Balaclavas e os profetas do caos

Page 222

mento de seus formais protocolos internos. Por conta de nosso estreito vínculo esotérico a conversa logo se perdeu em divagações serendipitosas. Terminamos falando sobre culinária e futebol até sexta-feira, 16 de outubro, finalmente a grande noite. Armando Qüiproquó sairia da vida para entrar na discórdia. • • • Max Stirner comemoraria seu 201º aniversário seis dias depois e o espreitávamos à beira de um abismo intervencionista escutando os ecos terrorista-poéticos ricocheteando nos muros do centro da cidade. Seria perfeito esperar por aquele 25 de novembro e comemorá-lo com uma fina garoa de placas e um enforcamento despido de qualquer glamour, “sin pena ni gloria”, como cantaria Boikot. Ainda mais sabendo que o anarquismo ontológico — fonte do TP — é uma das correntes libertárias responsável por resgatar o pensamento de Stirner, e por conseqüência do anarco-individualismo, sem todo aquele alarde preconceituoso e míope que eclipsava ambos. O problema em aguardar mais aquelas 144 horas encontrava-se em meu derradeiro vínculo com o jornalismo convencional, o dead-line. E se eu não apressasse o processo de produção quem sairia enforcado seria eu, afinal. Por isso, quando me dei conta a lua já havia circundado a terra duas vezes e tudo que eu tinha eram planos. Planos que me habituei a conjugar no futuro, mas que já deviam estar transcritos há tempos no pretérito, ou seja, não tinha nada em mãos exceto uma concreta abstração holística: o sacro dever moral de intervir, ainda que minimamente, no cotidiano de alguém e depurar uma reportagem de todo esse imbróglio. Não existiam mais segundos que passassem despercebidos, cada um deles era sentido como uma perda importante, e um passo aquém que precisaria ser compensado depois.

222


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.