Luka Magazine - Os Modernistas 100 anos depois

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ENTREVISTAS

Tarsilinha do Amaral, Elizabeth Di Cavalcanti, Marília de Andrade e Lani Goeldi contam no âmbito familiar, a vida dos grandes modernistas.

100 ANOS DE ARTE MODERNISTA

Críticos de arte comentam a evolução centenária do que ocorreu em 1922 em São Paulo, e seus reflexos no mundo contemporâneo.

LUKA

O S M O D E R N I S T A S 1 0 0 A N O S D E P O I S

Ed 2 -
-
- 2022
Lisboa
Portugal

LUKA

o que acontece em nossas pág

Ediç no ed especial Gru

editora-chefe: Ana caro publisher: ana Caro colaborador Crít Dr O Dr Osca En TARSILINH Maríli Elizabeth D Dr J Arq Ro

Redação: ana caro distribuição: gra Publicidade para as próxi lukaartgallery

capa: Ana Caro imagem: elemento gráfico Fragmento pixelado com in cartaz originAl da Semana de Arte mode criado pelo artista d 1a arte em p Obra: "Operários" Tarsila do A Obra nesta página: fragme "A estudante" Anita m

Índice

nota da editora

Editorial - 100 anos depois Semana de 22 - Dr. Olívio Guedes

Entrevista: Tarsilinha do amaral Entrevista: Marília de Andrade

Entrevista: Elizabeth di cavalcanti Entrevista: Lani Goeldi Mário de Andrade - a paulicéia desvairada A música de Villa Lobos: além do século A Semana atualizada - Dr. Oscar D ´ Ambrosio

Luka Magazine
Edição Os Modernistas
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07 08 16 24 36 46 58 66 70 76 82 89 99 103 107 111 113 115 116
O paisagismo Modernista Dr. José Tabacow
arquitetura modernista - Arq Rodrigo Colissi Cenário
backstage de 1922 - Álbum de fotos
semana que se estendeu por 1 século um olhar contemporâneo
nosso backstage agradecimentos marcas centenárias homenageadas

Nota da Editora

A n o s l o u c o s o s M o d e r n i s m o e m r a d i c a l n o s e x p r e s s a e m m a n e i r a m u i t o n o s s a a t u a l i d a d

A L u k a M a g a z i n e i n t e r e s s a n t e e S ã o P a u l o m a s , a r t í s t i c a a o s é c u l o e , o E , t r a z e m o s d a e s t a t ã o i n s t i g p a s s a r d e t e m t o d a a s u a c o n t

A q u i i n i c i a m o s o t e m p a u t A L u k a A r t b u l i n g u a g e n s , d e s

Ana Carolina Azevedo

ENTENDO QUE AS MUDANÇAS FAZEM PARTE DE NOSSA EVOLUÇÃO PESSOAL E COLETIVA, E TÃO NECESSÁRIAS E INTERESSANTES SÃO, SE OBSERVADAS E VIVENCIADAS COMO APRENDIZADOS. A ARTE ATRAVESSA OS TEMPOS E MUDA AS OPINIÕES, OS ESTILOS, AS TENDÊNCIAS. O MUNDO É FEITO DE MUDANÇAS, NADA É ESTÁTICO.

100 anos depois

O movimento modernista existiu dentro de um cenário de grande transformação sócio cultural em que o mundo atravessou, inciando se no final do seculo XIX e extendendo se até as primeiras décadas do século XX, culminando no Brasil em 1922, em um evento artístico na cidade de São Paulo, chamado "Semana de Arte Moderna". Através de inúmeras manifestações artísticas diferentes, com origem através de artistas principalmente europeus porém posteriormente com expressão também nos artistas estadunidenses, desenvolveram novas percepções e técnicas, que seriam verdadeiros choques visuais aos olhares então já ultrapassados daquela sociedade e, que definitivamente transformariam o lugar comum em algo novo e extraordinário, causando mudanças irreversíveis aos antigos paradigmas À este movimento foi chamado de vanguardas européias.

O Brasil, um país tão jovem e iminente em possibilidades de um novo mundo, seguiu a corrente À partir da idealização do artista Di Cavalcanti, um pequeno grupo de jovens criativos e inquietos, promoveram no centro de São Paulo, em pleno Teatro Municipal, aquilo que intencionava ser um evento crítico, que provocasse a polêmica e choque da sociedade

EDITORIAL “
Catálogo da Semana de Arte Moderna de 1922Di Cavalcanti

Mas, ocorreu que aqueles 3 dias de rebeldia rtística, refletiu de tal maneira ao longo das écadas seguintes no acervo cultural e rtístico do país que, acabou, 100 anos depois, e tornando a referência do maior evento ultural ja ocorrido no Brasil até então. E não eria havido momento mais propício para este contecimento que, justamente, o ano omemorativo do centenário da ndependência do Brasil de Portugal Estavam li representantes eufóricos e irreverentes elo modernismo, artistas, escritores, intores, músicos, intelectuais que buscavam ausar um alvoroço na sociedade paulistana. orém, eles nem poderiam imaginar naquele momento a repercussão que este ato correria nas décadas seguintes, já que o vento não teve, efetivamente, grande xpressão naquele primeiro instante, ao ontrário, receberam váias e críticas. Mas, eus reflexos colheram frutos gradativos, anto para cada expoente individual como no ontexto geral do modernismo brasileiro.

Um período mundial turbulento e instável, ntre grandes guerras e com uma sociedade modificada pela revolução industrial, a evolução feminista e o caos da gripe spanhola, o mundo enfrentava uma realidade balada economicamente à todas as esferas e ases estruturais. Mas, de modo geral, presentava se inquieta pelo novo, a beira de onhecer uma verdadeira explosão de mudanças em todos os seus espectros e, través das expressões artísticas, pôde ser nserida nesta nova realidade modernista de omportamento, que se estenderia em uma érie de infinitas transformações nos anos 60, travessando o século XX, até entrarem no mundo contemporâneo. Nada mais seria visto vivido da mesma maneira como antes

100 anos se passaram. Agora temos um novo mundo, também enfrentando particularidades metamorfóticas. Iniciamos a segunda década do século XXI com um grande impacto social, propiciado por uma nova pandemia, agora o Covid 19 mas, que refletiu em todo o funcionamento, de amplas as esferas da sociedade globalizada e, já seguido pelas invasões russas na Ucrania, gerando uma guerra importante em toda Europa com reflexos drásticos na economia, mudança no panorama da União Européia com a saída do Reino Unido pelo Brexit e culminando com o falecimento da Rainha Elizabeth II da Inglaterra, grande marco histórico e político mundial No auge da revolução digital com a criação da realidade paralela Meta, e a crescente da Inteligência Artificial, jamais imaginada por qualquer modernista de 1922, temos o inicio de uma nova Era.

E a arte, obviamente não poderia deixar de novamente ser o elemento de grande absorção destas mudanças sociais e transpôr em suas expressões, toda a revolução de novas técnicas, percepções e manifestações artísticas

Um novo mundo contemporâneo, altamente veloz e insaciável, que teve suas bases e raízes criativas através das vanguardas, que possibilitou a amplitude de visão e quebra de limites racionais das artes Com uma linguagem e interpretação contemporânea, a Luka Magazine apresenta este novo olhar das artes atuais, multicultural, tecnológica e reinventada, em um panorama de perfil totalmente oposto aos de 100 anos atrás, mas ao mesmo tempo tão similar em sua inquietude.

"Candangos" - Di Cavalvanti, 1960

Através de entrevistas incríveis, com descentendes dos precursores vanguardistas no Brasil, a Luka apresenta nas próximas páginas uma verdadeira viagem pelo tempo e pela história, tentando trazer um pouco dos acontecimentos ocorridos em 1922 para os dias de hoje, porém por um olhar mais íntimo, através de uma perspectiva do ambiente familiar dos artistas

Um previlégio imenso entrevistar descendestes dos grandes modernistas, como Tarsilinha do Amaral, Marìlia de Andrade, Elizabeth Di Cavalcanti e Lani Goeldi, com tanta amabilidade, disponibilidade e interesse mostrando através de suas histórias o legado de continuidade que seus antepassados deixaram para seu âmbito familiar mas principalmente a importância histórica para o país e para o mundo, e que merecem cada dia mais serem reconhecidos e valorizados pelo legado tão imenso deixado às novas gerações, como propulsores de mudanças de paradigmas culturais e artísticos.

Dentro desta perspectiva, grandes nomes da critica das artes brasileiras atuais, Dr Olivio Guedes e Dr Oscar D`Ambrosio, nos prestigiam com artigos exclusivos dedicados á esta edição, o panorama de evolução neste século do que ocorreu em 1922, e que chega aos dias de hoje tão atuais E que grande presente recebo do grande mestre, e meu professor na Faculdade de Arquitetura, Dr José Tabacow, que nos prestigia com um artigo sobre um dos maiores paisagistas da história, e seu sócio, Burle Marx, e o paisagismo

Ainda temos um pequeno álbum de fotos dos nossos modernistas, não só de artistas porém de todos aqueles citados nesta edição e que, de alguma forma, fizeram parte daquele cenário brasileiro de 1922. Da mesma maneira, um expoente geral de como o Brasil se apresentava política e socialmente naquele período Em plano mundial, o Arquiteto Rodrigo Colissi, que aplica em seus projetos atuais uma forte influência modernista, nos expõe as principais vertentes e bases da arquitetura moderna nascida na Bauhaus e, como chegou e foi aplicada no Brasil, através do grande Arquiteto Oscar Niemeyer e no urbanismo de Brasília, pelo Arquiteto Lúcio Costa, na segunda fase do modernismo brasileiro

E para finalizar a edição, quero apresentá la com plano de fundo musical do grande músico e personagem importantíssimo na Semana de Arte Moderna, Villa Lobos, o que não poderia ser diferente, e assim demonstrar meu sentimento de imensurável agradecimento a cada uma destas pessoas envolvidas e descritas nesta edição, que tão generosamente me apoiaram e me incentivaram pessoalmente, de forma online por estarem todos no Brasil enquanto eu, em Lisboa! Aos textos e artigos que eu própria escrevo, dedico todo o meu modesto conhecimento dentro do infindável conteúdo do que nos ensinou aqueles gigantes Modernistas e que aqui, 100 anos depois, através de mais de 100 páginas de edição, tenho a pretenção de apresentá los com uma frase que, tão vanguardista pode nos caracterizar em todo este século:

"Como poucos, eu conheci as lutas e as tempestades. Como poucos, eu amei a palavra liberdade e por ela briguei."

Oswald de Andrade

Bem vindos à Semana de Arte Moderna, 100 anos depois! Bem vindos a Luka!

Ana Carolina Azevedo

Editora chefe e Curadora

Cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922Di Cavalcanti

Foto: Teatro Municipal de São Paulo, 1922. Fonte: Acervo histórico

M A P A : V I S I T P O R T U G A L C O M

SEMANA DE 22

Marco de Arte Moderna no Brasil Dr. Olivio Guedes

Quando o Brasil foi descoberto por Portugal em 1500, já existia o Tratado de Tordesilhas (cidade espanhola em 1494), que dividia o mundo entre Portugal e Espanha, porém, em 1535 surge as capitanias hereditárias, ou seja: divisão do território brasileiro em quatorze capitanias Uma delas é a Capitania de Pernambuco

Nessa localização teremos uma família de origem italiana, que se mudou para Pernambuco, e, com o tempo mudou se para a segunda capital do Brasil: Rio de Janeiro (transferida capital em 1763; a primeira foi Salvador 1549), assim: uma família tradicional

Por que essa história? Estou falando de um jovem carioca, que no inicio do século XX “bagunçava muito” em sua cidade, o Rio de Janeiro; por esse motivo seus pais tradicionais o mandaram estudar na cidade de São Paulo. Uma cidade em crescimento, ainda não modernizada como o Rio de Janeiro Escrevo sobre Di Cavalcante (1897 1976), um dos maiores pintores modernista do Brasil. Chegando a São Paulo no ano de 1916, contava com 19 anos, e ingressou na faculdade de Direto do Largo São Francisco

"Bananal"Lasar Segal, 1927

Di Cavalcante como pintor, frequentou o atelier do pintor impressionista de Elpons (Georg Fischer Elpons 1866 1939, alemão), onde conheceu Anita Malfatti (1889 1964) pintora, Tarsila do Amaral (1886 1973) pintora. Assim, torna se amigo de um grupo elitista paulistano, que contava com Mário de Andrade (1893 1945) escritor e professor de piano, Oswald de Andrade (1890 1954) escritor e dramaturgo, Paulo Prado (1869 1943) empresário, entre outros O primeiro modernista a realizar uma exposição em São Paulo foi Lasar Segall (1889 1957), veio da Lituânia, de origem judaica, um pintor, escultor, gravurista europeu teve influências impressionista e expressionista Realiza exposições no ano de 1913 nas cidades de São Paulo e Campinas e retorna para Europa. Mudando definitivamente para o Brasil em 1923, não participa de Semana de 22 A segunda modernista a se expor foi Anita Malfatti, brasileira, no ano de 1914 no estilo expressionista Tendo estudado na Europa e na América. Em 1917 realiza outra exposição, qual Monteiro Lobato (1882 1948) escritor e tradutor brasileiro, faz uma crítica negativa sobre sua exposição, que deverá perturbar sua trajetória. Vários amigos de Malfatti a defenderam Criando uma unidade, esse grupo serão os realizadores da Semana de 22.

"Paisagem"John Graz, 1930

No ano de 1922, o Brasil faria 100 anos de sua independência Lembrando que a corte portuguesa colonizadora do Brasil se transferiu para a Cidade do Rio de Janeiro (Capital do Brasil) no ano de 1808, pelo motivo da invasão francesa em Portugal. A independência ocorreu em 1822 no dia 7 de setembro no Riacho do Ipiranga (idioma tupi guarani = rio vermelho) na cidade de São Paulo Fazendo um somatório: cem anos da independência, na cidade de São Paulo, uma cidade em desenvolvimento, que queria se tornar evidente; um rapaz carioca, Di Cavalcante, com conteúdo modernista, reúne amigos cultos e financeiramente viáveis realizar esse evento.

Assim, Di Cavalcante reúne esse grupo e cria a Semana de 22, que faz a criação do convite, que se realizara nos dias 13 (segunda feira), 15 (quarta feira) e 17 (sexta feira) do mês de fevereiro de 1922

Porém, também ocorreria no ano de 1922 eleições para presidente do Brasil Entre vários, estavam Artur Bernardes (1875 1955), ex governador do estado de Minas Gerais e Nilo Peçanha (1867 1924) ex presidente do Brasil de 1909 1910, de descendência afro brasileiro. O povo com insatisfação de políticos como Bernardes, de origem “café com leite”, advindos dos estados de Minas Gerais (comércio derivado do gado) de e São Paulo (comércio derivado do café), ocorre no estado do Rio de Janeiro uma rebelião, onde um grupo não contente com uma República Oligárquica criam o Movimento Tenentista em 1922

"Ídolo" Victor Brecheret, 1922

Voltando propriamente a Semana de 22; ocorre no Teatro Municipal da cidade de São Paulo (inaugurado em 1911 com recursos da alta sociedade paulistana) a Semana de Arte Moderna de 22. Apoiado pelo governador Washington Luís (1969 1957) e René Thiollier (1882 1968) importante advogado e escritor, que solicitou patrocinadores para o evento Cada um dos três dias da semana desenvolveram aspectos culturais: pintura, escultura, poesia, literatura e música

Se tornando um marco no modernismo brasileiro, porém sua referência cultural no século XX ocorre com o tempo, um grande tempo Como referência cultural no século XIX no Brasil, tivemos a primeira exposição de artes plásticas no ano de 1829, por iniciativa do pintor Jean Baptiste Debret (1768 1848), integrante da Missão Artística Francesa que chegou em 26 de março 1816, durante o reinado de Dom João VI. Interessante, não? A saída de Dom João VI de Portugal foi a chegada das tropas de Napoleão (francesas), e, foram os professores franceses que a convite de Dom João VI que desenvolveram a implementação da Academia Imperial de Belas Artes

A Semana de 22 teve como seus principais participantes Anita Malfatti (1889 1964) pintora, Agenor Fernandes Barbosa (1896 1976) jornalista e escritor, Di Cavalcanti (1897 1976) pintor, Graça Aranha (1868 1931) escritor e diplomata, Guilherme de Almeida (1890 1969) advogado e escritor, Guiomar Novaes (1894 1979) pianista, Heitor Villa Lobos (1887 1959) músico e maestro, Mário de Andrade (1883 1945) músico e escritor, Menotti Del Picchia (1892 1988) advogado, pintor e escritor, Oswald de Andrade (1890 1954) escritor e dramaturgo, Plínio Salgado (1895 1975) escritor e jornalista, Sérgio Milliet (1898 1966) sociólogo e escritor, Tácito de Almeida (1889 1940) advogado e escritor, Víctor Brecheret (1894 1955) italiano, escultor entre muitos outros. Tarsila do Amaral (1886 1973) pintora, pilar do modernismo brasileiro, se encontrava em Paris, não participou do evento.

"The Lighthouse"Anita Malfatti, 1915

Em cada um dos seus três dias houve determinados interesses: 13 de fevereiro, segunda feira, abertura oficial do evento Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São Paulo, onde ocorreu o evento, pinturas e esculturas provocam reações de repúdio e espanto no público O evento tem início com a conferência confusa de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna"

Dia 15 de fevereiro, quarta feira, Guiomar Novaes, pianista (contra a vontade dos demais artistas modernistas) apresentou clássicos consagrados. A atração da noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre “A Arte Estética” Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos (vaias e barulhos diversos) entre outros eventos/palestras

Dia 17 de fevereiro, sexta feira, dia mais tranquilo da semana, apresentações de Heitor Villa Lobos, com vários músicos. Villa Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado de sapato e outro com chinelo; o público o interpreta como desrespeitoso e vaia O maestro explicaria que se tratava de simplesmente um calo inflamado

Com várias interpretações artísticas e pouca divulgação pela mídia, assim, que pouco chegou aos nossos dias, lembrado da proporcionalidade da época; São Paulo era uma cidade brasileira do sul da América do Sul, no inicio do século XX.

A Semana de 22 é divida em três fases: 1922 até 1930, de 1930 até 1945 e de 1945 até os dias de hoje. Sua grande base se desenvolveu nos anos 50 e 60 com o surgir das Bienais e o período concretista brasileiro Ocorre em 1972, homenageando aos cinquenta anos da Semana de 22 uma exposição importantíssima no MASP Museu de Arte de São Paulo (concebido em 1947, inaugurado em seu atual prédio em 1968)

Seu legado foi sendo construído com o passar dos anos Essas gerações desenvolveram questões sobre questões, assim, seu contexto complexo histórico se alinha com movimentos artísticos, científicos, filosóficos e políticos, nacionais e internacionais com um importante conteúdo narrativo prático teórico para a nação brasileira e mundial

complexo histórico se alinha com movimentos artísticos, científicos, filosóficos
políticos, nacionais
internacionais com um importante conteúdo narrativo prático-teórico
"Seu contexto
e
e
para a nação brasileira e mundial." Dr.Olívio Guedes
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"Homens trabalhando"
Zina Aita, 1922
Há mais de um século perfumando os movimentos criativos de todos squeles que estão à frente de seu tempo.

T A R S I L A D O

A M A R A L

Muito mais do que uma revolução de estilo artítico e visão vanguardista na pintura de seus quadros, conhecer a vida de Tarsila do amaral é descobrir a história de uma mulher forte, de caráter determinado, À frente de seu tempo, não somente em sua profissão, mas em sua forma de ver a vida e o mundo

É indiscutível a grandiosidade da arte de Tarsila do Amaral e sua importância na história do modernismo e das artes no Brasil e do mundo Buscamos na entrevista, abordar um prisma de sua vida pessoal e seu legado, imergindo em sua arte e seu cotidiano, tentando absorver sua visão e atitude. Entrevistar Tarsilinha do Amaral, sua sobrinha neta, foi verdadeiramente mais que uma honra, um presente! por telefone, eu em Lisboa e Tarsilinha em São Paulo, sua generosidade e atenção transmitiram e ressaltaram o quanto é de uma elegância e educação Ímpar. tal qual sua tia, Vanguardistas de alma!

E n t r e v i s t a c o m : T a r s i l i n h a d o A m a r a l
" Auto retrato"Tarsila do Amaral, 1933 Foto: Tarsila do Amaral

TARSILINHA DO AMARAL

Luka: A vida pessoal de Tarsila do Amaral, nos bastidores de sua família. Qual o principal valor que Tarsila deixou no âmbito pessoal que perdura até você e seguirá sendo referência familiar?

Tarsilinha: Ela era uma pessoa com tantas características maravilhosas, mas eu vou lembrar da generosidade. Ela era uma pessoa muito doce, muito carinhosa, mas uma pessoa de uma humildade que eu jamais poderia imaginar Eu tenho a lembrança dela de pequena, dela ser essa tia carinhosa, essa tia sempre com um sorriso, sempre gentil. Gentileza é uma outra palavra que define muito minha tia. Mas depois, estudando muito sobre a vida dela, eu fui descobrindo tantas qualidades... Mas eu vou realmente me lembrar da generosidade e da gentileza

"Operários"Tarsila do Amaral, 1933.
"MINHA TIA ERA UMA PESSOA MUITO DOCE, MUITO CARINHOSA, UMA PESSOA DE UMA HUMILDADE QUE EU JAMAIS PODERIA IMAGINAR."

Luka: A Semana de 22! Tarsila não estava presente, pois naquela ocasião estava em Paris, porém seu nome é aclamado como uma das principais âncoras do modernismo Toda esta dinâmica de transformação que houve naquele momento, você percebe que atualmente os artistas contemporâneos também seguem esta inquietude pelo novo? Ou seja, atualmente, temos ainda o espirito vanguardista proporcionado por Tarsila e pelos demais modernistas?

Tarsilinha: Realmente ela não estava presente, ela estava em Paris Ela ficou sabendo sobre o movimento através das cartas com a Anita Malfatti, que ela conhece aqui no Brasil, no ateliê do Pedro Alexandrino, e ficaram muito amigas Então, ela fica sabendo do movimento e da semana através das cartas da Anita Ela volta em junho, a semana foi em fevereiro, e a Anita apresenta minha tia para o grupo É quando ela começa o namoro com Oswald de Andrade, que é para mim um dos pontos mais importantes desse movimento na primeira fase. Ela então se integra ao grupo e toma um protagonismo na primeira fase do modernismo que faz com que acabe sendo mais lembrada que outros artistas que participaram efetivamente da semana.

Mas são momentos tão diferentes... A história do Brasil e do mundo são diferentes É muito difícil você trazer para o agora uma coisa que se passou há 100 anos. A minha tia influenciou muitos artistas: a própria Leda Catunda e Beatriz Milhazes falam que foram influenciadas pela minha tia, pelo Abapuru, por outras obras e também pelas cores, pelas formas, que têm clara repercussões nos dias de hoje Se olharmos ao longo dos 100 anos, sabemos que o Tropicalismo foi inspirado pela Antropofagia e pelo Abapuru, mas eu acho que são momentos totalmente diferentes do Brasil e do mundo e a arte modernista é completamente diferente da arte contemporânea, mas a gente percebe a influência dela em diversos artistas

MOMENTOS

"SÃO
TOTALMENTE DIFERENTES DO BRASIL E DO MUNDO E A ARTE MODERNISTA É COMPLETAMENTE DIFERENTE DA ARTE CONTEMPORÂNEA, MAS A GENTE PERCEBE A INFLUÊNCIA DELA EM DIVERSOS ARTISTAS." TARSILINHA DO AMARAL

Luka: Impossível falar das obras de Tarsila e não citar O Abapuru, uma das mais importante obras da história da arte no Brasil, referenciada em todo o mundo Além de uma qualidade e percepção estética impressionante, ele carrega uma história de amor de Tarsila e Oswald de Andrade e a obra alcançou proporções tão grandes quanto o amor que viveram. Poderia contar um pouco sobre esta relação tão imensa e intensa e, o fato de justamente esta obra, de historia tão familiar, estar fora do Brasil?

Tarsilinha: Minha tia faz o Abapuru para dar de presente para o Oswald de Andrade. Eles começam a namorar em 22, se casam em 26 e em 28 ela queria dar um presente para impressionar o Oswald e então, ela faz essa obra, a obra mais importante do Brasil Eu costumo dizer que devia ser muito difícil impressionar uma pessoa como Oswald de Andrade, era um gênio, super antenado, culto, inteligente, que já tinha viajado muito para aquela época ainda Então ela realmente teve que se superar para impressioná lo E quando ele vê o quadro ele realmente fica fascinado. Ele chama o Raul Bopp para ver a obra, e é quando ele começa a dar a sua própria interpretação. Ele fala que parece o homem sentado na terra, que parece um indígena, e é quando a minha tia se lembra do dicionário tupi guarani de seu pai, e eles moravam na casa do pai dela quando esse quadro foi feito Então ela pega o dicionário e começa a ver as palavras, e encontra a palavra "Abap" que significa homem e no final do dicionário a palavra "Puru" que é o homem que comia gente e então eles acharam que ficaria interessante juntar essas palavras e nomear o quadro. Logo depois o Oswald escreve o Manifesto Antropófago e em seguida funda o Movimento Antropofágico

"Abapuru" Tarsila do Amaral, 1928.

Então esse quadro nasce mesmo com uma história incrível e muito importante para aquele momento do Brasil e da arte brasileira. Não só ao movimento lilterário mas o próprio quadro, e os quadros que vieram depois, com essa pegada surrealista. Enfim, esse quadro nasceu com uma história muito importante. Depois o quadro ficou com ela muito tempo, já depois que ela separa do Oswald Mais tarde ela vende para o Pietro Maria Bardi, por um valor muito abaixo, porque ele a prometeu que esse quadro iria para o Masp, porém, ele vende o quadro por um valor muito maior para um grande colecionador, que depois vende para o Raul Forbes, que foi quem vendeu o quadro para o Eduardo Constantini, o atual proprietário. Agora esse quadro é do Malba, o Eduardo é o maior colecionador de arte latino americana do mundo Ele construiu o Malba Museu de Arte Latina de Buenos Aires e deu de presente para a cidade de Buenos Aires, e doou também a coleção que está no museu, inclusive o Abapuru. O Eduardo comprou esse quadro em 1995, na época foi o quadro mais caro da arte brasileira, vendido em 1 milhão e meio de dólares Esse quadro vale hoje muitos e muitos milhões à mais, mas ele nunca o vendeu. O que aconteceu no leilão foi que os brasileiros ficaram com medo de comprar o Abapuru, porque surgiu um boato que esse quadro seria tombado pelo Patrimônio Histórico, e então o Eduardo pagou o valor mínimo, que na época foi o primeiro quadro acima de 1 milhão de dólares, da arte brasileira. Esse quadro hoje está no museu com um grande destaque e é um quadro muito importante para a arte brasileira, que ganhou um caráter internacional importante depois da vinda do Abapuru Mas claro seria lindo se esse quadro estivesse no Brasil

"PARA MIM O ABAPURU É UM AUTO RETRATO DELA

(...) QUANDO ELA SE VIU NO ESPELHO ELA VIU O PÉ EM PRIMEIRO PLANO, BEM GRANDE E A CABECA PEQUENA LA NO FUNDO, EXATAMENTE NESSA PROPORCAO DO ABAPURU, E AI ELA SE INSPUIRA

NELA

MESMO PARA FAZER ESSE QUADRO" TARSILINHA DO AMARAL

Tarsilinha: Agora vou dar a minha interpretação pessoal: para mim, o Abapuru é um auto retrato dela Possivelmente, ela estava naquela posição, sentada na frente de um espelho inclinado Esse espelho existia na casa dela, a minha madrinha, também sobrinha da Tarsila, confirmou depois, assim como meu pai, que tinha um grande espelho apoiado no chão, ou seja inclinado, na entrada do ateliê dela, naquela casa Então, aquela posição do Apaburu, minha tia com a mão na cabeça, as duas pernas dobradas, sentada no chão, e para mim, ela estava nua ou semi nua. Quando ela se viu no espelho, ela viu o pé em primeiro plano, bem grande, e a cabeça pequena, lá no fundo, exatamente nessa proporção do Abapuru. Então ela se inspira nela mesmo para fazer esse quadro E eu tenho outras evidências disso: por exemplo, se você olhar o rosto do Abapuru é o rosto dela Pega um auto retrato da minha tia, tira a boca e põe a cabeça um pouco inclinada para o lado, e você verá a cabeça do Abapuru, Também sempre me intrigou o pé do Abapuru, que tem o dedo médio bem maior Então eu falava, "só pode ser o pé dela", já tinha perguntado isso para vários curadores, vários historiadores e ninguém nunca soube me dar uma resposta. Quando minha tia morreu, eu tinha 8 anos, minha irmã tinha 15, então faz bastante diferença, e ela me contou que se lembra perfeitamente do pé da minha tia, que esse dedo era realmente muito maior que os outros, então minha tese vai fazendo sentido E para mim, a separação dela e do Oswald, um pouco que fechou minha tese do auto retrato.

Ela se separa do Oswald de Andrade, após a Pagu, que aparece em 1929 Uma menina muito bonita, muito jovem, de 18 anos, e a minha tia meio que adota a Pagu, que também fica fascinada pela minha tia Tarsila, uma pessoa muito bondosa, emprestava vestidos, jóias, sapatos, bolsas, enfim, cuidava dela... e então, a Pagu começa a ter um caso com Oswald de Andrade, engravida e, Oswald, fica com muito medo do pai da Pagu que era muito bravo Então o Oswaldo e a Pagu armaram para ela se casar com o Denis, que era empregado da minha tia, que cuidava do ateliê, limpava os pincéis, arrumava as tintas, e ele era apaixonado pela Pagu. Então Pagu e Denis se casaram, minha tia e Oswald foram padrinhos desse casamento, ou seja minha tia não sabia de nada do que estava acontecendo. Então, Pagu vai de Lua de Mel com o marido, mas Oswald vai atrás e passam um mês na Bahia Minha tia fica sabendo de tudo e quando ele chega, pede perdão, dizendo que foi só um caso, que ele amava à ela, Tarsila. Mas minha tia não aceita e se separa dele. E nessa separação, o Abapuru fica para minha tia e, isso sempre me intrigou, sempre contei isso para muitos historiadores. E nessa minha perspectiva de ser um auto retrato, então tudo fez sentido para mim, diante essa traição do Oswald e da Pagu. Um quadro que significava tanto para ela e para o Oswald, o Abapuru era meio que um filho para eles, um filho que eles não tiveram, e toda essa história do auto retrato dela se doar nua de presente para o Oswald de Andrade. É claro que ela não ia querer e aceitar que esse quadro ficasse na casa dele e da Pagu E ela acaba dando à ele um outro quadro, até mais valioso, para ficar com o Abapuru para ela.

"Antropofagia"Tarsila do Amaral, 1929

Luka: O que você acha que Tarsila, sua tia avó, diria do Brasil e da arte brasileira atual, 100 anos depois?

Tarsilinha: é muito dificil trazer minha tia para os dias de hoje. O que eu vejo nela e, em relação ao tempo em que ela viveu, que ela foi uma mulher extremamente à frente de seu tempo, não só na vida pessoal, não só nas obras, mas na visão artística que ela tinha Ela foi uma mulher que fez uma coleção incrível, de Picasso, Lèger, entre outros Naquela época, se ela comprasse outras obras, poderiam ser mais caras, mais importantes, mas a escolha dela nas obras que ela teve, tinham um olhar diferente, e são obras que estão hoje em grandes museus, em grandes coleções. Era realmente uma pessoa que tinha uma visão artística incrível, uma mulher totalmente à frente de seu tempo Então, é claro, que se eu fosse projetá la para os dias de hoje, ela também seria essa mulher que teria essa vanguarda artística, mas como falei, são épocas diferentes, tempos totalmente diferentes no Brasil e no Mundo.

" A Cuca"Tarsila do Amaral, 1924
" Eu invento tudo na minha pintura. E o que eu vi ou senti, eu estilizo" Tarsila do Amaral.
"The Moon"Tarsila do Amaral, 1928

F

Tarsila era uma mulher forte, à frente do seu tempo, com uma visão revolucionária da vida e de tanta importância artística para o Brasil e o mundo. Como é ser descendente, com o mesmo nome, de toda esta história, e curadora das obras desta artista gigantesca, Tarsila do Amaral?

Tarsilinha: é uma honra enorme para mim ter esse nome, cuidar desse legado Tenho um orgulho imenso disso e claro, isso tem uma responsabilidade muito grande. Minha tia chegou em um patamar que minha responsabilidade é enorme, em cuidar desse legado, e é uma história muito forte, muito importante e muito bonita. Hoje, com todo esse empoderamento da mulher, eu vejo que minha tia fez isso há 100 anos e é muito bonito É uma historia que inspira não só mulheres, mas homens e crianças. E hoje, principalmente por esse empoderamento, as mulheres se sentem muito representadas pela minha tia, eu me sinto assim muito também, então eu quero contar. Estou fazendo também um musical, uma série, um filme internacional. Enfim, eu acho que é uma historia que tem q ser contada, para cada vez ficar mais forte aqui no nosso país e, para que o mundo inteiro conheça essa historia tão linda

o t o : T a r s i l i n h a d o A m a r a l

Luka: São mtos projetos, exposições, livros… poderia contar um pouco sobre o filme recém lançado Tarsilinha?

Tarsilinha: o "Tarsilinha" eu estou apaixonada porque é lindo demais. Como eu até falei anteriormente, a Tarsila inspira muito as crianças A maioria das crianças estudam a minha tia nas escolas, adoram a obra dela, se inspiram muito nela e, eu sempre olhei com muito carinho para isso Então eu acho que têm muitas ações que eu faço para crianças, tem uma exposição que se chama "Tarsila para crianças", é uma exposicão que usa bastante tecnologia, interactiva, isso também está fazendo muito sucesso aqui no Brasil e em muitos outros lugares Vai passar para as crianças essa história de uma menina forte que se supera, supera os medos, e é algo que pode inspirar muitas crianças e fora a beleza dessa obra, desses quadros que formam toda a paisagem do desenho Esse desenho já ganhou um festival muito importante no Chile, maior festival da America Latina, teve menção honrosa em Shangai, e está indo para outros festivais também Enfim, eu estou muito orgulhosa desse filme e espero também que ele possa inspirar muitas crianças

O S W A L D D E

A N D R A D E

Irreverente, apaixonado e intenso. Assim percebemos o escritor e poeta oswald de andrade, em todo o contexto de sua vida, artística e pessoal em toda Sua inquietude pela vida, em degustar toda a existência e transferí la em poesia, muito além das palavras. seu sentimento transbordava À si próprio, até sublimar seu próprio cotidiano viveu e morreu apaixonado e ávido por transmitir ao mundo toda a sua inquietude vanguardista. talvez ainda serão necessárias várias décadas pela frente para perceber tudo aquilo que Oswald pensava e interpretava em versos Talvez por esta incompreensão da época, faltou o reconhecimento que ele tanto esperava. A entrevista com sua filha, tão amável e atenciosa, Marilia de Andrade, foi carregada de emoção e transferiu toda esta decepção e desespero de seu pai na época mas, que agora, 100 anos depois, recebe todo o reconhecimento e valorização merecida.

C
T
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E n t r e v i s t a c o m : M a r í l i a d e A n d r a d e
a p a d o M a n i f e s t o P a u B r a s i l
a r s i l a d o A m a r a l ,
Foto: Oswald de Andrade

"SAIBAM QUANTOS ESTE MEU VERSO VIREM, QUE TE AMO DO AMOR MAIOR QUE POSSÍVEL FOR. SOL DE MONTANHA SOL ESQUIVO DE MONTANHA FELICIDADE TEU NOME É MARIA ANTONIETA D ´ ALKIMIN." CÂNTICO DOS CÂNTICOS PARA FLAUTA E VIOLÃO OSWALD DE ANDRADE

Luka: Oswald de Andrade foi um dos principais nomes do modernismo e deixou para o Brasil um legado cultural imenso através de suas obras literárias. Mas em sua vida pessoal, qual o principal legado que Oswald deixou aos filhos e que transpassa gerações no âmbito familiar? Qual a lembrança mais interessante que você tem de seu pai, na sua infância?

Marília: Eu fui muito ligada ao Oswald durante os 9 anos em que convivi com ele Ele morreu quando eu tinha 9 anos mas a sua presença era diária, e em casa ele era um pai que estava sempre conosco. Éramos uma família muito unida Ele, minha mãe Maria Antonieta, eu e meu irmão mais novo, Paulo Marcos. Eu tive essa experiência de vida familiar que durou até o último momento da vida do Oswald Eu me lembro do meu pai como sendo extremamente carinhoso, extremamente generoso Também muito tenso e preocupado com as questões que ele estava enfrentando de saúde e financeira, o que também, como criança, eu já percebia em seu olhar o desespero. Mas com isso, ele me ensinou também a ter muita força, a ter muita capacidade de lutar Ele lutou de fato, lutou até o fim da vida, quando ele estava empobrecido, esquecido pelos intelectuais, completamente marginalizado, a ponto dele ter dito um dia chorando, que achava que suas obras jamais seriam lidas Então eu tenho esta lembrança mista com um ninho de amor, pois ele era apaixonado pela minha mãe, a quem ele dedicou o poema "Cântico dos Cânticos para flauta e violão", que é um dos mais belos poemas de amor da literatura brasileira. Ele morreu apaixonado ela minha mãe e por nós, os dois filhos mais novos Ele tinha dois outros filhos de casamentos anteriores mas nós tínhamos uma família de quatro, muito unida. E eu cresci com esta noção de família, de união, de amor, de afeto, de generosidade e de muita luta Essa é a minha lembrança da infância

Luka: O manifesto Pau Brasil e logo o Manifesto Antropofágico, causaram um grande choque no pensamento brasileiro da época e uma ruptura com o passado. Poderia nos contar um pouco sobre esses reflexos dos manifestos na época? Como Oswald via a Semana de 22, ao longo das décadas seguintes?

Marília: A semana de 1922, assim como os manifestos, foram marcos importantes na vida e na obra de Oswald de Andrade, todavia não eram, para ele, a questão principal Ele realmente teve uma forte proposta de antropofagia, de uma filosofia antropofágica, e isso durou até o final de sua vida, mas o manifesto foi apenas um marco Ele escreveu um diário confessional, que foi recentemente publicado aqui no Brasil pela Cia das Letras, e nesse diário ele fala muito dele sobre o homem antropófago e toda sua obra posterior ao Manifesto Pau Brasil e ao Manifesto Antropófago Todavia os manifestos em si na época, causaram uma ruptura sim, mas havia muito conflito, muita disputa, muito ódio entre os intelectuais, e eu não acredito que naquela época o Manifesto Antropófago tenha conseguido causar a tremenda diferença e impacto que tem agora atualmente. Neste ano do Centenário da Semana de 22, houve um resgate muito intenso da obra do Oswald e os manifestos voltaram com muita força, são muito citados. Mas daquela época, ele tem recordações e escritos, já no fim da vida, textos sobre a semana em si mesmo, os 3 dias de barulho que eles fizeram no Teatro Municipal de São Paulo e isso não era o fundamental. A semana amadureceu nas décadas posteriores e a obra do Oswald também Então é interessante a semana ser tão celebrada quando, para eles, que eu chamo até de moleques, embora eles tivessem em torno de 30 anos Meu pai tinha 32 anos exatamente durante a Semana de Arte Moderna, mas era um moleque E para eles, era mais o movimento, o barulho, do que realmente a apresentação de uma obra amadurecida, já pronta Confundem muito, dizem Macunaíma durante a semana de arte moderna Serafim Ponte Grande, não... o Rei da vela, não... essas obras vieram muito posteriormente. Haviam sim muitas obras já escritas, o compositor Villa Lobos na semana de 22, que é alias um dos personagens que meu pai mais admirava que participou da semana, o compositor Villa Lobos E ele fala muito de Villa Lobos até o fim da vida Villa lobos tinha já uma obra mais amadurecida, mas a semana em si, foi mais como o abrir uma porta, mesmo que fosse a ponta pés!

"A SEMANA EM SI, FOI MAIS COMO O ABRIR UMA PORTA, MESMO QUE FOSSE A PONTA PÉS!" MARÍLIA DE ANDRADE

Luka: Oswald era um homem à frente de seu tempo, com temperamento inquieto e inovador. Sua visão além do convencional, permitiu que sua obra chegasse aos dias de hoje totalmente atual. Mas, naquela ocasião de seu falecimento, sua vida e obra não obteve o reconhecimento devido. Pode nos contar um pouco sobre essa vivência?

Marilia: A inquietude e o espirito inovador de Oswald de Andrade foram fundamentais para que ele criasse uma obra revolucionária que hoje está reconhecida, mas que de uma certa forma podemos dizer que lhe custou muito caro Em sua vida, ele foi muito rechaçado como escritor, como intelectual não era reconhecido, ele quem publicava seus próprios livros pois não tinha editor Ele morreu abandonado pelos amigos, haviam muito poucos ao seu redor, um final da vida, não recebia nada pelo seu trabalho literário, ou quase nada Recebia muito pouco os eu er do a do

"AMOR. HUMOR." OSWALD DE ANDRADE

Ele não podia ter a menor idéia do que está acontecendo agora, em que o seu trabalho é resgatado com tanta força, e ele é considerado talvez um dos personagens mais importantes do modernismo brasileiro Eu tive uma vivência de criança muito difícil neste aspecto, porque eu tinha um pai escritor, mas um pai escritor que ninguém lia. Então, para uma criança, uma adolescente, isso é muito difícil, enfrentar esse desconhecimento do nome Oswald de Andrade Meu nome completo é Antonieta Marilia de Oswald de Andrade que, inclusive é uma homenagem à minha mãe, Maria Antonieta. Marília, no sentido de musa, devido àquele poema fantástico do século XVIII, Marília de Dirceu, do poeta português Tomás Antonio Gonzaga que, junto com Tiradentes, participou da Inconfidência Mineira e acabou exilado do Brasil Então, esse nome Marília, tem um sentido aqui, pelo menos aqui, de musa Então eu assino Marilia de Andrade e hoje, quando eu chego à algum lugar ou quando as pessoas descobrem e me perguntam "mas você é parente do Oswald de Andrade?" e quando eu digo que sou filha, as pessoas dizem "mas que honra, que coisa importante" Eu vivi a minha vida inteira achando que Oswald também não seria reconhecido e então, quando eu vejo agora todas essas honrarias e tapete vermelho, que me são extendidos por ser filha dele, eu penso: porque vocês não disseram isso para ele, enquanto ele ainda era vivo, ele teria morrido tão feliz, tão em paz, se soubesse que a obra dele causaria tanto impacto na cultura brasileira e na cultura mundial.

Marília de Andrade

"Ele disse um dia chorando, que achava que suas obras jamais seriam lidas."

Luka; Com qual de seu textos e livros você particularmente mais se identifica?

Marília: Eu me identifico muito com a poesia de Oswald de Andrade É interessante que alguns são apenas uma linha, como por exemplo, o muito citado poema "Amor Humor." , e esse é seu poema. Ele era de uma inteligência incrível, uma criatividade, uma capacidade de inovar, e seus poemas trazem isso com muita força, além de serem comoventes, eles me tocam muito Então os poemas são as obras com as quais eu mais me identifico, como filha e como leitora

Luka: E temos então uma grande novidade, um novo livro de Oswald de Andrade?

Marília: Eu fico portanto muito feliz de anunciar que as poesias de Oswald de Andrade estarão disponíveis ao público português à partir do próximo ano O livro dele "Poesias reunidas", que reúne a maior parte de seu trabalho poético, está sendo editado pela Imprensa Nacional em Portugal, e deverá já estar disponível ao público no próximo ano. Então teremos finalmente Oswald de Andrade em Portugal e o carro chefe, o abre alas, são justamente as suas poesias, das quais eu gosto tanto

"O Amor – Poesia futurista A Dona Branca Clara Tome-se duas dúzias de beijocas Acrescente-se uma dose de manteiga do Desejo Adicione-se três gramas de polvilho de Ciúme Deite-se quatro colheres de açucar da Melancolia Coloque-se dois ovos Agite-se com o braço da Fatalidade E dê de duas em duas horas marcadas No relógio de um ponteiro só!" Oswald de Andrade

Marília de Andrade

Luka: Nesta visão antropofágica de Oswald, o que você acha que seu pai diria ao mundo atual em que vivemos?

Marília: De uma maneira simplificada, eu reitero que a antropofagia é uma visão de mundo, baseada em alguns rituais de nativos brasileiros que devoravam seus inimigos para adquirirem suas melhores qualidades. Um antropófago é um devorador, ele busca para si tomar posse daquilo que o outro tem de melhor.

Ora, eu não sei o que Oswald diria do mundo contemporâneo O que eu sei com certeza, é que ele estaria numa luta diária e constante, e uma luta bastante aguerrida, para tornar o mundo mais justo, mais amoroso, contra o patriarcado e a favor do matriarcado, no sentido da dominação da mulher E eu entendo isso no sentido do amor, da devoção ao outro, ao filho, ao marido, ao mundo em geral

"eu não sei o que Oswald diria do mundo contemporâneo. o que eu sei com certeza, é que ele estaria numa luta diária e constante, e uma luta bastante aguerrida para tornar o mundo mais justo e mais amoroso (...)."
Foto: Marília de Andrade

D I

C A V A L C A N T I

Revolucionário e extraordinário, di cavalcanti viveu uma vida vanguardista, por sua obra, sua atitude e seu comportamento, como artista e como cidadão, com uma consciência ímpar da importância do seu papel na sociedade brasileira da época. Um artista que, em tempos onde a burguesia imperava, soube causar impacto, ao mesmo tempo de reverência, em expressar em suas obras a classe menos favorecida, o subúrbio do rio de janeiro e a valorização da mulher negra, sempre em primeiro plano de importância em suas pinturas Di Cavalcanti foi um militante em causas políticas mas, acima de partidos, em sua própria convicçâo e princípios para uma sociedade melhor, mais justa e livre. talvez a palavra liberdade tenha realmente ganhado asas mais potentes depois de ter conhecido Di cavalcanti nesta vida, e voado muito além suas telas, muito além dos tempos. A entrevista imergiu na vida pessoal deste gigante modernista, idealizador da Semana de Arte Moderna em 1922 em detalhes tão carinhosos E assim, sua Tão querida filha Elizabeth Di cavalcanti, se demonstrou em nossa conversa, de uma imensidão de sensibilidade e disponibilidade, que só nos faz perceber o quão assim também era o seu pai.

E n t r e v i s t a c o m : E l i z a b e t h D i C a v a l c a n t i
"Five girls from Guaratinguetá"Di Cavalcanti, 1930 Foto: Di Cavalcanti

Luka: Filha de um dos maiores artistas de todos os tempos, o modernista Emiliano Di Cavalcanti. Qual sua principal lembranca de infância junto ao seu pai?

Elizabeth: Nos idos da década de 1950, Di Cavalcanti não foi um pai convencional, nem para o tempo, em que crianças ficavam na maioria com as babás, nos colégios, ou brincando na rua com outras crianças Via meu pai muito exporadicamente, porque ele viajava muito a São Paulo, a Paris, outras cidades dentro e fora do Brasil, tentando viver de sua arte, o que era muito difícil. Meu pai trabalhou muito, mas muito mesmo. Trabalho há mais de 20 anos levantando o legado de sua vasta obra e, baseada em sua trajetória de vida, calculo que ele produziu mais ou menos 9 mil obras entre desenhos crayons, pastel, aquarela, guache, nanquin, cartões para murais, afrescos, sobre telas, entretelas, cartões para tapeçarias Desenhos foram reproduzidas em serigrafias e litogravuras, artigos e poesias e, dois livros de reminiscências.

A arte moderna ja tinha sido estabelecida no começo da década de 1930 mas, comprador para seus quadros só começaram a se tornar expressivos no final da década de 1940, isto é, com a inauguração do MAM de Sao Paulo, em 1948

Via meu pai muito pouco, mas me lembro com ternura de seus desenhos, que ele fazia para mim em exercício lúdico de adivinhação. Por exemplo, fazia uma bolinha que ia virar um pequeno cachorro, gato, pássaro, etc Brincava comigo de damas, tenho um joguinho até hoje, ganhava uma partida e deixava eu ganhar uma outra Recitava me pequenos poemas e me incentivava a ler muito Ah! E tinha o famoso jogo de braço! O seu polegar contra meus dois magricelos braços! Tenho muitas pequenas lembranças que são a base da tesitura do meu amor filial

"Carnaval"Di Cavalcanti, 1965

Luka: Di Cavalcanti teve grande influência de Picasso, quando esteve na Europa. Como foi esse aprendizado e a influência cubista em suas obras?

Elizabeth: Meu pai foi um pintor autodidata. Aliás, é um pintor autodidata Não frequentou a escola de Belas Artes, aprendeu seu ofício através de trabalho árduo como ilustrador e caricaturista. Em 1916, na primeira exposição de caricaturistas, já chamava atenção com seu talento Em 1923 viajou para Europa pela primeira vez, e lá estudou com afinco os grandes mestres da renascença italiana, assim como os pintores da École de Paris. Haviam pintores de sua predileção, como Cézanne e Matisse e é claro, PIcasso, em sua fase neoclássica, as figuras monumentais em sua volumetria.

É interessante notar que ele já se interessava pela volumetria em 1921, como atesta o álbum de gravuras dos "Fantoches da meia noite" editado pela Editora Monteiro Lobato. Críticos de arte analisam sua obra do final de 1920 e começo de 1930, após duas viagens à Paris, como pós cubistas, isto é, figuras geométricas e distorção da realidade Meu pai tinha verdadeira paixão por Picasso, inclusive o entrevistou, em 1924, para o Correio da Manhã Essa paixão é atestada não somente nas obras cavalcantianas, mas também na quantidade de livros sobre Picasso, constantes de sua vasta biblioteca de mais de 2mil livros, e a influência dela em diversos artistas

"Favela" -
Di Cavalcanti, 1958

Luka: Di Cavalcanti foi efetivamente o idealizador da Semana de 22 e quem pintou justamente o cartaz e a capa do catálogo o evento, em xilogravura. Como foi o surgimento da Semana e todo este movimento vanguardista? E qual o maior legado que este movimento deixou ao longo do século?

Elizabeth: Di Cavalcanti foi realmente idealizador da Semana de Arte Moderna de 1922! Isso aconteceu casualmente na casa do Paulo Prado. Ele já era amigo do Paulo Prado e ia muito aos saraus em sua mansão, e lá ele escutou a mulher do Paulo comentar da Semana de Eventos, que houve em Douville, na França. Então ele teve a idéia de fazer uma semana de escândalos em São Paulo. Ora, o Graca Aranha queria fazer de São Paulo uma cidade moderna, mudar o mundo das artes, principalmente pintura e literatura com outro tipo de panorama, algo totalmente diferente E ele conheceu Di Cavalcanti em 1921 na livraria O livro, de Jacinto Silva, que era um amigo do meu pai Meu pai não saiu de uma família de posses, mas sim, ele teve que trabalhar desde muito cedo para poder viver, porque seu pai morreu quando ele tinha 17 anos. Então, ele não tinha capital propriamente dito, mas ele tinha um outro tipo de capital, que era o capital social, a quantidade de pessoas que ele conhecia. E, o Graca Aranha o incumbiu de praticamente trazer do Rio de Janeiro artistas que pudessem compôr uma semana de escândalos e vanguardismos no Teatro Municipal de São Paulo, que havia acabado de ser inaugurado. Ora, a época melhor seria quando? No carnaval! E realmente a semana aconteceu em fevereiro de 1922.

"cartaz da Semana de Arte Moderna"Di Cavalvanti, 1922

"Capa do catálogo da Semana de Arte Moderna"Di Cavalvanti, 1922

Os grandes vedetes da literatura da semana de 22 acredito que tenham sido os dois Andrades, o Mário de Andrade e o Oswald de Andrade E, o Di Cavalcanti ficou incumbido na semana, de compôr os artistas plásticos que exporiam no saguão do Municipal e tudo foi assim, muito corrido Di Cavalcanti pensava que a Semana de 22 teria um cunho social político, só que isso não aconteceu. Foi uma explosão de irreverências e que inclusive foi vaiado. Uma dessas vaias foi contratada, e ele ficou muito decepcionado, porque foi uma coisa muito festiva. O Villa Lobos, que era amigo de infância do meu pai, quando ele começou a tocar, foi vaiado, e a Guiomar Novaes foi convocada no palco para acalmar os ânimos

Após a semana de 22, meu pai consegue o patrocínio do Bittencourt, o dono do Correio da manhã, e vai ser o correspondente do jornal em Paris e, a sua incumbência era de enviar uma crônica por semana para o Brasil No princípio ele se dedicou à isso, mas depois esmoreceu um pouco, até que o Correio da Manhã foi fechado, e ele teve que voltar para o Brasil. Infelizmente, em São Paulo, salvo 2 eventos, o nome do meu pai não foi muito ventilado, não veio muito a baile Aqui no Rio de Janeiro foi diferente, e ele é muito reverenciado. Lembram se somente do Di Cavalcanti na semana de 1922 em São Paulo, porque foi ele quem confeccionou o cartaz da Semana, assim como também a capa do catálogo.

Acredito que o maior legado da semana de 1922 foi a liberdade Cada um poderia produzir, fazer a sua poesia, os seus textos, a sua pintura, a sua escultura, da maneira que quisesse, com total liberdade Eu acho que o legado da semana é este mesmo, um grito de liberdade Você pode ser e se expressar da forma que você quiser.

"carnaval"Di
1928
Cavalvanti,

Luka: Em 1960 ele pintou um quadro em sua homenagem! Pode nos contar um pouco sobre esta pintura?

Elizabeth: Papai nunca propriamente pintou um quadro em minha homenagem Ele pôde ter pintado um quadro para mim Existe um retrato quando ele pintou quando eu tinha 16 anos que é fartamente reproduzido, e nessa pesquisa que eu faço sobre a obra do meu pai, eu vi coisas que eu nem sabia A quantidade de que meu pai pintou de retratos meus em pequena, em adolescente, na fase adulta, às vezes ele me pintava de memória. Mas eu sei que esses retratos são meus. Eu acho que uma forma de homenagear a filha é justamente a retratando Eu não gostava muito de posar para retratos porque eu tinha que ficar parada. Papai dizia "fica quieta menina, olha p mim menina". E eu não gostava, achava aquilo tudo muito aborrecido Mas nesses retratos, ele soube capturar a minha essência, por quanto as pessoas que vêem esses retratos dizem "Ah Elizabeth é você! é você!" e eu digo: É claro que sou eu! Mas se ele não me conhecesse profundamente, o meu ser, eu acho que esses quadros não teriam a força que têm, pelo menos para mim. Esse retrato em questão, é interessante porque eu estou vestindo uma blusa tipo marinheiro, de listras. E porque eu usava estas blusas marinheiras? Porque como eu era muito magrinha, muito magrinha mesmo, não existia roupas para mim no Rio de Janeiro, então minha mãe tinha que comprar roupas e camisetas em lojas de meninos, e eu usava muito shortinhos e camisetas assim, e o papai me retratou com esta camiseta

"Retrato de Elizabeth"Di Cavalcanti, 1962

Luka: Di Cavalcanti estudou Direito, pertenceu a movimentos politicos, mas dedicou sua vida às artes. Suas pinturas eram sempre muito coloridas, líricas, irreverentes, numa valorização do país e de sua cultura. Essas características seguem tão nitidamente atuais na sociedade brasileira. Como vê esta perspectiva de brasilidade das obras do seu pai?

Elizabeth: Di Cavalcanti não se formou em Direito. Paulo Prado dizia que meu pai era diabolicamente inteligente. Ele fez o Direito até o quarto ano, e me contou que teve uma prova e que ele não tinha estudado nada, absolutamente nada, tinha ficado na boemia a noite inteira Então ele falou assim, "E agora, o que vai acontecer? vou lá pra banca, o que vou falar..." E foi fazer o exame... Chegou lá, e na hora ele conversou, falou, expôs, etc porque ele tinha uma verve brilhante, e tirou a nota máxima. Quando ele teve o resultado, decidiu parar a faculdade, porque ele achava que estava perdendo o tempo dele Nessa época, ele tinha conhecido Oswald de Andrade na facudade de Direito em São Paulo, no Largo São Francisco e ficaram muito amigos Esta amizade data da faculdade Depois ele brigou com Oswald de Andrade, e novamente fizeram as pazes mais tarde e, inclusive o discurso do funeral do Oswald de Andrade, foi meu pai quem fez

" S a m b a " D i C a v a l v a n t i , 1 9 2 5

ELE FOI UM ARTISTA QUE SOUBE TRAZER O MORRO PARA O CENTRO DAS SALAS BURGUESAS.

Di Cavalcanti sempre foi mobilizado pela diferença social. Ele ficava muito chocado com a população negra e também com os imigrantes que ele teve contato quando ele foi trabalhar em São Paulo, na estrada mogiana, com um tio dele. Ele se filiou ao partido comunista em 1928 e, quando se entrava no partido, tinha que se sujeitar à normas rígidas, e era tudo muito complicado Quem sofreu muito com isso foi a Pagu E em virtude destas normas, Di Cavalcanti ficou poucos anos no partido comunista porque o que ele mais prezava era uma palavrinha chamada liberdade! Ele sempre foi um ativista politico tendo sofrido 3 prisões em 1932, 1935 e 1936 Interessante que em 1932 como pró Getúlio e em 1936 como anti Getulhista.

O que caracteriza Di Cavalcanti politicamente, e óbvio também artisticamente, é seu amor ao homem brasileiro. Ele foi eminentemente humanista, ele jamais poderia fazer uma arte que não retratasse o homem brasileiro e que não fosse para o homem brasileiro. O centro da sua arte são as mulheres, mas ele retratou principalmente mulheres negras. Sempre, durante a sua carreira de 60 anos, a mulher negra sempre esteve presente em sua obra Ele foi um artista que soube trazer o morro para o centro das salas burguesas

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"Mulheres com frutas"
Di Cavalvanti, 1932

Eu acredito que a base da obra do Di Cavalcante é o desenho Ele foi um desenhista maravilhoso Ele fazia coisas, eu descubro cada desenho que eu fico perplexa... são maravilhosos! Pode ser de qualquer tamanho, mesmo muito pequenininho (e isso se chama doglass), que ele fazia ao pé do telefone, até um desenho muito grande, é de uma complexidade ímpar Em 1960, ele fez umas jóias em parceria com Luciano Finkelstein, e o Luciano falou uma coisa que é verdade. Ele tinha que adaptar os desenhos do Di Cavalcanti para as jóias e, às vezes, muitos dos traços que Di Cavalcanti fazia, não podiam ser executados nessa nova expressão da jóia Porque é um material às vezes, seja o esmalte, seja o ouro, ou o que seja, que não se moldava ao desenho ou, o desenho em sua integridade, não se adaptava à jóia Então o Luciano tentava mudar o traço para ver se adaptava, para ver se a jóia podia ser mais exequível, mas quebrava a harmonia, a homogeneidade Então, ele tinha que ir lá no papai, para papai fazer as modificações que pudessem se adaptar. Os desenhos dele você não pode mexer em nada, é de uma complexidade total Mas tem outros desenhos, com só um traçado, como uma caricatura que ele fez da Josefine Becker.

"OS QUADROS DE DI CAVALCANTI GRITAM BRASILIDADE, GRITAM A NATUREZA, GRITAM A NEGRITUDE, GRITAM A MULHER, GRITAM O MAR, GRITAM O SUBÚRBIO DO RIO DE JANEIRO." ELIZABETH DI CAVALCANTI

Di Cavalcanti você pode ver duas coisas distintas na sua obra: é a maestria do desenho e a maestria do colorista. Está tendo aqui no Rio de Janeiro uma exposição intitulada "Di Cavalcanti 125 anos", a exposição é impactante pelo colorido Você entra e a pessoa sai de lá completamente encantada com aquilo tudo, porque a exposição não prioriza o desenho, e sim a pintura sobre tela, aquarelas, guaches, etc, mas o desenho em si não é a tônica da exposição. Os quadros de Di Cavalcanti gritam brasilidade, gritam a natureza, gritam a negritude, gritam a mulher, gritam o mar, gritam o subúrbio do Rio de Janeiro.

No mesmo ano da Semana de Arte Moderna, houve aqui no Rio de Janeiro, a exposição comemorativa do Centenário da Independência do Brasil E ele conheceu, no pavilhão do México, os artistas que vieram decorar o pavilhão mexicano, e nessa data ele entendeu que a sua pintura não seria meramente decorativa, mas que teria um cunho social sobre o Rio de Janeiro. Suas obras são do povo brasileiro e o expectador vê o testemunho da sua brasilidade A obra do Di Cavalcanti é um rito de brasilidade.

Tríptico "Navio Negreiro" - Di Cavalvanti, 1961

"O QUE DIRIA DI CAVALCANTI AOS

JOVENS: ACREDITEM NO BRASIL, LUTEM PELO BRASIL,

O POVO BRASILEIRO É MARAVILHOSO." ELIZABETH DI CAVALCANTI

Luka: Então agora, 100 anos depois, o que você acha que Di Cavalcanti diria aos jovens artistas?

Elizabeth: Então o que diria Di Cavalcanti aos jovens brasileiros.... que acreditem no Brasil, que lutem pelo Brasil, que o povo brasileiro é maravilhoso. E para os jovens artistas que papai foi procurado algumas vezes por pessoas que queriam que ele dessem aulas, ele não acreditava nisso. Ele acreditava que o artista tem que trabalhar muito, tem que pesquisar muito, sempre se superar e que acreditasse em si Acredito da mesma forma que ele fez: uma pessoa excepcional não só um artista, mas como um ser politico, um poeta, e uma figura extraordinária, palavra que ele gostava de aplicar aos outros mas, que ele sim, ele quem era uma pessoa extraordinária e continuará a ser uma pessoa extraordinária dentro do panorama das artes brasileiras

Foto: Elizabeth Di Cavalcanti

O S W A L D O G O E L D I

E n t r e v i s t a c o m : L a n i G o e l d i

Lani Goeldi, bisneta de Emilio Goeldi, imigrante Suiço no Brasil no início do Século XX, o primeiro artista a retratar a fauna e flora amazônica em desenhos, Neta de Oswando Goeldi, um dos grandes nomes do modernismo brasileiro, embora não tenha participado da semana de 1922 Lani, sempre tão gentil e carinhosa, mãe da saudosa fotógrafa Giuliana Goeldi, que nos deixou ainda tão cedo e, da também artista e designer Giovana Goeldi, que se preparara agora para ser mãe de mais uma geraçãO de uma família inteira de artistas. no comemorar do centenário do modernismo de oswaldo goeldi e tambÉm do centenário da Última exposição que EmÍlio goeldi fez na SuÍça, sua pátria natal, com os desenhos da fauna e flora brasileira, Uma entrevista emocionante, com tanto significado histórico e sentimental, transferindo a continuidade da arte, e a permanência da sensibilidade, muito além dos desenhos

"Chuva"Oswaldo Goeldi, 1957 Foto: Oswaldo Goeldi

Lani Goeldi

"Creio que a arte também tem seus ciclos, as mudanças ocorrem por inúmeras situações, muitas vezes por influências externas ou ainda pela própria necessidade de se reciclarem e se tornarem mais receptivas ao público."
"Chuva"Oswaldo Goeldi, 1957

Oswaldo Goeldi deixou para o mundo um grande acervo de sua arte e visão do mundo, vivido naqueles anos do modernismo brasileiro Além da sua obra artística, qual o maior legado pessoal que Goeldi deixou para a família?

Lani: Goeldi deixou um legado de mais de 2000 obras que hoje estão em diversos museus e coleções particulares do mundo. Hoje, grande parte de sua obra está catalogada pelo projeto Goeldi, uma instituição criada no ano de 2000, em comemoração aos 500 anos do Brasil, quando também foi lançada a obra de sua sobrinha neta Lani Goeldi intitulada "De mãos dadas com o passado", que trata exatamente do grande legado familiar.

Oswaldo Goeldi filho de outro grande cientista, zoólogo e naturalista, Dr Emilio Goeldi, imigrante suíço no Brasil em 1901. Chegando no Brasil, se instalou em Belém do Pará onde catalogou as Aves Amazônicas em parceria com o alemão Ernst Lohse, e que mais tarde deu origem a um acervo rico em detalhes destas aves em seu habitat Poderia contar um pouco sobre esta série e a exposição atual dela?

Esta coleção possui seus originais em Berna Suíça entretanto em 2013 quando de minha visita ao acervo do Museu de História Natural, conheci de perto esta coleção enviada pelo próprio Emílio Goeldi para ser guardada na Suíça Na verdade foi uma ação visionária pois este acervo, assim como aves e animais empalhados se encontram com um controle rigoroso de acondicionamento, catalogação e temperatura, que se estivesse no Brasil, não estariam em alto estado de conservação Após um ano os originais foram sendo enviados em cópias para o Projeto Goeldi no intuito da difusão deste material, o que foi formatado e exposto no Brasil pela primeira vez a partir de 2021 e este ano será exposto em Belém PA com o apoio da Embaixada da Suiça.

Fragmento "Luz noturna"Oswaldo Goeldi, 1958

Em um momento de transformação do mundo, em 1922, Oswaldo fez parte do grupo de artistas que revolucionaram as artes no país e, parte de todo o movimento modernista que estava acontecendo no mundo, surgido na Europa. Qual era a principal motivação e inspiração de Oswaldo em suas pinturas?

Oswaldo Goeldi retornou da Suiça após permanecer lá por 24 anos, quando chegou ao Brasil, se sentia meio deslocado, pois o movimento artístico na Europa estava muito à frente da arte brasileira Buscou seu próprio caminho, entretanto não foi compreendido pela crítica, mesmo assim insistiu em sua técnica e estilo que foram inspiradas e apoiadas pelo amigo austríaco Alfred Kubin

Estamos numa nova fase de transformação do mundo e as artes retratam estas mudanças. Qual relação você percebe entre o movimento de 22 e agora, em seu centenário, a influência dos modernistas para o mundo, ou mesmo uma inspiração para esta atual fase?

Creio que a arte também tem seus ciclos, as mudanças ocorrem por inúmeras situações, muitas vezes por influências externas, ou ainda, pela própria necessidade de se reciclarem e se tornarem mais receptivas ao público Este panorama pandêmico e as guerras com certeza farão as pessoas voltarem para a beleza das coisas comuns, das relações interpessoais, da admiração do belo, mas principalmente para as questões espirituais, e isso sempre acaba convergindo para as artes.

Vamos aguardar pois a produção em massa que virá pela frente será transformadora e muito importante para a história da arte mundial

"Pescadores no barco e tubarão"Oswaldo Goeldi, 1971

Como neta de Oswaldo Goeldi, o que você acha que ele falaria hoje, sobre as transformações no mundo e a expressão das artes diante tantas mudanças?

Oswaldo era um homem que admirava a simplicidade e as minorias. Muitas dessas pessoas e alguns lugares ermos foram temas de muitos de seus desenhos e gravuras Por ter visto a guerra de perto, também sofreu influências deste conflito Por isso, considero Goeldi um artista de vanguarda, porque essas condições de certa forma não cessaram e seu senso crítico de um exímio observador, captariam os momentos mais marcantes de hoje e com certeza seriam retratados em suas obras

Meu trabalho à frente do Projeto Goeldi está focado na visão futurista que ele tinha sobre o mundo das artes, dividir, ensinar, compartilhar, difundir e fomentar seu trabalho sempre.

É assim que atuamos há mais de vinte anos, e continuamos abrindo frentes e buscando apoios nacionais e internacionais para levar a obra de Oswaldo Goeldi e de seu pai Emílio Goeldi, para os quatro cantos do planeta.

Agora, com o lançamento da obra biográfica de Oswaldo Goeldi, um livro totalmente ilustrado, bilíngue, com mais de 300 páginas, acredito que o mundo irá conhecer a outra face do artista considerado como o grande Mestre da Gravura Brasileira.

Os livros poderão ser solicitados diretamente pelo Projeto Goeldi: www oswaldogoeldi org

Foto: Lani Goeldi

Mais que lavar roupas, cuidadosamente presenva história, renova lembranças e recupera momentos inesquecíveis em forma de tecidos.

Foto:

MARIO DE ANDRADE
Foto:
digital Museu do Fado
A P A U L I C É I A D E S V A I R A D A
Acervo
Mário de Andrade
dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita, trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou. (...)" MÁRIO DE ANDRADE
PREFÁCIO INTERESSANTÍSSIMO "(...)Alguns

Mário de Andrade foi um poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro Um dos fundadores do modernismo no país, ele praticamente criou a poesia brasileira moderna com a publicação de sua Pauliceia Desvairada em 1922 e teve uma influência enorme na literatura brasileira moderna e como ensaísta, tendo sido a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo. Treinado como músico e mais conhecido como poeta e romancista, Mário se envolveu pessoalmente em praticamente todas as disciplinas relacionadas ao modernismo paulistano e se tornou o polímata nacional do Brasil. Suas fotografias e ensaios sobre uma ampla variedade de assuntos, da história à literatura e à música, foram amplamente publicados.

Forte membro participativo e entusiasta da Semana de Arte Moderna de 1922, junto com Anita Malfatti, Menochi del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, foi um membro do vanguardista "Grupo dos Cinco". O Grupo dos Cinco ficou conhecido por seu papel central na busca da identidade brasileira, bem como por seu trabalho e envolvimento com a Semana de Arte Moderna, embora Tarsila não tenha participado.

Pauliceia Desvairada é uma coleção de poemas de Mário de Andrade, publicada em 1922. Foi a segunda coleção de poesia de Andrade e a mais polêmica e influente O uso livre da métrica introduziu idéias modernistas européias revolucionárias na poesia brasileira, que antes era estritamente formal

"Pauliceia " é o apelido de São Paulo, cidade natal de Mário, e cidade onde o livro foi publicado Nos poemas individuais da coleção, Mário ocasionalmente se refere à cidade como "Pauliceia". Os poemas, que não apresentam métrica regular nem rima e, que não são escritos principalmente em frases completas, mas em frases curtas e rítmicas, foram recebidos com vaias na leitura inicial, embora muitos na plateia ainda reconhecessem seu significado Na forma, eles são totalmente novos; no tema eles podem ser eufóricos ou extremamente queixosos, preocupados com os cantos menos glamurosos da cidade, de uma forma que era totalmente nova para a poesia brasileira Funda, ao jeito de um manifesto, os princípios de uma nova corrente estética, que se concretizaria nos poemas que compõem Pauliceia, e que se apropria de São Paulo enquanto paisagem e motivo dos princípios estéticos definidos por Mário de Andrade, como o verso livre e a expressão de uma urbanidade sintética, fragmentária, anti romântica e antiburguesa. (fonte: Wikipedia)

inspiração "São paulo! comoção de minha vida... Os meus amores são flores feitas de original... Arlequinal!...Traje de losangos...Cinza e ouro... Luz e bruma...Forno e inverno morno... Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... Perfume de Paris...Arys! Bofetadas líricas no Trianon...Algodoal!... São Paulo! comoção de minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América!" A Paulicéia desvairada MÁRIO DE ANDRADE

C a p a d e " P a u l i c é i a d e s v a i r a d a " D i C a v a l c a n t i

A MÚSICA DE Villa lobos: além do século!

Gênio da música, vaiado em sua apresentação na Semana de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, Em sua obra prolífera, o maestro combinou indiferentemente todos os estilos e todos os gêneros, introduzindo sem hesitação materiais musicais tipicamente brasileiros em formas tomadas de empréstimo à música erudita ocidental.

É possível encontrar na obra de Villa Lobos preferências por alguns recursos estilísticos: combinações inusitadas de instrumentos, arcadas bem puxadas nas cordas, uso de percussão popular e imitação de cantos de pássaros O maestro não defendeu e nem se enquadrou em nenhum movimento, e continuou por muito tempo desconhecido do público no Brasil e atacado pelos críticos Não obstante às severas críticas, Villa Lobos alcançou grande reconhecimento em nível nacional e internacional Entre os títulos mais importantes que recebeu, está o de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova Iorque e o de fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Música.

Foto: Heitor Villa Lobos

"Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade sem esperar resposta." Villa Lobos

Heitor Villa Lobos nasceu no Rio de Janeiro, em 1887, foi um compositor, maestro, violoncelista, pianista e violonista brasileiro, descrito como " a figura criativa mais significativa do Século XX na música clássica brasileira", e se tornando o compositor sul americano mais conhecido de todos os tempos Compositor prolífico, escreveu numerosas obras orquestrais, de câmara, instrumentais e vocais, totalizando mais de 2 mil obras até sua morte, em 1959. Destaca se por ter sido o principal responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente brasileira em música, sendo considerado o maior expoente da música do modernismo no Brasil, compondo obras que contêm nuances das culturas regionais brasileiras, com os elementos das canções populares e indígenas Suas composições foram influenciadas tanto pela música folclórica brasileira quanto por elementos estilísticos da tradição clássica europeia, como exemplificado por suas Bachianas Brasileiras. Suas Etudes para violão (1929) foram dedicados a Andrés Segovia, enquanto seus 5 Prelúdios (1940) foram dedicados à sua esposa Arminda Neves d'Almeida, também conhecida como "Mindinha" Ambas são obras importantes no repertório violonístico O Teatro Municipal de São Paulo foi o primeiro palco "erudito" a receber as obras de Villa Lobos, na Semana de Arte Moderna de 1922 (Fonte: Wikipidea)

P a r t i t u r a o r i g i n a l d e " O s e s c r a v o s d e J o b " , 1 9 3 8

Partitura original de "Bachianas brasileiras"para piano Hector Villa Lobos (Fonte: Arquivo Nacional)

O leite condenasado que torna qualquer dia mais doce, com sabor de lembranças, há gerações.

A SEMANA ATUALIZADA

A arte como caminho transformador da sociedade 100 anos depois

A Semana de Arte Moderna (SAM) de 1922 pode e deve ser vista cem anos depois como um desafio Além de um fato histórico a ser revisitado, é um acontecimento cultural a ser interpretado como um ponto de partida para refletir sobre muito daquilo que o Brasil foi, é e poderá vir a ser.

Ela pode ser lida sob um novo olhar neste centenário É significativo pensar que, alguns anos antes, em 1917, Marcel Duchamp toma um urinol e discute se ele pode ser digno de estar em uma mostra visual Portanto, uma questão central da arte, no século XX, é a reflexão que ela continuamente faz sobre si mesma

Conclui se que a arte está além do que se vê Reside, em boa parte, naquilo que se pensa Nesse aspecto, um objeto será mais artístico no sentido que discute o que é arte e qual a inserção dela em todo um sistema que envolve criador, criatura (o trabalho) e o público A obra, com sua composição, formas, cores, texturas, angulações e movimento, será mais densa quanto mais desestabiliza internamente quem a vê.

" F i g u r a s ó " T a r s i l a d o A m a r a l , 1 9 3 0

Seja pela intencionalidade ou pela manifestação de um desejo, a articulação de técnicas e percepções gera encantamentos São eles que impactam o observador. Sendo assim, um trabalho visual fala por si mesmo quando mantém a sua capacidade de impactar as pessoas em três dimensões: pelo raciocínio (conceito), pelo olho (visualidade) e pelo coração (emoção)

O conjunto dessas camadas faz com que a individualidade humana se universalize A partir de sua interpretação de mundo, cada criador filtra o mundo pelas suas próprias experiências e as coletivas Como dizia Duchamp, é justamente no espaço entre aquilo que cada artista planeja e o que efetivamente faz que a arte se realiza

Nessa concepção, é importante que os estudos sobre o movimento modernista ganhem sentido e significação levando em conta uma perspectiva que busque ligar passado, presente e futuro Nesse aspecto, a SAM apresentou à sociedade, naquele momento, novidades na pintura, na escultura, na literatura e na música.

Realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, SP, foi retomada, pelo exemplo pelo Tropicalismo, na década de 1960, dentro de um olhar que tinha um ponto em comum: evitar as repetições do que era feito na Europa e buscar uma renovação da cultura brasileira, com ideias que rompessem com o passado rumo a desvendar caminhos novos.

" B a i l a r i n a " V i c t o r B r e c h e r e t , 1 9 2 0

Embora estivesse ainda presa a alguns modelos europeus, como as vanguardas do início do século XX, a SAM gerou polêmica Não teve a ampla repercussão desejada, inclusive porque seus integrantes integravam a elite nacional, mas atingiu os conservadores, ligados às tradições vigentes vinculadas ao parnasianismo, com modelos relacionados à cultura greco romana

A SAM foi um marco e mesmo aqueles que não estavam no Brasil no período de sua realização, mas que abraçaram suas ideias, tornaram se referências da história da arte nacional Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, na literatura; Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, na pintura; e Heitor Villa Lobos, na música, entre outros, buscaram, cada qual à sua maneira, as raízes brasileiras.

Nesse sentido, o Modernismo, dentro da esteira sugerida pelo célebre quadro "Abaporu", que significa " o homem que come " , criado por Tarsila do Amaral em 1928, ainda sob influência da SAM, constitui, assim como fez Duchamp, um pensar, em diversas áreas do conhecimento, dos sentidos e significados da arte

Torna se assim possível verificar como a SAM reverbera até hoje Os mais variados diálogos criativos se realizam na discussão das maneiras como ela é lida hoje e como poderá repercutir nos próximos cem anos, avaliando até que ponto aspautas então apresentadas permanecem atuais.

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"Um trabalho visual fala por si mesmo quando mantém a sua capacidade de impactar as pessoas em três dimensões: pelo raciocínio (conceito), pelo olho (visualidade) e pelo coração (emoção)." Dr. Oscar D'ambrosio DR OSCAR D'AMBROSIO É PÓS DOUTOR E DOUTOR EM EDUCAÇÃO, ARTE E HISTÓRIA DA CULTURA, MESTRE EM ARTES VISUAIS, JORNALISTA E CRÍTICO DE ARTE NO BRASIL. " O M e s t i ç o " C â n d i d o P o r t i n a r i , 1 9 3 4

Transportando o futuro da engenharia mecamnica.

O PAISAGISMO MODERNISTA

Sobre a conexão renascentista na obra modernista de Roberto Burle Marx Dr. José Tabacow

Na apresentação de uma exposição de Roberto Burle Marx, Lúcio Costa começa seu texto assim: “Roberto Burle Marx é um caso singular Em plena era atômica, a pessoa dele e o seu mundo, conquanto falem linguagem contemporânea, confinam com a Renascença” (1).

Assim, o famoso urbanista já podia ver conexões entre a obra deste grande artista do modernismo brasileiro, considerado por muitos não apenas pertencente a esta escola, mas um de seus fundadores, em especial, no que diz respeito ao paisagismo Não por coincidência, muitas vezes ele é denominado “ o criador do moderno paisagismo tropical”

Fotos: José Tabacow

O texto de Lúcio Costa, que não se refere apenas a paisagismo, mas a todas as formas de arte a que Burle Marx se entregou, veio me à memória quando, nas várias vezes em que revisei o projeto de paisagismo da Fazenda Vargem Grande (2), fui percebendo uma série de características que, de maneira inequívoca, constituem claras convergências com feições marcantes nos jardins italianos do Renascimento A mais explícita delas é, talvez, a abundância de água que, tanto na Itália quanto na serra da Bocaina, onde se localiza a Fazenda, brota generosa e abundante, a correr por colinas e encostas

O exemplo mais eloquente é, sem qualquer dúvida, a Villa D’Este, em Tivoli, em que o uso estético escultural da água, em forma de fontes, cascatas, jatos, espelhos, distribui se por todas as partes do espaço, mesmo em situações surpreendentes, como descendo pelos corrimãos de algumas escadas, correndo sobre uma mesa ou fazendo soar as notas um órgão, quando entra pelos tubos sonoros e expulsa o ar de seu interior A composição paisagística de Vargem Grande se desenvolve no antigo terreiro de secagem do café e, em termos de uso da água, conta com cinco espelhos, dezenove cascatas, alguns jatos e duas piscinas

Foto: Canva design

mais alguns aspectos sintônicos

menção:

traçado do jardim, isto é, buscando os pontos notáveis na geometria da composição.”

José Tabacow

Outra característica que nos conecta com o Renascimento é o escalonamento do terreno, vencendo os desníveis naturais das colinas e encostas com terraços que, nos jardins italianos, sucedem se morro abaixo, muitas vezes conectados por cascatas ou planos inclinados, ou ainda muros de arrimo que vão delimitando terraços e funções: teatro ao ar livre, labirintos, jardins segregados (3), espaços para refeições ao ar livre Estes últimos sugerem a citação, como expressão importante, da Villa Lante, em Bagnaia (nos arredores de Viterbo) Embora água e terraceamento também aqui sejam notáveis, chama a atenção uma enorme mesa de pedra sobre a qual corre, como máximo refinamento, a água corrente de um pequeno córrego, onde os comensais podiam lavar as mãos ou se refrescar molhando o rosto e a face. E, também digna de menção, a catena d’acqua (corrente ou cadeia d’água), destacada escultura em que a água em declive acompanha os degraus de uma escada

"Há
que merecem
a presença de obras de arte, sempre relacionadas com o

com mós sobrepostas que, antes da intervenção do paisagista, eram apenas uma coleção de pedras do proprietário, sem caráter de arte. Ela está fortemente vinculada a uma ilha redonda, plantada em seu centro, único ponto notável na geometria de um círculo! Sempre evocando os jardins da Renascença, há ainda a presença do grotto, a gruta de onde se originam todas as águas, presente nos dois jardins acima citados. Em Vargem Grande, a água brota da boca do antigo lavador de café, fazendo aqui o papel de grotto, onde tem início toda a dinâmica do abundante elemento aquático no conjunto daquele jardim

Roberto Burle Marx nunca me falou de alguma intenção de relacionar o jardim da Fazenda Vargem Grande com a Renascença italiana (4). Ou que esta tenha lhe inspirado no traçado do projeto. Então o que aqui se expõe tem caráter especulativo, hipotético Mas que me lembra vivamente um filme de John Houston em que, logo no começo, aparece na tela um cartaz dizendo: “Esta história não é real Mas deveria ter sido” (5)

Publicação original: TABACOW, José. Fazenda Vargem Grande, Areias SP. Sobre a conexão renascentista no paisagismo modernista de Roberto Burle Marx. Arquiteturismo, São Paulo, ano 12, n. 134.01, Vitruvius, maio 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/12.134/6973

notas

NA Publicado com o apoio da Istituto Universitario di Architettura di Venezia IUAV, que, a convite do Professor Renzo Dubbini, recebeu o autor como professor convidado para estudos e atividades acadêmicas em associação com os professores Barbara Boifava e Matteo Dambros, sobre a temática "A influência europeia na obra de Roberto Burle Marx"

1

MOTTA, Flávio L. Roberto Burle Marx e a nova visão da paisagem. São Paulo, Nobel, 1983

2

3

O Giardino Segretto não é, como tem sido traduzido, um “jardim secreto”, no sentido de misterioso ou de escondido Creio tratar se de um erro de tradução, pois o verdadeiro sentido é o de um jardim segregado, vedado aos visitantes, para ser usufruído apenas pelo dono da Villa, do palazzo ou residência, e por sua família

4

Há numerosos exemplos de jardins do Renascimento italiano que se enquadram nas características aqui descritas. Merecem menção a Villa Aldobrandini, em Frascati, a Villa Gamberaia, nas cercanias de Firenze e a Villa Garzoni, em Collodi, além dos dois já mencionados no texto

5

Fazenda Ponte Alta Projeto de paisagismo de Roberto Burle Marx, José Tabacow e Haruyoshi Ono, 1979 “Roy Bean, o Homem da Lei” (no original, The Life and Times of Judge Roy Bean) "Paisagem brasileira" Lasar Segall, 1925
"A moda passa, o estilo permanece para sem+re" Coco Chanel

A arquitetura moderna e a influência na arquitetura contemporânea

A Bauhaus foi uma escola de arte vanguardista na Alemanha, fundada em 1919. ao longo dos anos seguintes revolucionou os paradigmas até então aceitos pela sociedade nos campos da arte e da arquitetura, e que se tornariam as diretrizes predominantes para o futuro nestes campos. Walter Gropius, fundador e primeiro diretor da Bauhaus Apresentava uma perspectiva ousada à respeito dos rumos a serem tomados por sua instituição, dentro do que seria o futuro Movimento Modernista. No Manifesto publicado em sua fundação, ele escreveu: “Criemeos juntos a nova construção do futuro, que juntará tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura”.

ARQUITETO RODRIGO COLISSI Foto: Bauhaus

juntos a nova construção do

que juntará tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura.”

A arquitetura moderna é o reflexo das grandes inovações técnicas que começam à surgir já no fim do século XIX. Com a revolução industrial passa se a utilizar o ferro de maneira nunca antes vista nas construções Materiais como o aço e o concreto armado dão aos arquitetos possibilidades inéditas de criação, o que faz com que este estilo se torne completamente diferente de tudo que se viu até então. São engenheiros os pioneiros na utilização das novas técnicas como nos arranha céus de Chicago ou na famosa Torre Eiffel de Paris. A fundação da escola Bauhaus de Weimar, por Walter Gropius (1883 1969), é de suma importância para o desenvolvimento da arquitetura moderna Dentro do conceito da Bauhaus, o artista não era diferente do bom artesão e é a partir desse pensamento que surge um artista até antes desconhecido, o desenhista industrial. A escola foi fechada por ordens de Hitler, não antes de resgatar para a arquitetura sua posição de arte maior e, seus artistas, pelo menos grande parte deles, transferem se para os Estados Unidos, onde darão prosseguimento à sua arte.

"Criemos
futuro,
f o t o : M u s e u S o l o m o n R G u g g e n h e i m N e w Y o r k , 1 9 5 6 P r o j e t o : F r a n k L o y d W h i t e

O que melhor caracteriza a arquitetura moderna é a utilização de formas simples, geométricas, e desprovida de ornamentação, valoriza se o emprego dos materiais em sua essência como o concreto aparente, em detrimento do reboco e da pintura.

As diferenciações apresentadas nessa arquitetura variam quase de arquiteto para arquiteto, podendo se notar semelhanças regionais, como é o caso de Frank Lloyd Wright (1867 1959), Le Corbusier (1887 1965), Ludwig Mies van der Rohe (1886 1969), Alvar Aalto (1898 1976), que apresentam características claramente distintas e próprias.

Os organicistas, encabeçados por Frank L. Wright, que dizia que o edifício, assim como um organismo vivo, precisa crescer a partir de seu meio, deve partir da função para a forma. Ao se olhar para uma construção desse tipo, é muito fácil saber a que se destina. A obra mais famosa de Wright é a Casa da Cascata, em Bear Run. A casa está implantada sobre a cascata, que pode ser desfrutada de seu interior. É impressionante a integração da casa com a natureza; Já os funcionais da escola de Le Corbusier subordinam a função à forma, porém, nos dois tipos, a forma está em harmonia com a função.

f o t o : F a l l l i n g w a t e r H o u s e , U S A , 1 9 3 6 P r o j e t o : F r a n k L l o y d W r i g t h

No Brasil o campo da estrangeiros, adeptos do movimento. O russo Gregori Warchavchik projetou a “Casa Modernista” (1929 1930), obra que foi marcada como a primeira casa em estilo Moderno em São Paulo, porém o estilo se tornou conhecido e aceito em solo brasileiro através de projetos de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, nas décadas seguintes, culminando em 1969, com o arrojado projeto da nova capital Brasília, causando um verdadeiro marco urbanistico e arquitetônico modernista, com reconhecimento mundial.

Os projetos modernistas eram marcados pelo racionalismo e funcionalismo, além de características como formas geométricas definidas, falta de ornamentação (a própria obra é considerada um ornamento na paisagem); separação entre estrutura e vedação, uso de pilotis a fim de liberar o espaço sob o edifício, panos de vidro contínuos nas fachadas ao invés de janelas tradicionais; integração da arquitetura com o paisagismo, e com as outras artes plásticas através do emprego de painéis de azulejo decorados, murais e esculturas.

Quando o movimento moderno se difundiu no Brasil, arquitetos recém graduados passaram a estudar obras de arquitetos estrangeiros como os alemães Mies Van der Rohe e Walter Gropius, porém foi o arquiteto franco suíço Le Corbuseir que mais teve influência na formação do pensamento Modernista nos arquitetos brasileiros, suas ideias inovadoras tiveram uma vasta influência no momento em território brasileiro, sendo fonte inspiradora para Lúcio Costa, Niemeyer e outros pioneiros da arquitetura Moderna brasileira

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BRASÍLIA

Brasília se tornou uma referência no modernismo brasileiro, grande parte em virtude do plano piloto idealizado por Lucio Costa, mais também pelos projetos das edificações que são de autoria de Oscar Niemeyer Brasília foi um passo significativo no desenvolvimento da arquitetura brasileira e abriu uma nova vereda para a concepção arquitetônica em todo o mundo. É bem verdade que se tratava de duas mentes muito diferentes: enquanto Niemeyer era adepto do vôo livre em suas projeções, de linhas sinuosas e curvas que desafiavam os cálculos de engenharia, Costa seguia à risca a disciplina das retas, dos planos e do funcionalismo ensinado por Le Corbusier

Por outro lado, é inegável o sucesso da parceria, que, com seu surpreendente e complementar equilíbrio, foi responsável por dar forma concreta à utopia modernista de arquitetura e urbanismo

A genialidade da arquitetura de Brasília trouxe, inclusive, para a cidade, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. A capital federal é o único bem contemporâneo a receber essa distinção concedida pela Unesco O reconhecimento é resultado do extraordinário conjunto arquitetônico de todo o Plano Piloto de Brasília.

C r o q u i s : P a l á c i o d o P l a n a l t o , B r a s í l i a , 1 9 5 8 P r o j e t o : O s c a r N i e m e y e r

A Influência da Arquitetura Moderna nos projetos atuais A arquitetura contemporânea Brasileira tem características bem marcantes, que quase sempre são trabalhadas pelos arquitetos e decoradores, desde os projetos residenciais mais simples até as grandes edificações.

Cada vez mais a arquitetura contemporânea é minimalista As pessoas buscam a beleza em suas residências, mas com naturalidade e sem exageros Entende se que menos é mais e que não é preciso ter muitos objetos para fazer a decoração de uma casa, por exemplo. Além disso, o minimalismo pode ser visto em projetos que priorizam a iluminação natural, com grandes aberturas como portas, janelas e claraboias.

Se há alguns anos as pessoas tinham uma ideia de que os recursos naturais eram inesgotáveis, hoje o pensamento é outro. Já se compreende que devemos preservar a natureza e promover harmonia entre o que é natural e o que é construído.Materiais naturais e sustentáveis, por exemplo, ganham cada vez mais força em todas as etapas dos projetos. Fabricação de produtos não tóxicos e ornamentação com plantas, entre outros recursos, fazem parte do estilo atual da arquitetura

"Menos é mais” mies van de rohe

foto: Farnsworth House, USA, 1951 Projeto: Mies Van der Rohe

A evolução tecnológica é evidente e transformou a forma como vivemos, comunicamos, trabalhamos e muito mais Na arquitetura não é diferente: a informática e os recursos computacionais também têm influência nos projetos contemporâneos.

A arquitetura contemporânea também se caracteriza pelos contrastes de estilos. São valorizados os traços lineares do pós modernismo, mas, ao mesmo tempo, também são incorporadas ideias mais futuristas, como formas distorcidas ou fragmentadas

A arquitetura moderna tem grande influência até hoje nos projetos atuais, devido ao conceito de permitir que diversas características arquitetônicas sejam integradas. Sendo elas passadas ou futuras, possibilita a criação de composições que, ao mesmo tempo, são simples, funcionais e elegantes. Elementos que tornam o profissional arquiteto, com mais possibilidades e liberdade de criação, o que reflete em projetos mais harmônicos É importante destacar também a busca por individualidade e personalidade, exprimidas nos projetos contemporâneos: os arquitetos buscam, cada vez mais, transpor os limites da tradição e inovar tanto em forma quanto em funcionalidade.

f o t o : M u s e u O s c a r N i e m e y e r , C u r i t i b a , 2 0 0 2 P r o j e t o : O s c a r N i e m e y e r

"Lilly is more" é uma obra gráfica feita pela editora desta revista, Ana Carolina Azevedo, em homenagem à Arquiteta Lilly Reich, do escritório do Arquiteto modernista Mies Van der Rohe e, quem participou dos desenhos de diversos projetos do arquiteto, incluindo principalmente, a famosa cadeira Barcelona.

A célebre frase de Mies "Less is More", aqui se transforma com o nome de Lilly, em sua importância como mulher e profissional no período modernista na Alemanha.

Vamos brindar a vida, os tempos e os anos, porque eles não voltam mais!

Detalhes do cenário pós colonial brasileiro, por detrás das vanguardas artísticas

cenáriO

No centenáro da Independência do Brasil de Portugal, pós abolucionista, a Semana de Arte Moderna de 1922 se apresentava dentro de um cenário brasileiro muito propício para a inovação e irreverência artística, principalmente por ter acontecido na cidade de Sao Paulo, a maior cidade do país, e que segue sendo até os dias de hoje. A política passava por uma transição de governo, a moeda não apresentava muita valorização diante a crise econômica em que o país e o mundo enfrentavam, no pós 1a guerra mundial, pós pandemia da gripe espanhola e instabilidade geral da sociedade em uma nova era industrial que se apresentava frenética pelo crescimento e desenvolvimento, porém ainda com caminhares inseguros O avanço do feminismo, dando direito ao voto e abertura ao trabalho da mulher em diversas profissões, abria um caminho expansivo dentro de uma sociedade conservadora mas que estava ávida pelo " carpe dien", como nunca havia estado antes. Um cenário efetivamente promissor para os anos 20 do século XX mas que, um século depois, apresenta situações tão similares A história se repete?

" O p a s s a d o é l i ç ã o p a r a s e m e d i t a r , n ã o p a r a s e r e p r o d u z i r . " M á r i o d e A n d r a d e

" O c a f é " C â n d i d o P o r t i n a r i , 1 9 3 5

No plano mundial, pós revolução industrial, em um ano seguinte a uma pandemia avassaladora pela Gripe Espanhola, recém terminada a 1a Grande Guerra em um contexto de incompatibilidade de interesses entre as grandes potencias (o que na década seguinte se confirmou com a explosão da 2a Guerra Mundial), enquanto se desfrutavam do uso das grandes inovações tecno científicas, apresentadas na grande feira mundial de Paris em 1900, aos pés da Torre Eiffel, como por exemplo a lâmpada de Tomás Edson Enquanto Albert Einstein provava suas teorias de relatividade, Sigmund Freud colocava o inconsciente em discussão e contestava as bases da psicanálise, a Europa apresentava mais uma vez uma perspectiva de superação e continuidade, resiliente nos momentos difícieis e pronta para se transformar e ser expressa, através das novas vanguardas artísticas, colocando um fim ao velho mundo renascentista

Então surgiram os movimentos vanguardistas como o Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, iniciados ainda nos finais do século XIX, ultrapassando limites e questionando os padrões impostos através da ironia, provocando choque sobre o publico, forçando os a refletir e contestar sobre a vida e a sociedade

Cada escola vanguardista, formada por uma serie de artistas das diversas expressões fossem na arquitetura, urbanismo, paisagismo, literatura, música, dança, teatro, moda, teve, nas artes plásticas de pinturas e esculturas, nomes como Matisse, PIcasso, Miró, Monet, Munch, Van Gogh, Duchamp, Salvador Dali, Magritte, Polock e Mucha, formando parte do corpo principal do movimento moderno europeu, o que serviria de escola para os modernistas brasileiros, principalmente os que acabavam de chegar de Paris e sofriam então forte influencia nessas correntes para aplicarem no Brasil. E assim surgiu o inicio do Movimento Modernista Brasileiro, já tardio, em relação às vanguardas européias

17 | SUMÁRIO
Local da Semana de Art Moderna: Teatro Municipal de São Paulo Data da semana: 13, 15 e 18 de fevereiro de 1922 Panorama do contexto brasileiro em 1922: Capital do Brasil: Rio de Janeiro Presidente: em ano eleitoral Artur Bernardes substituiu Epitacio Pessoa Principal marco histórico: Centenário da Independência do Brasil de Portugal População no Brasil:30.635.605 hab(senso 1920) População em São Paulo:4.592.189 hab Expectativa de vida era de 34,5 anos Moeda: Reis
O BACKSTAGE Voltamos no tempo para fotografar nossos artistas modernista… Di Caval canti Tarsila do Amaral A n i t a M a l f a t t i Oswald d e And rad e
CandidoPortinari
Andrade Meno t t i De l P icc ia Oswa l do Goe l d i
Heitor Villa Lobos
Mario de
Manuel Bandei ra Graç a Aranha Guiomar Novaes Pl í ni o Sal gad o V i c e n t e d o R e g o M o n t e i r o Zina Aita Lasar Seg a l Ináci o d a Cost a Ferrei ra J o hn Graz Sre ig o illiMte
Victor Brecheret
Plua o Pdar o Pag u MonteiroLobato
Cavalcanti, Menotti
Piccia, Oswald
Andrade
Helio Seelinger He l io See l ing e r
na Semana
Arte Moderna de 1922 EugêniaÁlvaroMoreira
Victori Brecheret, Di
del
de
e
Modernistas
de
E lsie Hous ton

Oswaldde Andrade e Tarsila do Amaral

Partedos modernistas,naSemanadeArteModernade1922
Mulheres na Semana de Arte Moderna:(da esq.)Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Elsie Houston, Eugênia Álvaro Moreyra

O ACONTECIMENTO ARTÍSTICO QUE TRANSFORMOU O ENTENDIMENTO E A PERCEPÇÃO DA VIDA COTIDIANA

A SEMANA QUE SE EXTENDEU POR UM SÉCULO.

ANA CAROLINA AZEVEDO

A principal característica do movimento modernista foi a transformação daquilo que já era ultrapassado para algo totalmente impactante, buscando a quebra de paradigmas, o choque visual e cultural, a irreverência relacionada à algo inusitado e, de certa forma, espantoso.

A história avançou 100 anos, o mundo mudou e com ele a arte acompanhou estas metamorfoses, se adaptando, criando e recriando novas técnicas, novas tendências cada dia mais vanguardistas em seu princípio instigador, e renascendo, para uma nova realidade A tecnologia acelerou este tão esperado futuro, promovendo e incentivando cada vez mais as férteis mentes criativas nas inexploradas milhões de possibilidades que temos hoje, na realidade acelerada contemporânea. Na pintura, escultura, instalações, música, teatro, dança, literatura, intervenções, fotografia, recursos digitais avançados de projeção 3D, Inteligência artificial, os artistas atuais dispõem de recursos múltiplos, além da abertura geográfica de expandir conhecimentos e aprendizados, além das próprias produções, através da tecnologia. Nos multiplicamos em bilhões de habitantes sedentos ainda pelo que está por vir, com um prisma sempre jovem e vanguardista em sua essência Talvez este tenha sido o principal legado que aquele jovem grupo de artistas nos deixou: a inquietude e inconformismo pelo lugar comum, pela mesmice, pelo status quo Nos instigaram a ver a vida por outro prisma, mais interessante, desconfigurado da zona de conforto, mais adaptado à realidade do cotidiano das pessoas comuns e ao mesmo tempo, mais ousado e livre de paradigmas E assim, encerramos esta edição, lembrando do passado e viajando no tempo para trazer, de forma tão antropofágica, o melhor de cada um daqueles jovens modernistas ao presente. Nos abrimos ao futuro, aos próximos 100 anos de novas transformações, de novas possibilidades, que só a criatividade artística poderá nos apresentar, em um tempo mais além.

"Os retirantes" Cândido Portinari, 1944

Relógio

Andrade
"As coisas são As coisas vêm As coisas vão As coisas vão e vêm As horas Vão e vêm Não em vão"
Oswald de

U M O L H A R C O N T E M P O R Â N E O

A v i s ã o a t u a l

D a e c l u s ã o d o m o d e r n i s m o a t r a v e s s a m o s o s é c u l o X X , v e n c e m o s g u e r r a s , n o s a d a p t a m o s à s r e v o l u ç õ e s c u l t u r a i s e s o c i a i s d o s a n o s 6 0 . C h e g a m o s n a E r a c o n t e m p o r â n e a c o m o s u r g i m e n t o d a t e c n o l o g i a e e n t r a m o s n o n o v o m i l ê n i o c o m o á p i c e d a r e v o l u ç ã o d i g i t a l . E m u m m u n d o m e t a v e r s o , n u m a n o v a r e a l i d a d e d o p l a n e t a , o l h a m o s p a r a t r á s e v e m o s c o m , t a n t o o r g u l h o , c a d a p a s s o q u e t i v e m o s c o m o h u m a n i d a d e , n e s t a i n c a n s á v e l b u s c a e p e r c e p ç õ e s t ã o d i s t i n t a s d e l i b e r d a d e . S e j a m p o l í t i c a s , s o c i a i s , c o m p o r t a m e n t a i s , a a r t e e x p r e s s o u a c a d a t e m p o s u a v i s ã o e p e r s p e c t i v a , c u l m i n a n d o a t r a v é s d a s v a n g u a r d a s a a b e r t u r a d e v i s õ e s e p a r a d i g m a s , R o m p e n d o c o m o s l i m i t e s d o l u g a r c o m u m . " A v a n t G a r d e " , e s t a r à f r e n t e d e s e u t e m p o , m a i s d o q u e l i n h a s a r t í s t i c a s n o s a n o s m o d e r n o s , e r a u m e s t i l o d e v i d a , u m n o v o c a m p o d e v i s ã o e d e v i v e n c i a r o n o v o e , t ã o a t u a l a i n d a n o s d e p a r a m o s c o m e s t a i n q u i e t u d e e i n s i s t e n t e b u s c a p e l a l i b e r d a d e d e s e r , p e n s a r e s e n t i r , a g o r a , n o s é c u l o X X I . A r t i s t a s s u r g e m t o d o s o s d i a s , c o m n o v a s p r o p o s t a s , n o v o s o l h a r e s , d i f e r e n t e s p e r c e p ç õ e s s o b r e o m e s m o p r i s m a l i m í t r o f e n a i n f i n i t u d e d a c r i a t i v i d a d e , p o r é m m u i t o s s o m e n t e s e g u e m a s t e n d ê n c i a s , o u t r o s m u d a m a p e r c e p ç ã o d a v i d a e o c u r s o d a h i s t ó r i a .

1 0 0 a n o s d e p o i s , v i v e m o s e m u m m u n d o q u e s e g u e n a l u t a f e m i n i s t a , é t n i c a e d e g ê n e r o , d e r o m p e r c o m d i s c r i m i n a ç õ e s e d e s i g u a l d a d e s , n a l u t a d e c l a s s e s s o c i a i s , p o l í t i c a s d i v e r g e n t e s e p o l a r i z a d a s , d e n t r o d e u m a f o r t e c r i s e e c o n ô m i c a , g e r a d a p o r u m a g u e r r a e u r o p é i a e m u m a d r á s t i c a p ó s p a n d e m i a . N e s t e s é c u l o c h e g a m o s à L u a , c h e g a m o s a M a r t e , e x p l o r a m o s a s p r o f u n d e z a s d o s o c e a n o s , d e s c o b r i m o s o D N A e a c u r a p a r a t a n t a s d o e n ç a s , n o s c o m u n i c a m o s e m r e a l t i m e c o m q u a l q u e r p e s s o a d o m u n d o a t r a v é s d a i n t e r n e t , e m e s m o a s s i m , s e g u i m o s d i a r i a m e n t e i n q u i e t o s , s e g u i m o s a n s i o s o s p o r i r a l é m d a q u i l o q u e j a m a i s c o n c e b e m o s p o r s e r o f i m m a s s i m , o i n í c i o d e u m a n o v a h i s t ó r i a . E x p l o r a m o s o d e s i g n e m s u a s m ú l t i p l a s v e r t e n t e s , d e s c o b r i n d o e e v o l u i n d o c o m a f o t o g r a f i a e s e u s i n f i n i t o s r e c u r s o s v i s u a i s , u s a m o s a t e c n o l o g i a , a r o b ó t i c a e o s r e c u r s o s d i g i t a i s p a r a c r i a r e d e s e n v o l v e r t a n t a s m u i t a s e o u s a d a s p r o p o s t a s .

P i n t a m o s o m u n d o e e s c u l p i m o s a v i d a . E s t e é o m u n d o c o n t e m p o r â n e o , d e u m a n o v a e r a , c o m l e m b r a n ç a s d e u m a n t i g o t e m p o , q u e u m g r u p o d e o u s a d o s f i z e r a m h i s t ó r i a m a s , m a i s q u e o l e g a d o d e o b r a s d e a r t e , d e i x a r a m p a r a n ó s , a s e m e n t e d a t r a n s f o r m a ç ã o .

Q u e s i g a m o s a s s i m , i n q u i e t o s , p o r u m f u t u r o s e m p r e t ã o A v a n t g a r d .

Ana Carolina Azevedo

"Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente."

Carlos Drumont de Andrade

Carlos Drumont de Andrade não particupou da Semana de Arte Moderna de 1922, mas foi com inspiração nela e bases na literatura modernista, que desenvolveu, posteriormente, toda sua obra

Quem esteve por aqui nesta edição

o nosso backstage

Arquiteta e Urbanista, Restauradora do Patrimônio Histórico e Cultural com especialidade em dourado e policromia para pintura e escultura com uso do ouro na Espanha, MBA em Economia e Gestão de investimentos financeiros com especialidade em obras de arte. Escritora, curadora de arte e criadora, desenvolveu e participou de inúmeras exposições de arte na Europa nos últimos anos, onde anteriormente trabalhou mais de uma década como diretora criativa, levando arte para 72 países de todo o mundo.

Ana Carolina Azevedo

Criadora, Editora e curadora Luka

Dr. Olivio Guedes crítico de arte

Pós-Doutor em História da Arte pela Universidade de São Paulo, Diretor Cultural do Clube A Hebraica, Diretor Cultural ACESC (Associação de Clubes Esportivos e Sócios-Culturais de São Paulo), Diretor Cultural da Universidade de Haifa Board Brasil, Conselheiro Consultivo do ProCoa (Projeto Circuito Outubro aberto), Coordenador de Cultura e Arte do IVEPESP (Instituto para a Valorização da Educação e Pesquisa no Estado de São Paulo), Perito Judicial do Tribunal de Justiça SP e Sócio da Slavieiro e Guedes Galeria de Arte. Tem experiência na área de Arte, com ênfase em História da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: arte, Complexidade e Transdisciplinaridade.

Jornalista pela ECA-USP e em Letras (Português/Inglês) pela Faculdade de Letras e Educação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, especialização em Literatura Dramática pela ECA USP, mestrado em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp e doutorado e pós doutorado no Programa de Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Autor de diversos livros na área de arte naif e arte contemporânea. Atua na área de curadoria e como autor de textos para catálogos e apresentações de artistas visuais.

Dr. Oscar d ´ ambrosio crítico de arte

Dr. José Tabacow

José Tabacow é arquiteto (UFRJ, 1968), especialista em ecologia e recursos naturais (UFES, 1991) e Doutor em geografia (UFRJ, 2002). Professor de paisagismo em diversas instituições, foi sócio do escritório Burle Marx Cia Ltda (1967-1982). É autor dos livros Arte e paisagem (Nobel, 1987), Árvores (AC&M, 1989) e Rio natureza (Rio Arte/ PMRJ, 1981). Em 2017 recebeu a medalha Mário de Andrade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Iphan. Foi Consultor do IPHAN para elaboração do dossiê de inscrição do Sítio Roberto Burle Marx na Lista de Inscrições do Patrimônio Mundial, UNESCO.

Rodrigo Colissi Alves reside Em Xangri lá Rio Grande do Sul. Arquiteto e Urbanista (ULBRA, 2006), proprietário do Studio Arq. Rodrigo Colissi, escritório localizado em Xangri-lá, com atuação no litoral norte do Rio Grande do Sul, onde tem larga experiência em projetos e execuções de residências unifamiliares. Foi presidente da Associação Central de Arquitetos e Engenheiros do Litoral NorteACAE/LN na gestão 2017/2018, e atualmente ocupa a vice presidência da entidade. É conselheiro titular do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano CMDU de Xangri lá e tem participação ativa junto aos órgãos públicos e entidades profissionais nos debates que envolvem planos diretores, código de obras e conduta profissional.

Meu agradecimento muito especial aos grandes críticos atuais das Artes do Brasil, Dr. Olívio Guedes e Dr. Oscar DÁmbrosio que colaboraram com artigos exclusivos à esta edição, de forma tão entusiasta e generosa. Minha grande admiração, carinho e profundo agradecimento ao meu professor de Paisagismo da Faculdade de Arquitetura, um dos mais reconhecidos paisagistas do Brasil, Dr José Tabacow, que colaborou tão prontamente com seu artigo para esta edição, mesmo em convalescença de saúde. Meu obrigado muito especial também ao meu colega de curso na Faculdade de Arquitetura, reconhecido profissional no sul do Brasil, Arquiteto Rodrigo Colissi. Seus conhecimentos e disponibilidade em participar com o citados artigos, fizeram desta edição, um exemplar tão rico em análise e conteúdo histórico, da qual dispenso imenso agradecimento por ter realizado em formato digital, podendo ser disponibilizado em versão online gratuito à um público tão amplo, além dos limites territoriais.

Arquiteto e Urbanista arquiteto e Paisagista

Entrevistas e agradecimentos

Meu agradecimento imensamente especial às descendentes dos modernistas, que tive a honra de entrevistar, e com tanta amabilidade, generosidade e incentivo me apoiaram tanto na realização desta edição. Muito obrigada queridas Lani, Tarsilinha, Elizabeth e Marília, vocês são sensacionais.

Tarsilinha do Amaral

Sobrinha neta de Tarsila do Amaral Diretora e responsável pelas publicações e Acervo de Tarsila do Amaral

Lani Goeldi

sobrinha Neta de Oswaldo Goeldi Diretora do Instituto Goeldi e da bienal Oswaldo Goeldi e Emílio Goeldi

elizabeth Di cavalcanti

filha de Di Cavalcanti e responsÁvel pelas publicações e acervo de Di Cavalcanti

Marilia de andrade

filha de Oswald de Andrade e responsável pelas publicações e acervo de Oswald de Andrade

marcas centenárias homenageadas

Publicidade expontânea não remunerada

F o t
E s t a ç ã o
n o d i a s
C o v i d 1 9 ,
o : A n a C a r o l i n a A z e v e d o
d o O r i e n t e , A r q u i t e t o S a n t i a g o C a l a t r a v a ( f o t o t i r a d a
e g u i n t e e m q u e c h e g u e i a L i s b o a , n o l o c k d o w n p e l o
e m d e z e m b r o d e 2 0 2 0 .
T k s 1 9 2 2 ! Edição 1 Vol 1 Distribuição digital gratuíta F o t o A n a C a r o l i n a A z e v e d o E l e v a d o r d e S a n t a J u s t a
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