Guia politicamente incorreto da história

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aconteceu durante a Revolução Cultural da China. Em episódios

semelhantes às mortes nas praias cubanas, cidadãos seriam executados depois de flagrados tentando fugir para o Paraguai. Na pior das hipóteses, 21% da população seria exterminada, como fez o Khmer Vermelho no Camboja. Na melhor, burocratas trocariam cargos por sexo e mais de 1% da população seria de espiões, como na Alemanha Oriental.

Em fevereiro de 2009, um editorial da Folha de S. Paulo usou a

palavra ”ditabranda” para falar do regime militar brasileiro.

O termo fez chover cartas à redação e moveu pelo menos trezentos

manifestantes para a porta do jornal. Quem se indignou com a palavra pôde se valer de um argumento apropriado: basta uma morte por motivo político para uma ditadura se configurar. Essa verdade não apaga a outra, que os editorialistas devem ter tentado defender: a ditadura brasileira foi uma das

menos atrozes de todo o século 20. É difícil pensar num regime não democrático que tenha matado menos. Em 21 anos, as ações antiterrorismo

criaram 380 vítimas, segundo a própria Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos. É muito menos que os 30 mil mortos pela ditadura argentina ou a estimativa de 3 mil vítimas dos militares do Chile (país com menos de 10% da população brasileira).

Fazendo algumas contas, é possível supor que a tragédia poderia ter

sido ainda pior que a dos vizinhos sul-americanos. Se o Brasil vivesse um regime como o cubano ou o chinês, como sonhavam os guerrilheiros de esquerda, pelo menos mais 88 mil pessoas seriam mortas. Se a ditadura socialista brasileira matasse 90% menos que a cubana, haveria vinte vezes

mais mortos que as vítimas dos militares. Por fim, se déssemos o azar de ser governados por socialistas mais agressivos, como o ditador Pol Pot, do Camboja, assistiríamos ao maior genocídio do século 20.


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