Tratado das coisas da China

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pois aborda todos os aspectos focados, e ainda muitos mais, como é o caso de uma resumida história das relações luso-chinesas no período anterior a 1556.42 O padre dominicano, de facto, compilava de uma forma bastante exaustiva todas as notícias sobre o Celeste Império que, desde os primórdios de Quinhentos, haviam sido recolhidas pelos observadores portugueses.43 O Tratado das coisas da China, de uma forma brilhante, sistematizava as imagens resultantes de um longo, e nem sempre pacífico, convívio lusitano com a realidade chinesa. O aparecimento do Tratado parece ter ficado a dever-se, sobretudo, à viva curiosidade, ao enorme empenho e também aos inegáveis dotes literários do seu autor. Com efeito, muitos outros portugueses haviam visitado a China antes do dominicano, por vezes de uma forma bastante mais demorada. E entre eles encontravam-se missionários jesuítas, os religiosos que em primeiro lugar demandaram o litoral chinês. Alguns desses homens tinham mesmo composto relações extensas sobre as respectivas andanças chinesas. Mas ninguém, até então, se abalançara à redacção de um tratado tão desenvolvido sobre a realidade chinesa. Fr. Gaspar, como resultado de uma estada de algumas semanas em território do Celeste Império, era o primeiro a tomar a iniciativa de publicitar o resultado das suas indagações. É provável que o dominicano gozasse de uma maior autonomia, em termos de produção escrita, do que os padres jesuítas, submetidos a uma rígida máquina administrativa, que impunha regras muito precisas ao trabalho intelectual dos seus membros. Aliás, a Companhia de Jesus submetia as suas publicações a uma lógica propagandística muito clara, apenas lhe interessando a edição de escritos

Tratado, caps. 23-26. Para uma perspectiva geral da imagem da China, vd. Rui Manuel Loureiro, Fidalgos, Missionários e Mandarins, passim. 42 43

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