Hanasaka Jiisan: O velhinho da Primavera

Hanasaka jiji

O velhinho da primavera

Ilustrado por Luiza Eiras

Há muitos anos, viviam numa pequena aldeia, um casal de velhinhos, pobres e sem filhos.

Para amenizar a solidão, tratavam Shirô, seu cachorro, como se fosse um filho.

Certo dia, quando o velhinho trabalhava em sua horta, Shirô começou a latir e a cavar insistentemente.

Para surpresa do ancião, haviam brilhantes moedas de ouro.

O CAMPONÊS resolveu dar uma mãozinha AJUDANDO A CAVAR.

O velhinho encheu uma cesta com o achado e levou para casa feliz da vida.

Fomos abençoados pelos deuses com essa descoberta!

Sim, graças aos deuses e nosso amado Shirô.

Só que na casa vizinha morava outro casal, com fama de gananciosos. Quando este percebeu a melhora no padrão de vida dos vizinhos, e um cãozinho idiota sendo tratado como rei, concluiram que o seu faro detectava fortunas.

O velho ganancioso foi logo pedindo o cachorro emprestado.

Todos somos filhos de Deus, então eu e minha esposa também temos o direito de ficar ricos!

Será por pouco tempo meu filho prometo…

Acontece que SHIRÔ não queria acompanhar o vizinho.

Então, o velho amarrou uma corda no seu pescoço e o arrastou para a roça.

Seu cachorro teimoso, mostre-me onde tem ouro!

o velho ganancioso arrastou Shirô por toda horta.

AU AU!!

Finalmente você encontrou o ouro!!

Mesmo com muito esforço, só encontrou pedras e cacos na escavação.

De repente, viu algo que brilhou em meio a terra.

O ganancioso então, certo de que fosse ouro, atirou-se no buraco.

Cavou apressadamente com as mãoS

nisso o buraco cedeu

e o vizinho se viu atolado em um monte de fezes. O coitado havia encontrado um antigo e soterrado fosso.

Shirô deu boas gargalhadas.

Porém, ao sair enfurecido do fosso, o velho malvado, com a enxada, deu um golpe fatal na cabeça do cachorro.

Perdão meu filho, é tudo culpa minha...

Em lágrimas, o casal enterrou o q u e r i d o cachorro no canteiro principal do quintal.

Sobre a cova do bichinho plantaram uma semente de pinheiro.

Diariamente o casal de velhinhos chorava na sepultura do filho e as lágrimas regavam a terra.

Assim, como que pôr magia, o pinheiro cresceu vigorosamente,

tornando-se em pouco tempo uma enorme árvore.

Minha velha, essa Árvore é um milagre do nosso Shirô.

SHIRÔ gostava tanto de moti*, que tal fazer deste tronco um pilão?

Acredito que seu espírito está dentro desse tronco.

Assim o espírito de SHIRÔ ficará sempre perto de seu prato predileto.

e então com a árvore fizeram um pilão para bater moti * Um doce de arroz japonês, consumido em momentos de festividades, antigamente a massa era batida dentro de um grande pilão.

Quando foram usar o pilão, a cada batida do malhete, mais e mais aumentava a quantidade de moti,

e com apenas um punhado de arroz, fizeram uma montanha de bolinhos.

O casal vizinho assistiu tudo do buraco da cerca,

E logo foram pedir emprestado o pilão.

Sem ter coragem de dizer não, mais uma vez o bondoso velhinho atendeu o pedido.

Mas para surpresa e desgosto da dupla gananciosa, o arroz transformou-se numa tremenda meleca de mal cheiro.

Com raiva, tacaram fogo no pilão.

O velhinho bondoso ficou de s o la do e r e c o lhe u as c i n z a s n u ma c a i x i n ha de ma de i r a .

Ao chegar em casa, mostrou para a esposa o que sobrou da memória de Shirô.

Nesse instante uma brisa carregou as cinzas.

As cinzas pousaram em galhos secos e de cada pozinho nasceu uma flor de cerejeira.

A notícia correu pela aldeia e caiu nos ouvidos de uma tropa samurais que escoltavam o daimyo* que passava pelas proximidades.

O poderoso Daimyo mandou chamar o velhinho e ordenou que mostrasse sua magia. *mandatário da região

O velhinho subiu numa árvore seca e espalhou a cinza pelos galhos evocando Konohana Sakuya Hime*

Novamente como pôr encanto, as árvores secas ficaram cheias de flores de cerejeira.

O Daimyo e os samurais ficaram admirados e até emocionados por poderem apreciar a flor de cerejeira fora da estação.

Como recompensa pelo belo espetáculo, o presentearam com ricos kimonos e moedas de ouro.

O ancião voltou para casa feliz e com mais moedas para sua coleção. * a deusa Floração, que conforme a lenda, por onde ela passa, as flores desabrocham.

e se posicionou junto a algumas árvores na beira da estrada, por onde passaria o Daimyo.

O vizinho invejoso, apanhou as cinzas que restaram no quintal

Eu sou o Velhinho da Primavera, aquele que faz galhos secos florescerem!

Que aldeia fantástica, todos aqui sabem a mágica da deusa!

O que está esperando para começar?

Então o velho despejou todas as cinzas sobre os galhos.

O que está acontecendo?

Quero ver as flores!

O exagero teve uma dramática conseqüência. As cinzas caíram nos olhos do Daimyo.

Velho insolente, além de impostor é um atrevido.

Prendam-no!

Por favor tenha misericórdia!

FAço tudo! Até Juro não cobiçar os pertences dos outros!

É tudo culpa minha, o espírito daquele cachorro está me castigando, mas eu mereço…

O governador ficou comovido com as lágrimas do ancião e deixou-o seguir seu caminho, achou melhor não se envolver mais.

Conforme a sabedoria popular japonesa, o castigo dos mortos é bem pior que o castigo dos vivos.