Liderança no Feminino - Março 2022

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EDIÇÃO N.º 42 ESPECIAL DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Liderança no Feminino é uma publicação da responsabilidade editorial e comercial da Empresa Jornalística Narrativalíder | Periodicidade mensal | Venda por assinatura 8€

HÁ QUÍMICA ENTRE SER PROFISSIONAL E MULHER? CARLA PADREL DE OLIVEIRA

MUDANÇA COM M DE MULHER AS MARKETEERS DAS MAIORES EMPRESAS EM PORTUGAL

A ESCOLHA CERTA

ANA COSTA FREITAS

PAULA MATIAS, DIRETORA GERAL DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR

DA CALMA ALENTEJANA À PRESSA DE VENCER


LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

Dia Internacional da Mulher 2


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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

ÍNDICE 05 | Editorial 06 | Da calma Alentejana à pressa de vencer Ana Costa Freitas 12 | Há química entre ser profissional e Mulher? Carla Padrel de Oliveira 16 | Mudança com M de Mulher 48 | Paula Matias e a Escolha Certa

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50 | Rita Veloso: Uma Mulher, vários ofícios , 56 | "Nas várias funções de liderança que exerci, opto sempre por uma atitude colaborativa" Marta Pontes 60 | Experimentar diferentes áreas e novas possibilidades Joana Afonso Fernandes 66 | wehelpukraine.org Guerra na Ucrânia: portugueses lançam wehelpukraine.org, uma plataforma de ligação entre quem quer ajudar e quem precisa de ajuda em 48 horas

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EDITORIAL Nesta edição especial e que tanto nos diz, a revista Liderança no Feminino não podia sentir-se mais próxima de um tema senão este. As Mulheres, as suas escolhas e vitórias. Ousamos pautar esta edição pela genuinidade do saber de Mulheres especiais, cujas vozes elevamos com a certeza de que, como todas as outras, no mais íntimo e mágico lugar das suas individualidades, têm muito para nos ensinar.

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Numa fase em que todas as energias estão concentradas no combate e compreensão a uma guerra que nos assola, temos visto Mulheres a assumirem comandos: de frentes de batalhas, de ações solidárias, de movimentos. Não se fala, só, de “feminismo”, fala-se de uma verdadeira “força em marcha” que de cor-de-rosa tem muito pouco. E como não falar de Mulheres sem falar da pressa de vencer? É assim que abrimos a esta edição, com uma entrevista completa e apaixonante sobre Ana Costa Freitas. Com uma carreira de sucesso, abraçou a ciência e levantou ‘’voo’’ nesta aventura como professora, tendo passado por Bruxelas na condição de Conselheira Política do Presidente e chegou aos dias de hoje, prestes a terminar o segundo mandato como Reitora da Universidade de Évora, e com muito para nos contar. Fazendo parte de uma minoria, partilha a função de Líder e o objetivo de vingar na Liderança com Carla Padrel de Oliveira, Reitora da Universidade Aberta, que nos fala dos desafios (e encantos!) de ser Mulher.

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Ser Mulher, hoje, não é o que era: é muito mais. Mas será que o caminho ainda tem muito trilho para desbravar? Falar-se-á, hoje, em machismo, assédio e desigualdade de género? Qual é, afinal, mais do que Mãe, o papel da Mulher na sociedade? Ainda teremos lugar para a sensibilidade ou, afinal, nada disso é suficiente para caracterizar a Mulher? A estas e outras perguntas trouxemos resposta através das histórias de vida que ouvimos, escrevemos, e encaramos como sendo de uma força audaz e de um caminho único repleto de muitos “não’s” e obstáculos (muitos deles, pela qualidade de ser Mulher), mas também de vitórias. Fomos ouvir Reitoras de Portugal, Mulheres que ocupam grandes postos de trabalho, cargos dirigentes, executivos, no expoente máximo de realização pessoal e profissional, e aprender sobre a mudança, o desafio e a vitória. Conhecemos verdadeiras Marketeers na Liderança, pela voz de exemplos brilhantes... E também estes artigos foram escritos por Mulheres (mas não só). Num dia que merecerá sempre ser celebrado em todo o calendário anual, Mulheres, que coisa mais bonita poderiam ser? Boas Leituras, e “rematamos” (porque o futebol não é só para homens), com uma reflexão: “Mulher, a mais nua das carnes vivas e aquela cujo brilho é o mais suave." Antoine Saint-Exupéry Feliz dia, Mulheres!

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DA CALMA ALENTEJANA À PRESSA DE VENCER Ana Costa Freitas foi, em 2014, eleita a Primeira Reitora feminina na Universidade de Évora e alia tantos projetos que fazem jus, em antítese, ao Alentejo onde ganha raíz. Se o vinho e o azeite foram, outrora, uma paixão de homens, hoje, a ciência é também dominada por mulheres (e que mulheres apaixonantes!).

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Aproximados, em pleno Dia Internacional da Mulher, a um cenário de guerra mundial e inundados com imagens de Mulheres guerreiras, ultrapassando-se toda e qualquer barreira, procuramos na visão de uma Mulher de sucesso o exemplo de êxito e perseverança, com dificuldades, ambições e uma história de vida que a permitiu chegar onde hoje está e nos traz alento para acreditar que o lugar das Mulheres é na Liderança. Da serenidade rasa do Alentejo aos altos cargos ocupacionais, Ana Costa Freitas, a atual reitora da Universidade de Évora tem vindo a traçar um percurso profissional grandioso há já vários anos. Com a tranquilidade do sucesso e um percurso repleto de conquistas, vê no trabalho a oportunidade de vingar e chegar onde os objetivos nos levarem: “Dou o mesmo conselho para ocupar este cargo que daria para qualquer outro. Chegamos sempre onde queremos, basta para isso realmente querermos!”,afirma. Da docência à presidência, passou ainda pela política. Em todas as áreas tentou deixar a sua marca, sempre com uma paixão comum: a ciência. Dona de um vasto conhecimento, é doutorada em Ciências Agrárias - Biotecnologia Alimentar pela Universidade de Évora desde 1985. Viu na área um estímulo que, aliado à vocação, decidiu explorar: “interessava-me o assunto e achei de-

“Tratar-se de um desafio motivador que exige muita dedicação, sem descurar a vida pessoal” safiante estudá-lo." Prestes a concluir o segundo mandato como dirigente máxima da instituição de ensino, vê neste o maior desafio da sua vida. Assume tratar-se de um desafio motivador que “exige muita dedicação, sem descurar a vida pessoal." Começou a sua caminhada como docente na condição de Professora Auxiliar na Universidade Nova de Lisboa mas rapidamente rumou a Évora para seguir o sonho. O primeiro passo para o fascínio pelo ensino surgiu cedo, logo após o estágio do curso de agronomia, com uma proposta para a posição de assistente estagiária. “O ensino e a docência são fascinantes e a investigação é um desafio. Gostei de todos os momentos em que ‘cresci’ nesta profissão."

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O percurso ascendente vai contabilizando presença em vários cargos de presidência, com início em 2004, ano em que foi Presidente do Departamento de Fitotecnia na Universidade de Évora, tendo somado oportunidades em que venceu como Vice-Presidente de departamentos e institutos da Universidade de Évora. Abraçou o desafio de ser Reitora no ano de 2014, depois de ter sido Vice-Reitora, posição que confidenciou ter gostado muito e levado a que seguisse o “caminho natural de candidatura ao cargo de Reitora." Confessa ter sentido falta de alguns aspetos enquanto professora e assume a incitação da transição na carreira. Apesar da inevitável exigência imanente à responsabilidade da posição ocupada e à incumbência de se afastar do lado científico e do estímulo de aprender e lecionar, viu no estoico contacto com os alunos a base para aquela que considera ser “uma aprendizagem muito interessante." Mas nem só de docência vive esta admirável da carreira no feminino. Os primeiros passos na política foram como Conselheira para a área do Ensino Superior e Ciência, onde as mais valias assimiladas enquanto professora e Vice-Reitora proporcionaram um gradual e visível crescimento até ao cargo de Conselheira no Gabinete de Conselheiros Políticos do Presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas. Contudo, os desafios não são meramente profissionais e o lado pessoal revela-se exigente quando se trata de ser Mulher pioneira a querer vingar em lugares, até ali, maioritariamente ocupado por homens. O que é certo é que, hoje, pese embora a evolução brutal que, em termos históricos, é propagada, ainda existe sexismo, dis criminação e assédio laboral em razão do sexo. Matérias que preocupam mas que, sobretudo, são, também, de atentar com especial afinco a exemplos de superação, integração e exceção. A carreira de Ana Costa Freitas viu-se desprovida de qualquer tipo de atentado à condição feminina, que confessa: “discriminação não senti nenhuma." Apesar da discriminação não ter sido uma realidade na trajetória profissional, a insegurança esteve presente como fator natural e inevitável “durante os primeiros tempos parece que o mundo se abate sobre nós, mas não é por ser mulher, é tão-somente porque é um cargo muito exigente e muito intenso”, confidencia-nos. Questionada acerca do tema, Ana Costa Freitas, como exemplo de superação e sucesso no feminino remata, firme e segura: “A partir do momento em que se decide avançar não podemos parar."

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Universidade de Évora

“A partir do momento em que se decide avançar não podemos parar.”


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HÁ QUÍMICA ENTRE SER PROFISSIONAL E MULHER? Independente, decidida e capaz. É assim que se apresenta Carla Padrel de Oliveira, uma Mulher de sucesso e conquistas sem fronteiras que encara a própria condição como privilégio e oportunidade, sempre reconhecendo as desigualdades que prevalecem. Atualmente Reitora da Universidade Aberta, ingressou na área da Engenharia Química e tem um currículo repleto que, humildemente, encara como um conjunto de etapas do seu percurso académico. É Reitora, Mulher e acredita que está perante desafios superáveis.

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Carla Padrel de Oliveira considera-se uma Mulher independente que sempre foi estimulada a sê-lo. Apesar de se ter dedicado estudar a junção das moléculas e as reações químicas dos compostos que nos originam enquanto Ser Humano, acredita que a melhor motivação e inspiração que podemos ter para alcançar grandes vitórias está nas ligações covalentes que surgem desde o berço e que as bases são transmitidas pelos educadores, começando em casa. Integrante do mundo educativo, vê a educação como a arma: “A educação e o exemplo dos meus pais foram muito importantes." Apesar da ausência de pressões, diz ter sido “estimulada a escolher o caminho, a pensar pela própria cabeça e a fazer bem o que tinha de fazer." Foi com este sentimento de orientação e independência que, no momento em que ingressou na Universidade de Lisboa, foi a Faculdade de Ciências que escolheu para construir as bases de um conhecimento sólido na área da Engenharia Química. Atuou como engenheira durante vários anos, tendo-se cruzado com colegas, na maioria homens, mas sempre se sentiu segura das suas valias e a ameaça de temas como o assédio ou a desigualdade de género no local de trabalho, não a encarou: “desconheço por completo essa realidade (…), nunca me senti discriminada nem excluída." Apesar disso, assume a presença destes temas gritantes da sociedade, que permanecem atuais passados tantos anos de luta e continuam a ser alvo de preocupação constante: “Com isto não quero dizer que não existam situações de desigualdade ou assédio. (…) Ninguém deve exercer pressões ou abusar verbal e fisicamente de outro ser humano. (…) O assédio existe e deve ser combatido porque põe em causa os Direitos fundamentais e de integridade de uma pessoa." Regressando às memorias da sua experiência além-fronteiras, nomeadamente em projetos de cooperação com PALOPS (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), entende existirem países em que este tema ocupa lugares de destaque pela presença imponente de atos discriminatórios contra as Mulheres e pela prevalência de focos de desigualdade no que respeita à

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educação e atuação profissional. “Existem ainda inúmeros países onde as mulheres continuam em segundo plano e em que são menorizadas. É uma luta que está longe de chegar ao fim e exige um esforço continuado (…). Na minha experiência profissional em Africa já fui confrontada com situações desta natureza." Contudo, reitera estar perante um assunto transversal a outros aspetos da realidade Huma-

“A sociedade portuguesa tem evoluído e o fosso entre homens e mulheres tem vindo a diminuir." na, como trabalho não remunerado, por exemplo, pelo que acredita ser um tema englobado na questão dos Direitos Humanos. Apesar de ver a ameaça ao lugar da Mulher como um tópico mundial, no nosso país a situação releva-se-lhe, na generalidade, menos preocupante. Um olhar sobre o passado e a aposta que tem sido feita na instrução e sensibilização, acredita que “a sociedade portuguesa tem evoluído e o fosso entre homens e mulheres tem vindo a diminuir." Com o tema do desafio feminino em vista, a Reitora acredita nas conquistas histórias que conduzem à atual diminuição das assimetrias de género sem descartar a possibilidade de melhoria. A política, a educação e a consciencialização são ferramentas tidas como indispensáveis a uma luta de guerreiras que se querem afirmar, posicionar e ser bem-sucedidas profissionalmente sem negligenciar a vida pessoal, numa conciliação de aptidões inatas à condição de ser Mulher na Liderança. “Temos de conhecer o nosso valor e ter confiança nas nossas capacidades."


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Mudança com M de Mulher Numa sociedade onde existem mais mulheres, onde mais de 85% das famílias monoparentais estão ao encargo de mulheres, quem mais decide são os homens. Ainda assim, no que toca à área do marketing, 40% das marcas que são Escolha do Consumidor, lideram no feminino. No Dia Internacional da Mulher, celebram-se as mulheres que fazem com que seja possível acreditar num mundo em que as dissemelhanças de género apenas se verifiquem no cartão de cidadão Porque elas fazem a diferença. Junto da família. Junto dos amigos. Junto dos colegas de trabalho. Junto do consumidor, que, ano após ano, através da sua escolha, confirma o que sempre foi evidente. Elas também têm valor. Muito valor.

Quem são estas mulheres que, diariamente, lutam por uma mudança de paradigma? 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? 4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing?

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Sandra Domingues, Marketing & Communication Manager BodyConcept

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SANDRA DOMINGUES, MARKETING & COMMUNICATION MANAGER BODYCONCEPT 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Criatividade, empatia, capacidade analítica, pensamento estratégico, visão, curiosidade e escuta ativa, estas são algumas das características essenciais para um bom marketeer. Na minha opinião um bom profissional de marketing tem de saber gerir a sinergia entre as necessidades e “dores” do cliente e a visão e objetivos da empresa e cada uma destas características é essencial para esta gestão estratégica.

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Trabalhando numa empresa maioritariamente de líderes femininas, não sinto no meu dia a dia essa realidade. Acho que a “pressão” de fazer um bom trabalho deve na verdade a exigência e dedicação que qualquer profissional deve colocar no seu trabalho, mas sim, de um modo geral, essa é uma realidade em muitas empresas e meios profissionais.

2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Acho que essa realidade é mais visível nuns setores de atividade do que noutros e sinto que na área de marketing as mulheres se têm afirmado cada vez mais e não causam tanto “surpresa." Contudo, sei que a realidade de forma mais transversal não é essa. No meu ponto de vista a mudança tem de ser mais profunda do que apenas a nível empresarial. Enquanto na sociedade as mulheres forem vistas como as principais cuidadoras da família, e não se mudarem verdadeiramente as mentalidades para uma visão mais integrativa de que pai e mãe tem papéis equiparados, uma realidade cada vez mais recorrente, continuaremos sempre a ser preteridas ou prejudicadas.

5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Apostar numa visão 360º, nunca parar de aprender e fazer da empatia uma capacidade de excelência para saber analisar todos os públicos (internos e externos). Assim, poderão ter uma visão estratégica, tanto da gestão da sua carreira, como do seu trabalho. E também importante não se deixar influenciar pelas estatísticas da paridade entre géneros. Os números não estão ainda a nosso (das mulheres) favor, mas a melhor ferramenta que podemos ter para os contornar e equilibrar é a excelência profissional em todos os projetos em que nos envolvemos.

3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Ás mulheres é exigido sempre mais, seja a nível profissional ou pessoal e isso significa mais sacrifícios e a necessidade de provar sempre mais para chegar aos mesmo patamar. Vejo, contudo, sinais positivos e de grande mudança e acredito que temos dados passos largos para a paridade.

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ANA MORAIS, MARKETING MANAGER DA URBAN SPORTS CLUB PORTUGAL 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Creio que as características mais importantes - tanto para homens como mulheres - são pensamento crítico sobre o negócio, para reconhecer os pontos fortes e fracos e usá-los da melhor forma, ousadia para ver além do óbvio e do estabelecido, capacidade de adaptação a novas realidade e humildade para aprender. Quem trabalha em marketing não pode ser estanque, tem de estar sempre disponível para conhecer e testar novos formatos. Acrescentaria ainda que é essencial acreditarmos no que estamos a comunicar. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Se for notícia por bons motivos, e referentes ao negócio ou conquistas, deve sempre ser notícia! Mas se nos referimos a ser notícia apenas por ser mulher, diria que a frequência. Quanto mais frequente for vermos mulheres em posições de destaque e liderança, mais normal e menos “disruptivo” isso será, passando o foco para o trabalho e os resultados, e menos para questões de género. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? É inegável que se espera que as mulheres façam mais e maiores sacrifícios, especialmente quando se trata de encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e familiar. Existe ainda a expectativa de que é suposto uma mulher abandonar ou abrandar a carreira após ter filhos, por exemplo, para assumir o papel de cuidadora, enquanto o homem assumiria o papel de provedor. Até porque, se não o fizer, não é uma boa mãe. Isto porque, primeiro, ainda vivemos numa sociedade patriarcal. E depois porque ainda assumimos que existem papéis definidos para homens e mulheres, tanto no contexto familiar como fora dele. Já para não falar no preconceito do que é efetivamente uma família, pressupondo sempre a existência de um homem e uma mulher (biologicamente falando).

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4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Honestamente, acredito que ainda é o caso. Especialmente em indústrias e empresas mais tradicionais, ou onde grande parte dos cargos de destaque seja ocupado por homens, acredito que as mulheres têm sempre uma pressão extra para não falharem - porque se falharem num cargo de destaque, é por que são mulheres não aptas para aquele cargo, e não pelo pressuposto humano de errar e aprender. Não digo que seja uma preocupação sempre presente, mas que tem o seu peso. Ainda assim, creio que a maioria das mulheres que chega a cargos de destaque consegue focar-se no que é realmente importante e não se deixar levar por esse tipo de preconceitos. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Acho que o principal, como já referi antes, é acreditar no que estamos a comunicar. Diria também para estar sempre aberta a aprender mais e melhor, com quem tem mais experiência e outro tipo de valências. Mas isto vale para qualquer pessoa em qualquer área, na verdade! Especificamente para as mulheres em marketing: ser corajosa, confiante e quebrar preconceitos. Confiar nas capacidades e no poder de crescimento e ter coragem para arriscar e dar sempre o próximo passo. A nossa forma de vestir não afeta os resultados do nosso trabalho, tal como o nosso corpo ou a nossa pele também não. Ignora os naysayers, foca-te no que tu queres e põe-te a caminho!


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Ana Morais, Marketing Manager de Portugal da Urban Sports Club Portugal

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Sofia Santos, Marketing & Communications Director da Webhelp Portugal

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SOFIA SANTOS, MARKETING & COMMUNICATIONS DIRECTOR DA WEBHELP PORTUGAL 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Penso que há que haver um bom mix de skills técnicos e de soft skills, ou seja é importante saber da “poda”, entender targets, diferentes canais e como abordar cada um deles de forma diversificada e eficaz, para que as nossas ações tenham os resultados pretendidos, mas é de igual forma importante ser-se um bom storyteller e conseguirmos criar impacto do trabalho que estamos a fazer nas pessoas. Como indica Philip Kotler “A natureza do Marketing não é servir o cliente. É avançar, cercar e vencer a concorrência."E isto só é possível quando conseguimos um equilíbrio destas características e através também de um bom pedaço de resiliência. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Penso que isso é uma mudança de mentalidade na sociedade em geral, para a qual continuamos a evoluir mas em que ainda temos muito que trabalhar. Seria ótimo que uma mulher num cargo importante já não fosse notícia, isso queria dizer que já estava tão enraizado na sociedade, que ninguém ligaria, seria apenas o normal percurso de carreira. Mas a verdade é que, por não ser a norma, continuamos a ter de chamar a atenção para esses factos, de forma a que mais meninas pequenas vejam que é possível sonharem alto e atingirem qualquer patamar que queiram, na área em que escolham trabalhar.

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Para mim, a pressão de “fazer bem feito” é algo que senti desde sempre, mas não pela sociedade, mas por mim mesma, por achar que só evoluímos numa área se apresentarmos um bom trabalho, algo que se destaque e que tenha impacto na área em que trabalhamos. Não acho que isso se prenda por existirem mais ou menos homens a ocupar cargos de liderança, mas sim, pelo gosto por apresentar um trabalho que crie reação nas pessoas, que as envolva e que as mantenha atentas. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Algumas dicas que, para mim, foram importantes: Atenção ao detalhe, sempre. A importância de estar a par do que se vai fazendo e que funciona em diferentes áreas, a diversificação do trabalho que faz no início, para se saber quais os seus reais pontos fortes e fracos e assim poder trabalhar de forma mais eficaz em ambos. E descobrir o que a move, e apostar nessa área, agarrando as oportunidades que lhe permitam evoluir e que lhe mostrem mais “mundo."

3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Diria que há desafios que são diferentes entre homens e mulheres, mas também há sacrifícios iguais para ambos os sexos. O percurso de cada pessoa, seja ela mulher ou homem é feito de altos e baixos, nunca ninguém tem as portas todas abertas ou fechadas, mas acho que é a forma como cada um “ataca” a sua carreira que pode fazer a diferença, com as escolhas que vai fazendo nas oportunidades que vão surgindo (ou que a pessoa faça surgir). Sempre vi o copo “meio cheio” e, por isso, quero crer que os sacrifícios são partilhados, ainda que em áreas diferentes da vida de cada um.

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ANDREIA TEIXEIRA, DIRETORA DE MARKETING DO ACTIVOBANK 1- Quais as características de uma boa marketeer? As características mais importantes são 4: a orientação para o cliente, a resiliência, a coragem e a criatividade. A orientação para o Cliente é fundamental para construirmos soluções de comunicação e produto que colocam o Cliente no centro da solução que estamos a desenvolver e promovem um mindset de visão de ecossistema do Cliente. Para construir boas propostas de valor é essencial percebermos as expectativas dos Clientes, a experiência que pretendemos entregar,ouvir e testar com Clientes e sobretudo fazer disto uma forma de trabalhar constante. Por outro lado, temos a resiliência. Numa altura em que tudo muda a uma velocidade enorme, temos de estar dispostos a testar, errar e voltar atrás e sobretudo não deixar de visitar e revisitar temas. Ser marketeer é adorar um bom desafio e estar sempre disposto a aprender. Num contexto de decisão e gestão de equipas a coragem de expor ideias, defender propostas e abandonar outras é essencial para implementar um bom plano de marketing. Por último destacaria a criatividade, tão importante na resolução de problemas, mas também na vontade de criar novas soluções e implementar inovação. Numa altura em que os canais de comunicação com o Cliente são tantos, temos de nos desafiar diariamente a pensar diferente para podermos fazer a diferença. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? É preciso ainda percorrer algum caminho de evolução. Um caminho que se faz quer ao nível dos sistemas de promoção e meritocracia dentro das empresas, sobretudo no combate à desigualdade salarial, mas também alterações sociais e culturais que colocam a mulher sob grande pressão social em várias áreas da sua vida. É sobretudo necessário que se larguem os paradigmas da supermulher, que se encontre equilíbrio na visão social e nos papéis que homens e mulheres podem desempenhar em contexto de família. Mas diria que há um caminho que começa também pela visão que a mulher tem de si própria. Há um enorme espaço de evolução que nós mulheres podemos fazer sobre nós próprias e no nosso papel na sociedade, no grau de exigência que colocamos em tudo o que fazemos e no nosso autoconhecimento. Em saber o que queremos, o que não queremos e o que nos faz felizes. As empresas têm um papel fundamental na promoção da diversidade, no respeito e no enquadramento da parentalidade e dos seus im-

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pactos, mas nós próprios temos um papel social de fazer as coisas mudar. Tenho a certeza que estamos no bom caminho. 3- Diriam que um homem para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Há temas de construção de vida e carreira que manifestamente continuam a ter muito impacto nas mulheres. Desde logo a integração do projeto da maternidade e respetivo impacto na carreira. Hoje temos uma visão do contributo para a vida em família muito mais paritária, mas ainda assim culturalmente existe pressão social sobre a mulher no seu papel de mãe, na ideia de construção de família e na construção da carreira. Uma ideia quase de perfeição em todas estas áreas que coloca necessariamente pressão. Neste aspeto julgo que os homens não têm este desafio tão vincado. Não sinto que tenha tido de fazer sacrifícios, mas sinto que existe ainda alguma mudança de paradigma que é necessário acontecer. O mais importante é saber que não há equilíbrios perfeitos, que fazemos escolhas e que o mais importante é estarmos bem com as nossas escolhas. 4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Julgo que ainda se sente um pouco isso. Os primeiros movimentos de quem consegue chegar a esses lugares são geralmente ligados a alguma pressão, pela representatividade que têm, pois muitas vezes representam as primeiras experiências das próprias organizações com lideranças femininas nesses níveis. Sinto que com o evoluir da presença feminina, essa pressão reduz e a experiência mostra a necessidade e o valor que a diversidade pode ter na evolução de uma empresa pela maior criatividade e pela complementaridade de competências que levam a uma maior criação de valor. A chave está mesmo em percebermos todos o valor que a diversidade traz no trabalho: homens, mulheres, pessoas mais velhas e pessoas mais novas, etc. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Investir na aprendizagem constante, não ter medo de errar, dizer que sim aos desafios profissionais que se cruzarem no caminho, ter autoconfiança e trabalhar no autoconhecimento por forma a fazer o speaking up que é necessário na função.


LIDERANÇA LIDERANÇANO NOFEMININO FEMININO| |Especial EspecialDia DiaInternacional Internacionalda daMulher Mulher

Andreia Teixeira, Diretora de Marketing do ActivoBank

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Rita Bastos, Diretora de Marketing da Saint-Gobain Portugal – ISOVER, Placo® e Weber

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RITA BASTOS, DIRETORA DE MARKETING DA SAINT-GOBAIN PORTUGAL – ISOVER, PLACO® E WEBER

1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Trabalhar na área do Marketing, exige ter visão estratégica, ter inteligência emocional, estar sempre disponível para aprender algo novo, ter curiosidade, ser flexível, saber calçar os sapatos do cliente, saber ouvir e gerir bem a crítica. O conhecimento técnico e os conceitos de gestão são naturalmente essenciais e no contexto atual, as competências digitais são críticas. No entanto, permitam-me neste dia da mulher, a não distinção de uma boa ou bom marketeer. Sabemos que as mulheres têm características inatas diferentes dos homens, sendo que essas diferenças não nos fazem melhores ou piores, mas diferentes de uma forma saudável, que se complementam e que devemos aproveitar em cada contexto. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? É preciso que uma mulher seja reconhecida pelo trabalho que faz, por aquilo que entrega, tal como é um homem. Ou seja, que destaque seja o bom trabalho feito, o projeto concretizado, a conquista em questão, e não se quem o fez é mulher ou homem. Nesse momento, chegaremos à igualdade de que tanto se fala, uma igualdade que não se pretende matematicamente igual, mas acima de tudo, uma igualdade de oportunidades.

3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Sabemos que historicamente (e na generalidade), não, os homens teriam que fazer menos sacrifícios. No entanto, felizmente, as coisas estão a mudar. Passo a passo, as mulheres têm conquistado o seu lugar. Ainda há muito caminho a percorrer, mas muitos passos já foram dados. Gradualmente, caminhamos para uma situação mais equilibrada.

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Felizmente, posso afirmar que no contexto em que me insiro, no grupo Saint-Gobain, isso não é verdade. No entanto, sei que em muitas realidades e em particular em sectores mais tradicionais, ainda funciona assim. Cabe a cada mulher provar que não tem que fazer mais que um homem para ter um lugar de destaque, saber gerir essa pressão que sendo externa e da sociedade, também é colocada por cada uma de nós. E a mudança começa sempre por nós. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Estar disponível para aprender, ser honesta e colaborativa, dar o seu melhor, acreditar no seu próprio valor, no projeto em que está inserida e nos valores da organização para a qual trabalha. Com esta equação, mais cedo ou mais tarde, o resultado será sempre positivo.

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

ESTER LEOTTE, DIRETORA DE MARKETING LUSÍADAS SAÚDE 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Na minha opinião uma boa marketeer tem de ter as mesmas caraterísticas que qualquer bom profissional nos dias de hoje, já que temos todos de entregar valor e criar diferenciação de forma rápida num contexto incerto e em permanente mudança. Destacaria assim 3 principais skills fundamentais: 1) Foco: Saber priorizar e escolher bem os projetos ou investimentos que valem efetivamente a pena e saber deixar cair os que não acrescentam verdadeiro valor. 2) Motivação: manter os níveis de energia positiva certos mesmo quando a tarefa ou a decisão não é exatamente a que nós gostamos ou a que tomaríamos. Conseguir auto-motivação e energização mesmo em contextos controversos, são características que podem fazer uma diferença enorme em momentos cruciais nas organizações. 3) Empatia: E como nada se faz sem pessoas, a terceira característica que destacaria é o ser empático e estar ao serviço das pessoas com quem trabalhamos. É fundamental conseguirmos pôr-nos nos pés dos outros e perceber as expetativas de cada um. Desta forma, estaremos todos mais envolvidos numa causa ou missão concreta. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Para tal seria necessário que o género não fizesse mesmo diferença para se alcançar essa posição de destaque. Falamos muito em inclusão e diversidade, mas enquanto que a diversidade no mundo é um facto, a inclusão é um ato ou dever que ainda não está generalizado, infelizmente. Todos nós temos preconceitos ainda por trabalhar, incutidos por anos de cultura enraizada que penso que só serão ultrapassados quando for absolutamente banal não haver exclusões por qualquer fator físico, crença ou escolha mais pessoal. Nessa altura, uma mulher em posição de destaque deixará também de ser notícia. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Gosto de acreditar que sim, que já estamos

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mais modernos e que já não há tantas diferenças na tipologia de esforços que temos de fazer, homens e mulheres, para alcançar posições de liderança em grandes organizações. No entanto, acho que apesar de existir uma enorme melhoria na verdadeira partilha de responsabilidades familiares, ainda não estamos todos no mesmo ponto de equilíbrio da balança. As mulheres têm ainda o peso das ausências por maternidade para gerir e um maior peso de responsabilidade na gestão família/trabalho. 4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Sinto que, pelo menos, temos a pressão para conseguir ter voz num “clube” onde estão muitos homens. É preciso treinarmo-nos para conseguirmos ter as características que estes homens valorizam já que, na maior parte dos casos, são nossos líderes. Trabalhar a subjetividade e não tratar tantos temas simultaneamente, ser diretas e frontais, não ter medo de dizer “não” e enfrentar o sexo oposto com opiniões diferentes (só se necessário, claro) e, sempre, com grande determinação. Adicionalmente, há ainda (infelizmente) uma diferença para conseguirmos os mesmos direitos que já não deveria existir. Sente-se, ainda, pressão para fazer mais e melhor de modo a conseguir alcançar algo que pode efetivamente ser mais fácil para o sexo oposto. No entanto, há mudanças a acontecer, e mesmo que muitas destas mudanças tenham surgido por obrigatoriedade nas organizações, não perdem relevância por isso, na minha perspetiva. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Acho que o melhor conselho (e também o daria a um homem da mesma forma) é manter-se determinada nos seus objetivos e sempre de mente aberta para experimentar e aprender, mesmo que isso implique errar e recomeçar. E quando for para retomar a missão, fazê-lo com a mesma energia inicial. Se percebermos que o erro faz parte da aprendizagem não nos desmotivaremos e evoluiremos sempre.


LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

Ester Leotte, Diretora de Marketing Lusíadas Saúde

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

Isabel Matos, Diretora de Comunicação e Relações Institucionais no Crédito Agrícola

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

ISABEL MATOS, DIRETORA DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DO CRÉDITO AGRÍCOLA

1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Ser, acima de tudo, uma gestora de percepções com apurado sentido de antecipação, jamais esquecendo o seu papel de guardiã dos valores-chave que cimentam e consolidam o posicionamento da marca, seja no plano institucional, de produto ou de serviço. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? No tempo em que as perceções deixarem de diferenciar o desempenho, em razão do género, a notícia simplesmente deixará de o ser… 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios?

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Estamos numa era em que fazer um bom trabalho é imperativo cada vez mais evidente sem distinção de género. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Diria que a receita para uma mulher é exatamente a mesma para um homem que vê no marketing a sua área profissional no topo das preferências e vocações. E essa receita está, como já referi acima na perceção, na antecipação e no forte empenho em todas as funções que venha a desempenhar. Sem trabalho e dedicação nada se consegue.

No meu caso em particular que exerço funções numa instituição financeira, e onde nunca se verificou diferença por género, tal não se verifica, mas reconheço que temos ainda o campo inclinado para o lado de lá… também é verdade que, cada vez mais, há homens a dividir com as mulheres muitas tarefas, assumindo, sem hesitações, por exemplo, a licença de paternidade. Estamos no bom caminho, para seguirmos juntos, como é desejável, lado a lado.

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1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Destacaria quatro caraterísticas, que na minha opinião, são indispensáveis para uma boa marketeer: 1. Precisa de ser apaixonada por estar sempre a aprender coisas novas, 2. Deve ser autêntica e confiável, pois são caraterísticas que ajudam a construir relacionamentos de longo prazo com os consumidores e parceiros, 3. Conhecer profundamente o mercado, não só por via analítica, mas escuta ativa junto do consumidor, 4. E não menos importante, que sejam inspiradoras, as marcas são uma extensão da equipa que as trabalham, as marcas devem ter uma identidade, valores e propósitos, com o objetivo de criar conexões com o seu público e tornar a marca mais desejável para os consumidores. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Um estudo recente, publicado em 2021 pela Ipsos, permite-nos ter um breve olhar sobre o lugar da mulher na sociedade dos dias de hoje. O estudo indica que ainda há um percurso a percorrer, mas que a sociedade tem consciência disso, o que me parece um excelente indicador. Contudo e embora seja reconhecido o mérito e aceite com naturalidade, que lugares de chefia sejam assumidos pelo género feminino, a falta de mulheres em funções de liderança é apontada em 5º lugar, como um dos maiores desafios que as mulheres jovens e adultas enfrentam em Portugal, assim como, as disparidades salariais entre géneros. Para que que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia, é necessário que as organizações, apostem na captação e retenção dos melhores talentos e promover a igualdade de oportunidades, independentemente do género. Acredito que é fundamental premiar o mérito e apostar na consciencialização sobre a necessidade de alterar esta situação e consequentemente numa mudança de atitudes, de ambos os géneros. Uma organização que promova esta atitude, está seguramente mais bem preparada para interpretar novos contextos e desafios.

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3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? A mulher é multitasking porque culturalmente foi criada para fazer várias coisas ao mesmo tempo, ainda é um desafio, conciliar a evolução da carreira e reduzir preconceitos em relação à maternidade, mas tenho assistido a uma mudança de valores e comportamentos. E esta mudança, importa que o ocorra nas duas perspetivas, algumas organizações como o Grupo CA CF no qual se integra o Banco Credibom, em Portugal há mais de 25 anos, tem nos últimos anos, promovido a equidade de ambos os géneros incentivando os homens a usufruir da licença de parental, implementando um modelo de trabalho hibrido, que potencia o work life balance assim como, o apoio a organizações como a dress for sucess que defende que “todas as mulheres tem o poder de se transformar numa história de sucesso”, a associação apoia mulheres que se encontram numa situação vulnerável e esse apoio, estende-se à integração das mulheres no mercado de trabalho. São exemplos de ações que demonstram que a transformação deve ser feita a vários níveis.


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ANA CAÇÃO, RESPONSÁVEL PELA COMUNICAÇÃO DAS MARCAS CREDIBOM E PISCAPISCA.PT

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Em algumas áreas, tradicionalmente mais associadas a uma liderança masculina, sim, mas o próprio conceito de liderança tem evoluído, e temos assistido na última década a uma evolução da visão tradicional do líder para alguém que apresente boas skills técnicas, e com um elevado grau de inteligência emocional. As mulheres são mais criativas, multitarefas, com maior capacidade de gestão de conflitos e possuem maior inteligência emocional, características que acentuam o potencial de inovação. Na minha opinião este é o trigger para diminuir a desigualdade e pressão. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? O autoconhecimento é uma grande vantagem. Utilizar ao máximo os seus pontos positivos e ter a coragem de não parar de trabalhar as suas fraquezas. Nos momentos mais desafiantes, procurar a resiliência, a inspiração.

Ana Cação, responsável pela comunicação das marcas Credibom e PiscaPisca.pt

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

Ana Luísa Canha, Diretora de Marketing e Comunicação da Crioestaminal

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

ANA LUÍSA CANHA, DIRETORA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO DA CRIOESTAMINAL 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Acredito que as características indispensáveis dependerão sempre do contexto de cada empresa, pois perante uma adversidade ou uma oportunidade alavancar-se-ão mais umas características, do que outras. No entanto, diria que para mim são características chave a adaptabilidade, a flexibilidade e a resiliência, alinhadas com um conhecimento profundo do mercado em que se atua e uma visão clara dos objetivos, de modo que todas as ações se alinhem de forma consistente com o propósito da organização. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Acredito que tem que mudar a consciência da igualdade de direitos. Os seres humanos são todos diferentes quer sejam mulheres, quer sejam homens, e por isso todos, sem exceção, temos necessidades individuais distintas. Penso que este pressuposto nos leva a refletir um pouco sobre o conceito de igualdade em si mesmo, e assumido que somos todos diferentes, o que queremos de facto alcançar, quando lutamos cegamente pela igualdade entre mulheres e homens? Queremos com certeza, que qualquer um de nós, quando num contexto de limitação física ou de prejuízo de tempo, muitas vezes por questões de índole familiar, sejamos considerados válidos e que as oportunidades continuem ao nosso alcance. Por isso é que penso tem que mudar a consciência da igualdade de direitos. Não basta regulá-los, todos temos que contribuir enquanto organizações e enquanto sociedade, para que a igualdade se alinhe na consciência de todos. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Somos privilegiadas, trabalhamos na Crioestaminal 77 mulheres, o que representa que 89% dos colaboradores da Crioestaminal são mulheres, sendo que 92% dos cargos de gestão são ocupados por mulheres. Naturalmente, que o número de mulheres nas organizações se relacionará sempre com a área de atividade das mesmas, e na área da biotecnologia em geral, e das células estaminais em particular, há um maior número de profissionais do género feminino. Claro que tenho consciência de que a nossa realidade não é representativa do tecido empresarial português, ainda assim, não identifico sacrifícios adicionais por ser mulher. Para cons-

truirmos uma carreira será sempre necessário um grande comprometimento e esforço, e vejo à minha volta quer mulheres, quer homens comprometidos com os seus objetivos pessoais e profissionais, na mesma medida. O maior sacrifício, sendo que é inerente aos diferentes géneros, será sempre o prejuízo do tempo familiar, é doloroso para todos, bem sabemos, mas é possível. Partilho alguns exemplos de como a carreira está ao alcance das mulheres, ainda que com contextos familiares bastante envolventes: Mónica Brito, a nossa Diretora Geral, 2 filhos; Alexandra Mendes, Diretora de Recursos Humanos, 6 filhos; Teresa Matos, Gestora de Qualidade, 5 filhos; Ângela Muxana, Técnica Superior de Controlo do Processo, 3 filhos. 4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? A Crioestaminal pertence desde 2018 ao maior grupo Europeu, na área das células estaminais, o Grupo Famicord. Naturalmente que esta circunstância, nos coloca frequentemente em reuniões de apresentação de resultados internacionais, sentimos uma grande pressão para fazermos um bom trabalho, mas não por sermos mulheres, sentimos todos, nas diferentes geografias, em que nos encontramos, e independentemente do género, o mesmo tipo de pressão e de responsabilidade, o de dar visibilidade de forma clara e factual a esta área tão importante e promissora da medicina, de modo a que todos enquanto sociedade reconheçamos o verdadeiro valor das células estaminais do cordão umbilical. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Que nunca se sinta menor, num qualquer ponto de partida, por ser mulher, que se sinta sempre igual aos demais. Depois diria que seja sempre “moderna”, que acompanhe sempre a atualidade e as tendências do seu mercado e de marketing, que procure interagir com pessoas diferentes de si mesma, para que possa ter sempre uma perceção diferente do mundo, além da sua, que seja fiel a si mesma, aos seus princípios e valores e que lute, sempre, com respeito, por tudo aquilo em que acredita. Nunca sabemos tudo sobre todas as coisas, e todas as vezes que estivermos dispostas a aprender e a desafiar as nossas verdades, teremos sempre caminhos muito interessantes pela frente.

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

FILIPA FILIPE, COMMUNICATION & MARKETING DIRECTOR DA ODISSEIAS

1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Na minha opinião, uma boa marketeer deve ser curiosa, criativa, resiliente e estar atenta às tendências do mundo e do mercado. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Felizmente, a sociedade tem evoluído muito na igualdade de género e as mulheres têm-se destacado cada vez mais no mundo empresarial mas há ainda um longo caminho a percorrer. O líderes de amanhã formam-se hoje, e é muito importante canalizar as jovem para áreas que tipicamente mexem com o mundo: economia, gestão e tecnologias... Só assim se irá atingir a tão ambicionada igualdade de género nos lugares de topo e deixará de existir notícias só porque é uma mulher com uma posição de maior relevância. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? As mulheres, sobretudo na fase de maternidade, deparam-se naturalmente com mais sacríficos e desafios do que um homem. A maternidade acaba por ser um desacelerador na progressão de carreira, e na minha opinião, é muito importante lutar pela igualdade dos períodos de licença de maternidade e paternidade para que as responsabilidade de apoio à família sejam mais equilibradas e que a mulher não sinta uma pressão tão acentuada como nos dias de hoje. Apesar da sociedade estar a evoluir, a gestão familiar ainda recai, principalmente sobre a mulher, e passa também pelo tecido empresarial incentivar uma maior partilha de responsabilidade entre os homens e as mulheres.

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4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Felizmente, na Odisseias, nunca senti qualquer pressão acrescida pelo facto de ser mulher, somos uma empresa muito humana, sem qualquer preconceito. Sinto a minha pressão natural em fazer um bom trabalho e em não falhar, e confesso que gosto de sentir essa pressão saudável e lutar por fazer um trabalho cada vez melhor. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Que seja curiosa, que pesquise e leia muito, que tente experienciar a vida ao máximo e acima de tudo que nunca desista dos seus sonhos!


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Filipa Filipe, Communication & Marketing Director da Odisseias

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Andreia Agostinho, Diretora de Marketing da Frutorra

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ANDREIA AGOSTINHO, DIRETORA DE MARKETING DA FRUTORRA 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Diria que as mesmas que a um bom marketeer. Obter um lugar de destaque no mercado de trabalho pressupõe trabalho, dedicação, persistência, curiosidade e paixão pelo que se faz. Para mim são ingredientes indispensáveis, aliás, a qualquer profissional.

profissional no feminino, promovendo os benefícios da liderança diversificada. Pessoalmente, e por outro lado, não apoio a discriminação positiva, ou medidas como a implementação de um rácio obrigatório de chefias femininas. Evolução, apoiada em qualquer forma de discriminação, diminui a própria meritocracia da mulher nesta conquista.

2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Normalizar que as mulheres, até pelas suas características intrínsecas, são boas líderes. As generalizações são sempre perigosas, mas considero que naturalmente temos uma capacidade empática e de inteligência emocional, que se revela, especialmente nas posições de chefia. Gosto de acreditar que ultrapassámos o estigma de que as mulheres são demasiado emocionais para liderar, e sim que, exatamente por compreendermos melhor a dimensão emocional, afastada do próprio ego, promovemos um ambiente de trabalho mais positivo e motivante para as equipas.

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? A liderança sem pressão não existe. Para mim essa pressão é uma motivação adicional e um driver, e felizmente faço parte de uma empresa que tem 50% da sua Direção no feminino. As expectativas estereotipadas das mulheres enquanto líderes, não devem ser uma barreira, e sim algo a desmistificar pela qualidade do trabalho desenvolvido. Preocupa-me que em Portugal ainda tenhamos uma liderança extremamente masculinizada, e que uma mulher em cargo de destaque seja a exceção e não o modelo. Assim como as subtis formas de discriminação, levem à limitação da promoção das mulheres, funcionando como barreiras invisíveis.

3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Diria que dependerá em grande parte das dinâmicas familiares. Onde acredito que exista um sacrifício maior é no equilíbrio entre a vida pessoal, especificamente no universo da maternidade, e a vida profissional. A maioria das mulheres tem ainda um papel vital e preponderante no dia-a-dia do universo familiar, muitas vezes sem um verdadeiro apoio. Culturalmente, ao longo dos tempos, as mulheres tiveram que conciliar o cuidado com a casa, marido e filhos, com a sua vida profissional. É extremamente difícil hoje em dia conciliar uma vida familiar harmoniosa com uma carreira bem-sucedida, implica muito esforço, sacrifício e capacidade de trabalho. Outro ponto importante está nas próprias empresas e na sua cultura: não importa ser apenas um bom profissional, é necessário que os cargos de Direção reconheçam e permitam a evolução

5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Sermos espíritos inquietos. Sempre querer saber mais, fazer melhor, procurar conhecimento, saber que chegamos mais longe com a ajuda de quem nos rodeia, e saber aplicar com humildade os ensinamentos que resultam das nossas experiências. Procurar ser assertiva na capacidade de tomar decisões, além de nos permitirmos espaço para aprender, errando. É essencial ser-se apaixonada pelo que se faz. Sempre que fazemos alguma coisa por outro motivo que não seja fazermos o que gostamos, realmente não estamos a agir pelas razões certas e isso vai refletir-se no nosso trabalho.

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VÂNIA GUERREIRO, DIRETORA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO DA ISERVICES 1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Com os avanços da era digital e o amplo uso de novas ferramentas e inovações disruptivas, o perfil, as competências e as habilidades requeridas para a maioria das profissões têm de estar adaptadas às tendências atuais e aos complexos desafios que advém da Quarta Revolução Industrial. Vivemos a era da robótica avançada, da inteligência artificial, da Internet das Coisas (IoT), do machine learning e de tantas outras ferramentas que vieram para ficar. Neste cenário, o papel do marketeer é algo que não tem de estar ligado ao género, nem etnia, ou qualquer outra variação biológica. Acima de tudo tem de ser alguém capaz de saber como atuar na resolução de problemas complexos, na gestão de pessoas, na coordenação de trabalhos, bem como saber desenvolver a sua capacidade de tomada de decisão. A criatividade deixou de ser o fator determinante para que o profissional de marketing seja considerado um talento. Esta habilidade continua a ser de extrema relevância, porém a atual realidade possui muitas outras exigências. Um bom (ou boa) marketeer necessita, acima de tudo, de ser um profissional focado em resultados, com ampla capacidade analítica de dados para auxiliar no processo de tomada de decisões da equipa comercial e capaz de propor retornos mensuráveis para o negócio. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Ainda predomina, de facto, o domínio de uma economia assente em empresas que são maioritariamente geridas por homens e, embora já se note uma evolução positiva no que toca à representatividade feminina, há ainda um longo caminho a ser percorrido. Neste sentido, é natural que cada vez que uma mulher se destaca numa posição de liderança, esse aspeto seja noticiado. Embora a minha experiência profissional seja divergente, reconheço que ainda existem vários obstáculos que podem dificultar a progressão profissional das mulheres. Portugal ainda é marcado por uma forte cultura matriarcal e este fator torna a progressão profissional feminina mais lenta, quando comparada com a progressão de carreira dos homens. A estruturação do equilíbrio entre a componente familiar e profissional recai bastante mais sobre as mulheres, em geral. As mulheres devem lutar para que esse equilíbrio seja repartido de igual forma, mas mais uma vez, aponto aqui a necessidade de uma visão liberal pela inclusão. O destaque noticioso sobre uma posição superior de liderança não deve ser dado pela pers-

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petiva de género, mas sim pelo reconhecimento do talento e do mérito do indivíduo, seja ele feminino ou masculino. A sociedade portuguesa estará ao mesmo nível dos países mais inclusivos, quanto mais a nossa democracia estiver de facto comprometida com a defesa dos direitos individuais, promovendo as políticas públicas necessárias à total eliminação de quaisquer tipo de práticas discriminatórias. A bandeira pela qual devemos lutar - para que a notícia seja, exclusivamente, sobre o mérito e nunca sobre o género ou a etnia do indivíduo noticiado - deve ser a da causa justa, ou seja, aquela que defende que todos os cidadãos devem estar comprometidos com a igualdade de liberdades, direitos e oportunidades entre homens e mulheres. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Pessoalmente, pela minha experiência enquanto profissional de marketing há quase 20 anos, não sinto que tenha de ter feito sacrifícios adicionais pelo facto de ser mulher. Sou mãe, sou filha, sou esposa, tenho uma vida social e familiar bastante ativa e, em paralelo, sou profissional de marketing e comunicação e há mais de 8 anos que assumo cargos de direção. O investimento que tenho feito do meu tempo, da minha disponibilidade e das minhas opções não são diferentes daqueles que o meu marido também tem feito, uma vez que também ele trabalha numa posição, igualmente, exigente. Possuo, acima de tudo, uma visão liberal da luta pela igualdade entre homens e mulheres e não me revejo de forma nenhuma no feminismo radical, que se instalou na nossa sociedade ao longo dos últimos anos. Identifico-me com uma perspetiva de Feminismo Liberal, uma vez que, este sim, foi o pioneiro na defesa do sufrágio feminino, na afirmação da soberania política e cívica da mulher, na luta contra todas as discriminações — negativas ou positivas — e na capacitação e autonomia de todos os indivíduos. O importante, a meu ver, é a luta pela igualdade perante a lei, traduzida em direitos iguais e responsabilidades cívicas, ou “sacrifícios” – também eles – iguais, quer para mulheres, quer para homens. A visão liberal do feminismo é uma visão humanista, inclusiva, plural e universalista. O importante é conseguirmos unir a sociedade reconhecendo iguais direitos a todos – mulheres e homens - e dos quais a igualdade de oportunidades e igualdade no acesso à justiça - um dos garantes do Estado de Direito - são os melhores exemplos. Deixo aqui o meu apelo para que não se transforme nunca esta questão numa espécie de paternalismo político de homens sobre mulheres.


LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Ainda falta, com efetividade, um longo caminho a percorrer para conseguirmos instaurar uma consciência comum de direitos e deveres iguais entre mulheres e homens. Infelizmente, ainda persistem inúmeras arbitrariedades, discriminações e injustiças no universo laboral português. As perspetivas de vida de muitas mulheres são ainda muito limitadas, originando grande disparidade de oportunidades de realização pessoal, familiar, profissional e até salarial. Na minha experiência pessoal e profissional, felizmente, nunca senti pressão adicional pelo facto de ser mulher. Senti e sinto, como é natural, a pressão inerente ao cargo diretivo que ocupo: a pressão das tendências do mercado e do setor; a pressão dos resultados; a pressão da aprendizagem contínua. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Daria o mesmo conselho a uma mulher, ou a um homem em início de carreira. Para alcançar uma posição de destaque, não basta trabalhar muito e bem. Há muitos outros aspetos a ter em conta. Em primeiro lugar é importante ter consciência dos objetivos a alcançar. O sentimento sobre o sucesso profissional é um conceito subjetivo e as principais medidas do sucesso e da felicidade são diferentes, de indivíduo para indivíduo. Alcançar um patamar de liderança só será relevante se esse objetivo se integrar numa perspetiva holística de acordo com todos os objetivos predefinidos: pessoais, familiares, profissionais e salariais. Saber onde quer chegar é fundamental

Vânia Guerreiro, Diretora de Marketing e Comunicação da iServices

para alcançar um patamar de liderança. Há que definir com critérios objetivos as metas de curto, médio e longo prazo e trabalhar, de forma persistente, para as alcançar. Em segundo lugar é necessário conhecer bem os pontos fortes e os aspetos a melhorar, a cada momento. É necessário realizar balanços com regularidade, reajustar os objetivos e as metas sempre que for oportuno, e até mesmo mudar o rumo se necessário. Um profissional que chega a um cargo de destaque na área de marketing tem de estar em constante aprendizagem. Não pode parar de estudar, e sobretudo não pode parar de aprender. O seu crescimento profissional depende bastante da sua capacidade de absorver conhecimento. Este desenvolvimento deve ser uma combinação de competências técnicas – cada vez mais exigentes – mas acima de tudo, comportamentais: agilidade, capacidade de negociação, flexibilidade, inteligência emocional, proatividade, dinamismo, entre muitas outras. O mercado de trabalho na área de marketing e comunicação procura, cada vez mais, por profissionais altamente qualificados que possam entender e lidar com as rápidas mudanças nos comportamentos de consumo. A nossa profissão tem sido uma das que mais cresceu e mais valorizou nos últimos anos, e esse crescimento não vai parar. A todas as mulheres que entram hoje neste mercado e queiram fazer uma carreira de sucesso a minha mensagem é esta: estejam sempre atentas, conectadas, capacitadas e mantenham as mentes sempre abertas para compreenderem os porquês, as inovações, as experiências e as tendências. A área de marketing é, felizmente, uma profissão muito valorizada que pode levar a um caminho incrível de reconhecimentos e vitórias!

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Sílvia Pinto, Marketing and Communication Manager da Goldenergy


LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

SÍLVIA PINTO, MARKETING AND COMMUNICATION MANAGER DA GOLDENERGY

1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Diria que sobretudo ter como características, a criatividade; a atenção à atualidade; conhecer bem os consumidores, os seus hábitos e as novas tendências de consumo; fácil adaptação à mudança e conhecimento das várias ferramentas de comunicação atuais. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? Até pode continuar a ser notícia. Mas não por ser mulher e sim por se destacar pelo seu profissionalismo e pelos resultados que apresenta. No fundo, ser o mérito a gerar a notícia. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? É uma questão cultural o facto de um homem conseguir chegar mais rapidamente a lugares de destaque profissionalmente. Mas sinceramente, penso que aos poucos isto está a mudar na nossa sociedade, de uma forma lenta e por vezes com alguns retrocessos, mas está.

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Não me parece. Acho que a pressão para se ter bons resultados não depende de se ser um homem ou uma mulher mas sim dos objetivos propostos e da exigência de cada função. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Que seja persistente, criativa e inovadora.

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

VERA GRILO, DIRETORA DE MARKETING & VENDAS DA MEDINFAR CONSUMER HEALTH & DERMATOLOGIA

1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Em primeiro lugar gostava de agradecer a oportunidade e privilégio de partilhar algumas ideias, e de poder pertencer a este painel de Mulheres que partilhando um pouco da sua experiência procuram, também, inspirar outras. Acredito que não existe uma fórmula perfeitamente definida para ser uma boa marketeer. No entanto enquanto marketeer assumo o consumidor, o seu contexto e o ambiente que o envolve como o núcleo central do nosso trabalho. Assim a maior característica que podemos desenvolver é estar 100% conectadas com o que está a acontecer na vida dos nossos consumidores: BE CONNECTED! Assim, estar atenta, ser curiosa, gostar de uma aprendizagem continua (que não se esgota, porque o consumidor está em constante evolução) são características importantes para ser uma boa marketeer. Não obstante, capacidade de análise e organização, que são sem dúvida características facilitadoras. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? A sociedade, nos seus diversos contextos profissionais e pessoais, precisa de continuar a evoluir no sentido da diversidade e em particular da igualdade de géneros. O caminho está a começar a ser construído, ainda com grandes disparidades worldwide, e bastante no início, pois os temas de fundo, estão assentes numa cultura, com raízes muito capilares. Assim, acredito que este processo de mudança começa sobretudo em casa, na educação que damos aos nossos filhos. Felizmente observamos um número crescente de posições de destaque para as mulheres em diversas áreas, desde a política, à ciência, passando por muitas outras. A mudança está a acontecer. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios?

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Depende, do contexto e do ambiente. Globalmente diria que não. A minha experiência pessoal é diferente. Felizmente tenho tido oportunidade de passar por ambientes profissionais, onde a meritocracia se sobrepõe as estas questões. E por isso as funções que tenho desempenhado ao longo da minha carreira, foram desempenhadas quer por colegas homens, quer por mulheres, independentemente do género, quem faria mais fit com a posição, e o que faria mais sentido para o seu desenvolvimento. 4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? A mulher tende naturalmente a sentir mais pressão, é da sua natureza 😊. A minha experiência, felizmente, até ao dia de hoje não foi esta. Nunca me preocupei em fazer um melhor trabalho que um colega homem. Porque de facto, tive o privilégio de estar em organizações que valorizam o trabalho, a atitude e o perfil independentemente do género, é o mérito que é valorizado. Acredito que esta realidade ainda não seja transversal, daí a importância de continuar a fazer este caminho de construção e evolução. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Nem sempre este desejo está identificado desde o início de uma carreira, sendo assim, numa fase inicial acredito devemos ter open mind, disponibilidade e abertura para agarrar diferentes oportunidades e desafios. A partir do momento em que esta ambição está bem definida, então o conselho passa a ser: 100% foco no objetivo! Mas, desenvolver ao mesmo tempo a capacidade de medir | avaliar até que ponto o caminho até “aquela posição de destaque” nos realiza. Vais fazer a diferença se estiveres “naquela posição” e estiveres feliz!


LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

Vera Grilo, Diretora de Marketing & Vendas da Medinfar Consumer Health & Dermatologia

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

Ângela Caetano Pereira, Marketing Manager Portugal

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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher

ÂNGELA CAETANO PEREIRA, MARKETING MANAGER PORTUGAL

1- Quais são as características indispensáveis a uma boa marketeer? Penso que uma boa marketeer deve obviamente ser criativa, gostar de entender o consumidor e as suas necessidades, mas deve também ter uma grande capacidade de adaptação. Gostar de comunicar e trabalhar em equipa são também fundamentais. Estas características irão ajudar a encontrar as soluções necessárias num mundo e mercado em constante evolução. 2- O que é que precisa de mudar para que uma mulher em posição de destaque deixe de ser notícia? A evolução nos últimos anos é notória, mas por outro lado, o facto de estar a responder a esta questão mostra que ainda há um caminho a percorrer. A desigualdade salarial ainda existe. A dificuldade em conciliar a carreira com a vida pessoal é também algo mais real para as mulheres, assim como a falta de oportunidades na liderança. E a verdade é que em muitas empresas ainda é necessário criar programas ou sistemas de quotas para que as mulheres ocupem cargos de liderança, o que significa que ainda não é algo que acontece de forma natural. Enquanto assim for, mulheres em posições de destaque vão continuar a ser notícia. Devemos olhar para o lado positivo, que é servirem de inspiração a outras mulheres. 3- Diriam que um homem, para chegar onde vocês se encontram hoje, teria de fazer os mesmos sacrifícios? Eventualmente não, mas penso que alguns obstáculos que encontrei foram de alguma forma impostos por mim, por querer fazer e ser muitas coisas ao mesmo tempo. Ser mãe e pro-

fissional, e sem dúvida que podemos ser ambas, exige termos a capacidade de aceitar que nem sempre é possível fazer tudo bem. Penso que os homens não se colocam esta pressão. Pessoalmente, na empresa onde trabalho, nunca senti que o facto de ser mulher me tivesse prejudicado ou dificultado progredir na minha função. Foram-me dadas oportunidades como resultado do meu trabalho e capacidades e penso que é nisso que nos devemos focar.

4- Numa sociedade onde os homens ocupam a maior parte dos cargos de destaque, uma mulher líder sente mais pressão em fazer um bom trabalho? Eventualmente sim, pois pode existir o receio de, se falhar, isso ser atribuído ao facto de ser mulher. Mas o objetivo deve ser fazer um bom trabalho, não por se ser mulher, mas por se ser uma boa profissional. Felizmente, talvez por trabalhar numa empresa sueca, com uma cultura um pouco diferente, não sinto que esta pressão exista. Desde que aqui trabalho, há 16 anos, o cargo de CEO já foi ocupado por homens e mulheres, que é o caso neste momento, e o foco sempre foi nos resultados que queremos alcançar enquanto empresa. 5- Que conselho dariam a uma mulher em início de carreira, com o desejo de alcançar uma posição de destaque na área do marketing? Dir-lhe-ia para aproveitar as dificuldades que venha a encontrar para as tornar em oportunidades. Para acreditar nas suas capacidades e as colocar ao serviço da sua paixão pelo marketing, neste caso, mas aplica-se a todos os nossos objetivos.

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PAULA MATIAS E A ESCOLHA CERTA Como diretora-geral da empresa “Escolha do Consumidor”, Paula Matias fala do seu percurso profissional até ao sucesso. Com uma ampla experiência e vasta bagagem pessoal, considera ter adquirido todas as ferramentas para alcançar o expoente máximo de felicidade e realização por entre as escolhas e vivências com que se cruzou ao longo da vida. Certa dos seus gostos e ambições, mas irresoluta no que toca ao seu futuro académico, foi em que 1997 que Paula Matias pisou a Universidade Autónoma de Lisboa e se licenciou em Relações Internacionais. A escolha, alicerçada no gosto pela comunicação e aprendizagem, foi de encontro ao fascínio por viajar e se relacionar. São, aliás, estas as valias que considera o expoente máximo do seu “ser” enquanto pessoa e profissional, até aos dias de hoje: “sabia que mais do que a minha formação, seriam estas minhas valências que me iriam conduzir.” Apesar do destino parecer incerto, o trajeto era visto como importante, irrenunciável e repleto de oportunidades e ensinamentos. O fator comum sempre foi a “mudança." Considerando-a necessária e reconhecendo a sua indispensabilidade desde cedo, a então dirigente iniciou o seu percurso com passos distintos dos atuais, bem menos vultosos e exigentes, como técnica superior numa autarquia, mas rapidamente se sentiu encurralada pelo que um trabalho comum e pouco diversificado tem a oferecer. Confessou “senti-me estagnada e decidi sair” e decidiu voltar a estudar áreas complementares do saber e arriscar num experimento como empresária: “Senti necessidade de voltar a estudar e fiz formações em marketing, comunicação e gestão e depois nas áreas do desenvolvimento pessoal." Mas não foi este o momento único em que se sentiu estancada profissionalmente. A questão da discrepância de género e todos os estigmas a ela associados revelaram-se fatores vultoso no momento em que foi mãe. “Os meus objetivos foram congelados”, confessa. Apesar de já familiarizada com o tema, escolheu dedicar-se à vida pessoal e ultrapassar, assim, a desigualdade de que foi alvo. “Fui educada numa família onde a desigualdade de género era o normal. (…) Quando fui mãe pela primeira vez que senti na pele uma sobrecarga imensa e desigual em termos

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de género. (…) Felizmente pude escolher e escolhi dedicar-me à vida pessoal durante aquele tempo.” Mas como a mudança é o mote ao desenvolvimento, não ficou por aqui. Ciente do poder da metamorfose, reitera que “não é só necessária como essencial (…). É na mudança que nos desafiamos, que crescemos pessoal e profissionalmente." Atuou nas mais diversas áreas, desde o setor comercial até projetos de responsabilidade social, tendo passado por pequenas e grandes empresas. Acredita que estas experiências são cruciais para uma formação sólida e de excelência, tendo contribuído para alcançar o lugar que hoje ocupa, entendendo que “a soma de todas as experiências e formações foram ampliando o conhecimento e segurança em diferentes contextos e com diferentes públicos.”, sem nunca descartar o peso de ter vivido na Grécia, um país que diz ter “uma cultura muito diferente da nossa." A par dos desafios que foi aceitando, o Coaching surgiu na sua vida como a oportunidade essencial para o enriquecimento íntimo, que entende como “muito mais do que um trabalho, é uma forma de estar na vida!." Desde 2017 que se dedica a ser coach. É detentora de um site de mentoria, plataforma através da qual, para além de divulgar produtos e serviços, se dá a conhecer. Com todo este longo historial, esta Mulher Líder acredita que todo o conhecimento que adquirimos ao longo da vida, nos extremos do espetro que é a nossa jornada, contribuem para alcançarmos o nosso lugar no mundo, como a ela, na Liderança. “Com base num estudo recente da Escolha do Consumidor mostra que o índice de satisfação dos consumidores (…) tem uma corelação entre os setores, o sucesso e a liderança feminina.”


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Paula Matias diretora-geral da empresa “Escolha do Consumidor”

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Rita Veloso

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RITA VELOSO: UMA MULHER, VÁRIOS OFÍCIOS Rita Veloso concluiu a licenciatura em Psicologia na Universidade do Porto em 2004. Entre múltiplas funções, foi diretora do serviço de gestão de doentes do IPO do Porto. Hoje, é doutoranda em Tecnologias da Informação e Comunicação e vogal executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Porto.

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Diz-se que quem corre por paixão não cansa. Então ao lado de quem se gosta, aquilo que já se anteveria fácil, torna-se “muito fácil." Numa sociedade em que muito se fala sobre vocação, uns encontram-na no berço, outros vão-na adquirindo, com a experiência. Para Rita Veloso, o amor pela profissão é algo que não se pode forçar. Ainda que seja um amor difícil de definir por palavras, “é muito fácil de reconhecer” quem o sente de forma verdadeira. “A paixão surge, tendencialmente, de uma forma natural e que pode ser transportada entre os vários cenários ao longo da vida." Numa altura em que cada vez mais se expõe a importância da saúde mental, quer em contexto pessoal, quer em contexto profissional, Rita Veloso acredita que o psicólogo tem de ser alguém em quem “instantaneamente confiamos, acreditamos e reconhecemos esse lado humano e científico." No fundo, um psicólogo é como um amigo. Também ouve, também protege, também ajuda. A diferença é que “fá-lo partindo de uma posição e de um saber diferente em que a relação de proximidade é estabelecida pela empatia, pelo reconhecimento dessa posição, sem se focar apenas nos problemas, mas em todo o funcionamento do comportamento dentro de um determinado contexto, tendo por base técnicas suportadas em evidência científica de acordo com a teoria que mais se adequa ao tratamento da problemática." Apesar da psicologia ser a sua grande paixão, seria redutor dizer que Rita Veloso é “apenas” psicóloga. Como se a profissão já não fosse árdua o suficiente, a doutoranda em Tecnologias da Informação e Comunicação é também líder, numa sociedade em que poucas mulheres o são. “Nem sempre tem sido fácil. Muitas foram as reuniões em que senti que me tinha de preparar previamente e dotar-me da melhor informação possível, para que a minha tomada de decisão enquanto mulher fosse tida em conta." Ainda que, hoje em dia, a sensibilização para a igualdade de género seja mais evidente, muitas foram as vezes em que Rita Veloso se sentiu “fator-surpresa, principalmente em temas ligados à tecnologia precisamente por ser mulher”, como se “não fosse suposto ter interesse e conhecimentos técnicos numa área que tem vindo a ser dominada pelo género masculino.

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Como Rita Veloso defende, a liderança “não se explica, sente-se." Sempre com a “autodeterminação e autoconsciência” de uma líder de sucesso, mas com a “humildade” de quem é capaz de reconhecer a capacidade de “pessoas que irão saber muito mais sobre os mais diversos temas." Para além de ser líder em contexto profissional, a ex-diretora do Serviço de Gestão de Doentes do IPO do Porto, acumula as funções de mãe, mulher e aluna. Embora os dias de Rita apenas tenham, como não poderia deixar de ser, vinte e quatro horas, os mesmos desdobram-se em vários “turnos”, que fazem com que tudo seja possível de conciliar. “Devo confessar que nunca me senti “menos” profissional por ter de sair mais cedo do trabalho para, por exemplo, ir assistir a uma atividade dos meus filhos e nunca me senti “menos” mãe por ter de deixar os meus filhos a almoçar/jantar sozinhos para dar resposta a algo relacionado com o meu trabalho. Também tive de ir aprendendo a dizer “não” ou “não agora” para que este equilíbrio pudesse existir. Passar a pensar, antes de agir e tomar decisões que impliquem este dois papéis, também tem ajudado. Facilmente descobrimos a cada momento, em que devemos apostar a nossa atenção e aprender a compensar." Uma coisa é “liderar” crianças. Outra tarefa completamente diferente é fazer o mesmo com adultos, também eles pais. Ou então não. Para Rita Veloso, “são inúmeros os exemplos em que estas lideranças se cruzam." Enquanto líder, a vogal executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Porto dá o exemplo de uma situação em particular que demonstra a proximidade destes dois tipos de liderança. “Tinha o meu filho de cerca de 5 anos a sair do carro e pedi-lhe que vestisse o casaco. Perguntou-me porquê. Eu respondi que está frio. Ele volta a perguntar porquê. Eu digo “porque eu estou a dizer." Na verdade, quem nunca se confrontou com uma situação idêntica junto das suas equipas? Por vezes, por muito que tentemos ouvir e explicar as nossas decisões, e apesar de sabermos que quem nos ouve compreendeu claramente a mensagem, o objetivo das questões é apenas desafiar. Nesses momentos, a autoridade inerente ao papel, tem de surgir naturalmente."


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Rita Veloso

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"É preciso estar diariamente com a equipa, conhecendo de forma muito próxima cada um dos elementos, mas com o distanciamento desejado, para que se possa ser justa.” Liderar uma casa é difícil. Liderar uma equipa também. Quando esta tem mais de 150 trabalhadores, ainda mais. No entanto, ser difícil não significa que é impossível. Muito menos para Rita Veloso. “Apenas” é preciso estar “diariamente com a equipa, conhecendo de forma muito próxima cada um dos elementos”, mas com o distanciamento desejado, para que “se possa ser justa”, o que nem sempre é fácil “quando não se está o suficientemente afastada das opiniões dos outros." No fundo, para Rita Veloso, tudo se resume a algo muito simples, porém apenas acessível a alguns: fazer a diferença. Seja no trabalho ou em casa, a (também) Professora na pós-graduação em Gestão de Unidades de Saúde no ISAG, gostava que o maior ensinamento que os alunos levassem do seu período enquanto docente, fosse a vontade de fazer melhor e de inspirar o próximo. Psicóloga. Líder. Professora. Mãe. Mulher. Sendo isso tudo e muito mais, Rita Veloso fala com conhecimento de causa. Com base nesse conhecimento, aconselha todos os que pretendem ser bem-sucedidos nas várias dimensões da vida, a acreditar inabalavelmente nas suas competências, pois “se sabem que conseguem, se sabem o que querem e se estão disponíveis para lutar, será só uma questão de tempo." Afinal de contas, “no final do dia, faltará sempre menos um dia."

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MARTA PONTES: “NAS VÁRIAS FUNÇÕES DE LIDERANÇA QUE EXERCI, OPTO SEMPRE POR UMA ATITUDE COLABORATIVA.” Marta Pontes estudou na Universidade do Porto e na Porto Business School. Uma criança que, desde cedo, se revelou tímida e observadora, fez da empatia e capacidade de trabalho em equipa aliadas naquela que hoje é a sua profissão. Atualmente, é vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos.

Poder-se-á pensar que para ser empreendedora basta ter uma ideia. No entanto, ainda que todos os grandes projetos comecem com uma boa ideia, é preciso bastante mais do que isso. Segundo Marta Pontes, é essencial “passar da ideia à ação”, ou seja, “fazer acontecer, pelo que é fundamental saber planear e coordenar um projeto." Para além da “coragem” e “humildade” inerentes a uma empreendedora, é muito importante ter a capacidade de manter os pés assentes na terra. “O desafio é manter o equilíbrio entre a criatividade, capacidade de sonhar e o planeamento rigoroso que a concretização implica.." Como diria um amigo de Marta, “há que pensar em grande e saber andar rápido, dando pequenos passos."Pequenos ou grandes, a verdade é que, numa caminhada que começou recentemente, Marta Pontes é, hoje, vereadora da Câmara de Matosinhos. Como se diz na gíria, “santos da casa não fazem milagres”, no entanto, para além de todas as suas qualidades enquanto profissional, Marta tem a seu favor o facto de “conhecer muito bem o território." De acordo com o que a própria menciona, “para além de ser natural de Matosinhos, já [trabalhou] em várias instituições do concelho e como [gosta] de conversar, [ouve] muitas pessoas de diferentes quadrantes da comunidade." Numa nova etapa profissional que já se revela desafiante, a vereadora da Câmara de Matosinhos refere que o seu grande objetivo passa por “equilibrar a resposta aos problemas existentes e manter a capacidade de contribuir para a construção do futuro, mantendo disponibilidade e sensibilidade para que esse equilíbrio seja útil” para todos os munícipes. Marte Pontes sempre foi “uma criança bastante tímida e muito observadora”, pelo que, segundo a própria, não seria de prever que se tornasse naquilo que “as pessoas identificam como líder."Ainda que refira que essas características se mantiveram ao longo da vida, Marta sempre teve a capacidade de “desenvolver a empatia e o res-

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peito necessário para liderar projetos e equipas”, ainda que os skills de um líder se vão “aprimorando." Quando se fala em liderança, pensa-se normalmente em questões de trabalho. No entanto, é possível ser-se líder em muitos outros contextos. Em casa, inclusive. Segundo Marta Pontes, algo que a própria partilha com muitas das mães em Portugal é “essa tarefa difícil de conciliar a vida profissional com a vida familiar."O que, por si só, nunca seria fácil, mais complicado fica quando as crianças são pequenas. “As minhas filhas têm 1 e 3 anos, o que torna a equação ainda mais complexa! Eu tenho a sorte de ter uma retaguarda familiar e como sou bastante organizada, consigo planear com antecedência.."Numa constante batalha contra o tempo, Marta encontrou em algumas apps umas “ótimas aliadas”, sempre com o compromisso pessoal de “estar focada na tarefa ou momento, quer seja profissional ou pessoal." Da mesma forma que todo o “mestre” foi, em tempos, “aprendiz”, Marta também tem as suas referências, no que toca a modelos de liderança. Através daquilo que é a sua experiência pessoal, destaca Luísa Salgueiro. “Liderou-me em várias funções. Foi minha vereadora entre 2005 a 2009. (…) É das líderes que melhor conheço e um exemplo para mim de dedicação, determinação, otimismo e perspicácia."Para além disso, destaca também como referência Elvira Fortunato, como “uma mulher que se distingue nacional e internacionalmente pelo trabalho pioneiro e inovador e por desenvolver ativamente várias medidas de promoção da igualdade de género.." Marta Pontes foi aluna na Universidade do Porto e na Porto Business School (PBS). Segundo a vereadora da Câmara de Matosinhos, “a [sua] formação académica permitiu, para além de adquirir novos conhecimentos, consolidar perspetivas sobre a própria maneira de ser e de estar perante os outros e o mundo."Num mundo que se encontra em constante metamorfose, Marta destaca a PBS como a instituição que mais ferramentas de


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Marta Pontes

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“descodificação desta realidade” e capacidade de adotar “novas abordagens” lhe deu. Ainda que, cada vez mais, a sociedade esteja mais consciencializada sobre a importância da igualdade de género, Marta refere que “é com demasiada frequência que (…) a maioria são homens."Mesmo estando, por norma, em inferioridade numérica, a vereadora da câmara matosinhense admite que “o escrutínio é maior para as mulheres do que para os homens”, o que não implica necessariamente que a pressão para fazer um bom trabalho seja maior. Todos os líderes têm as suas particularidades. Uns adotam uma postura mais distante, outros optam por uma abordagem mais próxima e empática. A liderança de Marta enquadra-se melhor no segundo grupo. “Nas várias funções de liderança que exerci, opto sempre por uma atitude colaborativa. É para mim imprescindível acreditar nos projetos e estabelecer uma relação empática e de respeito com as equipas." É nesse espírito, em que a amizade e a responsabilidade coincidem, que Marta e toda a sua equipa trabalham diariamente com o intuito de promover e apoiar atividades nas áreas do desenvolvimento económico, dinamizar o turismo, defender o consumidor e zelar pela proteção civil. Na área do desenvolvimento económico, apesar do forte impacto provocado pela pandemia e pela incerteza do que está para vir, fruto da guerra na Ucrânia, a câmara de Matosinhos tem “instrumentos de financiamento disponíveis para as empresas, quer no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), quer no novo quadro comunitário Portugal 2030.." Apesar da preponderância de Matosinhos naquilo que é a transição digital e climática, assim como na passagem para a indústria 4.0, Marta Pontes gosta de pensar no crescimento económico “pelo seu lado humano, pela criação de oportunidades de emprego digno, pela preservação do emprego e pela sustentação de toda a comunidade." No que toca ao turismo, Matosinhos, fruto da sua condição natural e de todo o comércio local associado, ressentiu as dificuldades provocadas pela pandemia, pelo que houve um particular cuidado na “proteção das empresas e do emprego, criando respostas imediatas em 2020 que foram uma referência nacional.."

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"Nas várias funções de liderança que exerci, opto sempre por uma atitude colaborativa. É para mim imprescindível acreditar nos projetos e estabelecer uma relação empática e de respeito com as equipas." Numa constante tentativa de “criação de qualidade de vida para todos” os matosinhenses, é com base no trabalho em equipa que engloba todos os setores, desde o desporto, à saúde, à cultura, que é possível “resistir às crises”, apesar de não ser tarefa fácil. Quanto à área da proteção civil, Marta reconhece a “enorme responsabilidade” a que esta se encontra associada, no entanto refere que a “organização entre equipas e corporações de bombeiros” fazem com que Matosinhos, no que toca a esta área, seja “um exemplo nacional e internacional." Um dia que as filhas crescessem, Marta Pontes gostava “que as [suas] filhas tivessem esta liberdade, assente em princípios democráticos e de igualdade”, num futuro em que espera que “as desigualdades de género não passem de registos históricos, entretanto ultrapassados e que os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável assumidos no âmbito da Agenda 2030 pelas Nações Unidas, estejam já claramente incorporados num modelo global de governança mais justo e mais sustentável.."


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EXPERIMENTAR DIFERENTES ÁREAS E NOVAS POSSIBILIDADES Joana Afonso Fernandes é Doutoranda em Engenharia Industrial e de Sistemas. A sua curiosidade intelectual e a urgência em arriscar levaram-na ao mundo da Ciência e da Tecnologia. Apesar do gosto pela escrita, contrariou o estereótipo de género ao enveredar pelo curso de Engenharia Electrotécnica e Computadores e posteriormente pela Criminologia. Com um percurso académico diversificado mostra que o gênero não deve influenciar a ambição de carreira.

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Joana Afonso Fernandes


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“Na altura cheguei a sentir-me bastante desconfortável com alguns comentários, mas em momento algum me senti menos capaz pelo facto de ser mulher.” A paixão pela poesia, herdada do avô, acabou por ficar na gaveta. Com 15 anos foi morar sozinha para frequentar o Secundário e, mais tarde, o Ensino Superior, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Conta com uma licenciatura em Criminologia, seguida de um mestrado em Higiene e Segurança nas Organizações. Movida pelo desejo de aliar as formações, não se deixou intimidar quando a tentaram demover da transição entre as diferentes áreas. Logo de seguida, foi mais além e aventurou-se por um estágio na Marinha Portuguesa, focado na área da segurança e outro na Escola de Engenharia Industrial da Universidade de Málaga, em Espanha. Iniciou a carreira profissional na Pingos Service, uma empresa dedicada à realização de serviços na área da engenharia e infraestruturas de telecomunicações na qual integrou uma equipa jovem composta na sua maioria por homens. A experiência superou todas as suas expectativas e nunca se sentiu discriminada pelo facto de ser mulher. Contudo, a paixão pela investigação e o desejo de aprofundar o conhecimento conduziram-na ao Doutoramento em Engenharia Industrial e de Sistemas na Universidade do Minho, que considera ser o maior desafio de todo o seu percurso. O trabalho de investigação proposto valeu-lhe o financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no painel de avaliação de Economia e Gestão e a possibilidade de se dedicar à investigação em regime de exclusividade. Atualmente, está empenhada em desbravar caminho no âmbito da gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) em meio hospitalar, bem como na busca de estratégias que contribuam para a sua otimização. Refere que as mudanças ocorridas no mundo do trabalho representam um desafio global em matéria de Segurança e Saúde Ocupacional e evidenciam a necessidade de se desenvolver investigação nesta área científica multidisciplinar e, simultaneamente, socialmen-

te sensível. A pandemia COVID-19 veio enfatizar ainda mais esta necessidade, nomeadamente ao nível da adoção de medidas rápidas e adequadas para enfrentar contextos imprevistos e mitigar riscos profissionais emergentes. O aumento da complexidade e interatividade das organizações e dos seus sistemas com a introdução da tecnologia e com a evolução digital requer a implementação de medidas que contribuam de forma efetiva para a diminuição da sinistralidade laboral e que garantam condições de trabalho adequadas. Para isso, destaca a importância da Ergonomia e Fatores Humanos, uma área que procura compreender as interações entre os humanos e outros elementos de um sistema afim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral do sistema. A investigação em ambientes ocupacionais mostra-se particularmente relevante, pois o impacto dos acidentes e doenças profissionais causados pela tecnologia e pelos sistemas de trabalho podem afetar as organizações e a continuidade das atividades económicas. Após o primeiro contacto com a área, durante o estágio em Espanha, começou a delinear o trabalho de investigação que viria a desenvolver em Portugal. O estudo teve como objetivo desenvolver e validar uma ferramenta para avaliar o desempenho resiliente do sistema de gestão de segurança no setor da metalomecânica, baseado nas premissas da Engenharia da Resiliência. Apresentou o resultado final na Masterclass for Young Scientists na 10th International Conference on the Prevention of Accidents at Work, em Viena, na Áustria. Apesar de pouco difundida, a Engenharia da Resiliência surge como um novo paradigma de segurança que se concentra em entender como alcançar sucesso nas atividades diárias e analisar como a variabilidade afeta o desempenho dos sistemas. A importância desta nova abordagem já se revelou fundamental em setores como a aviação, os cuidados de saúde e os transportes. Para Joana Afonso Fernandes, há uma clara necessidade de adotar métodos sistémicos para abordar a segurança e as questões relacionadas ao risco em sistemas sociotécnicos complexos. A Engenharia da Resiliência fornece um conjunto de novos métodos que incentivam ao envolvimento dos trabalhadores e valorizando o seu papel dentro da organização. Ao mesmo tempo, aproxima a perspetiva da gestão de topo, como diretores e consultores, de uma visão muito mais realista do desempenho da organização, o que pode ser utilizado como informação valiosa para melhorar a gestão de segurança e saúde e desenvolver procedimentos mais eficazes. Assiste-se a uma mudança de “erro humano” para “variabilidade de desempenho humano” na análise de riscos e acidentes em sistemas

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complexos. Contudo, as ferramentas associadas à abordagem de segurança adotada até então não consideram as possíveis conexões e interdependências entre os diversos elementos do sistema para modelar acidentes e analisar os riscos. Consciente das barreiras que possam surgir à mudança, considera necessário que os responsáveis pela gestão das organizações tomem conhecimento das mais-valias da Engenharia da Resiliência e sejam eles o motor impulsionador que atravessa todos os níveis da organização para chegar aos trabalhadores da linha de frente, aproximando-os de uma visão comum em matéria de segurança e saúde. Desde cedo despertou para o voluntariado e ativismo no que respeita aos Direitos Humanos. Envolveu-se em experiências de voluntariado universitário, com as quais colabora até hoje, nomeadamente o Projeto Nacional de Educação pelos Pares (PNEP), levado a cabo pela Fundação Portuguesa “A comunidade contra a SIDA” (FPCCSIDA), onde dinamiza sessões em escolas públicas do Porto, bem como estabelecimentos prisionais. Os temas centram-se em questões como a violência no namoro, bullying, sexualidade, entre outros. Durante o mestrado esteve ainda envolvida em projetos comunitários, um dos quais foi submetido a financiamento no âmbito do Programa Erasmus+. “A partilha de experiências durante o voluntariado e a oportunidade de escutar relatos na primeira pessoa de situações de violência e discriminação foram muito impactantes e só despoletou ainda mais a minha vontade de ter um papel ativo na sociedade. Para além disso, permitiu-me desenvolver a minha capacidade de comunicação o que hoje em dia se revela muito útil.” Colabora , ainda, com a HumanitAVE – Associação de Emergência Humanitária, que tem como objetivo contribuir para a erradicação de qualquer prática nefasta aos Direitos Humanos, nomeadamente a Mutilação Genital Feminina e os casamentos infantis, precoces e forçados. Agora, prepara-se para a sua primeira missão humanitária à Guiné Bissau. Procura “reconhecer e elogiar o trabalho de outras mulheres” com quem se cruza e defende “o apoio entre as mulheres por um futuro mais justo”. Ao invés de reprimir, acredita que se devem apoiar mutuamente. Considera que existe um longo caminho para a igualdade de oportunidades e “que é absolutamente necessário continuar a investir em iniciativas que apoiem e valorizem a participação das mulheres, tanto na Ciência como na Tecnologia, de forma a acabar com a discriminação e a promover um equilíbrio de género no ensino e nas carreiras”. Ciência e a Igualdade de Género são dois fatores preponderantes para cumprir a Agenda de

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“Para as meninas e mulheres que muitas vezes sentem dificuldade em escolher o curso que irão frequentar no Ensino Superior é importante que não se deixem influenciar por preconceitos que as impeçam de seguir certas áreas científicas e de tentarem a carreira que pretendem." 2030 para o Desenvolvimento Sustentável com sucesso. Para Joana, o futuro passa por garantir a igualdade de oportunidades e direitos, sendo para isso necessário reverter as desvantagens sociais e históricas das mulheres. A maior parte das oportunidades nas áreas científica e tecnológica encontram-se no litoral do país. Natural de Boticas, uma vila no interior do país, em Trás-os-Montes, está familiarizada com as “dificuldades das meninas e mulheres que vivem no interior do pais, a quem o acesso à educação pode ser dificultado devido às despesas que implica”. Viveu na primeira pessoa a necessidade de sair do local onde cresceu para prosseguir estudos e, mais tarde, iniciar a sua carreira profissional. Salienta, por isso, a importância de iniciativas como a do Município de Boticas, que entrega bolsas de estudos aos estudantes universitários do concelho – “um apoio que tem um grande impacto no orçamento das famílias e que permite aos jovens do Município prosseguir, tal como eu, os seus estudos e abrir os horizontes ampliando as suas oportunidades no mercado laboral”. Diz ainda que as meninas e mulheres que muitas vezes sentem dificuldade em escolher o curso que irão frequentar no Ensino Superior é importante que não se deixem influenciar por preconceitos que as impeçam de seguir certas áreas científicas e de tentarem a carreira que pretendem. Muitas vezes ouvem-se alguns comentários em tom de brincadeira ou piada, mas que têm por base um preconceito que eu própria cheguei a acreditar que era verdade e por isso é importante também a mudança do nosso próprio pensamento de forma a que ele não limite as nossas escolhas.


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Joana Afonso Fernandes, apresentação em Viena na Aústria

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GUERRA NA UCRÂNIA: PORTUGUESES LANÇAM WEHELPUKRAINE.ORG, UMA PLATAFORMA DE LIGAÇÃO ENTRE QUEM QUER AJUDAR E QUEM PRECISA DE AJUDA EM 48 HORAS

A plataforma wehelpukraine.org foi lançada 2 dias após o início dos conflitos, com a ajuda de programadores e empresas de tecnologia portuguesas com o intuito de ajudar os ucranianos que continuam no país a lutar contra a invasão russa ou que estão a fugir do país. Este projeto pretende funcionar como uma ferramenta tecnológica agregadora e ser o "ponto de encontro de quem precisa de ajuda e de quem quer disponibilizar alojamento, medicamentos e ofertas de trabalho" para as vítimas da guerra na Ucrânia. Esta plataforma faz a ligação entre quem precisa de ajuda e quem quer ajudar (independentemente de se tratarem de empresas, organizações, associações ou pessoas individuais). Esta ajuda será gerida a partir da plataforma portuguesa, mas o seu impacto é global, tendo até a data registado mais de 6000 ofertas de ajuda em diferentes países no mundo. Até ao início desta semana a plataforma já registou mais de 450 pedidos de camas, e espera-se que este número cresça cada vez mais, ajudando mais famílias ucranianas. Nesta plataforma, a população ucraniana que necessite poderá registar-se para encontrar alojamento, apoio financeiro, jurídico e psicológico, logística de transportes, aulas de língua local e até ofertas de emprego. Além desta vertente de contacto via plataforma, está também disponível assistência para atendimento por telefone em português, ucraniano e inglês, e-mail, mensagens instantâneas e videoconferência. Os contactos para os quais se pode ligar estão disponíveis na plataforma, que tem tradução em 4 línguas: ucraniano, inglês, português e russo. O projeto arrancou no sábado e já tem mais de duas centenas voluntários e organizações a desenvolver e gerir a plataforma: desde programadores, designers, especialistas em marketing, tradutores, entre outros profissionais, todos com o objetivo comum de levar ajuda de forma mais eficiente a quem dela precisa. O povo português desdobrou-se em vários

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projetos solidários nas últimas semanas, em iniciativas como o apoio gratuito dado pela Ordem dos Notários a nível de documentos de viagem, a ajuda disponibilizada por vários psicólogos e advogados. O objetivo da wehelpukraine.org também é incluir e centralizar várias iniciativas solidárias de diversas organizações de forma a agregar valor a estas através da facilitação de informação e contactos que liguem com as suas necessidades, para acelerar a resposta no terreno. O Presidente da República congratulou o projeto e o esforço solidário dos portugueses que já se juntaram ao #wehelpUkraine. “Os portugueses são assim, sensibilizam-se por uma causa. Mobilizam esforços, competências e vontades e lançam imediatamente um projeto solidário que é nacional e global” – disse o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, apoiando desde o início esta plataforma. A iniciativa arrancou com um desafio de Hugo de Sousa, no Linkedin “Vamos construir uma plataforma online para hospedar famílias ucranianas. (…) Quem alinha?." Disponibilizou-se para trabalhar 48h sem parar para lançar a iniciativa e convidou quem quisesse a juntar-se a ele. Assim nasceu a Taskforce que colocou a plataforma de pé em tempo recorde, nesta que é uma resposta do mundo livre às atrocidades de uma guerra sem sentido nem razão e também uma afirmação civilizacional. Além do esforço dos voluntários, também empresas como a OutSystems, a Talkdesk e a Teleperformance se juntaram ao movimento. Em 24 horas, o wehelpukraine.org mobilizou mais de 100 pessoas na criação da plataforma on-line que une a oferta solidária às necessidades do povo ucraniano. Juntam-se agora também municípios como a Câmara Municipal da Guarda e a Câmara Municipal do Barreiro à nossa plataforma, havendo uma sinergia concreta de partilha de dados sobre os números de pedidos de ajuda em tempo real pela plataforma, para que todas as estruturas se consigam organizar e ajudar da forma mais efe-


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"Os portugueses são assim, sensibilizam-se por uma causa. Mobilizam esforços, competências e vontades e lançam imediatamente um projeto solidário que é nacional e global” tiva possível todas as pessoas vindas da Ucrânia. “Não podemos ficar confortavelmente nas nossas casas, a atualizar a nossa fotografia do Facebook com uma bandeira da Ucrânia, enquanto há pessoas a morrer. Acolherei com alegria uma família ucraniana na minha terra natal, Portugal." Hugo de Sousa, refere não ter ligações afetivas à Ucrânia, mas a empatia fê-lo acreditar que com os seus conhecimentos em Inovação e tecnologia, uma rede de contactos interessante teria capacidades para unir esforços de forma a criar impacto. Num momento de crise como aquele em que vive a população na Ucrânia, a plataforma WEHELPUKRAINE visa ser o ponto de encontro de plataformas, organizações de resposta em terreno, de pessoas que querem ajudar individualmente ou de empresas, garantindo uma centralização de ofertas de ajuda que permitirá cruzar estes dados com todos os pedidos de ajuda e assim fazer a ligação de forma rápida e segura.

Mulheres na equipa do WHU

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