#35 ABRIL 2021
A EDUCAÇÃO COMO CATALISADOR PARA A INTEGRAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO Susana Damasceno, Presidente da Direção AIDGLOBAL
DO ALTO DOS CÉUS PARA A DIREÇÃO DA LOGO
Liderança no Feminino é uma publicação da responsabilidade editorial e comercial de Sandra Arouca | Periodicidade mensal | Venda por assinatura 8€
Ângela Veras, Diretora na LOGO - Direct Brand Insurance Business
UMA DEDICAÇÃO APAIXONADA AO PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS Sónia Almeida, Administradora Delegada do Parque Nacional da Peneda-Gerês
AS ORGANIZAÇÕES SÃO, ANTES DE TUDO, FEITAS POR PESSOAS Sofia Miranda, Diretora Corporativa de Recursos Humanos do Grupo Casais
COMUNICAR E MUDAR DE VIDA POR CONVICÇÃO
CECÍLIA CARMO
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ÍNDICE 4 | Editorial 6 | "Comunicar e mudar de vida por convicção." Cecília Carmo, Jornalista RTP, Produtora Editorial Canal11 e Diretora do Farol do Monte 11 | “Do alto dos céus para a direção da LOGO em tempo de pandemia" Ângela Veras, Diretora na LOGO - Direct Brand Insurance Business 16 | Sónia Almeida: Uma dedicação apaixonada ao Parque Nacional da Peneda-Gerês Administradora Delegada do Parque Nacional da Peneda-Gerês 22 | Gabriela Teodoro Portela: Como construir sonhos e memórias felizes para as crianças Gabriela Teodoro Portela, Diretora da Aldeia dos Sonhos 28 | A educação como catalisador para a integração e o desenvolvimento Susana Damasceno, Presidente da Direção - AIDGLOBAL 34 | Sílvia Costa: “A liderança deve ser ética, genuína e responsável” Sílvia Costa, Formadora, Consultora, Blogger e Escritora
FICHA TÉCNICA Direção e Edição: Sandra Arouca Jornalistas: Ana Moutinho, Ana Duarte e Cristiana Rodrigues Copy Desk: Eurico Dias Web Developer: Ana Catarina Gomes Design e Paginação: WLX-design Marketing e Gestão de Redes Sociais: Catarina Fernandes Contactos: geral@liderancanofeminino.org redacao@liderancanofeminino.org Registada na ERC com o n.º 126978 Propriedade de Sandra Arouca Sede e Redação - R. Nova da Junqueira, 145 4405-768 V.N.Gaia
38 | Cristina Pita: o Futuro do turismo entre a hospitalidade e os dados analíticos Cristina Pita, Chief Commercial Officer da Clever Hospitality Analytics 42 | O direito ao Ambiente é um Direito Humano – e o direito a um clima estável um direito inalienável da Humanidade! Marta Leandro, QUERCUS 48 | Uma mulher ao “leme” entre as águas calmas e o Oceano Sandra Silva, Diretora dos Serviços de Programação da Direção-Geral de Política do Mar 52 | "As organizações são, antes de tudo, feitas por pessoas” Sofia Miranda, Diretora Corporativa de Recursos Humanos do Grupo Casais
Periodicidade mensal Liderança no Feminino® tem o compromisso de assegurar os princípios deontológicos e ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa fé dos leitores. O conteúdo editorial da Revista Liderança no Feminino é totalmente escrito segundo o novo Acordo Ortográfico. Todos os artigos são da responsabilidade dos seus autores e não expressam necessariamente a opinião da editora. Reservados todos os direitos, proibida a reprodução total ou parcial de todos os artigos, sem prévia autorização da editora. Quaisquer erros ou omissões nos artigos, não são da responsabilidade da editora.
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LIDERANÇA NO FEMININO | Especial Dia Internacional da Mulher
| ABRIL 2021
EDITORIAL Na edição de abril, a revista Liderança no Feminino dá a conhecer as histórias da vida de mulheres empreendedoras que criaram os seus próprios negócios e seguiram os seus sonhos, as quais sentiram que estava na hora para um novo desafio. Assumir o próprio negócio é uma forma de empoderamento e ascensão a cargos de liderança. Mudar de cidade, alterar um foco profissional e reinventar-se em prol da família ou de um desejo são algumas das mudanças que muitas mulheres fazem ao longo da vida, sempre em busca das suas aspirações e ensejos particulares. Uma vida profissional bem-sucedida, ao contrário do que supunham as gerações passadas, passou a fazer parte do imaginário feminino atual. Ao invés de buscar um simples emprego, hoje as mulheres desafiam-se e optam por um novo viés aos planos de carreira. Deste modo, estamos no bom caminho no que concerne à equidade
entre homens e mulheres, dado que, além da celebrada diversidade de géneros, verificamos uma quebra progressiva dos velhos paradigmas e uma renovação desejável no mundo dos negócios. Nesta edição da revista Liderança no Feminino vamos conhecer as histórias pessoais da Cecília Carmo, da Ângela Veras, da Gabriela Portela, da Sónia Almeida, da Marta Leandro, da Sílvia Costa, da Cristina Pita, da Sandra Silva, da Susana Damasceno e da Sofia Miranda, verdadeiros testemunhos e exemplos de vida! As suas motivações são altamente distintas, mas, em muitos casos, colocaram em prática projetos que ‘estavam na gaveta’, na esperança que sejam negócios com futuro. Apesar de tudo, somos profissionais, mães, esposas e nós próprias: MULHERES! Boas leituras!
Sandra Arouca
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CECÍLIA CARMO
COMUNICAR E MUDAR DE VIDA POR CONVICÇÃO
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©Pedro Ferreira e Paulo Martins
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O percurso de vida da Cecília Carmo tem sido repleto de convicções nas pessoas, projetos e oportunidades, estando perfeitamente convicta de que assim continuará a suceder. É necessário acreditar no que surge pela frente para nos lançarmos de cabeça. Quando tal acontece, move montanhas para cumprir os objetivos que definiu com os que estão consigo e, felizmente, afirma que tudo tem corrido pelo melhor. Aos 56 anos, é categórica ao afirmar que é uma mulher realizada e de bem com a vida, orgulhosa de ter tomado as opções certas nos devidos momentos. O nome de Cecília Carmo está intimamente ligado ao jornalismo desportivo e ao trabalho na RTP, onde colaborou durante quase 30 anos, desde que entrou para a secção de Desporto em 1987. Foi simultaneamente repórter, apresentadora, coordenadora de programas e enviada especial a quatro Jogos Olímpicos, entre os quais Barcelona 1992, Atlanta 1996, Sydney 2000 e Atenas 2004. Após os Jogos Olímpicos na Grécia, transitou para a informação geral da RTP, onde continuou a aproveitar as oportunidades que lhe foram concedidas. Conheceu imensas pessoas, trabalhou em áreas para as quais não estava vocacionada, mas consegui lograr nos seus intentos. Embrenhou-se nos temas económicos e políticos, tendo ficando mais atenta à nossa cultura e aos problemas sociais, ainda que continuasse a acompanhar o fenómeno desportivo. Tendo alcançado as funções de editora executiva e subdiretora de informação na estação pública de televisão, para surpresa de muitos, mas não inteiramente sua, resolveu sair da RTP em 2016. Com novos projetos em vista e uma carreira extremamente profícua, pode orgulhar-se de ter desempenhado todas as tarefas que um jornalista pode ambicionar em televisão. Cimentou a sua carreira com muita dedicação e enfoque nos princípios fundamentais do jornalismo: “Se errei? Claro que sim! Mas à data, o balanço era tão positivo e estava tão em paz comigo mesma que decidi sair. Era a altura de convictamente tomar uma decisão, como outras que já havia tomado muitos anos atrás”, confessa-nos. A EDUCAÇÃO FÍSICA E A EDUCAÇÃO MUSICAL Com apenas 15 anos, Cecília Carmo fez a primeira grande opção em relação ao seu futuro, dado que pretendia ser professora de Educação Física desde criança. Praticava ginástica rítmica desde muito cedo e não se revia noutra área que não fosse a desportiva. Mas como não gostava de Matemática e seguir uma área de estudo para a qual não estava minimamente confortável: “Continuar a ter Matemática era para mim um pesadelo, por isso decidi convictamente por onde iria. Tenho de confessar que quando entrei na Faculdade tive, logo no 1.º ano, a disciplina de Matemática Aplicada às Ciên-
"A aprendizagem, primeiro, e o ensino da música, depois, disciplinou-me. Tornou-me naturalmente mais organizada e obrigoume a fazer novas escolhas: seguir a carreira musical poderia ter sido uma opção, mas entendi que não era, infelizmente, uma carreira que me pudesse dar um futuro com alguma estabilidade. Foquei-me num futuro que passava pelo jornalismo e na entrada para a Universidade, onde voltei a ser bolseira.
cias Sociais. Foi a oportunidade de me reconciliar com a disciplina e não me saí nada mal. Mas voltemos aos 15 anos. Estava no 9.º ano e despertei para o mundo fascinante da Comunicação, muito por culpa da minha professora de Português. Foi nessa altura que decidi que seria jornalista.” Começou a trabalhar e, tendo concluído o curso de flauta de bisel na Academia de Amadores de Música, em Lisboa (conquistou uma bolsa por mérito porque a família não tinha possibilidades de custear tal curso), iniciou a sua curta carreira de professora de Flauta e Educação Musical em colégios no concelho de Sintra, a par com os estudos na Escola Secundária da Amadora, não esquecendo a prática da ginástica, obviamente: “A aprendizagem, primeiro, e o ensino da música, depois, disciplinou-me. Tornou-me naturalmente mais organizada e obrigou-me a fazer novas escolhas: seguir a carreira musical poderia ter sido uma opção, mas entendi que não era, infelizmente, uma carreira que me pudesse dar um futuro com alguma estabilidade. Foquei-me num futuro que passava pelo jornalismo e na entrada para a Universidade, onde voltei a ser bolseira.” No segundo ano da Faculdade começou a cola-
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“Paralelamente foi crescendo a minha nova paixão: a agricultura. O projeto nasceu de um sonho do meu marido: ter um monte no Alentejo e plantar uma vinha. O Monte das Bagas de Ouro começou a transformar-se aos poucos e atualmente é também a nossa segunda casa. Nunca pensei que o trabalho na agricultura me fascinasse tanto e nos absorvesse tantas horas por dia."
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borar no semanário Expresso, na área do Desporto, claro. Aí se manteve durante quatro anos, mas, em 1989 decidiu ficar unicamente na RTP. Convictamente, e uma vez mais, decidiu que o trabalho que muito a absorvia teria de ser equilibrado com a vida familiar, impreterivelmente. O NOVO MUNDO SEM O JORNALISMO Quando deixou a RTP fundou uma agência de comunicação, a Farol do Monte, mas tal projeto andou propositadamente devagar porque foi desafiada a lançar o canal vídeo do Comité Olímpico de Portugal (ainda em 2016), onde assumiria as funções de diretora de comunicação. Este cargo foi exigente e de enorme responsabilidade, pelo que decidiu então cursar uma pós-graduação em Direito do Desporto, uma área na qual julgava não deter as competências necessárias, mas que considera cruciais para tais funções. Em 2018, aceitou integrar um novo desafio: o lançamento do Canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol, no qual se orgulha de ter contribuído para “pôr no ar” as primeiras emissões, depois do desafio
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lançado por Nuno Santos, com quem houvera trabalhado na RTP. Paralelamente a todos estes desafios, foi nutrindo uma nova paixão: a agricultura. Este projeto nasceu de um sonho do seu marido, o qual desejava possuir um monte no Alentejo e plantar uma vinha: “Tudo teve início em 2014. O Monte das Bagas de Ouro começou a transformar-se aos poucos e atualmente é também a nossa segunda casa. A plantação, primeiro do olival e depois da vinha, assim como a criação de ovelhas, é uma realidade que requer diariamente a nossa atenção. Nunca pensei que o trabalho na agricultura me fascinasse tanto e nos absorvesse tantas horas por dia”, confessa-nos. O seu foco está atualmente centrado na produção e comercialização de vinho, bem como no crescimento da Adega do Montado, a empresa que criou com alguns dos seus parentes mais jovens: “Estou convicta de que vai continuar a correr bem, como tem corrido até agora. Todos damos muito ao projeto. Porque estou a aprender todos os dias e sinto que há áreas que ainda não domino de todo, decidi fazer uma pós-graduação em Wine Business. Aprendi, arrumei ideias e adquiri ferramentas para o trabalho que desenvolvo nos vinhos”, reitera. Sendo uma personalidade sobejamente conhecida no mundo jornalístico, o que planeia futuramente para esta área? “O jornalismo está bem arrumado na minha vida. A comunicação, essa, mantém-se bem presente. Na Adega do Montado passa por mim a gestão da comunicação da empresa. Mas, paralelamente, tenho uma carteira de clientes a quem presto assessoria e a quem faço a gestão de redes sociais. E dou formação em comunicação. O tempo não estica, mas bem gerido dá para fazer tudo. Convictamente, afirmo que entrar nos projetos com paixão, determinação e convicção é uma forma de garantirmos o sucesso. Não parar nem estagnar. Aprender sempre mais e termos a capacidade de nos adaptarmos a novas realidades é a chave para crescermos e sermos felizes.” “ESTOU CONVENCIDO DAS MINHAS PRÓPRIAS LIMITAÇÕES – E ESTA CONVICÇÃO É A MINHA FORÇA” Esta frase de Mahatma Gandhi tem acompanhado Cecília Carmo ao longo da sua vida: “Sei que cheguei onde cheguei com muito trabalho e dedicação. Não nasci a saber tudo nem tenho a pretensão de que sei mais do que os outros. Aprendemos todos os dias, mesmo com aqueles que pensamos que não têm nada para nos ensinar. Deram-me oportunidades e eu consegui agarrá-las para potenciar o meu percurso profissional e a minha carreira. E nunca tive medo de mudar. (…) Tenho três filhos dos quais me orgulho muito. Tenho uma família fantástica. Tenho uma carreira profissional que me deixa muito feliz. Que mais posso querer? Apenas continuar o meu caminho convictamente e sem verdades absolutas”, confessa-nos.
“Sei que cheguei onde cheguei com muito trabalho e dedicação. Não nasci a saber tudo nem tenho a pretensão de que sei mais do que os outros. Aprendemos todos os dias, mesmo com aqueles que pensamos que não têm nada para nos ensinar."
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ÂNGELA VERAS, DO ALTO DOS CÉUS PARA A DIREÇÃO DA LOGO EM TEMPO DE PANDEMIA Começou por versar Línguas e Literaturas Modernas, passou pela aviação enquanto assistente de bordo da TAP – “um mundo sedutor e com glamour” –, mas que lhe não preenchia o seu desejo de “fazer coisas” ou de se “entregar a algo”. Seguir-se-ia uma experiência no secretariado executivo financeiro, tendo desempenhado a função durante 14 anos, até chegar ao topo da carreira com apenas 3o de idade. Aventurou-se em novos voos, nomeadamente na área da gestão, onde venceu definitivamente o receio dos números. Esta é (parte) da história de Ângela Veras, diretora da LOGO desde março de 2020, no preciso momento em que a pandemia se alastrou pelo mundo e obrigou a reformular todos os esquemas e organizações empresariais.
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Na hora de escolher a área de formação académica superior, Ângela Veras apostou numa área pela qual sentia um particular gosto e facilidade em aprender: Línguas e Literaturas Modernas. A noção de que a comunicação e a dinâmica linguística podem aproximar os indivíduos atraiu-a, sendo que, mesmo depois dos estudos universitários, frequentados em regime laboral, continuou a cursar línguas. No entanto, no seu horizonte, não se vislumbravam muitas saídas profissionais, pelo que a vontade em sair da sua ‘zona de conforto’ levaram-na a “querer saber mais e conhecer outras experiências. (…) O facto de ter tido sempre oportunidades de desafios e crescimento disponíveis foram-me sempre levando de um interesse a outro. E o facto de nunca parar de ter formação faz-nos descobrir novos gostos”, confidencia-nos. Iniciou o seu percurso profissional como assistente de bordo da TAP, o qual se revelou uma “vivência muito interessante”, principalmente quando se tem 18 anos, mas Ângela Veras garante-nos, não obstante, que “não tinha perfil”. Segundo refere adiante: “Gosto de fazer coisas novas, diferentes. (A aviação) É um mundo sedutor e com glamour, mas sentia necessidade de ‘fazer coisas, de se ‘entregar a algo”. Entretanto, encontrou no secretariado executivo financeiro, já que ambicionava “uma rotina mais assente em terra” – literalmente –, por não suportar “fazer uma mala de viagem todas as semanas”. Atingiu a meta que delineou para si mesma e desempenhou a mesma função durante 14 anos, atingindo o topo da carreira aos 30 anos. Nesse momento, constatou que não se sentia realizada: “Apenas produzia para os outros, eu não via ‘obra’, realização, de atos meus.” Seria então aí que, gradualmente, transitaria para o mundo da gestão: “Na realidade foi um grande desafio, o medo dos números foi uma grande meta a ser ultrapassada”, relembra. De facto, os números são uma constante na carreira de Ângela Veras, principalmente nesta fase. A primeira campanha comercial que geriu pessoalmente foi uma pequena iniciativa de telemarketing que decorria das 18H00 às 22H00; de seguida, embrenhou-se no mundo online, onde se
incluem inúmeras ferramentas e competências inovadoras, sempre em constante reformulação: “Tudo a pensar em como reage o consumidor, se se torna cliente e, de seguida, como o manter com a marca.” Seguiu-se a primeira gestão de campanhas digitais segmentada em pequenos nichos de mercado, a qual envolveu “um orçamento de 16.000 euros, a seguinte foi de 160.000 euros e por aí fora, até chegar ao grande investimento em campanhas de televisão, rádio, entre outras.” Posteriormente, assumiria a responsabilidade de campanhas massivas, com “trabalho coordenado de gestão entre as agências de performance de marketing digital, as agências de media e de comunicação, as agências de conteúdo e de criatividade.” Neste universo, indica que existe “todo um mundo a gerir, a orientar e de ensinamentos a receber (…) fundamentais para que consigamos desenvolver um bom trabalho e atingir os resultados.” Neste intenso percurso profissional, Ângela Veras desempenhou e acumulou, simultaneamente, funções para duas marcas, o que considera “uma grande mais-valia. (…) Implementar um know how do modelo de negócio de forma totalmente distinta, quer pela marca e as suas especificidades, como pela maturidade e mindset das pessoas.”
“O facto de ter tido sempre oportunidades de desafios e crescimento disponíveis, foram-me sempre levando de um interesse a outro. E o facto de nunca parar de ter formação faz-nos descobrir novos gostos” 13
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Numa breve análise das características e atributos que a distinguem enquanto profissional, a atual diretora da LOGO confessa a sua “resiliência, a vontade de fazer acontecer, o desenvolvimento do negócio, das equipas, da organização, um elevado nível de motivação, o estabelecimento de objetivos muito concretos e o envolvimento de cada um individualmente, a sua responsabilização.” Da mesma forma, defende categoricamente “a assertividade e a eficiência na gestão dos temas, sempre com o enfoque em encontrar soluções, a partilha contínua de melhores práticas e o feedback positivo, com reconhecimento e meritocracia devidos.” No sentido oposto e enquanto diretora e líder de equipas, Ângela Veras salienta que permanece o mesmo “desejo de fazer acontecer, de produzir de forma eficiente, a entrega, a capacidade de dar o extra mile e a cooperação são os atributos que mais valoriza nos profissionais com quem trabalha, aos que acrescem a “aceitação dos desafios e a capacidade de saírem da sua ‘zona de conforto’.” Em 2019, Ângela Veras completou dez anos na LOGO, a empresa onde exerceu diversos cargos, evocando uma “viagem de desenvolvimento pessoal e profissional, um crescimento de função em função, já que em cada uma há aprendizagem própria e quando essa função estava a atingir a ‘velocidade de cruzeiro’, veio a próxima. (…) Cada uma interligou-se na seguinte, permitindo-me ter o know how transversal da empresa e da marca que me levou à posição atual.” Segundo outro prisma, cada nova função exigiria formações sólidas nas respetivas áreas, entre as quais o marketing digital, a negociação, a liderança, a gestão de projetos e o desenvolvimento pessoal. No caso específico do marketing (sobretudo, na componente digital), Ângela Veras considera-o “fundamental” para todas as marcas, inclusive para aquelas cuja “marca é una com o produto”, tal como a LOGO: “O ponto inicial de qualquer marca é o seu produto e/ou serviço e sem marketing é impossível darmo-nos a conhecer. O alinhamento estratégico entre a marca (e o produto), o marketing e o digital tornam-se essenciais para a concretização dos objetivos e obter uma marca e um negócio vencedor. A identidade de marca, o tom de comunicação, a experiência dada ao consumidor (e comentada pelo mesmo), a promessa do que dizemos que vamos entregar é fundamental.” Tudo deve ser executado de modo “genuíno”, de modo a satisfazer os clientes e os vários stakeholders. Esta vertente da comunicação assumiu especial importância a partir de março de 2020, aquando o início da pandemia, coincidindo a tomada de posse de Ângela Veras como diretora da LOGO. O facto de tratar-se de uma “marca de narrativa digital” tornou o “desafio menor”, mas foi necessário “desenvolver mais rápido os projetos de digital que já estavam pensados. (…) Contamos com o apoio de todas as equipas que nos rodeiam, sem a grande disponibilidade e resiliência das equipas e da organização não teria sido possível.” Contudo, o maior desafio
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“Temos de conseguir motivar, liderar e garantir o alinhamento e prossecução dos objetivos com o bemestar de todos. Pressentir as dificuldades de cada um e encontrar forma de ajudar a resolver ou pelo menos contornar, sem ser intrusivo.” Por conseguinte, “reinventar” tornouse, portanto, a palavra de ordem, dado que as dinâmicas das reuniões, as happy hours, as apresentações e-learning, as partilhas de experiências, os workshops e os brainstormings foram profundamente alterados, como se sabe.
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seria garantir “a gestão das pessoas à distância. (…) Temos de conseguir motivar, liderar e garantir o alinhamento e prossecução dos objetivos com o bem-estar de todos. Pressentir as dificuldades de cada um e encontrar forma de ajudar a resolver ou pelo menos contornar, sem ser intrusivo.” Por conseguinte, “reinventar” tornou-se, portanto, a palavra de ordem, dado que as dinâmicas das reuniões, as happy hours, as apresentações e-learning, as partilhas de experiências, os workshops e os brainstormings foram profundamente alterados, como se sabe. Um ano volvido desde então, Ângela Veras enfrenta outro desafio contínuo enquanto mulher num lugar de liderança, o que implica “termos de nos
esforçar muito para chegarmos onde pretendemos.” Apesar de existirem situações em que o género é uma questão positiva, nomeadamente “quando as características femininas ajudam a lidar melhor com as experiências, com os feelings e as pessoas”, mas a realidade quotidiana ainda pertence a um “mundo profissional masculino, acima de tudo pelo histórico e pela área financeira” onde a LOGO se posiciona. Apelando permanentemente à mudança, a organização na qual a LOGO se inclui tem realizado “muitos recrutamentos femininos, quer em estágios como em lugares de topo e a equidade de género encontra-se nos temas que a organização endereça. (…) Sendo sinais muito positivos para que o facto de ser mulher no mundo profissional seja um orgulho.”
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SÓNIA ALMEIDA
UMA DEDICAÇÃO APAIXONADA AO PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS Sendo administradora delegada da ADERE-Peneda-Gerês há cerca de 10 anos, Sónia Almeida começou aqui as suas funções como técnica e prosseguiu até alcançar um cargo de chefia. Durante mais de 20 anos de carreira trabalhou sempre em prol da conservação do Parque Nacional e das pessoas residentes nos vários concelhos abrangidos pelo mesmo Parque.
Com apenas dois anos, já caminhava pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), então acompanhada pelo seu pai. Desde sempre foi fascinada pelos programas televisivos relacionados com o ambiente, tal como as expedições de Jacques-Yves Cousteau e as reportagens de David Attenborough: “Imaginava-me a fazer o que eles faziam”, recorda com saudade. Licenciou-se em Engenharia Florestal e escolheu o Parque como primeira opção para o seu estágio no curso de Gestão de Formação. Começaria, então, como técnica na ADERE-Peneda-Gerês (PG) e chegou a administradora delegada, onde permanece há 10 anos. A ADERE-PG é, portanto, uma organização privada sem fins lucrativos e possui atividades nos cinco concelhos circunscritos pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, integrando igualmente a Comissão de Cogestão do Parque Nacional. Ao longo dos mais de 20 anos de trabalho afincado, a sua ligação com o Parque fortaleceu-se progressivamente: “Comecei a olhar para o Parque Nacional com outros olhos que não os de quem vem passar umas férias”, conforme nos explica. Esta paixão estende-se além da floresta e da natureza, sendo também um gosto pelo mundo rural e as pessoas naturais desta zona: “Estar em contacto com as pessoas que aqui residem, conhecer os seus problemas, poder contribuir para a resolução de alguns, sentir as dificuldades de quem reside no Parque. Tudo isto nos faz sentir parte do Parque.” O PNPG foi a primeira área protegida criada em Portugal, sendo o único com o estatuto de «Parque Nacional», reconhecido internacionalmente com tal classificação e, naturalmente, em cerca de meio século muitas foram as transformações: “No início não se olhava para o Parque Nacional como um produto turístico, pois ainda hoje há quem não goste de o ver como tal, com receio do mal que possa advir pelo facto de tanta gente querer visitar esta área prote-
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gida.” Contudo, em boa verdade, o nosso Parque Nacional é cada vez mais procurado por amantes da natureza, tanto portugueses como estrangeiros. Ao longo do tempo foram surgindo ofertas e novas organizações de serviços, tais como alojamentos turísticos, restaurantes e hotéis, os quais, até então, não existiam, não descurando as melhorias nas condições de acessibilidade. Como consequência da pandemia e demais restrições às viagens, muitos turistas optaram por procurar atividades ao ar livre e em espaços verdes, pelo que Sónia Almeida, enquanto administradora delegada, assegura que os empresários turísticos da região estarão preparados e “de portas abertas” para receber todos os turistas com segurança. Uma associação de desenvolvimento não está autorizada, por lei, a promover pacotes ou serviços turísticos, mas, não obstante, a ADERE-PG “vende” o território do PNPG há muitos anos. Ou seja, por outras palavras, a organização sugere várias propostas de visitas e atividades, mas tem de reencaminhar os turistas para cada um desses serviços externos. Para colmatar essa lacuna, há cinco anos foi encetado um concurso de ideias pela Associação Empresarial de Portugal. Entre vários candidatos e propostas, foram selecionados alguns planos de negócios, entre os quais a Go2Nature, uma agência turística especializada em Turismo da Natureza, a operar no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e da qual Sónia Almeida é o respetivo CEO. Ao colaborar intimamente com as empresas desta área protegida, um dos objetivos paralelos da ADERE-PG, esta parceria ambiciona aumentar o rendimento das empresas envolventes. CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E EDUCACIONAL PARA A PRESERVAÇÃO ECOLÓGICA O nosso país possui 13 parques naturais, todos classificados pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e, no que se refere à consciencialização para a sustentabilidade e a preservação da natureza, Sónia Almeida está em crer que Portugal evoluiu bastante nos últimos anos, mas ainda existe um longo caminho a percorrer. É necessário uma cooperação e uma formação mais articulada entre o Estado, os municípios, as escolas e os tecidos empresariais, de modo a que exista uma participação global nos mesmos propósitos. Por outro lado, a ADERE-PG tem contribuído para a defesa da natureza no universo escolar. Em 2018 elaborou o projeto «Gnómon – Escolas na Biosfera», o qual foi dirigido aos alunos dos cinco municípios do PNPG, “para lhes dar a conhecer um bocadinho mais do único Parque Nacional do país e da área onde eles residem: a Reserva da Biosfera Gerês-Xurés.” De modo a ser mais interativo, todos os materiais produzidos – vídeos, documentários, manuais e bandas desenhadas –, foram criados exclusivamente pelos alunos.
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O PNPG foi a primeira área protegida criada em Portugal, sendo o único com o estatuto de «Parque Nacional». Nesse sentido, surgiram ofertas e novas organizações de serviços, tais como alojamentos turísticos, restaurantes e hotéis, os quais, até então, não existiam, não descurando as melhorias nas condições de acessibilidade.
Consequentemente, o feedback foi tão positivo que outros municípios e escolas pediram informações detalhadas sobre este projeto, com vista à sua replicação, pelo que a ADERE decidiu alargar os seus próprios horizontes. Um pouco mais adiante, está a ser divulgado o «Eco-Passaporte», um novo projeto destinado a trazer os jovens da área metropolitana do Porto até ao Parque Nacional, convidando-os a participarem em atividades ambientais e culturais. Infelizmente, a situação atual da pandemia alterou estas previsões, mas mantêm-se tais desideratos tanto para as crianças como os próprios pais. Apesar dos contratempos provocados pelas condições sanitárias vigentes, as quais obrigaram ao cancelamento de formações e o adiamento de vários programas, os objetivos da ADERE-PG mantêm-se. De momento, a aposta tem sido na «GR50 – Grande Rota do Parque Nacional», a qual que permite percorrer o parque por trilhos pedestres. Para ajudar a percorrer as etapas da GR50 existe uma app com informações úteis, salientando os pontos de interesse e locais para comer ou pernoitar, por exemplo.
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LIDERANÇA NO FEMININO | Setembro de 2020
COMPETÊNCIA E CONFIANÇA PARA LIDERAR Enquanto pessoa e profissional, a vida de Sónia Almeida foi influenciada pelo seu trabalho, o qual tenta desempenhar da melhor forma possível. Quando foi nomeada para gerir uma equipa decidiu investir em formação na área comportamental e gestão de pessoas – possui uma certificação de coaching e gestão de equipas, assim como uma pós-graduação em gestão de projetos em parceria. Toda esta aprendizagem ajudou-a a nível profissional, mas também noutros níveis, pois enquanto mãe de 3 filhos, teve de aprender a conciliar a sua carreira profissional com a vida familiar. Mas, atendendo à paixão pela sua função e aos princípios pelos quais se rege – respeitar a natureza, as pessoas e principalmente o tempo de cada um –, “na natureza não podemos (não devemos) apressar as coisas, tudo tem um momento para acontecer, um tempo certo.”
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Quando foi nomeada para gerir uma equipa decidiu investir em formação na área comportamental e gestão de pessoas – possui uma certificação de coaching e gestão de equipas, assim como uma pós-graduação em gestão de projetos em parceria.
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Quando se referem os cargos de chefia, estes permanecem amiúde associados ao sexo masculino. Sónia Almeida acredita que os estereótipos associados ao estilo de liderança feminina e masculina são frutos da prevalência dos homens durante longo tempo nesses cargos: “Quando uma mulher ocupava o cargo tinha de o fazer de forma em que não corresse o risco de falhar, sob pena de se associar o falhanço ao facto de ser mulher. Daí a maior cautela e ponderação. Hoje em dia, as diferenças estão mais esbatidas e penso que cada vez mais se avalia uma mulher num cargo de liderança pela sua competência, independentemente do estilo com que lidera”, explica-nos. Nos primeiros anos enquanto administradora delegada, apesar de tudo, confessa ter sentido um tratamento diferente. Talvez por ser mulher, mas também pela sua inexperiência e insegurança iniciais. O conselho de administração é composto por cinco presidentes da câmara e “por vezes, não é fácil tomar decisões que possam ‘contrariar’ as decisões políticas. (…) Com o passar dos anos, essa diferença foi-se esbatendo e hoje sinto-me muito bem ao apresentar o meu ponto de vista, a debater ideias. E gosto quando percebo que contribui para que um determinado projeto comum fosse para a frente”, confesso, com um merecido sentido de orgulho.
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GABRIELA TEODORO PORTELA
COMO CONSTRUIR SONHOS E MEMÓRIAS FELIZES PARA AS CRIANÇAS A sua vida profissional desenrolou-se em várias áreas, mas descobriu a sua vocação na educação infantil, tendo fundado «A Aldeia dos Sonhos», um projeto já com 12 anos e uma equipa composta apenas por mulheres, a qual pretende educar as crianças como se fossem os seus próprios filhos.
Os primeiros anos de vida são extremamente importantes no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Por se tratar de um período de maior plasticidade, estão extremamente suscetíveis a influências externas, quer sejam experiências positivas e/ou negativas, as quais terão um forte impacto no seu desenvolvimento global. Nesse sentido, a creche ou o infantário que frequentam, assim como a forma como são tratados ou as temáticas com as quais contactam irão, inevitavelmente, afetar e moldar o seu desenvolvimento e personalidade. Tendo em mente a melhor educação para os seus próprios filhos, Gabriela Teodoro Portela fundou, em 2008, a «Aldeia dos Sonhos», englobando uma creche e um jardim de infância. O seu objetivo foi criar uma creche que fosse a “extensão da família, onde as crianças se sentissem em casa e onde os pais pudessem deixar os seus filhos com tranquilidade e segurança”, como nos refere. Tal como o nome indica, ambicionam construir sonhos e memórias felizes nas crianças. A sua vida profissional não esteve, de todo, relacionada com as áreas educativas. Quando terminou o ensino secundário, viu-se obrigada a entrar no
Gabriela Teodoro Portela, Diretora Geral
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mercado de trabalho e, com apenas 18 anos, trabalhou no Sporting Clube de Portugal, onde foi recebida com muito carinho, ainda que fosse completamente inexperiente: “Estava numa idade em que absorvia tudo quanto me era ensinado e, por isso, trabalhar no Sporting Clube de Portugal foi, talvez, a experiência profissional que mais me marcou”, recorda, com saudade, tendo desempenhado funções em vários departamentos ao serviço do clube, entre as quais a publicidade, a contabilidade e a direção desportiva. Trabalhou ainda no departamento de relações públicas do Automóvel Clube de Portugal durante vários anos, acumulando experiências que lhe permitiram afirmar-se como uma pessoa mais versátil e melhor profissional. Gabriela Teodoro Portela sempre alimentou o desejo de criar um negócio próprio, mas não conseguia decidir em que área apostar. Foi então que descobriu a sua vocação numa IPSS vocacionada para a educação infantil. Assim, mesmo trabalhando na parte administrativa dessa instituição, conseguiu
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“Estava numa idade em que absorvia tudo quanto me era ensinado e, por isso, trabalhar no Sporting Clube de Portugal foi, talvez, a experiência profissional que mais me marcou”
Equipa da Aldeia dos Sonhos
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Recreio
vivenciar as dinâmicas educativas infantis, as quais lhe despertaram o maior interesse. Durante o tempo que trabalhou nesta IPSS adquiriu um conhecimento profundo da parte burocrática e administrativa do seu funcionamento. A nível pedagógico, encetou várias formações, socorreu-se de bibliografia dedicada à pedagogia infantil, ainda que sem o objetivo de participar na direção pedagógica, mas porque considera essencial que um líder detenha noções básicas sobre todos os assuntos, não descurando a sua formação pessoal direcionada para a liderança de equipas. Crente de que a formação é essencial, todavia, para Gabriela Teodoro Portela, a teoria e a prática são inteiramente diferentes: “O segredo de qualquer negócio é cercar-se de pessoas que gostam do que fazem, que trabalham com o coração, principalmente nesta área. Ter uma equipa estável, é meio caminho andado para o sucesso.” Neste caso, a sua equipa é composta por 11 mulheres, a qual assume não ter sido uma exigência, dado que 99% das candidaturas no processo de recrutamento foram assinadas por mulheres. Simultaneamente, mais de metade da equipa são mães, o que reforça a visão que Gabriela Teodoro Portela aspira para a «Aldeia dos Sonhos», onde os alunos são tratados como se fossem os seus próprios filhos: “São idades muito tenras, onde devem predominar os afetos e a sensibilidade para educar cada criança na sua individualidade. Penso que, nesse aspeto, as mulheres, com o chamado ‘sexto sentido’ estão mais despertas.” Não obstante, existem, no entanto, atividades extracurriculares lecionadas por homens, tais como o judo e a natação, por exemplo. A «Aldeia dos Sonhos» começou por ser apenas uma creche, mas, após alguns anos e a pedido dos pais, os quais desejavam que os filhos aí permane-
cessem até à transição para o 1.º ciclo de escolaridade, alargaram a oferta educativa para albergarem um jardim de infância. De momento, a «Aldeia dos Sonhos» possui capacidade de acolher 53 crianças, mas, segundo a sua mentora, não é suficiente para responder a todos os pedidos de entrada. Ao longo de 12 anos, a «Aldeia dos Sonhos» foi-se adaptando às necessidades pedagógicas e outras exigências funcionais, sendo que os métodos de disciplina parental transformaram-se em virtude, in-
“O segredo de qualquer negócio é cercar-se de pessoas que gostam do que fazem, que trabalham com o coração, principalmente nesta área. Ter uma equipa estável, é meio caminho andado para o sucesso.”
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clusive, do desenvolvimento tecnológico: “As novas tecnologias vieram causar um grande impacto no desenvolvimento infantil (…). O facto dos pais, fruto da sua atividade laboral, manipularem constantemente telemóveis/tablets faz com que se crie na criança um interesse e curiosidade nestes objetos. Se é verdade que alguns conteúdos podem ser estimulantes a nível cognitivo, como em tudo, quando há excessos acaba por ser prejudicial.” Para Gabriela Teodoro Portela, esta nova dinâmica interativa das crianças com as tecnologias é fruto da sociedade atual, onde os pais levam trabalho para casa e não possuem tanto tempo útil com os seus filhos, sendo muito mais fácil entretê-las com ecrãs. Para estabelecer uma relação saudável entre as crianças e as novas tecnologias é fundamental, então, estabelecer regras muito simples: “Devemos educar com amor, mas também com limites e respeito pelo adulto e pelos pares. O amor é uma linguagem universal que deve ser sempre utilizada, mas, contudo, é importante não confundi-la com permissividade. Dizer ‘não’ também é uma forma de amar”, conclui, perentoriamente. A pandemia interferiu, inevitavelmente, com as dinâmicas educacionais e o desenvolvimento das crianças. Apesar de tudo, simples atividades como explorar, brincar e viver em grupo são partes essenciais do desenvolvimento saudável e muitas crianças viram-se privadas dessas experiências. Com os pais em teletrabalho, o aumento do tempo em casa não se traduziu para num aumento do tempo gasto em família: “Estou certa que tenha sido uma grande frustração para os pais e demasiado cansativo tentar conciliar trabalho e atenção/cuidados que uma criança necessita.” Essa privação reflete-se no desenvolvimento global das crianças, as quais poderão acusar, no regresso à escola, alguns retrocessos educativos em competências adquiridas, tal como o desfralde e até mesmo em questões cognitivas, exemplifica Gabriela Teodoro Portela. De modo a diminuir esse impacto, a «Aldeia dos Sonhos» esforçou-se para manter um contacto diário com as suas crianças através de uma plataforma educativa para comunicar com os pais, o que facilitou a adaptação a novas formas educativas. Durante o primeiro confinamento partilharam propostas de atividades diárias, adaptadas a cada faixa etária, além de sessões síncronas semanais com cada turma, tentando manter o contacto com as crianças e, principalmente, para que estas pudessem ver os seus amiguinhos e partilhar vivências em comum. Neste segundo confinamento, os responsáveis da «Aldeia dos Sonhos» decidiram ir mais longe e deram seguimento a atividades extracurriculares com sessões diárias de judo, língua inglesa, música, ballet e dança criativa com a turma do jardim de infância. Foi a melhor forma que encontraram para manter as crianças “ativas e ligadas à rotina escolar”, conclui Gabriela Teodoro Portela.
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Joana Silva, Diretora Pedagógica e Gabriela Teodoro Portela, Diretora Geral
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A EDUCAÇÃO COMO CATALISADOR PARA A INTEGRAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO Susana Damasceno, criadora da AIDGLOBAL – Ação e Integração para o Desenvolvimento Global –, em 2005, decidiu criar uma organização de voluntariado após uma viagem à província de Gaza, em Moçambique. Em entrevista à Revista Liderança no Feminino, Susana relata-nos as experiências que mudaram o rumo da sua vida.
As experiências que viveu nessa viagem marcaram-na tão profundamente que conceberia uma organização de auxílio voluntário ao povo moçambicano, conforme nos explica: “Esta viagem foi a oportunidade de realizar um desejo que foi crescendo dentro de mim e que me acompanhava desde jovem: fazer trabalho voluntário num orfanato e partilhar histórias e afetos. Foi uma sorte poder realizar esta missão: estava ali pelas crianças! No contacto com a sua realidade aprendi a ser mais humilde e grata. E, acima de tudo, percebi que tive a sorte de nascer no seio de uma família onde imperam os afetos e num país com oportunidades de acesso a uma educação de qualidade. Conclui que o melhor da vida eu já tinha recebido em criança e que, como adulta devidamente formada, era tempo de retribuir.” Sendo que a aposta na educação possui um papel fundamental na formação dos jovens, não só como profissionais, mas enquanto pessoas, a AIDGLOBAL tem complementado o trabalho das escolas, inclusive, em Portugal: “A AIDGLOBAL é uma aliada das escolas e dos professores que não vivem alheados da certeza de que é nas escolas que as nossas competências se desenvolvem, em todas as esferas do saber. É determinante que as escolas proporcionem oportunidades para os alunos emergirem em contextos que, para muitos deles, dificilmente teriam acesso. Por isso, promovemos projetos de educação para o desenvolvimento e a cidadania global que abordam assuntos e causas que nos interligam independentemente de estarmos em Vila Franca de Xira ou na Amazónia. (…) Não há diretivas, só descobertas que contribuem para uma cidadania ativa!” Nos tempos atuais, o ensino presencial encontra-se algo comprometido devido à pandemia, pelo que os recursos tecnológicos têm tentado diminuir a distância entre professores e alunos, pese a qualidade do ensino online seja questionável. Nesse sentido, esta situação veio relembrar a importância dos professores e da escola como local de aprendizagem, mas igualmente de desenvolvimento das
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Caminhada Global
competências sociais para os jovens: “Esta pandemia, e consequente aceleração digital do ensino, veio demonstrar duas coisas: a tecnologia é como os doces, sabe bem, mas em demasia causa doenças, algumas bem graves! (…) Abraçar os amigos, olhar os colegas, sentir a mão da professora a pousar no ombro como motivação para continuar, mesmo quando a esperança se desvanece, é de extrema importância porque nós somos seres empáticos e são os afetos que nos nutrem. E é também no diálogo, no confronto de ideias, no testemunhar de atitude e no avaliar de comportamentos que nos vamos construindo enquanto sociedade. E já o disse uma vez e volto a afirmar: a escola é o balão de ensaio das sociedades.” Contudo, a pandemia não deixou de afetar as iniciativas e os projetos atuais da AIDGLOBAL, como nos indica Susana Damasceno: “A pandemia afetou os nossos projetos, mas não os devotou ao fracasso. E é evidente que as exigências aumentaram com este reinventar de novas práticas de trabalho. No entanto, tem sido possível realizar todas as atividades graças à vontade, disponibilidade, criatividade e muita resiliência por parte da equipa executiva. A título de exemplo, num dos nossos projetos europeus, tínhamos uma caminhada em prol do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – (ODS) 13 Ação Climática, em que contávamos reunir mais de 1000 jovens das escolas de Vila Franca de Xira, aos quais
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se juntariam outras centenas de jovens de outros pontos do país e, de repente, tivemos que a realizar online! Redesenhamos a atividade e conseguimos encaixá-la num formato dinâmico, em que houve muita interação, acabou por cumprir os objetivos, ultrapassando até as expectativas!” Em 2018, Susana Damasceno foi galardoada com o Prémio Femina por atos humanitários em prol da dignidade e direitos do ser humano, tratando-se de um pleno reconhecimento do seu empenho, como constata: “Ter recebido o Prémio Femina foi uma surpresa e uma honra, ainda mais por se tratar deste Prémio tão distinto. Este reconhecimento convidou-me a olhar para o caminho percorrido, a avaliar os resultados da minha total entrega à AIDGLOBAL, a partilhá-lo com todas as jovens raparigas e mulheres que têm feito esta caminhada ao meu lado, especialmente a Antonieta Pires e a Sofia Lopes e, por fim, a dedicá-lo à minha mãe, pois sem o seu incansável apoio não seria possível esta entrega.” Susana Damasceno foi professora de Língua Portuguesa durante cerca de 10 anos, mas será que a carreira docente terá influenciado as projeções da AIDGLOBAL, enquanto uma extensão das salas de aulas: “Fui professora, sempre quis ser professora e tenho uma enorme gratidão pela carreira de docente, onde fui muito feliz! Não sinto falta de dar aulas porque passo a vida a aprender e a ensinar. Reconheço que parte das competências que desenvolvi enquanto
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professora, como o saber falar em público, o comunicar com rigor as ideias, o saber planificar a curto, médio e longo prazo e a capacidade de tratar de vários assuntos ao mesmo tempo, enfim… ganhei-as durante o tempo em que fui professora. (…) E, de facto, a AIDGLOBAL é uma extensão da minha sala de aula, pois já perdi a conta ao número de jovens estagiários que nós acolhemos e formámos… Desde ensinar como se deve vir vestido para um local de trabalho até a colocar o acento correto no ‘à’!” Ter começado uma organização não-governamental a partir da ‘estaca zero’ terá sido, com toda a certeza, um trabalho árduo, mas como se manteve motivada e ultrapassou os desafios ao longo de mais de uma década? “Tão somente isto: cada dia que passa estou mais certa de que amanhã vou conseguir que seja melhor do que hoje. Agora, sou uma pessoa muito trabalhadora, exigente comigo e com os outros e como criativa que sou, adoro o meu trabalho porque nele tenho a oportunidade de criar soluções, de aprender todos os dias, de estar informada e de formar pessoas. Engana-se quem ouse pensar que é fácil! ‘É difícil, mas é possível!’ – eis o meu lema de vida!” Nos projetos realizados e atualmente em curso pela AIDGLOBAL em Moçambique, servindo populações com condições economicamente pouco fa-
Intern Summer School
“Fui professora, sempre quis ser professora e tenho uma enorme gratidão pela carreira de docente, onde fui muito feliz! (…) E, de facto, a AIDGLOBAL é uma extensão da minha sala de aula, pois já perdi a conta ao número de jovens estagiários que nós acolhemos e formámos… Desde ensinar como se deve vir vestido para um local de trabalho até a colocar o acento correto no ‘à’!”
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voráveis, a desigualdade de género ainda é muito pautada na educação, conforme nos explica Susana Damasceno: “A falta de acesso à educação por parte de meninas e raparigas jovens é um dos grandes motivos da pobreza que se vive em Moçambique e em outros lugares do mundo. Todos sabemos que uma mulher educada é uma mulher determinada, capaz de pegar a vida com as suas próprias mãos, de cuidar de si e dos seus e com outras exigências. Infelizmente, em contextos como o do Chibuto, local onde a AIDGLOBAL atua em Moçambique, as meninas e a jovens raparigas continuam a ser as primeiras a ter de deixar de estudar, a ir trabalhar para as machambas, a cuidar dos seus irmãos, a serem vítimas de assédio e abusos sexuais porque a mulher continua a ser vista como alguém que só serve para servir. (…) E é por isso que elegemos os livros e a capacitação das mulheres enquanto educadoras como a nossa bandeira de trabalho em Moçambique!” Na ótica de Susana Damasceno, as discrepâncias quanto ao género feminino são igualmente visíveis entre nós: “Em Portugal, as mulheres têm estudos, mas não conseguem ascender a cargos de liderança. Para além da violência doméstica, da desigualdade salarial, da sobrecarga em que vivem expostas com os afazeres domésticos e o cuidar dos filhos e, ainda, a partir de uma certa idade, serem as cuidadoras dos pais, enfim… demasiado ‘peso’ para uma só pessoa! É urgente aliviar toda esta carga que recai sobre a mulher! E isto só é possível através da educação e de
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Formação de Professores
Samora Machel
A equipa
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políticas públicas ajustadas.” Segundo as informações concedidas pela AIDGLOBAL, entregaram mais de 50 mil livros doados em Moçambique, desenvolveram mais de 2,7 mil horas de formação e sensibilizaram milhares de jovens alunos. Assim sendo, a AIDGLOBAL quer marcar a diferença e contribuir para um mundo melhor: “Não há maior impacto do que ter acesso a um livro, lê-lo, e esse livro moldar-nos enquanto pessoas. Recordo o conto de Hans Christian Andersen – A Pequena Vendedora de Fósforos –, lido vezes sem conta, e qual contribuiu para ser incapaz de ficar indiferente à injustiça. A menina, personagem da história, morreu devido à indiferença e à impossibilidade de ter sido outra coisa senão uma vendedora de fósforos. A indiferença combate-se com a educação. A educação promove a nossa diferença. E se queremos que as coisas sejam diferentes, temos de ser cidadãos ativos, críticos e exigentes.” Após 15 anos de existência, a AIDGLOBAL já recebeu contatos ou testemunhos de pessoas que fizeram parte de uma iniciativa/projeto quando eram mais jovens? “Curiosa essa pergunta, porque possibilita-me contar a história de um menino que estudava no 5.º ano nos Pupilos do Exército e participou numa das muitas sessões de educação para o desenvolvimento e a cidadania global que a AIDGLOBAL promove por várias escolas em Portugal. Um dia, recebi um e-mail desse menino, informando-me que era um jovem universitário e que nunca se tinha esquecido do que a AIDGLOBAL lhe ensinara sobre a realidade que se vive noutros países do mundo e que agora queria ser nosso voluntário e ajudar. A educação é transformadora, principalmente quando toca o coração das crianças! Por isso é que o nosso lema é ‘agir, incluir e desenvolver através da educação, porque a mudança acontece pela educação’!” A equipa da AIDGLOBAL é formada maioritariamente por mulheres, mas será que tal opção influenciará o ambiente de trabalho ou o modo como é gerida a organização? “Não ter paridade de género na AIDGLOBAL não é algo do qual nos orgulhamos. Acredito que beneficiaríamos se tivéssemos mais profissionais do sexo masculino porque a complementaridade é sempre mais benéfica. Curiosamente, em Moçambique, o responsável pela nossa delegação é um homem, Castigo Tchume! Como líder da AIDGLOBAL, posso afirmar que ser homem ou mulher é irrelevante nos termos e condições em que trabalhamos, porque o trabalho é tanto, as exigências técnicas decorrentes da natureza deste trabalho são muitas, os prazos sempre apertados, a multiplicidade de tarefas é gritante e a disponibilidade é requerida muitas vezes fora de horas. Eu brinco com as minhas colegas, apelidando-nos de ‘amazonas’, mas não é por sermos mais ou menos capazes que os homens (e vice-versa), mas por sermos ‘aidglobalitas’ de coração! E este trabalho só se faz, desta forma e com os resultados já alcançados, de coração”, conclui Susana Damasceno.
Encontro Professores
“Não ter paridade de género na AIDGLOBAL não é algo do qual nos orgulhamos. Acredito que beneficiaríamos se tivéssemos mais profissionais do sexo masculino porque a complementaridade é sempre mais benéfica. Eu brinco com as minhas colegas, apelidando-nos de ‘amazonas’, mas não é por sermos mais ou menos capazes que os homens (e vice-versa), mas por sermos ‘aidglobalitas’ de coração!" 33
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SÍLVIA COSTA
“A LIDERANÇA DEVE SER ÉTICA, GENUÍNA E RESPONSÁVEL”
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Sílvia Costa trabalha na área dos recursos humanos há mais de 25 anos, tendo sido docente neste campo de formação, onde permanece como formadora e consultora. A sua vida foi dedicada a auxiliar as empresas e, principalmente, as capacidades intrínsecas das pessoas. Ainda recentemente lançou um livro infantojuvenil, o qual ambiciona contribuir para a mudança dos adultos de amanhã. Afiança-nos sentir-se profundamente atraída pelo “enorme sentido de propósito e a sua capacidade de transformar pessoas”, através da aquisição e melhoria das soft e hard skills, desde que se licenciou em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade de Lisboa. Para Sílvia Costa, a Gestão de Pessoas é uma função central das empresas, pois nenhuma estratégia será bem sucedida se não “capacitar, valorizar ou mobilizar os clientes internos.” Nesse sentido, as figuras de liderança devem estar cientes da sua influência, tanto negativa e/ou positiva, nas suas equipas e, consequentemente, de tais impactos nas atividades e negócios das empresas: “A liderança deve ser ética, genuína e responsável, para que haja comprometimento e envolvimento das pessoas e se potenciem resultados”, assim defende. Cada vez mais, os recursos humanos têm-se focado nas problemáticas sociais e ambientais, mas em Portugal o processo tem sido muito lento, segundo Sílvia Costa: “Poderíamos já estar posicionados noutro patamar.” Contudo, acredita que tudo mudará rapidamente, muito devido aos efeitos colaterais da pandemia: “O mundo teve de parar para que todos refletissem sobre a nossa responsabilidade num mundo que não nos pertence e que não termina connosco. A forma como se produz e se trabalha terá de ser definitivamente outra.” Para tal, é necessário uma quebra de modelos e mudanças reais, tal como sugere: “E aqui é clara a missão social dos gestores de pessoas, que passa pela sensibilização e adoção de medidas e práticas que deverão ir ao encontro dos novos paradigmas sociais e ambientais.” Ao longo de toda a sua carreira nunca testemunhou situações de desigualdade de género e, por isso, considera-se uma pessoa privilegiada. Tanto que, refere, houve momentos em que preferiu profissionais do sexo feminino devido à valorização concedida à “sensibilidade, empatia e intuição feminina.” Apesar disso, Sílvia Costa admite que as desigualdades de género são uma realidade acentuada entre nós e entende que, “tal como todas as mudanças em Portugal”, levará o seu tempo a desaparecer: “O crescente número de mulheres em posições de destaque profissional levará naturalmente a uma mudança da mentalidade empresarial e ao respeito pelas capacidades femininas em todos os setores de atividade”, reitera. Independentemente do género de quem ocupa
Para Sílvia Costa, a Gestão de Pessoas é uma função central das empresas, pois nenhuma estratégia será bem sucedida se não “capacitar, valorizar ou mobilizar os clientes internos.” um lugar de liderança, o mais importante são as competências que possuem, seja em soft ou hard skills: “O mundo dos negócios, para ser sustentável, terá de contar com homens e mulheres com valores, muita humanidade, competência e ética profissional.” A responsabilidade social tornou-se mais relevante para o público, o qual presta outra atenção e tenta alinhar-se com empresas que representam os seus ideais: “As organizações de sucesso serão aquelas que primarem pela transparência, a competência e a proximidade com todos os seus stakeholders.” Assim, Sílvia Costa
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Lançou o livro infanto-juvenil O Prado da Felicidade, um conto mágico sobre duendes e fadas. Trata-se de um livro pedagógico que pretende refletir sobre os valores transversais da vida.
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confia que o mercado fará uma ‘seleção natural’ e, em poucos anos, a realidade do mundo empresarial estará mudada e imbuída de novos valores e prioridades. Para além de laborar na área dos Recursos Humanos, Sílvia Costa foi docente na Universidade Lusófona (pólo de Torres Vedras), assim como formadora no IEFP, mas atualmente exerce funções de formação e consultadoria independente. Demorou alguns anos, mas com o passar do tempo apercebeu-se que educar era algo que a realizava: “O meu propósito profissional e a minha vocação concretizam-se pela transmissão de conhecimentos e essencialmente pelo meu contributo para processos práticos de melhoria, a nível micro, macro e meso.” Sílvia Costa não gosta apenas de auxiliar os outros a melhorar e desenvolver as suas capacidades, dado continuar a procurar novas formas de desenvolvimento pessoal. Em 2016, terminou uma pós-graduação em Gestão de Pessoas e atualmente está a redigir a sua dissertação de mestrado em Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos na Universidade de Lisboa. Tomou tal decisão aos 52 anos para se desafiar a si própria, o que tem sido uma experiência muito gratificante, sobretudo pela “partilha de conhecimentos e práticas.”
Sem receio de novos desafios ou de arriscar, em 2015, criou, “por impulso”, o blog Pieces of Moments. Para si, trata-se de mais um caminho para “chegar até às pessoas e contribuir para o seu bem-estar e inspiração”. Atualmente em stand-by, Sílvia Costa pretende voltar à atividade de blogger profissional assim que possível. Entretanto, possui outros projetos, sendo que, em 2019, lançou o livro infantojuvenil O Prado da Felicidade, um conto mágico sobre duendes e fadas. Trata-se de um livro pedagógico que pretende refletir sobre os valores transversais da vida. Enquanto mãe de 3 filhos e formadora durante largos anos, constatou que existem enormes lacunas ao nível das competências pessoais e sociais dos adultos. Para tentar remediar esse problema, decidiu fazer algo junto das crianças, os “futuros adultos num amanhã que terá de ser muito diferente e muito melhor.” Apresentado em várias escolas e eventos literários, este livro tem registado um bom feedback junto das crianças e da comunidade escolar. Contudo, a pandemia obrigou Sílvia Costa a interromper as suas visitas às escolas, mas, logo que possível, pretende voltar a retomar essas iniciativas. Futuramente, pretende lançar mais livros e confessa já dispor de algumas histórias escritas nesse sentido.
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CRISTINA PITA
O FUTURO DO TURISMO ENTRE A HOSPITALIDADE E OS DADOS ANALÍTICOS Cristina Pita é Chief Commercial Officer da Clever Hospitality Analytics e trabalha no setor do turismo e hotelaria há mais de 15 anos. Com ampla experiência na liderança de equipas, conta-nos os desafios de trabalhar nas áreas turísticas e antevê qual o futuro de um setor em plena crise.
Os trabalhadores do setor do turismo e hotelaria são, para muitos turistas, a primeira impressão de Portugal e podem influenciar decisivamente a sua estadia e, provavelmente, o seu regresso ao nosso país. Para Cristina Pita, Chief Commercial Officer da Clever Hospitality Analytics, além da simpatia e o modo como se recebem os turistas, é necessário existir, acima de tudo, um “gosto em receber – sem isso, dificilmente se conseguem bons resultados.” Licenciada em Gestão Turística e Hoteleira pela antiga Universidade Internacional, em Lisboa, trabalha neste ramo há mais de uma década. Sentiu-se atraída pela diversidade desta formação, a qual ensinou a lidar com inúmeros desafios em áreas distintas, mas confessa que foi seduzida, fundamentalmente, pela proximidade com as pessoas. É no cliente que concentra a sua dedicação: “Tudo o que fazemos em hotelaria tem como objetivo último acolher bem os nossos clientes”, explica-nos. Torna-se cada vez mais importante promover o profissionalismo ao nível da hospitalidade. Nesse sentido, é essencial agregar uma formação aliada ao conhecimento dos clientes, bem como das suas necessidades e particularidades: “Os dados sobre o cliente são indispensáveis a todos os níveis, quando se pretende prestar um serviço de excelência”, afirma. Baseando-se na gestão desses dados – os hospitality analytics –, a Clever dedica-se a auxiliar os hotéis a gerir devidamente todo esse fluxo de informação e o tratamento dos dados recolhidos. Antes da pandemia, Portugal contava-se entre os destinos turísticos de referência a nível internacional, tendo conquistado vários prémios de renome. Deste modo, Cristina Pita crê que, mal o controlo da pandemia permita uma liberdade de circulação internacional, o turismo nacional voltará a ‘respirar’, não obstante as dificuldades. A solução estará na busca por novas ferramentas que consigam tirar o melhor partido possível com a informação disponível: “estar bem preparado para esta recuperação passará, certamente, por ter ferramentas analíticas que permitam gerir o negócio hoteleiro com elevado rigor.”
É no cliente que concentra a sua dedicação: "Tudo o que fazemos em hotelaria tem como objetivo último acolher bem os nossos clientes (...) Os dados sobre o cliente são indispensáveis a todos os níveis, quando se pretende prestar um serviço de excelência”
Crente na recuperação deste setor, a necessidade de encontrar soluções ao nível do business analytics motivou Cristina Pita a mudar-se para a Clever. Uma mudança de trabalho durante a pandemia, onde a integração na equipa foi dificultada pelo teletrabalho e a falta de contacto presencial, não se revelou uma tarefa fácil. Dificuldades acrescidas, principalmente, perante um setor que atravessa uma das maiores crises de sempre e o contacto direto com os clientes não é, simplesmente, possível. Apesar de tudo, a sua adaptação foi rápida e foi bem acolhida “virtualmente”, algo importante para Cristina Pita, pois acredita que as empresas são feitas de relações humanas. Este foi apenas (mais) um desafio que teve de superar na sua carreira profissional, tendo confessado que o maior de todos foi assumir a liderança de uma equipa. Liderar é um jogo de equilíbrios difíceis: “é
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conseguir dar empowerment sem cair no erro de fazer micro-gestão, é conseguir ser coach ao mesmo tempo que procura a maior produtividade, é ser um bom comunicador, mas, ao mesmo tempo, estar sempre disponível para ouvir.” Todas as pessoas possuem qualidades únicas que um líder deve utilizar para o bem comum e o sucesso da organização. Associado ao desafio de liderar uma equipa enquanto mulher, teve de suportar problemas adicionais. Revela ter notado alguma apreensão por parte dos colegas por ser uma mulher num cargo de chefia: “Ainda há um caminho a percorrer, mas acho que estão a ser dados passos importantes.” Tem a esperança que, principalmente nas áreas comerciais, “a empatia feminina vá contribuir para que a liderança feminina seja aceite de uma forma cada vez mais natural.” Admite, assim, a possibilidade de existirem diferenças entre a liderança feminina e a masculina, mas, contudo, recusa o estereótipo de que os homens são “líderes naturais”. Para Cristina Pita, a evolução da sociedade e das empresas demonstra, progressivamente, a “importância da diversidade de estilos, principalmente ao nível da liderança.” E quem é Cristina Pita enquanto líder? Revela ser uma “lutadora destemida, persistente” e que adora desafios constantes: “Não espero elogios, realizo-me mais ao ver o crescimento das pessoas e da empresa como um todo”, confidencia-nos. Nesse sentido, ten-
Associado ao desafio de liderar uma equipa enquanto mulher, teve de suportar problemas adicionais. Revela ter notado alguma apreensão por parte dos colegas por ser uma mulher num cargo de chefia: “Ainda há um caminho a percorrer, mas acho que estão a ser dados passos importantes.” Tem a esperança que, principalmente nas áreas comerciais, “a empatia feminina vá contribuir para que a liderança feminina seja aceite de uma forma cada vez mais natural.” 40
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ta inspirar as pessoas que a rodeiam com a sua atitude e postura. Ao invés de controlar as interações, os sentimentos ou comportamentos, “na ilusão de conquistar poder ou segurança”, prefere depositar a maior confiança na equipa e na sua capacidade de desempenho. É ainda bastante exigente consigo própria e tenta estar constantemente atualizada quanto às tendências mais recentes. Em 2018, apostou numa formação em marketing e sales management na Católica Lisbon School of Business and Economics, pois con-
sidera fulcral o acesso a novos desafios em diferentes prismas e setores de atividade, de modo a nutrir um pensamento “out of the box”. De momento, o seu enfoque está centrado na equipa da Clever, ambicionando tornarem-se um parceiro de referência em hospitality analytics para o setor hoteleiro português e, eventualmente, alcançarem o mercado internacional. A nível pessoal, sendo mãe de 3 filhos, outro desafio crucial consiste em conciliar a sua carreira profissional e a vontade de estar sempre presente nas suas vidas.
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O DIREITO AO AMBIENTE É UM DIREITO HUMANO
E O DIREITO A UM CLIMA ESTÁVEL UM DIREITO INALIENÁVEL DA HUMANIDADE! Nas últimas três décadas, Marta Leandro, têm-se dedicado ao voluntariado na área dos direitos humanos, no apoio aos sem-abrigo e a refugiados e, mais recentemente, no domínio do ambiente – em particular nas organizações não-governamentais de defesa do Ambiente (ONGAs) Quercus e URTICA. Licenciada em Relações Internacionais e pós-graduada em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, foi professora, jornalista (especializada em Ambiente), assessora de imprensa e atualmente exerce funções de representação internacional no sector das telecomunicações.
Em Portugal, o direito a um “ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado” encontra-se constitucionalmente consagrado no art.º 66º da Constituição. Um direito humano que, na prática, é tantas e tantas vezes atropelado, em especial por políticos, autarcas, gestores e decisores com enormes responsabilidades na sua defesa! A violação do nosso direito a um ecossistema equilibrado e sustentável é diária e reiterada e vai desde o que pode parecer uma decisão menor – por exemplo, as “podas” municipais que constituem autênticas mutilações e colocam em causa a saúde e a longevidade das árvores – às grandes decisões de poderosas empresas com interesses económicos e estratégicos globais, que despudoradamente poluem há mais de meio século a uma escala planetária, como é o caso das empresas de petróleo e gás natural. Sendo a Quercus, como o seu nome indica, uma associação conservacionista, ou seja, dedicada em particular à conservação da natureza e à promoção da biodiversidade, a sua missão assume hoje em dia uma particular relevância: sabemos que os chamados “serviços do ecossistema”, isto é, os serviços gratuitos que nos são fornecidos pelo ecossistema natural (atmosfera, solos, oceanos, aquíferos, plantas, animais e minérios, entre outros) foram contabilizados como perfazendo mais de metade do produto interno bruto (PIB) mundial, um valor que ascende a cerca de 40 milhões de milhões (biliões) de euros. Um generoso contributo do qual os humanos usufruem graciosamente sem que a maioria sequer tenha disso consciência! Ao apresentar em maio do ano passado a Estratégia da União Europeia para a Biodiversidade até 2030, a Comissão Europeia (CE) reconheceu que o mundo já perdeu cerca de 3,5 a 18,5 biliões de euros por ano em serviços do ecossistema, de 1997 a 2011, estimando-se que cerca de 5.5 a 10,5 biliões de euros por ano sejam afetados pela degradação dos solos. A necessidade urgente de reverter a per-
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da da biodiversidade, fator que contribui decisivamente para a crise ambiental, climática e até pandémica que o mundo enfrenta, deveria enformar toda a produção legislativa e a ação dos Governos. EMERGÊNCIA CLIMÁTICA, UM DESAFIO MAIOR QUE A HUMANIDADE Em Novembro de 2019, a poucos dias de iniciar funções como presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen prometeu, no Parlamento Europeu, que o combate às alterações climáticas seria a estratégia para o crescimento da UE e afirmou a ambição europeia de se tornar o pri-
Biodiversidade: os chamados “serviços do ecossistema”, isto é, os serviços gratuitos que nos são fornecidos pela atmosfera, solos, oceanos, aquíferos, plantas, animais e minérios, entre outros, foram contabilizados como perfazendo mais de metade do PIB mundial, um valor que ascende a cerca de 40 milhões de milhões (biliões) de euros.
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meiro continente neutro em carbono, até 2050. No entanto, sabemos que as emissões de carbono (CO2) e de outros gases com efeito de estufa (GEE) se acumulam na atmosfera por períodos entre 12 e 100 anos. É assim que, embora as emissões carbónicas de GEE tenham descido no último ano, devido à paralisação económica provocada pela pandemia de covid-19, os níveis de partículas por milhão (PPM) continuam a subir. No dia 3 de Abril de 2021, ultrapassámos mesmo um marco preocupante: pela primeira vez na história da Humanidade, o nível de CO2 acumulado na atmosfera atingiu as 420 PPM, de acordo com o registo do Observatório Mauna Loa, localizado no Havai. Recorde-se que, há uma década, o nível médio se situava em 394 PPM. No entanto, face ao níveis médios pré-industriais, que rondavam os 280 PPM, é genericamente considerado como seguro o valor de 350 PPM, dos quais nos encontramos consideravelmente longe. Concentrações acima do valor de 450 PPM, segundo os cientistas, dão origem a eventos climáticos extremos, como secas, cheias, incêndios florestais, tornados e tempestades cada vez mais violentos e frequentes, e ao aumento da temperatura média acima dos 2 graus, valor a partir do qual os efeitos do aquecimento global se podem tornar catastróficos e irreversíveis. LEI EUROPEIA DO CLIMA E GRETA, A MIÚDA QUE VIU MAIS LONGE Chega a ser constrangedor constatar que uma adolescente que aos 15 anos, em 20 de Agosto de 2018, deu início a uma greve escolar (a célebre "Skolstrejk för klimatet") frente ao Riksdag, o Parlamento da Suécia, tendo desde então conseguido o feito notável de mobilizar nas ruas 6 milhões de jovens e adultos num único dia, em mais de 100 países, reclamando o direito a um futuro sustentável, tenha passado a ser tratada com tanta deferência por todos os líderes mundiais, que anseiam pela sua aprovação e por aparecer ao seu lado perante as câmaras. Mas Greta Thunberg não lhes dá tréguas. Não só lhes aponta a ignorância e a hipocrisia da sua praxis face ao que os cientistas nos dizem há décadas, como não hesita em considerar que os seus planos, metas e medidas são inconsistente com o Acordo de Paris e pouco ambiciosos face à necessidade imperiosa de reduzir as emissões carbónicas globais a um ritmo pelo menos 3 vezes superior ao atual – não esquecer que o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), da ONU, alerta que a redução de GEE, a nível mundial, tem de ser de 7,6% ao ano –, garantia de que a estabilidade climática será alcançada. O IPCC também nos diz que a meta da neutralidade carbónica, a nível mundial, deveria ser 2044 e não 2050 (em linha com o aumento da temperatura média no máximo até 1.5 graus). Ou seja, a Eu-
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Nos últimos anos, a produção de energia a partir de fontes renováveis passou a ser mais barata do que a sua concorrente fóssil, tendência que tende a aprofundar-se, e por esse motivo temos de exercer uma enorme pressão para acabar com os subsídios públicos ao carvão, petróleo e gás natural, que os mantêm artificialmente competitivos.
ropa e os países mais industrializados deveriam lá chegar no máximo até 2040, como a rede de ONGs Climate Action Network (CAN), que a Quercus integra, defende. “Rendição” perante a ameaça das alterações climáticas, foi o que Greta apontou aos planos da CE, quando uma embaraçada Von der Leyen a convidou há um ano a pronunciar-se face ao projeto de Lei europeia do Clima. E acusou mesmo a UE de “fingir que pretende assumir a liderança climática, mas continuar a construir e a subsidiar infraestruturas fósseis”. A nova Lei do Clima deverá ser apresentada, no âmbito da Presidência Portuguesa em curso, até ao dia 22 de Abril, de acordo com o prometido pelo Ministro do Ambiente e Acão Climática. Entre nós, recorde-se que a Assembleia da República declarou, em Julho de 2019, que vivemos uma emergência climática e ambiental que coloca em causa a própria sobrevivência da humanidade. António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas exortou todos os Estados a reconhecerem essa mesma situação de emergência, ao qual o Governo não se mostrou contudo sensível, considerando ser um gesto meramente “simbólico”. Em 2019, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) Mohammed Barkindo, classificou o movimento fundado pela jovem, Fridays for Future, de ser “talvez a
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maior ameaça à nossa indústria". Mas a ameaça ao nosso futuro comum não é Greta. São as alterações climáticas e o estado de negação em que os principais decisores mundiais ainda vivem. NOVO PRR IRÁ DE NOVO PRIVILEGIAR O BETÃO? Vemos que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que o Executivo se encontra a finalizar e irá enviar a Bruxelas, numa versão reformulada, foi já preliminarmente “chumbado” pela CE, exatamente porque trata problemas emergentes ou urgentes, em especial a crise climática, com receitas obsoletas. No entanto, António Costa insiste e já afirmou publicamente que não pretende desistir de velhas e malfadadas fórmulas, leia-se construir novas estradas, pontes rodoviárias em áreas protegidas fronteiriças ou repetir, no Alto Alentejo, o desastre do Alqueva, privilegiando práticas agrícolas intensivas – destruidoras de habitats em larga escala e contaminadores dos recursos hídricos e dos solos – e a vertente turística. O Governo perdeu também uma oportunidade para investir de forma convicta numa alternativa eficiente e sustentável, sobretudo no que respeita ao transporte internacional: uma rede ferroviária rápida e eficiente, conectada às redes transeuropeias de alta velocidade – não esquecer que Lisboa é hoje uma das poucas capitais europeias sem ligação ferroviária a outras capitais. Não esquecer também que a aviação e o transporte marítimo continuam de fora do Acordo de Paris ou a beneficiar de licenças de emissão de CO2 gratuitas, o que constitui uma clara vantagem competitiva e um favor político face a meios de transporte bem mais sustentáveis e que se justificam para percursos de curto-médio curso. RENOVÁVEIS SÃO CRUCIAIS PARA DESCARBONIZAR A ECONOMIA Para descarbonizar a economia, ou seja, todos os sectores de atividade com impacto nas emissões de GEE – em especial os transportes, energia, indústria transformadora, edifícios, agricultura e resíduos –, priorizando a eletrificação, o recurso às energias renováveis é absolutamente essencial. Com a sua extensa costa marítima e abundantes horas anuais de sol, Portugal é um país com condições excecionais para investir no campo da energia eólica e solar (térmica e fotovoltaica). Porém, estamos atrasados e as orientações políticas na matéria pecam muitas vezes por tardias, pouco transparentes e ainda menos visionárias. A aposta no chamado hidrogénio “verde” e nas baterias de lítio, que permitirão enormes ganhos em termos de armazenamento energético tem, pois, de ser equacionada. Mas permitir que a mineração seja feita sem um prévio e rigoroso pla-
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O principal desafio é a falta de tempo. Neste momento estamos, tal como no terramoto de Lisboa de 1755, “resvés Campo de Ourique”… nós ainda estamos em Campo de Ourique, mas prestes a tombar para o outro lado, onde se vislumbra uma cidade destruída e em escombros!
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neamento e sem uma estratégia conduzirá a alienar para o exterior as mais-valias económicas que a descarbonização pode trazer a Portugal – garantindo a autonomia energética do país e até a exportação – e a deixar entre nós o ónus da poluição e destruição paisagística. Por isso a Quercus tem defendido que a exploração de minerais, designadamente do lítio, deve ser liminarmente interdita em áreas protegidas e classificadas, tais como parques e reservas naturais, zonas de Rede Natura 2000 ou de reserva ecológica e agrícola nacionais (REN e RAN). Assim, afigura-se-nos incompreensível que o Governo continue a emitir licenças de prospeção em zonas ecologicamente sensíveis ou sem ter em conta as populações locais que se manifestam em total oposição aos projetos de mineração. A grande vitória é que, nos últimos anos, a produção de energia a partir de fontes renováveis passou a ser mais barata do que a sua concorrente fóssil, tendência que tende a aprofundar-se, e por esse motivo temos de exercer uma enorme pressão pública para acabar com os subsídios públicos ao carvão, petróleo e gás natural, que os mantêm artificialmente competitivos. EMPREGOS PARA O CLIMA A revolução tecnológica e energética já em curso conduzirá, inevitavelmente, ao fecho de indústrias, mas também à criação dos chamados “empregos verdes” ou “empregos para o clima”. Nos EUA, onde existem dados disponíveis, vemos que as indústrias renováveis criaram, até 2015, dez vezes mais empregos que a indústria fóssil. Mas para assegurar o sucesso da transição climática, as questões sociais têm de ser plenamente acauteladas. As populações mais pobres e vulneráveis são já hoje as principais vítimas das alterações climáticas. Por isso a palavra equidade tem de estar sempre na mesa das negociações, se não quisermos assistir em Portugal ao caos social de manifestações como a dos “coletes amarelos” em França. E também aqui o Governo não pode ser equívoco: como Sines, Matosinhos ou a TAP já mostram, têm de ser os grandes poluidores a pagar a transição climática. Não quem labora nessas empresas ou o cidadão comum. Não esqueçamos que, só em Portugal, as empresas de petróleo e de gás fóssil continuam, todos os anos, a beneficiar entre 600 a 800 milhões de euros, em subsídios e isenções fiscais. AINDA VAMOS A TEMPO? Esta década será decisiva! O principal desafio é a falta de tempo. Neste momento estamos, tal como no terramoto de Lisboa de 1755, “resvés Campo de Ourique”… nós ainda estamos em Campo de Ourique, mas prestes a tombar para o outro lado, onde se vislumbra uma cidade destruída e em escombros!
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UMA MULHER AO “LEME” ENTRE AS ÁGUAS CALMAS E O OCEANO Sandra Silva, com 49 anos, nasceu no Barreiro e é licenciada em Gestão pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa. Exerce atualmente um cargo superior na Direção-Geral de Política do Mar e, o mais importante, na sua ótica, é ser mãe de dois filhos, o Gonçalo Duarte e a Rafaela Duarte, com 23 e 19 anos, respetivamente.
“Tudo começou quando tinha 18 anos e me candidatei ao Ensino Superior. Foi o primeiro ano da ‘bendita’ PGA (Prova Geral de Acesso) e por causa deste método de seleção não consegui entrar no ISEG (a minha primeira escolha) porque só tive 63%. Revoltou-me bastante, pois embora não fosse uma aluna brilhante, sempre obtive notas médias altas no liceu, inclusivamente desde o 10.º ao 12.º ano e por uma prova ‘aleatória’, o meu percurso académico foi prejudicado”, como recorda. Tendo de aguardar um ano para voltar a candidatar-se, procurou uma forma de ocupar o seu tempo, tendo trabalhado como “tarefeira” para a ex-Direcção-Geral dos Recursos Naturais, dependente dos Serviços Administrativos. No seu entender, “Foi uma experiência maravilhosa iniciar uma atividade profissional numa grande casa centenária da Administração Pública, essencialmente com grande enfoque nos empreendimentos hidráulicos e que, mais tarde, daria origem ao Instituto da Água, I.P. – INAG (atualmente extinto).” Tornou a candidatar-se ao Curso de Gestão ministrado no referido ISEG, conseguindo então ingressar no Ensino Superior. No entanto, não quis deixar de trabalhar, tendo continuado em regime de trabalhador-estudante, conciliando a sua licenciatura com a atividade profissional. Embora tenha despendido mais dois anos além dos habituais quatro nos estudos, tal não comprometeu o seu percurso profissional, dado que a simbiose entre o trabalho e o estudo seria muito importante para a sua formação académica. Durante este período, exerceu funções administrativas e de secretariado na presidência do INAG e quando terminou a licenciatura, ambicionando trabalhar nesta organização, procurou encontrar o departamento onde aplicar os seus conhecimentos. Seria na componente da Gestão Financeira e Orçamental, bem como na coordenação dos projetos financiados por fundos comunitários (durante vários Quadros Financeiros Comunitários), sendo que, até ao final de 2008, foi adquirindo experiências e valências nestas áreas. No final de 2008, surgiria o que Sandra Silva considerou ser o seu primeiro grande desafio: “Fui convidada para ser chefe de divisão de Administração Geral, o qual mais tarde se passou a designar Divisão
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de Finanças e Património, continuando a assumir as mesmas competências. Confesso que aceitei prontamente o convite, com a expetativa de que seria suportada nas minhas atribuições e responsabilidades pela minha diretora de departamento na altura, a qual tinha muita experiência e conhecimento nestas matérias, o que certamente me dava algum conforto. Na realidade, tal não aconteceu, dado que, uma semana depois de ter sido convidada, a minha diretora foi exercer um cargo de direção superior para outro organismo e aí, então, senti-me sem ‘rede’.” Segundo nos explica, esta função obrigava a uma elevada responsabilidade de coordenação e cooperação com os departamentos técnicos e operacionais do INAG, tanto na gestão orçamental como na gestão dos projetos com financiamentos comunitários, o que envolvia elevados montantes. A título exemplificativo, tratavam-se de projetos relacionados com a monitorização dos recursos hídricos, obras de defesa costeira e de regularização fluvial, entre outros: “Considero que a executei com sucesso e com o sentido de dever cumprido, mas isso só foi possível graças à elevada confiança que a presidência depositou e acreditou em mim, bem como a todos os meus colegas que trabalhavam diretamente comigo (deixo um profundo agradecimento a todos eles).” Durante este período surgiu um novo desafio, ao ser nomeada coordenadora do secretariado executivo integrante da Estrutura Interna do INAG, criado no
No final de 2008, surgiria o que Sandra Silva considerou ser o seu primeiro grande desafio: “Fui convidada para ser chefe de divisão de Administração Geral, o qual mais tarde se passou a designar Divisão de Finanças e Património.
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âmbito do Organismo Intermédio e da Estrutura de Apoio e Coordenação (EAC), para apoio à gestão do Eixo Prioritário II – Rede Estruturante de Abastecimento de Água e Saneamento do POVT (Programa Operacional de Valorização do Território do QREN). Resumidamente, a Autoridade de Gestão do POVT delegou no INAG as competências de avaliação e seleção dos projetos financiados no âmbito do abastecimento e tratamento de águas residuais em cumprimento do PEAASAR – Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais. Em 2011 surgiria o PREMAC – Plano de Redução e Melhoria da Administração Central do Estado, pelo que o Governo assumiria, no seu Programa, a urgência de “reduzir os custos do Estado e procurar modelos mais eficientes de funcionamento”, afirmando, nessa linha, a intenção expressa de “eliminar as estruturas sobrepostas na estrutura do Estado, reduzindo o número de organismos e entidades, mantendo a qualidade na prestação do serviço público”. Com esta reforma, foi proposta a extinção do INAG e a fusão das suas competências na atual Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Nessa mesma altura, recebeu um convite para integrar a equipa de uma nova organização – a Direção-Geral de Política do Mar (DGPM) –, enquanto chefe de divisão dos Investimentos e Ordenamento da Direção de Serviços de Programação. Aceitou prontamente, dando início a um novo ciclo: “Em jeito de brincadeira, continuaria no domínio da ‘água’, deixando as águas interiores e costeiras para as
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águas do ‘mar’ mais profundo!” O maior desafio neste novo cargo foi gerir o Programa “Gestão Integradas das Águas Marinhas e Costeiras”, no âmbito do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (MFEEE) 2009-2014, mais conhecido pelos EEA Grants. Assim, a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega estabelecem o objetivo de reduzir as disparidades sociais e económicas na Europa, reforçando as relações bilaterais com os Estados beneficiários, sendo que Portugal se encontra entre eles: “Foi um grande desafio, porque, pese embora estivesse muito relacionado com a minha experiência em financiamentos comunitários, tem muitas especificidades próprias o que obrigou a uma aquisição de conhecimentos relativamente às suas regras de gestão”, reitera. O resultado final traduziu-se numa gestão mais integrada dos recursos marinhos, no reforço da monitorização e na capacidade de avaliação e previsão do estado ambiental das águas marinhas, não esquecendo o aumento da sensibilização e do conhecimento nos domínios da gestão marinha integrada através de ações de sensibilização (literacia dos oceanos) e da formação: “Mais uma vez, considero que este excelente resultado também só foi possível pelo envolvimento de toda a equipa da DGPM, que com as suas valências individuais, permitiram dar resposta a todas as solicitações (e que foram imensas) para cumprimentos das responsabilidades de gestão de um Programa de financiamento desta natureza. A minha principal função foi a de ‘maestro’,
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garantindo manter a orquestra no tempo e compasso correto!”, como nos refere Sandra Silva. Desde maio de 2016 assumiu funções como diretora de Serviços de Programação na DGPM, sendo atualmente a responsável pela gestão do novo Programa “Crescimento Azul” do EEA Grants 2014-2021 e do Fundo Azul. Ambos têm como principal objetivo o desenvolvimento da Economia do Mar, a investigação científica e tecnológica, a proteção e monitorização do meio marinho, a segurança marítima, a educação e a formação. Pretende-se aumentar a criação de valor e o crescimento sustentável na ‘economia azul’ portuguesa. Para além disso, a intenção é aumentar a investigação e promover a educação e a formação nas áreas marinhas e marítimas. A sinergia entre os negócios, a investigação e a educação traduz-se numa abordagem holística, permitindo um ‘crescimento azul’ sustentável em Portugal. No âmbito das atribuições enquanto diretora de Serviços de Programação da DGPM também agregou encargos pelas áreas da Vigilância Marítima Integrada, nomeadamente pelos projetos no âmbito da implementação da Política Marítima Integrada (PMI) da União Europeia (UE) e dos trabalhos para a criação de um Ambiente Comum de Partilha de Informação (Common Information Sharing Environment – CISE), visando a integração de informação dos sistemas de vigilância marítima entre nós. “Todos estes projetos têm-me proporcionado a possibilidade de viajar, conhecer novos países, novas cidades, novas culturas e novas pessoas. Parti-
cipar e organizar inúmeras reuniões de trabalho, eventos internacionais e missões empresariais são, sem dúvida, experiências que me enriqueceram e contribuíram para aumentar a minha bagagem profissional”, conforme nos explica. Contudo, Sandra Silva é perentória ao afirmar: “Considero que o mais importante numa organização são as pessoas. Em todos os meus desafios foi delas que me socorri. Procurando aproveitar as suas competências e envolvendo-as nos projetos, fazendo senti-las parte da solução e dos resultados alcançados. E este lema não o aplico apenas às pessoas que fazem parte da ‘minha equipa’, mas também a todas as pessoas da organização. Não com um sentido formal de hierarquia, mas com o sentido de entre ajuda diária e cooperação. Inclusivamente, em alguns projetos, esta cooperação revela-se ao nível institucional no contexto de parcerias com outros organismos.” Por fim, e segundo nos elucida Sandra Silva, “atualmente, o meu principal objetivo é poder contribuir para ajudar a Economia do Mar (através das formas de financiamento pela qual sou responsável), essencialmente as empresas que atuam neste setor, que tal como em outros setores da economia, estão a passar por momentos muito complicados gerados pela pandemia. Mesmo que seja ‘uma gota no oceano’, acredito que pode ajudar a fazer a diferença! Por fim, posso dizer que me sinto realizada e que gosto muito do que faço, adoro o tema ‘mar’ e isso também se aplica em termos pessoais, adoro navegar e mergulhar."
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SOFIA MIRANDA
“AS ORGANIZAÇÕES SÃO, ANTES DE TUDO, FEITAS POR PESSOAS” Enquanto diretora corporativa de recursos humanos da Casais, Sofia Miranda defende que a satisfação e o bem-estar dos colaboradores na dinâmica funcional dos RH é a chave para o sucesso das empresas. Destaca ainda a importância do conhecimento, tendo apostado fortemente na sua formação profissional e pessoal.
Sofia Miranda vivia em França quando ingressou na licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas. Sempre proativa, procurou por atividades adicionais em part-time. Foi então que numas férias de Natal e de Verão, ao trabalhar numa loja IKEA em Paris, se deu conta da sua verdadeira vocação. Sentindo que faltava algo na sua licenciatura, a interação com os colegas e a organização empresarial despertou o seu interesse pelo campo dos recursos humanos. Começou a procurar livros sobre estas áreas e a conversar com os colegas que cursavam RH, concluindo que fazia sentido mudar de rumo académico, tendo optado por estudar em Portugal. Terminou a sua licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, onde trabalha há 15 anos, sendo atualmente diretora corporativa de recursos humanos da Casais. No entanto, a sua formação nunca parou: “A formação faz parte do nosso processo evolutivo enquanto ser humano (…). Ao longo da nossa vida carreira profissional devemos ir atrás do conhecimento e não esperar que nos chegue à porta porque, senão, rapidamente perdemos o comboio.” O conhecimento é “a porta do crescimento e da sustentabilidade das empresas”, segundo defende Sofia Miranda, mas a formação pode ser igualmente útil na esfera pessoal. Considera-se uma pessoa bastante positiva e que aprecia desafios, mas, no entanto, o aumento das responsabilidades profissionais conjugado com a vida pessoal, nomeadamente pelo facto de ser mãe, fê-la perceber o quão suscetível estava à pressão e ao stress, os quais podiam limitar a sua performance. Por isso, decidiu reinvestir em si mesma para conceder outra atenção às pessoas que a rodeiam, seja no círculo profissional como a nível pessoal. Começou a praticar mindfulness, onde consegue “encontrar mecanismos de proteção e de equilíbrio pessoal”, complementando a sua formação com uma certificação em coaching: “O meu objetivo foi procurar o meu melhor enquanto pessoa, dotar-me de técnicas para este percurso de desenvolvimento, assim como estar mais preparada para ajudar os colaboradores da organização a adquirir consciência do seu potencial e evolução”, segundo nos refere. Segundo Sofia Miranda, a área dos recursos humanos nunca teve tanta visibilidade e peso como atualmente, aumentando tendencialmente a neces-
“A formação faz parte do nosso processo evolutivo enquanto ser humano (…). Ao longo da nossa vida carreira profissional devemos ir atrás do conhecimento e não esperar que nos chegue à porta porque, senão, rapidamente perdemos o comboio.”
sidade de “acompanhar de forma célere e constante as boas práticas e tendências na área”, sendo que os desafios mudam ao longo dos anos e “as organizações são, antes de tudo, feitas de pessoas.” As pessoas devem ser tidas em conta na equação e devidamente tratadas para existir um cruzamento com os modelos de gestão, as políticas e a cultura organizacional. Assim, o modelo de gestão de pessoas pode fazer toda a diferença no sucesso de uma empresa. Na sua perspetiva, a pandemia reforçou a necessidade de seguir valores que privilegiam as relações humanas e a cultura organizacional. A atração, o envolvimento, a motivação, a retenção, o feedback, o reconhecimento e o bem-estar são as palavras-chave essenciais. Não basta pagar um salário, mas torna-se cada vez mais exigível investir no colaborador “através da sua capacitação, a gestão de carreira, o seu equilíbrio/bem-estar como a própria cultura e ambiente organizacional – é estratégico para o sucesso da organização, numa escala a médio e longo prazo”, explica-nos. Esse investimento reflete-se no empenho e o comprometimento dos colaboradores com a empresa, sendo que a Casais foi distinguida no Índice de Excelência 2020, no qual, após a avaliação da satisfação dos colaboradores, destacou-se positivamente.
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A equipa de RH
Em Portugal, as empresas e as pessoas estão gradualmente conscientes das problemáticas sociais e ambientais. A própria sustentabilidade marca cada vez mais os valores e missão das empresas. Nesse sentido, a Casais promoveu recentemente uma palestra online no maior evento dedicado à sustentabilidade no nosso país: o Greenfest. Essa preocupação reflete-se igualmente a nível interno: “Com o propósito de Construir um Mundo melhor, o RH tem a responsabilidade, ao longo de todo o ciclo de vida do colaborador na organização, identificar e promover a busca e a tendência para estas temáticas com o intuito de garantir esse afinamento entre as pessoas e o negócio/estratégia”, refere Sofia Miranda. No Grupo Casais, apenas 8% dos cargos de gestão das equipas são ocupados por mulheres, aten-
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dendo a um universo de 4500 trabalhadores, onde cerca de 10% são do género feminino. Apesar disso, Sofia Miranda afirma nunca ter sentido qualquer discriminação, seja nas oportunidades ou na forma como foi tratada: “Sendo homem ou mulher, sempre fui educada que tudo dependia de nós e do nosso trabalho e esforço”, esclarece-nos. Mesmo num cargo de liderança e onde a maioria dos seus pares são homens, considera ser sempre respeitada, nunca encarada como o elemento mais frágil ou menos competente. Em termos da liderança e dos cargos de poder, “não é o género que faz a diferença, mas as softs skills que o líder possui e essencialmente a sua atitude”, afirma. Contudo, Sofia Miranda possui a convicção de que ainda existem contextos organizacionais onde a diferenciação existe, sendo fruto de “visões mais retrógradas de gestão de topo”. Defende, ao invés, que devemos, enquanto pessoas e profissionais, contribuir para a “igualdade de oportunidade e igualdade de género, até numa esfera mais familiar e pessoal.” Considera que foi feito um enorme caminho para combater os estereótipos e que a única diferença associada ao género é “o nível de sensibilidade que a mulher tem, talvez associado ao seu lado maternal”. Ao ser um profissional da área dos recursos humanos, terá mais sensibilidade para com as pessoas, mas admite que o facto de ser mulher a auxilia a encarar as situações com outra naturalidade: “Defendo nas minhas interações familiares, enquanto esposa, mãe, filha e amiga ter um papel orientador e na ajuda no crescimento. Esse caminho é um desafio constante”, conclui.
Versão - novembro 2020
QUEM SOMOS Fundada em 2018 a rede ALIMENTAR CIDADES SUSTENTÁVEIS pretende representar todos os atores e setores do sistema alimentar português, reunindo atualmente 350 membros.
MISSÃO (1) Partilhar conhecimento, fundamentado e plural, como ferramenta para ampliar o entendimento da diversidade de setores e atores, ao longo da cadeia que compõe o sistema alimentar; (2) Construção coletiva de conhecimento, como instrumento para qualificar as decisões e as políticas públicas que conduzam a sistemas alimentares ambiental, económica e socialmente mais sustentáveis.
O QUE FAZEMOS Para além da partilha de informação e de eventos realizada de forma individual e voluntária pelos membros deste “google-group”, são desenvolvidas pontualmente atividades e projetos entre as quais o e-book – Alimentar Boas Práticas: da Produção ao Consumo Sustentável (2020). https://www.quercus.pt/ebook-alimentar-boas-praticas
ADESÃO Enviar email para: alimentarcidadessustentaveis@gmail.com
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