Dicionario critico das ciencias sociais dos paises de fala oficial portuguesa

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longe inclusive da concepção weberiana segundo a qual as classes se definem pelo que os indivíduos que as compõem podem vender no mercado, em especial no que se refere a suas qualificações profissionais. Nesses dois países, as classes dominantes, contudo, manifestam uma identidade muito claramente estabelecida e fechada, conservadora, calcada no controle de ativos econômicos de diversos tipos e privilégios sociais, embora de modo geral mais protegida da esfera pública, exceto no que tange à sustentação política de seus interesses corporativos por entidades de representação de classe. Infelizmente, o estudo dos “pobres” hoje é muito mais estimulado, sobretudo, pelas instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial, e inclusive pela atual Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Somando-se a isso o fato de que os ricos se “escondem”, sabemos pouco sobre eles. Subjacente a essas limitações está o discutível e, na verdade, errôneo pressuposto de que o que importa é a pobreza, não a concentração da riqueza. Esta — que jamais é investigada por essas organizações — dificilmente é enfrentada pelas políticas de impostos e sociais implantadas pelos Estados nacionais contemporâneos, cabendo à classe média em geral o ônus das taxações que financiam o péssimo bem-estar social estatalmente oferecido e as políticas de combate à pobreza.

PERIFERIA, COMMODITIES E NEOPATRIMONIALISMO É comum encontrar entre os africanistas a ideia de que a lógica predominante de organização social nesse continente é dada pela predação patrimonialista do estado, vinculada ademais frequentemente ao exercício do clientelismo de cunho étnico. Há bastante de verdade nisso de um modo geral, mas nem a questão étnica parece ter relevância no caso dos países africanos lusófonos, nem se deve tratar a questão de maneira a-histórica. Esta última questão se patenteia em primeiro lugar, em particular, por este tipo de prática ter sido aná-

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