As cruzadas vistas pelos árabes

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“ N ão havia ninguém sobre os m uros” , narra o cronista de Damasco, “ nem soldados nem citadinos, com exceção de um punh ad o de turcos encarre­ gados da guarda de um a torre. U m dos soldados de N ureddin precipitou-se num a m uralha no alto da qual se encontrava um a m ulher judia que lançou u m a corda. Ele se serviu dela para subir, chegou ao cum e da m uralha sem q ue ninguém se apercebesse e foi seguido por alguns de seus camaradas que içaram um a bandeira, plantaram -na sobre o m uro e começaram a gritar ‘Ya Mansour! O vitorioso!’. As tropas de Damasco e a população renunciaram a qualq u er resistência por causa da sim patia que sentiam por N ureddin, sua justiça e sua boa reputação. U m soldado encarregado de abrir trincheiras cor­ reu até a porta do Leste, bab-C harki, com sua picareta e quebrou a fechadu­ ra. Os soldados ali penetraram e se espalharam pelas principais artérias sem en ­ contrar oposição. A porta de Tomás, bab-Tuma, foi igualm ente aberta às tro­ pas. Enfim , o rei N u red d in fez sua entrada, acom panhado de sua comitiva, m otivando a euforia d a população e dos soldados, que estavam sendo im portu­ nados tanto pelo m edo da fom e como pelo tem or de serem sitiados pelos fra n j infiéis” .

Generoso em sua vitória, Nureddin oferece a Abaq e a seus dependen­ tes terras da região de Homs, deixando-os sair com os seus bens. Sem combate, sem derramamento de sangue, Nureddin conquistou Damasco mais pela persuasão do que pelas armas. A cidade que há um quarto de século havia bravamente resistido a todos aqueles que tentavam subjugá-la, quer se tratasse dos Assassinos, dos franj ou de Zinki, tinha se deixado conquistar pela doce firmeza de um príncipe que prometia ao mes­ mo tempo garantir sua segurança e respeitar sua independência. Ela não o lamentará e viverá, graças a ele e a seus sucessores, um dos períodos mais gloriosos de sua história. Um dia depois da vitória, Nureddin, juntando ulemás, cádis e comer­ ciantes, lhes fala de coisas tranquilizadoras, não sem mandar trazer importan­ tes estoques de víveres e -suprimir algumas taxas que afetavam o mercado de frutas, a venda dos legumes assim como a distribuição da água. Um de­ creto é redigido nesse sentido e lido na sexta-feira, do alto do púlpito, após a prece. Aos 81 anos, Ibn al-Qalanissi ainda está lá para se associar à alegria de seus. concidadãos. “ A população aplaudiu” , relata ele. “ Os citadinos, os camponeses, as mulheres, os amoladores de tesouras, todo m undo dirigiu publicamente preces a Deus para que os dias de Nureddin se prolongassem e que suas bandeiras fossem sempre vitoriosas. ’ ’ Pela primeira vez desde o início das guerras francas, as duas grandes me­ trópoles sírias, Alepo e Damasco, estão reunidas em um mesmo governo, sob a autoridade de um príncipe de 37 anos, firmemente decidido a se con­ sagrar à luta contra a ocupação. De fato, é toda a Síria muçulmana que do­


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