa e judiciária apesar da cumplicidade golpista do comando do batalhão encarregado de defesa do Planalto e de militares do GSI, encarregados da segurança institucional. Afinal, quem abriu as portas do Planalto e deu acesso à sala onde se encontravam armas, que foram surrupiadas? Objetos presenteados, em exposição no Senado, sumiram. Quem protegeu a fuga de predadores – suspeita-se de familiares de militares – que encontraram guarida no acampamento do QG? Urrava-se O poder é nosso! em meio a grupos rezando, ao quebra-quebra generalizado, ao estoqueamento de obra de Di Cavalcanti, ao saque pueril de docinhos em frigobar, à destruição de documentos, à depredação de porta com o nome do ministro Alexandre de Moraes, carregada triunfalmente.

O nosso, já na fase de prisões em massa no interior dos prédios, transmutou-se no desespero de coronel do exército tentando impedir a prisão de um sujeito fardado com uma enorme mochila às costas. Esse é nosso, clamava. Afinal, o que continha a mochila? Bombons? Armas? Troféus colhidos no fragor da batalha?

Defecaram e urinaram no Palácio do Planalto reivindicando território. Ação comemorada pela Vovó do Barro, de extensa ficha criminal. Caguei tudo, vociferava. À ralé restou esse ato e o desespero da incompreensão do porque foram abandonados e presos. Aos democratas restou a indignação pelo impedimento da entrada de policiais com ordem de prisão no acampamento em frente ao QG.

Nada será como antes.

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