Amostra - Literatsi #1

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“É uma sensação especial e enriquecedora identificarmos uma história, conhecida somente das letras, interpretada por pessoas de carne e osso, representada por cenários, movimentos, sons e música.” popular (assunto para outro momento). O filme, por sua vez, é muito parecido. Tem de tudo: tiroteio, corrida de carros, efeitos, lutas, enfim, usa de todos os artifícios possíveis e clichês para se tornar popular. E, claro, consegue. Multidões foram ao cinema em razão do livro, e outras compraram o livro em razão do cinema. Perfeito. É pertinente mencionar que a crítica feita à Igreja Católica ajudou bastante, principalmente se considerarmos que o Vaticano “sugeriu” que os católicos não vissem o filme. Tiro no pé, evidentemente. Mas, mesmo sem essa mídia gratuita feita pelos senhores de anéis bonitos e roupas estranhas, o sucesso estaria garantido. Concluindo, os livros na altura dos olhos nas tão disputadas prateleiras também vivem cinema. Se beneficiam dele e o ajudam. Além desse lado comercial mencionado, importante o suficiente para condenar à morte a melhor das histórias em caso de insucesso, tem o lado artístico. É uma sensação especial e enriquecedora identificarmos uma história, conhecida somente das letras, interpretada por pessoas de carne e osso, representada por cenários, movimentos, sons e música. É mágica. A mágica da arte transformando o que havia somente nas páginas de um livro e em nossa mente (o que evidentemente não é pouco) em uma história que passa à nossa frente como se tivéssemos outras vidas ou outros sentidos. Enfim, tudo isso para explicar minha intenção aqui. Cinema e literatura. Estas duas aí ao lado são o motivo, o mote para esta coluna. Vou mostrar – ou pelo menos tentar – a forma como vejo uma e outra.

Juntas ou – por que não? – separadas. A intenção é que o jeito como a maioria das pessoas veem cinema e leem livros, ou seja, nada técnico ou rebuscado, venha à tona. Algo relacionado com o sujeito que come pipoca no cinema, e derruba algumas no chão, ou alguém que lê de pantufas e dobra as folhas do livro para marcar a página em que parou. Ou seja, pessoas comuns, admiradores e amantes do belo, aqueles que são o verdadeiro objetivo dessas faraônicas indústrias, sem esquecer, contudo, que apesar de serem produtos de consumo, muitas vezes à venda como batatas, não deixaram de ser arte. E já foi dito: “Sem a arte enlouqueceríamos”. Se eu fosse a outra traça, ao ouvir “Prefiro o livro”, responderia sem pestanejar: “Prefiro os dois”. Julie Elliott-Abshire

Beto Canales é escritor de contos e narrativas longas, autor do livro A vida que não vivi. Também é um dos editores dos sites Esquina do Escritor (www. esquinadoescritor.com.br) e 3AM Brasil (www.3ammagazine.com/brasil). Cinéfilo assumido, escreve as suas críticas de filmes, além de outros textos, no blogue Cinema e bobagens (www.cinemaebobagens.blogspot.com). Revista Literatsi

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