O PROCESSO EFICIENTE NA LÓGICA ECONOMICA: DESENVOLVIMENTO, ACELERAÇÃO E DIREITOS FUNDAMENTAIS

Page 101

XVII. Naquele período, uma repentina redução demográfica, ligada em parte à Guerra dos Trinta Anos, havia determinado uma drástica carência de mão-de-obra, o que resultou na elevação progressiva dos salários. Essa situação induziu os governos dos países europeus economicamente mais avançados a rever as suas políticas em relação à pobreza. Amadurecida a idéia de que os pobres em condições de trabalhar deveriam ser obrigados a fazê-lo. Através da imposição do trabalho, tornava-se possível enfrentar, ao mesmo tempo, a praga social da vagabundagem e a praga econômica do aumento dos salários, provocado pela escassez de força de trabalho.”286 É partir dessa nova filosofia que surgem estabelecimentos voltados ao encarceramento dos pobres: Bridewell, na Inglaterra, Hospital General, na França, e Zuchthaus e Spinhas na Holanda. O encarceramento ressurge como estratégia para o controle de lasses marginais, pobres. A partir de então, o corpo é valorizado por encerrar uma potencialidade produtiva e os sistemas de controle tem início concentrando-se nas atitudes, na moralidade, na alma dos indivíduos”. Essa fase inicial é chamada por Foucault de Primeira Grande Internamento.287 Dessa forma, na perspectiva da economia política da pena, a prisão se consolida como estratégia orientada à produção e à reprodução de uma subjetividade operária, subalterna à fábrica, pronto a atender as exigências do nascente sistema de produção industrial. Nessa relação de mediação entre o cárcere e a fábrica surge a ‘disciplina de trabalho’ como categoria central. O objetivo é claro: transformar corpos insubordinados em corpos dóceis, prontos a obedecer, seguir ordens, respeitar fortes ritmos de trabalho, e que estejam prontos a aceitar o ideário capitalista. Aqui o regime, na descrição de Foucault, é o de controle disciplinar que age sobre o corpo para guiá-lo à produção da mais-valia, próprio do período fordista, industrial288. Assim a instituição carcerária impõe aos corpos violência física e material, com o objetivo de causar sofrimento, adestramento à base da força. Mas não é só. Além disso, tal modelo reproduz a força de trabalho assalariada por meio de uma violência em dimensão simbólica289, tão perversa quanto a física. O cárcere passa a representar no imaginário de seus freqüentadores um modelo ideal de sociedade 286

Idem, p. 40-41. Idem, p. 41. 288 Idem, p. 44-45. 289 BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. 287

106


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.