Luzez, câmera, palavras!

Page 178

TEORIAS DO CINEMA

Nos primórdios da filosofia ocidental, o relato sobre a importância insuspeita das imagens foi abordado no livro VII de A República, de Platão, no qual Sócrates sugere a Glauco imaginar imagens projetadas de homens agrilhoados, em fundo de uma caverna. A alegoria do Mito da Caverna, como assim ficou conhecida, é talvez um dos relatos mais antigos e mais ilustrativos sobre a associação entre imagens (“sombras”) e o que elas representam (ou o temor que elas provocavam), pelo fato de a imagem ser avaliada, a partir do pensamento platônico, como cópia do mundo ideal. Fundamentadas no conceito de mímese (mímése, “imitação”), cópias também são: a escrita, os nomes, os discursos e as instituições, o nome e a arte. Para essa última, o filósofo ateniense reserva um degrau inferior em sua hierarquia de imitações de seu mundo ideal, por ter, sobretudo, uma feição reduplicativa e ilusionista (CHEVROLET, 2008, p. 2); por outro lado, sublinha-se aqui que esses caracteres foram considerados mais essenciais à arte, principalmente após o Renascimento, visto que até a Idade Média as artes visuais tinham um caráter prático, utilitário. Para Platão, como nota Neiva Jr. (1994), as imagens constituem “um grau no processo de conhecimento1”, e, por essa condição, seriam consideradas uma cópia, portanto, distante da ideia e do inteligível. Podem as imagens, por esse motivo, 1 • “Há o objeto, depois o nome, a definição, a representação e finalmente o conhecimento e o entendimento. [...] Todos os estágios descritos relacionam-se por imitação. [...] Quando a representação é imitativa, a verdade passa a ser o padrão lógico que julga as imagens e permite a seleção, a exclusão e até mesmo a condenação”.

174


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.