O Som social

Page 25

enfrentamentos 34 entre os insatisfeitos com o monarca e os seus minoritários defensores 35. Logo, de nada adiantou fazer-se publicar, a 26 de março de 1831, no Jornal do comércio, que o dia antecedente, quando se completou o sétimo aniversário do Juramento da Constituição, teria sido um dos “mais belos” que haviam “brilhado no horizonte do Brasil”, com direito a Te Deum “com grande pompa” na Capela Imperial, parada, fogos de artifício, ruas “juncadas de folhas e flores”, casas “ricamente adornadas com colchas” e entusiásticos brados de “viva” ao Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Segundo Armitage, 34  Os embates mais violentos foram, sem dúvida, as “Garrafadas” de 13 e 14 de março, embora os dias que antecederam ao Sete de Abril tenham sido também “cheios de assassinatos”, como testemunhou o viajante inglês Joseph William Moore: “April 5th. Tuesday (...) The City was under great excitement today. I saw about forty Brazilians march up Rua do Ouvidor all armed. The two leaders carrying Horse pistols. They went into the Campo de Saint Anna after being joined by many others and practised marching and military movements in the presence of the police without being disturbed. Several assassinations took place in the evening...” (Apud Harvey, J. M. (Ed.). Joseph William Moore: the revolution of 1831. São Paulo: Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, 1962, p. s/n). Joseph era irmão do fundador da firma carioca John Moore & Co. 35  Note-se que a lusofobia popular, a qual, em última análise, muito pesou na decisão coletiva de desafiar o status quo, antes de ter sido manipulada por elites contrárias a Dom Pedro i , tinha uma raiz espontânea, de inveja, que não era fundamentalmente política, mas econômica — de luta de classes, “de pobres contra ricos”, como bem lembrou Pedro Calmon em sua História do Brasil (Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, v. 5, p. 1584-1585) —; ou, mais especificamente, de desempregados contra empregados, visto que o predomínio dos estrangeiros no comércio e o privilégio que os negociantes “portugueses” concediam aos seus “nacionais” em todos os postos de trabalho desse setor da economia brasileira, até mesmo nos inferiores, colocaram muitos “naturais” à margem da sociedade e, consequentemente, à mercê do já comentado discurso político demagógico, que, por exemplo, condenava Dom Pedro i e tantos outros “adotivos”, sob o argumento de serem estes inimigos dos interesses do Brasil, e admitia exceções, como, por exemplo, o trasmontano Senador Vergueiro, feito um dos membros da Regência do Império, a 7 de abril. Tais motivações das agitações populares pré-Abdicação travadas entre os insatisfeitos com Dom Pedro i têm sido deslindadas por competentes pesquisadores, dentre os quais podemos mencionar Lenira Menezes Martinho, com seu trabalho “Caixeiros e pés descalços: conflitos e tensões em um meio urbano em desenvolvimento”, publicado, em 1992, na coleção Biblioteca Carioca (Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro), sob o título Negociantes e caixeiros na sociedade da Independência; e Gladys Sabina Ribeiro autora de A Liberdade em construção: identidade nacional e conf litos antilusitanos no Primeiro Reinado (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002).

23


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.