Grifo 32

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YANOMAMIS Genocídio anunciado PÁGINA13 JORNAL DOS CARTUNISTAS DA GRAFAR Nº 32 01-28 FEV 2023 Descoberta a alma bolsonarista! Não podia dar em outra... deu PÁGINA 3 merda!

Fedeu!

Valdemar, o Ricardão, é grato e paga suas dívidas. Chega a assumir a corresponsabilidade no crime, para tentar banalizar sua gravidade e esconder a autoria. É como se dissesse: ora, todo mundo pensava em golpe, até eu. Valdemar, o Ricardão, arrisca o pescoço para tentar salvar o do marido da Michelle.

Deu merda, diz a a capa deste jornal de humor, inspirada no fedor que esta tragédia exala, confirmada na imagem-símbolo do cara cagando no STF. Valdemar sabe que o fedor nas mãos revelará os que chafurdam nos excrementos, mas tenta proteger os parças.

O dia 8 é apenas um símbolo deste furúnculo que iniciou em 2013 e veio a furo em 2018. O “com o Judiciário, com tudo”, do Jucá, para derrubar Dilma, nunca tentou esconder o interesse básico de setores a quem a lei e a ordem

O GRIFO do Eugênio Neves

incomodavam. A sensação que temos é de que, desde 2013, quando este golpe iniciou, uma das táticas é disfarçar o crime pela sua intensidade, repetição e banalização. É mais ou menos como fazem os assassinos profissionais, que exageram na violência para poderem alegar insanidade.

A inédita invasão nos três palácios do poder brasileiro, o à vontade como se comportaram os bandidos e a polícia, a cagada nada simbólica no STF, a proteção das forças armadas, as férias coletivas de todo o comando da segurança do DF dão o tom da comédia indesejável que contracena com a tragédia Yanomami e nos exige assumir uma perspectiva do realismo mágico da literatura latino-americana, para garantir a frágil sanidade que nos resta.

Deu merda e fedeu. O Grifo propõe uma faxina geral.

Jornal de humor e política, desde outubro de 2020.

Eletrônico, mensal e gratuito. Publicação de cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do RS)

Editores: Celso Augusto Schröder e Paulo de Tarso Riccordi.

Editor gráfico: Caco Bisol

Mídias sociais: Lu Vieira

Participam desta edição:

Bahia: Cau Gomez e Hector

Cartunista

Minas Gerais: Lor e Quinho

Paraná: Benett

Pernambuco: Thiago Lucas

Rio de Janeiro: Aroeira, Caio

Paiva, Carol Cospe Fogo, Latuff, Marcelo Martinez e Miguel Paiva

Rio Grande do Norte: Brum

Rio Grande do Sul: Alisson

Affonso, Bier, Carlos Roberto

Winckler, Donga, Edgar

Vasques, Ernani Ssó, Eugênio

Neves, Fabiane Langona, Gilmar

Eitelwein, Jeferson Miola, Lu

Vieira, Máucio Rodrigues, Moisés

Mendes, Omar Rösler, Santiago, Schröder, Tarso e Uberti

Santa Catarina: Celso Vicenzi, Cláudio Duarte e Zé Dassilva

São Paulo: Bira Dantas, Caco

Bisol, Carlos Castelo, Céllus, Fernando Vasqs, Gilmar

Machado, Jorge o Mau, Jota

Camelo, Luiz Hespanha, Luiz

Lanzetta, Mouzar Benedito e Paulo Stocker

E MAIS:

Argentina: Adão Iturrusgarai

Colômbia: Elena Ospina

Cuba: Mongo-Ramón Diaz Yanez

México: Angel Boligán

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CLIQUE AQUI E ENTRE NO GRUPO 1 CLIQUE AQUI E ENTRE NO GRUPO 2 CLIQUE AQUI E ENTRE NO GRUPO 3 | GRIFO32 FEV2023 | 2 | editorial O Grifo

O povo elegeu. O povo empossou.

Nunca antes na história deste país tivemos uma festa cívica tão significativa e emocionante quanto esta em que o próprio povo colocou a faixa no Presidente da República.

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A digital militar

instrumento para demandar militarização”.

É notório que os militares são “os engenheiros do caos” – título do livro do italiano Giuliano da Empoli sobre o papel instrumental das redes sociais para a expansão da extrema-direita.

O8 de janeiro condensa aspectos centrais da guerra fascista contra a democracia.

Não há paralelo na história de atentado assombrosamente ousado, violento e destrutivo contra os Poderes da República e o Estado de Direito. A fúria da horda fascista tinha endereço certo: o coração do poder civil e a institucionalidade democrática.

Um ataque tão esperado quanto anunciado. Apesar de previsível, impressionantemente surpreendente, devido ao rastro de terror e destruição.

No 8 de janeiro não teve improviso. Tampouco falha involuntária da PM, perda de controle da situação, ou insuficiência “ocasional” de tropa do Batalhão da Guarda Presidencial do Exército para impedir a invasão do Palácio do Planalto.

Tudo foi metodicamente arquitetado para acontecer tal como aconteceu.

PM’s fazendo selfies enquanto terroristas saídos do QG do Exército invadiam o Congresso, o STF e o Planalto evidenciam a aliança criminosa de policiais e militares – sobretudo do Exército – com o caos.

Caso os atentados tivessem sido perpetrados ainda durante o mandato do governo fascista-militar, hoje o Brasil estaria nas trevas.

Bolsonaro e seus generais-mentores teriam decretado uma GLO “para que algum general assuma o governo”, como resumiu o presidente Lula em 10/1 ao explicar porque rechaçou a inconveniente proposta levada a ele pelo seu ministro da Defesa José Múcio.

O professor Odilon Caldeira Neto/UFJF aporta uma interessante hipótese sobre o “Capitólio de Brasília”.

Para ele, o 8 de janeiro foi “um evento apoteótico de deslegitimação das lideranças políticas e instituições democráticas. O plano é cercear o governo pelo centro e beiradas para tornar insustentável o exercício de poder. O caos é um

O general Rego Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro, enaltece o domínio, pelo Exército, das tecnologias digitais: “mergulhar de cabeça no ‘submundo’ das mídias sociais e se tornar o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil exigiu sangue frio na interlocução sem rosto, típica da internet, suor à frente do teclado e lágrimas de emoções pela conquista do cimo”.

O empenho em fazer do Exército a instituição “com maior influência no mundo digital” é coerente com a estratégia militar de guerra híbrida para gerar caos e desestabilizar a democracia.

A militarização das instituições e da sociedade – e, em consequência, a tutela da democracia e a interferência ilegal das Forças Armadas na política – é uma chave explicativa essencial para identificarmos os atores centrais deste processo e os complexos desafios a serem enfrentados.

O presidente Lula impôs uma derrota estratégica aos militares na batalha do 8 de janeiro. A coesão nacional em defesa da democracia criou uma oportunidade histórica inédita para o poder civil enterrar em definitivo o delírio militarista do Poder Moderador.

A democracia venceu esta dura batalha, mas ainda é preciso vencer a guerra fascista contra a democracia. Para isso, o enfrentamento urgente da questão militar será crucial.

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Flechas, cotovelos e tapiocas em quatro atos

Aenésima tentativa de golpe não foi derrotada totalmente porque o fascismo tem aceitação na sociedade. A derrota parcial é resultado das forças da liderança de Lula e das instituições em re/construção; da falta de apoio interno e externo aos golpistas e da mediocridade bolsozóica, que se isolou ainda mais ao fornecer em imagens e documentos provas contra si. A Justiça não pode ser branda com inimigos da democracia, usem jeans, tailleur, terno ou farda. O direito à impunidade e a tutela militar não estão garantidos na Constituição.

Mas, reconheçamos: a mediocridade e a impunidade parecem infinitas. Elas foram exercidas em provincianismo, mesquinhez e plenitude por Temer, Bolsonaro, um certo juiz e promotores fascistóides. Audácia virou covardia, respeito virou estupidez e a imbecilidade ganhou eco. A mentira e a ignomínia viraram leis e políticas governamentais. O literato de sarcófago, o Duce de Condomínio e os camisas pretas de Curitiba contaram ora com o aplauso, ora com o silêncio estrondoso da mídia e dos Rentistas Selvagens e seus Farialimers

O roteiro antidemocracia continua pronto para reuso. Atualizemos en-

tão seus calcanhares e nuances forjados e superdimensionados, afinal Lula, o PT e a esquerda não são adversários, mas inimigos da mídia corporativa com suas armadilhas e ilações; e de segmentos sociais que não se admitem fascistas, mas apenas elite político-econômica e militar.

I Largadas e queimadas

A mídia já lançou candidatos à presidência. Se der para derrotar Lula agora, ótimo. Se não, que ele seja manietado e que sejam dinamitados rumores e pontes da reeleição ou cortadas as asas de qualquer provável sucessor à esquerda. Haddad, Dino, Rui Costa, Wellington Dias, Camilo Santana e Alexandre Padilha estão entre alvos a serem abatidos. Tem também a Marina, o Sílvio Almeida e o renitente Ciro Gomes, que precisam ser içados para embaralhar o jogo. A direita limpinha que sempre se diz de “centro”, tem Lady Tebet, Alckmin e Alexandre Morais, que devem ser louvados e vitaminados, até nas intrigas. Todo mundo na fogueira para ser queimado como batata doce em festa junina já na largada, o que inclui quem o golpismo precisa preservar.

II Haja flecha

Janja também é alvo preferencial. Haja flecha para quem ousa ser mu-

lher no sentido amplo, geral, irrestrito, feminista e companheira do termo. Qualquer palavra ou atitude vira polêmica. Do vestido ao substantivo, do silêncio ao pretérito imperfeito do subjuntivo. Diminuí-la é preciso. Se nada existe contra ela, então tudo se fabrica, tudo deve ser superdimensionado.

III Guerra de Cotovelos

“Adoro fazer política pela mídia que finjo odiar”. A frase se aplica a muitos que estão no governo Lula e que acham que não tiveram o reconhecimento devido, leia-se cargos. No espectro da Frente Ampla isso é parte do jogo. No interior da esquerda, também. Mas, no Brasil de agora, a guerra de cotovelos (e não só) por espaços praticada via arsenal de intrigas, é canalhice mesmo. O velho e manjado fogo amigo amado pelo inimigo.

IV Tapioca Forever

As palavras impeachment e corrupção (a dos outros) continuam na moda. Elas servem ao colunismo amestrado e ao golpismo de plantão. Lula será alvo de pedidos de impeachment que virão até de Marte. “Denúncias” pipocarão e podem superar o monumental Escândalo da Tapioca que atingiu o então ministro dos Esportes, Orlando Silva. Quem viver rirá.

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jorge, o mau
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máucio
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Um dia de fúria, orações, fezes e lágrimas

Golpe malogrado em 8 de janeiro, Brasília. Cômico, patético, com imenso potencial de violência, com protagonistas ocultos e com prepostos que cumpriam, algo invisíveis, a missão de comandar em meio à malta entregue ao ódio, depredando o que encontrava pela frente no Congresso, Palácio do Planalto e STF.

Não bastassem as imagens das câmeras de segurança, muitos da horda filmaram suas ações, tiraram selfies e as distribuíram pelas redes, produzindo provas contra si. Um oceano de ressentidos pela derrota eleitoral.

Golpe anunciado. Dois meses em frente aos quartéis pelo país, exigindo intervenção militar. Os atores: agrofascistas, setores da alta burocracia, especuladores variados, militares, apoiados pela “família militar”, temerosos do "retorno de comunistas”, preocupados com a perda de privilégios e cargos públicos, reforçados após o golpe de 2016, a pequena burguesia atrelada ao agrofascismo, trabalhadores seduzidos ou contratados, pequenos criminosos, além de setores religiosos pentecostais. Golpe articulado por militares e Bolsonaro, em retiro espiritual nos EUA, além de apoiadores, secundados pela PM do Distrito Federal. Na surdina, o alto comando militar aguardava que Lula aceitasse, em meio ao caos, a aplicação da GLO, oportunidade das Forças Armadas tutelarem o governo.

A pronta intervenção federal, sob comando civil, restabeleceu a autoridade sobre as forças necessá-

rias à repressão do golpe. O recuo militar não foi por pendores democráticos; foi cálculo do custo de isolamento político.

Do início da marcha dos sediciosos acampados em frente ao QG de Brasília com anuência militar, à invasão de prédios dos Três Poderes e repressão com derrota transcorreram oito horas. Ao final: escritórios, salas e equipamentos destruídos, mutilação de obras de arte, quarenta policiais feridos.

Houve resistência da polícia legislativa e judiciária apesar da cumplicidade golpista do comando do batalhão encarregado de defesa do Planalto e de militares do GSI, encarregados da segurança institucional. Afinal, quem abriu as portas do Planalto e deu acesso à sala onde se encontravam armas, que foram surrupiadas? Objetos presenteados, em exposição no Senado, sumiram. Quem protegeu a fuga de predadores – suspeita-se de familiares de militares – que encontraram guarida no acampamento do QG? Urrava-se O poder é nosso! em meio a grupos rezando, ao quebra-quebra

generalizado, ao estoqueamento de obra de Di Cavalcanti, ao saque pueril de docinhos em frigobar, à destruição de documentos, à depredação de porta com o nome do ministro Alexandre de Moraes, carregada triunfalmente.

O nosso, já na fase de prisões em massa no interior dos prédios, transmutou-se no desespero de coronel do exército tentando impedir a prisão de um sujeito fardado com uma enorme mochila às costas. Esse é nosso, clamava. Afinal, o que continha a mochila? Bombons? Armas? Troféus colhidos no fragor da batalha?

Defecaram e urinaram no Palácio do Planalto reivindicando território. Ação comemorada pela Vovó do Barro, de extensa ficha criminal. Caguei tudo, vociferava. À ralé restou esse ato e o desespero da incompreensão do porque foram abandonados e presos. Aos democratas restou a indignação pelo impedimento da entrada de policiais com ordem de prisão no acampamento em frente ao QG.

Nada será como antes.

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A verdadeira história da minuta

Chamaram Carluxo para escrever a minuta. Estavam todos os ministros do núcleo duro e parte do núcleo meio mole ao redor de Bolsonaro.

– Mas o que é uma minuta? –quis saber Carluxo.

– É o resumo do decreto do golpe depois que o Lula assumir – disse Bolsonaro.

Carluxo saiu da sala e voltou em 10 minutos com a minuta. Leu em voz alta:

– Em nome das quatro linhas da Constituição, fica decretado que, eu como chefe Supremo das Forças Armadas, ordeno um golpe militar ad infinitum, para o bem da nação e da família.

Os ministros se olharam, e os militares se olharam mais do que os civis.

– Só isso? – quis saber Paulo Guedes.

– É um resumo – retrucou Carluxo.

E o filho explicou que nunca escreveu nada com mais de cinco linhas. Que um golpe não precisa de muita explicação.

Havia um jurista das antigas na sala, do tempo do AI-5, que pediu para não ser citado.

O jurista soletrou que assim deveria ser o começo do decreto:

– Fica decretado, de inopino, o golpe em defesa da democracia, no que pertine ao exposto abaixo.

Gostaram, e a minuta foi ditada ali mesmo a uma secretária, sem muitas delongas, porque uma minuta é coisa rápida.

Feita a minuta, Bolsonaro lançou a dúvida:

– E quem vai ficar com a minuta, enquanto eu estiver em Orlando e a polícia do Ibaneis invadir Brasília?

Ninguém queria ficar. Um porque entraria em férias, outro porque não tinha cofre, outro porque

não sabia como conservar uma minuta em casa.

Bolsonaro disse que deveriam telefonar para uns manés de confiança. Ligaram ali, mas todos os manés disseram que estavam fora da jogada.

Três disseram que já estavam até com o Lula, porque aquilo não daria certo.

E a minuta ficou sobre a mesa. Até Carluxo disse que seria uma bucha ficar com aquilo em casa.

– Por que não colocamos num pen drive? – perguntou Ciro Nogueira, com ar de sabido.

Carluxo saiu atrás de um pen drive. Voltou esbaforido. Ninguém mais tinha pen drive no palácio.

– Tem até um mimeógrafo na sala do Heleno, mas não tem pen drive.

Bolsonaro esbravejou:

– Se vamos vencer, por que o medo de vocês? São uns cagões.

Ajeitaram-se na cadeira, mas não reagiram. Foi quando Eduardo disse que poderia levar a minuta

para a casa de uma tia em Rio das Pedras.

– Isso não pode sair do grupo, de jeito nenhum – disse um general.

E se o Fabrício Queiroz, que é homem de confiança, guardasse a minuta? E se pedissem emprestado um cofre das Americanas?

Foi quando Bolsonaro teve a eureca, lembrou de um nome e telefonou apressado:

– Vem aqui na minha sala agora. Logo depois, Anderson Torres entrou no gabinete, com seu jeitão prestativo, e perguntou:

– Problema com o Moro de novo? Bolsonaro explicou:

– Nada disso daí. Pega esse papel e guarda em casa.

O delegado pegou e, antes de sair, ainda teve uma dúvida:

– Precisa guardar bem?

– Guarda numa panela na cozinha – disse Bolsonaro.

O delegado bateu a porta e os núcleos duro e meio mole caíram na gargalhada.

| | 12 | fez-senews | moisés mendes

yanomamicídio

O governo Bolsonaro é o responsável pelo genocídio não só dos Yanomami, mas de todos os povos originários, que cometem o "crime" de haver ouro no subsolo de suas terras.

Pneumonia, malária, covid, desnutrição crônica, contaminação por mercúrio, omissão de socorro tem sido o método de sua eliminação.

O general Hamilton Mourão, como presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, passou o controle da região às Forças Armadas, ampliou o desmonte dos órgãos de controle civil contra os crimes ambientais. Ele, Damares e Marcelo Salles, por ação ou omissão, possibilitaram o suporte ao mais recente extermínio de indígenas no Brasil.

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cau gomez miguel paiva
allison
cláudio duarte
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PALAVRAS DA SALVAÇÃO

A única coisa boa que o Bozó fez na vida foi não aparecer na posse do Lula.

Enfim, tiramos o bode da sala. Ou do que sobrou da sala.

Era só o que nos faltava: um golpe à la minuta.

Se os bozolentos presos perderem o visto pros EUA, a Disney vai quebrar.

Foram em cana e reclamam da comida. - Aiin, não tem nem Lagosta à Thermidor!

Eles até podem suportar o cárcere, mas nunca o nosso riso!

No exame da próstata os presos da papuda abrem a palma da mão...

Atenção: Papuda e Colmeia abrem licitação pra fornecimento de osso e pé de galinha.

Jogue-me aos burros e eu voltarei liderando o cardume.

Hoje é dia de comer fígado acebolado. Ainda não sei de quem.

Sonia Guajajara ministra: Agora os bozolentos vão ver o que é programa de índio!

O Cemitério Jardim da Paz tem esse nome justamente porque a vizinhança é tranquila.

"Desmonetizado", em bom gauchês, significa "mais duro do que pau de preso".

Uma prova de que a dieta do lutador de box foi mal é quando ele passa a lutar sumô.

- O senhor já esteve no São Pedro?

- No teatro ou no hospício?

MADRUGADA

Conversas e risadas

Embaixo da minha cama

Os tênis de lona

Contam aos sapatos

Sobre o final de semana

VARIAÇÕES SOBRE

O CADERNO

DO ARMAZÉM

Devo

Não nego

Pago quando puder

Nego

Não pago

Devo quando puder

Pago Não devo Nego quando puder

SEM CORDÃO

Frase pintada Acima da janela Da maternidade Voltada para o leste

Até o sol nasce aqui

BAR DO NEREU

Acalabresa vendida no Bar do Nereu era de uma peça apenas. Jazia exposta numa caixa de vidro que ficava na ponta dianteira do balcão. E ali, dentro de uma forma de alumínio, tinha por cama um laguinho de óleo. Dava a impressão de que era sempre a mesma. A gente chegava e lá estava ela, nadando em colesterol ruim. Ninguém pedia. A idade do petisco era uma incógnita que oscilava entre a fossilização e a metafísica. Talvez um teste de Carbono 14 pudesse revelar seu vencimento. De que bicho seria aquela linguiça? Porco? Cão? Gambá? Dinossauro? Na verdade, havia um silêncio tácito sobre a coisa. Todo mundo a via, dava um suspiro e ia pra mesa tratar das amizades líquidas. A calabresa era a única comida servida pela casa – além do gato, que, por razões de logística ou de afeto, continuava cru. E assim foi, até que, num final de tarde chuvoso, entrou no bar um sujeito franzino com cara de índio, trajando macacão de pintor. Pediu um ferrinho e perguntou o preço da calabresa. Quando Nereu serviu a iguaria, desceu no recinto um silêncio reverente de despedida. O cara comeu tudinho com farofa, secou o trago, pagou e saiu. Nunca mais o vimos. Nunca mais.

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Tragicomédia de erros

Pixs

Se a imprensa tivesse dado os nomes aos bois, a manada certamente não teria chegado aonde chegou.

Viciado é assim: faz rachadinha até com seu próprio cartão de crédito. Velhinho fascista continua sendo, fundamentalmente, fascista.

Subprocurador-geral substituiu concretamente o Aras que virou fantasma assustado.

Quem desenha sabe, o cenho franzido do Aras é muito usado por estelionatários e golpistas quando tentam parecer honestos.

Realismo Fantástico foi a denominação encontrada para a literatura produzida a partir da América Latina e Caribe num determinado momento histórico. Os escritores aceitaram a alcunha a partir da compreensão de que a realidade da região só poderia ser rascunhada se remetida para uma suprarealidade em que o absurdo assumia a condição do principal personagem e tentava dar conta da submissão do real aos interesses políticos mistificadores de uma minoria que se perpetuava por séculos.

Alguns anos depois, na parte desenvolvida da América, uma versão desenvolvida deste fantástico aparece nas mãos de dois irmãos cineastas, os irmãos Coen. “Fargo, Uma Comédia de Erros”, talvez seja o retrato mais corrosivo do cinema estadunidense das últimas décadas. O cenário é o interior caipira, com sua violência tranquila e sua cultura peculiar. O ponto em comum do realismo mágico latino com a oligofrenia atávica do norte é a técnica de exagerar a realidade para torná-la visível.

O Brasil de hoje não tem o charme ou o romantismo do gênero lite-

rário latino-americano nem o estranhamento cinematográfico ingênuo dos irmãos estadunidenses. Mistura de farsa com o trágico, o Brasil nos últimos anos se emaranhou na mentira, se embrenhou na violência gratuita e submergiu na irracionalidade.

Não é uma clássica comédia de erros como o filme Fargo e muito menos a graciosa fantasia de Garcia Marques ou Bioy Casares. É uma tragicomédia da farsa que esconde camadas de interesses embaladas com a violência das oligarquias nacional, temperadas com o non sense da classe média rancorosa e com a traição do lumpem criminoso.

Em troca da possibilidades de se lambuzar na mesa, a elite econômica nacional jogou os talheres para o alto e se jogou nos pratos que, laboriosamente, o país havia conseguido servir. Abandonou os modos, sua história e a vergonha na cara. O 8 de janeiro é o retrato de uma classe social ensandecida pelo gosto do sangue, aliada a alguns servos em busca das migalhas e com a certeza de que a farra terminaria aquelas dias. Saudades de quando ela tinha um discreto charme.

Espero que depois da prisão de Bolsonaro o pessoal pare de agradecer a Deus na beira do campo. Só não gosto da cara de surpresa de certos jornalistas.

É fake news que o surto de caganeira em Santa Catarina tenha origem nas lojas Havan.

Talvez agora entendam que cagar no STF é mais grave do cagar no WhatsApp. Braga Neto e Heleno Nunes já dão sinais de contração intestinais.

Parece ser boato que Bolsonaro está negando que seu nome está tatuado na pingola do Daniel Alves. Carluxo assume.

| GRIFO32 FEV2023 | 16 | querquedesenhe? | schröder

Meu dia no dia da posse

Estava em Tapes, na casa de uma amiga, bem pertinho da lagoa e longe da internet. Muito bonita e agradável – uma casa feita pra gente não levar junto as preocupações. O que não fiz, de besta.

Mas passei muitas horas na varanda, lendo Lucia Berlim e Rubem Braga. Nunca vi tantos passarinhos desde a minha infância. Tinha até tico-ticos, que eu pensava que estavam a caminho da extinção.

Na manhã da posse, um rapaz com toda cara de coitado deixou um volante preso no portão. Veja só, era uma propaganda da campanha do Onix. Estavam lá as caras trogloditas: a dele e a do miliciano. Embaixo, a triste legenda: Tapes está com Bolsonaro. Botei no lixo descartável – Tapes não tem coleta de lixo tóxico.

Um sol de rachar, muita poeira por causa dos carros dos turistas e aquele pobre diabo perdido numa esquina do tempo. Tem a mesma tristeza e loucura do sebastianismo. Ou não. É um sebastianismo degradado, vil até o tutano. Aí lembrei de um conto do Philip K. Dick: o mundo acabou, mas as fábricas automáticas continuam produzindo quinquilharias. Sim, talvez o melhor comentário sobre o pesadelo capitalista.

Assisti à posse na casa de um conhecido. Puxamos a tevê pra varanda e ficamos de costas para os vizinhos, bolsonaristas, que almoçavam embaixo de uma figueira. Não deixamos o som tão alto como eles às vezes deixam o som de seus sertanejos universitários, ou ginasianos. Não queríamos esfregar a vitória na fuça deles, como muitos

outros da mesma laia, na frente de quartéis ou nas redes sociais, ficaram esfregando a derrota em nossa cara. Pena? Acho que pode ser mais simples: educação, fair play, um treco assim. Ou sensatez? Não se mexe com animais feridos, como dizia o Tarzan.

Não me senti numa desforra. Me emocionei, às vezes, apesar do meu cansaço e pose de durão. Acho que não consigo esquecer a luta que temos pela frente, mesmo em plena festa.

Quando o pessoal gritou sem anistia, gritei junto mentalmente. No outro dia vi o título de uma coluna da Thaís Oyama que chamou isso de jacobinismo. Gozado. Não desejar indulto para criminosos

agora é jacobinismo. Se fosse uma manada bozolóide gritando lincha, seria apenas grosseria. Ou liberdade de expressão, como implorar por golpe diante do quartel.

Vi que lavaram a rampa do palácio com sal grosso. Devemos começar a lavar também as palavras, me parece. Aposto que vai faltar sal grosso no mercado. Como eu gostaria de poder escrever sem raiva. Nem digo com alegria, sem raiva dava pro gasto.

| GRIFO32 FEV2023 | 17 | borracheiro&exorcista | ernani ssó
caio paiva

Todo presidente deixa um legado. O último que saiu tirou o “le”.

Mouzar Benedito

Vida de fascista na Flórida não está sendo nada florida.

Carlos Castelo

A mãe de Hitler, a avó de Mussolini e a tia de Goebbels morreram na prisão em Brasília e ninguém denunciou os crimes cometidos contra essas patriotas.

Luiz Hespanha

O diabo veste farda.

Celso Vicenzi

Ganhamos a eleição, mas a extrema direita volta e meia rouba a narrativa.

Caco Bisol

Vamos ter que estatizar as Lojas Americanas?

Schröder

Um dia é da fake news, o outro do desmentido.

Carlos Castelo

O que falta para Bolsonaro sentar no banco dos réus? Escolher a almofada?

Celso Vicenzi

O boi baba... No dia 8, vendo Brasília pela TV, me lembrei da velha cartilha. Como baba!

Mouzar Benedito

Se Timothy Leary fosse pagodeiro seu grupo se chamaria Fungo de Quintal.

Carlos Castelo

Anderson Torres preso. Nada mais perfeito. Lugar de torres é no xadrez.

Santiago

José Múcio precisa de um ministro para a própria defesa

Luiz Hespanha

Receio: existe bolsonarismo depois da morte?

Carlos Castelo

Pelé e Papa provaram: quando o defunto é importante, o enterro é ao vivo!

Mouzar Benedito

Empresários dizem que a privatização protege nosso patrimônio dos interesses políticos. Mas quem nos protege dos interesses empresariais?

Celso Vicenzi

A especialidade do agronegócio brasileiro é plantar bomba.

Carlos Castelo

Otimismo, sim. Mas com uma pulga atrás da orelha.

Caco Bisol

No Brasil os golpes fardam, mas não tardam.

Celso Vicenzi

A valorização do meio ambiente, das mulheres e dos públicos alternativos dá ao Lula III um tom de Mangueira: é o governo verde e rosa desfilando na esplanada.

Luiz Lanzetta

Um Torres sozinho pode derrubar um ex-presidente, seus filhos, uma quase rainha, vários ex-ministros e até pijamas de generais que se imaginam blindados.

Luiz Hespanha

Até a Reuters já traçou a rota do voo Miami – Papuda

Luiz Hespanha

Até os piores adultos sonham em voltar a ser crianças. Inclusive, pra pegarem penas mais leves.

Carlos Castelo

Lemann e brothers quebraram as Americanas

Caco Bisol

O humor é uma arma que mira no sorriso e acerta na cabeça.

Angel Boligán

Pra não engordar ainda mais as despesas, os governos precisam de um moderador de apetite... por cargos!

Celso Vicenzi

O Brasil é o único lugar do mundo onde bombeiro financia sinistro.

Carlos Castelo

O cúmulo da estupidez é, além de se orgulhar da própria, fazer selfie autoincriminatória.

Luiz Hespanha

O mundo todo convivendo com inteligência artificial e, aqui, a gente lidando com burrice natural.

Carlos Castelo

Cavalete é pônei, cavalo pequeno. O feminino, lógico, é eguete.

Mouzar Benedito

| GRIFO32 FEV2023 | 18 | entrevero
allison

AU, AU!

O ótimo apelido dado aos generais de pijama, delegados da PF e coronéis PM ligados mais a Bolsonaro que às suas corporações é "general, delegado, coronel PET"... Paulo de Tarso Riccordi

Bem, ainda tenho 70 anos. Importaé o que farei depois. Provavelmente 71 anos.

Caco Bisol

Fiz um texto longo, ficou prolixo. Foi pro lixo.

Mouzar Benedito

No xadrez do golpe, Torres e peões já caíram, a (ex-primeira) dama tá em xeque (ou seria cheque?) com os cartões corporativos, bispos e igrejas, vulneráveis, o cavalo (pangaré) que dava coices no Congresso e achou que era rei abandonou o tabuleiro e virou simples peão nas ruas da Flórida. Pronto pra ser retirado do jogo democrático e ser jogado, literalmente, no xadrez.

Celso Vicenzi

O bolsonarismo tem uma solidariedade única: é impossível ser estúpido e medíocre sozinho.

Luiz Hespanha

Ninho vazio

- Mãe, o que tu pretende fazer quando eu não estiver morando mais contigo?

- Gritar quando estiver transando.

Omar Rösler

DICIONARIO CASTELO

DA LÍNGUA PORTUGUESA

Por Carlos Castelo

ADANGÉLICO, adj. Evangélico espada.

BILITAR. Militar bilionário por uso fraudulento de cartão corporativo.

Imbecil e bolsominion não têm tédio.

Carlos Castelo

Bozó é hospitalizado nos EUA com dores abdominais de tanto comer frango frito. Caco Bisol

Os rios de dinheiro nunca saciam a sede daqueles que estão à margem. Celso Vicenzi

Conclusão final sobre a Copa do Catar: oxigenar os cabelos, não oxigena o futebol brasileiro. Carlos Castelo

Sim, Regina Duarte, não esqueceremos. Tampouco haverá anistia. Caco Bisol

“Na boiada já fui boi, mas um dia me montei”... A música do Vandré não vale para quem gosta de ser gado. Mouzar Benedito

CÉREBRO, s. Órgão que faz com que uma minoria de humanos pense. Em muitos indivíduos, o cérebro fica na cabeça. Em outros pode estar no estômago, no intestino e até nos órgãos sexuais. Os descerebrados também existem e vêm crescendo, no mundo inteiro, em progressão geométrica.

CLASSE MÉDIA. Patrona de golpes de Estado.

ESNOBISMO, s. Chamar peido de borborigmo.

GLUTÃO. adj. Indivíduo que leva sanduíche em boquete.

GOVERNO BOLSONARO. Moto perpétuo de motociatas.

MONSTRUÁRIO, s. Local onde se exibe produtos ou serviços destinados a seres disformes, fantásticos e ameaçadores, ligados ou não, ao folclore e à mitologia.

PAVÊ, s. Ver Pacumê.

POLÍCIA CIVIL. Uma contradição em termos.

PRESIDENTE JAIR. Fomentador de conflitos intestinos.

SÁDICO, adj. Um pedaço de mau carinho.

TERRORISTA, adj, s. O terrorista usa a violência e a intimidação para promover uma ideologia política ou religiosa. A ação dos extremistas pode incluir atentados, sequestros, ameaças, assassinatos e outras formas de violência. O Brasil foi o primeiro país do mundo onde um terrorista, a fim de fomentar o caos e a pestilência, defecou nas dependências do Supremo Tribunal Federal.

WANDINHALISMO. Comédia de terror realizada em 2023 no Distrito Federal.

| GRIFO32 FEV2023 | 19 | entrevero
marcelo martinez

Contra os mais fracos, valentão. Quando vem a rebordosa, chorão.

Mouzar Benedito

Capitão corporativo!

Caco Bisol

Estamos todos no mesmo barco. Mas a metade dos passageiros está depredando o casco.

Carlos Castelo

O nome clínico-científico da dorzinha no reto e das piscadinhas renitentes é Extradição.

Luiz Hespanha

Tchau, Heleno. Agora o viagra é por sua conta.

Caco Bisol

O Brasil só não tem mais sujeira porque é um país de doidos varridos.

Celso Vicenzi

“A Lei será comprida” - disse o interventor federal.

Carlos Castelo

CaloLemann CaloTelles CaloPira Caloteiros.

Caco Bisol

Cazuza pediu e foi atendido: “Brasil, mostra a tua cara”.

Celso Vicenzi

Em vez de 'Arre, égua!', leia-se Aras!

Caco Bisol

Quadras que não se enquadram!

Idade não é problema, Vamos comemorar! Mas para isso lhe peço: Me ajude a levantar.

Minha mulher e eu Somos mesmo uns amores: Ela com as dores dela E eu com as minhas dores.

Ideia para novo lema da bandeira: “Ordem de Prisão e Progresso.”

Carlos Castelo

"Jornalistas da Rede Amazônica recebem prêmio Vladimir Herzog emreportagem sobre indígenas Yanomami em parceria com a Globo, por video sobre os impactos do garimpo na saúde dos indígenas Yanomami."

Caco Bisol

Yanomamis: extermínio continuado. E ninguém nem não viu nada?

Caco Bisol

De namoradinha do Brasil a anciãzinha das fake news. Que triste fim “Neides and Gentes”.

Luiz Hespanha

Nossa polícia é um caso de polícia.

Carlos Castelo

E quem vai botar o guizo nos militares, digo, no gato?

Caco Bisol

O Estado de Direito está em estado crítico.

Carlos Castelo

Davos não dá voz aos mais pobres.

Celso Vicenzi l

Com militares, ou se manda, ou se obedece.

Felipe González, ex-primeiro ministro da Espanha

Não sabiam o que eram: Família ou quadrilha? Só brigam pela grana Na hora da partilha.

Meu humor às vezes É verdadeira gangorra. Hoje, por exemplo, Estou com a cachorra!

Um pedido a você Que é boa praça: Se vier me visitar, Traga boa cachaça.

Incômodo meio confuso, Identifico agora esse treco: Ainda meio recluso Tenho saudade do boteco.

O gado não deixou de ser gado, Mas se sente com destino errante: Quer continuar rumo ao matadouro Mas já não escuta o som do berrante.

Vá e não me chame...

Quem ama o feio, Que vá com ele E fique aí por Miami.

Erramos em tudo, Não tem remédio! Até nos dedos, veja: O maior é o médio!

Quem viver verá! “Mentira! Eu nego!” Gritou bravo um cara Dizendo que é cego.

Mouzar Benedito

| GRIFO32 FEV2023 | 20 | entrevero
K
a i. K a i sDE 4
| GRIFO32 FEV2023 | 21 | tiras
MORGANA, A BRUXINHA Celso Schröder Adão Iturrusgaray Zé Dassilva RANGO Edgar Vasques
| GRIFO32 FEV2023 | 22 | tiras
Bier
BIOMA PAMPA Celso Schröder Fabiane Langona Lu Vieira

Tia Zulmira, quem diria, acabou na Colmeia

Como seriam os personagens de Stanislaw Ponte Preta em tempos tão polarizados?

Tia Zulmira é uma dessas criaturas que acontecem: saiu de Vila Isabel, onde nasceu, por não achar nada bonito o monumento a Noel Rosa. Passou anos e anos em Paris, dividindo quase o seu tempo entre o Follies Bergère, onde era vedete, e a Sorbonne, onde era um crânio. Casou-se várias vezes, deslumbrou a Europa, foi correspondente do Times na Jamaica, colaborou com Madame Curie, brigou nos áureos tempos com Darwin, por causa de um macaco, ensinou dança a Nijinski, relatividade a Einstein, psicanálise a Freud, automobilismo ao argentino Fangio, tourear a Dominguín, cinema a Chaplin, e deu algumas dicas para o doutor Salk. Vivia, já velha, mas sempre sapiente, num casarão da Boca do Mato, fazendo pastéis que um sobrinho vendia na estação do Méier. Não tinha papas na língua e, entre muitas outras coisas, detestava mulher gorda em garupa de lambreta.

Era assim que escritores e afamados artistas se referiam à douta longeva nos idos de 1960. Quem imaginaria que, esse ano, a macróbia dama estaria entre os terroristas presos no infausto 8 de janeiro, da Praça dos Três Poderes?

Pois esteva lá, de corpo e alma (mais alma do que corpo) e ainda acompanhada de Rosamundo. Tia Zulmira colaborou pessoalmente com as depredações nos palácios, mas o filho de sua lavadeira, distraído como quê, entrou no quebra-

-quebra acreditando piamente que a madrinha o levara a um show de rock, onde a ideia era "quebrar tudo". Foi assim que chutou a cadeira do ministro do STF, furou o quadro de Di Cavalcanti e escangalhou obras do período imperial.

Na chegada à delegacia, Tia Zulmira já avisou aos policiais que, se a vacinassem contra Covid, acionaria um embaixador italiano, primo de Silvio Berlusconi, seu ex-amante. A coisa pegaria fogo.

Rosamundo seguia sem desconfiar que estava em cana por atentado ao patrimônio nacional.

Ao chegar na Papuda, ouvindo o nome do presídio, achou que era um boteco da Ceilândia, ordenou cerveja gelada e um prato de tremoços.

A permanência dos dois atrás das grades, todavia, durou pouco.

Primo Altamirando logo que soube do mistifório se dirigiu no carro oficial à prisão. Em inícios do governo Temer, Mirinho fechara seu escritório de corretagem para contrabando, tráfico de entorpecentes e prostituição em massa. Candidatou-se à Câmara. Foi eleito com apreciável votação graças ao apoio do Gabinete do Ódio, igrejas pentecostais e ainda do Estado Islâmico.

Desde então, Mirinho é influente parlamentar e poderosa liderança do Centrão. Somente ele poderia dar um jeito naquela situação vexaminosa vivida pela famosa parenta.

Assim foi. Após um rápido telefonema ao presidente da Câmara, e uma conversa com o Procurador-Geral da República, Tia Zulmira saiu da Colmeia. Com a justificativa de ser "centenária fragilizada, em situação de vulnerabilidade, carecendo de proteção à sua integralidade moral, dignidade humana e autonomia".

Rosamundo infelizmente continua na Papuda. Inclusive, bastante aborrecido por, até agora, não terem lhe servido nem a cerveja, nem o tira-gosto.

Stanislaw Ponte Preta, que em janeiro de 2023 completaria 100 anos, não acreditaria em que se transformaram seus contraparentes.

| GRIFO32 FEV2023 | 23 | titiaacabouemcana
| GRIFO32 FEV2023 | 24 | artesdrásticas
angel boligán, méxico

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