Mais forte que a dor

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Em meio a lembranças e silêncios

Tava assim, sabe, esses dias, não gosto desses dias cinzentos, essa garoinha? Tava daquele jeito o tempo. Os olhos, marejados pelas lembranças, ganham um brilho a mais quando dona Elce fala da notícia que chegou pelo telefone. Nem lembro quem é que foi que ligou na hora. Mas falou “ela tá bem, tá bem”. Tá bem nada. Quando eu cheguei, já soube que ela tinha morrido; a Soraia também tinha morrido. No hospital que ela nasceu, lá em Sorocaba, ela morreu. O Santa Lucinda. Sissi de Assis Oliveira tinha 36 anos quando sofreu o acidente. Morava em Itu, com o marido e os dois filhos. Fruto do primeiro casamento de dona Elce, Sissi estava também em seu segundo relacionamento. Na primeira união, teve o filho Alexandre, na época com 16 anos. Do segundo casamento, nasceu Alice, que ficou órfã aos cinco anos de idade. Morava numa chácara na cidade de Itu. Trabalhava em escritório, trabalhou na Ciminas (Cimento Nacional de Minas S/A), e casou-se com um colega de trabalho, Paulo – que ainda hoje vive na mesma chácara. Juntos, montaram uma loja de artesanato em que Sissi dava aulas de tapeçaria. A sócia no negócio era Soraia, que faleceu no mesmo acidente – aos 26 anos e no dia do aniversário da própria mãe. Esse mesmo dia, 09 de agosto de 1997, foi um sábado e véspera de Dia dos Pais. Era dia de festa na casa de uma amiga e Alexandre, adolescente, quis ir. Com a permissão da mãe, foi ao local que ficava a 15 quilômetros da residência onde morava. Saiu por volta das onze da noite e lá pelas quatro horas da manhã, Sissi pegou o carro e, junto com a sócia, saiu para buscá-lo. O Paulo ficou bravo com ela e disse que era pra dar dinheiro ao menino, pra pegar o primeiro ônibus cinco da manhã e de lá iam buscar ele. Aí a Sissi até falou: 95 Mais forte que a dor - FINAL (atualizado).indd 95

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