Luzez, câmera, palavras!

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Luzes, Câmera, PALAVRAS!

movimento que aproxima o imaginário do real aproxima o real do imaginário. Em outras palavras, a vida da alma se amplia, enriquece e hipertrofia, de fato, no interior da individualidade burguesa. A alma é precisamente o lugar da simbiose no qual imaginário e real se confundem e se alimentam um do outro. O amor, fenômeno da alma que mistura de maneira íntima nossas projeções-identificações imaginárias e nossa vida real, ganha mais importância. É com esse cenário social que as antigas imagos femininas se desfazem, dando lugar a forma ideal mais fiel à realidade. Ainda com raízes nos antigos estereótipos da virgem inocente, da noivinha e da exótica aventureira, há uma nova transmutação. Surge a mulher chique, a feminine-masculine girl, simultaneamente amante e companheira. A decadência da virgem corresponde ao declínio acentuado da vampe, que se estereotipa de modo crescente, reservando-se cada vez mais aos papéis coadjuvantes. Tornando-se personagem secundária, não pode mais adaptar-se ao novo clima realista do cinema sem parecer caricata: a piteira longa e os olhares fatais provocam risos, a unidimensionalidade da vampe a torna previsível e anacrônica em face de complexidade de novos tipos femininos, as estrelas se humanizam abrindo caminho para as mulheres reais. A partir de 1949, a antiga vampe, ao desagregar-se de sua estereotipia, liberta uma imagem erótica que se expande para a mulher chique desinibida, cantora de cabaré ou bailarina do teatro de revista. O sex appeal da vampe é incorporado agora em nova chave, marcada pela interiorização. Mas é no glamour que se processa a síntese da vampe, da amorosa e da virgem, 193


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