ABRIL DE 2020
#PORTODOS Voltar a respirar Portugal ! Ajude as empresas portuguesas
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ÍNDICE 4 | Editorial 6 | O distanciamento Social, o Isolamento e a Responsabilidade Social Ordem dos Psicólogos Portugueses, Susana Almeida Lopes 8 | Do Fado à solidariedade Katia Guerreiro, Médica e Fadista 12 | Momentos de adversidade potenciam a criatividade e geram inovação Anabela Braz, Coach & HR Adviser 18 | Adaptação e responsabilidade social, quando as prioridade são as pessoas Susana Silva, Diretora dos Recursos Humanos do El Corte Inglés 22 | Os afetos, as lágrimas e o valor das memórias neste mundo novo Um espaço para nos reinventarmos mais fortes? Helena Anjos, Executive Coach, Mentor & Supervisor Coach 26 | A produção nacional como preferência do consumidor Vanda Morgado, Diretora da Aligrupo 32 | Lay off: Regime concedido automaticamente, após apresentação do requerimento à Seg. Social Carla Antunes, Jurista da SGP & Associados FICHA TÉCNICA Direção e Edição: Sandra Arouca Colaboração: Joana Carvalho, Ana Catarina Gomes, Catarina Fernandes, e WLX-design
34 | Suspensão de pagamento de rendas em estado de emergência Possibilidade Excecional de suspensão de pagamento de rendas habitacionais e comerciais Catarina Santos, Jurista da SGP & Associados 36 | As crianças também querem saber o que se passa
Contactos: geral@liderancanofeminino.org redacao@liderancanofeminino.org Registada na ERC com o n.º 126978 Propriedade de Sandra Arouca Sede e Redação - R. Nova da Junqueira, 145 4405-768 V.N.Gaia Periodicidade mensal Liderança no Feminino tem o compromisso de assegurar os princípios deontológicos e ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa fé dos leitores. O conteúdo editorial da Revista Liderança no Feminino é totalmente escrito segundo o novo Acordo Ortográfico.
40 | Como o Mindfulness pode ajudar a controlar a ansiedade e stress nesta quarentena Catarina Fernandes, Filósofa e Socióloga 44 | E agora, como comunico sem megafone? Paula Melo, Coach Organizacional 46 | Primeiro ginásio 100% online chega a portugal
48 | Atividades que pode fazer em casa
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LIDERANÇA NO FEMININO | Abril de 2020
| ABRIL 2020
EDITORIAL Quem acompanha este projeto – a Liderança no Feminino – sabe que a nossa missão passa por destacar o público feminino na sociedade portuguesa. Atualmente, mais do que nunca, a missão passa por destacar, essencialmente, a sociedade portuguesa. O que é nacional, português. Em tempos envoltos do ameaçador novo coronavírus, a economia está a abrandar. Mais do que nunca, Portugal precisa do apoio dos consumidores. A economia nacional precisa que se olhe para ela com valorização e com orgulho. Os produtores e as marcas portuguesas precisam de nós.
sempre – ou para toda a gente – vai ficar tudo bem. Contudo, continuamos a acreditar e a ter esperança em dias melhores e num futuro possível e feliz. Terminamos com um agradecimento especial a quem está na linha da frente. A todos aqueles cujos serviços são indispensáveis à nossa vida e, particularmente, aos que lutam por tratar quem padece do COVID-19, colocando as necessidades destes, em primeiro lugar.
Um bem-haja a todos.
Iniciamos a nossa edição, com a opinião da Ordem dos Psicólogos, em que o distanciamento social, isolamento e a responsabilidade social são abordados. Nesta edição destacamos alguns produtores e alguns projetos, portugueses de gema e de sangue lusitano. Estes, como outros tantos, precisam de saber que podem contar connosco. Falamos de Fado; destacamos uma das mais conceituadas associações de produtores, que não pode parar, a fim de garantir alimento na mesa das famílias portuguesas; falamos da responsabilidade social de grandes empresas; falamos de crenças, de empresas e de pessoas. Sabemos que este período é tempo que significa mudança. Muitas coisas serão diferentes. E nem
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Está na hora de içar a esperança. De erguer-nos. De procurarmos o norte, no meio da nossa sorte. Portugal recomeça. Da esperança, jamais estagnada. Respira-se Portugal.
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ORDEM DOS PSICÓLOGOS
O DISTANCIAMENTO SOCIAL, O ISOLAMENTO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL A Ordem dos Psicólogos Portugueses tem tido um papel importante, desde o primeiro momento, aquando do início do surto na China, em articulação com a Direção-Geral da Saúde, que criou desde esse primeiro momento um grupo de missão coordenado e formado por psicólogos para acompanharem e aconselharem a resposta da DGS ao nível comportamental. A Revista Liderança no Feminino, em conversa com Susana Almeida Lopes, membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses, foi conhecer as sua opinião. "Todos nós, enquanto seres humanos, estamos condicionados a tomar decisões e a comportarmo-nos utilizando heurísticas e enviesamentos que funcionam como shortcuts para automatizar o comportamento, permitindo-nos sermos muito céleres e pouparmos energia. Estes mecanismos têm, contudo, alguns revezes, dado que prejudicam a tomada de decisão lógica e racional, munida de todos os factos para uma tomada de decisão objetiva, não emocional e que maximize proveitos. Esta pandemia põe-nos à prova na nossa humanidade, na nossa capacidade de superarmos a nossa própria condição e contrariarmos os nossos erros e enviesamentos, que são muitos. Destaco alguns, que deixo para reflexão. Desde logo, o efeito de tomarmos decisões e elaborarmos conhecimento com base na informação que temos acessível no momento. A massificação de informação sobre a pandemia nos media faz com que a saliência dos números atinja proporções maiores do que são, de facto.
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E que julguemos, por exemplo, uma probabilidade de contágio muito maior do que efetivamente é. Não retiro daqui a gravidade da situação, apenas a proporção. Continuam a morrer muito mais pessoas diariamente por outras causas, mas não são notícias, e podemos, assim, desvalorizar a probabilidade, nesta fase, de padecer de outros males. Outro enviesamento, é o de avaliarmos as situações de acordo com os nossos pontos de referência. Para quem está contagiado ou vive de perto situações de doença ou mesmo de fatalidade, esta doença é muito mais complexa do que para quem se mantém a salvo. Tal terá efeitos nos tipos de comportamento que as diferentes pessoas podem adotar em termos das regras de isolamento social, por exemplo. Enviesamento interessante para este contexto é o da existência de um gap entre a nossa intenção e o nosso comportamento. Até colocamos no facebook uma notificação “eu fico em casa” e podemos ter a melhor das intenções, mas depois torna-se diariamente imperioso sair, e há sempre uma razão imperiosa, a ida ao supermercado, à farmácia, à peixaria, ao talho… Também a nossa tendência para procurarmos evidências confirmatórias às nossas opiniões tem destaque na situação atual. Talvez por aqui se expliquem as diferenças de perspetivas acentuadas entre quem considera estarmos perante uma situação alarmante, acentuando o número
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exponencial de contágios e mortes; e quem considera que as medidas de isolamento são excessivas tendo em conta a baixa percentagem na população geral ou comparativamente com situações anteriores mais graves: cada um vê os números que quer ver e desvaloriza os que infirmam as suas convicções. Mas há um mecanismo que gostava de destacar. Contrariamente ao que nos diz a teoria da racionalidade clássica, nós, humanos, não agimos sempre para maximizarmos os proveitos próprios. E tal está refletido na cadeia de apoio social a que temos assistido. Os seres humanos são capazes das melhores ações, em prol dos outros. Os profissionais de saúde estão na linha da frente, deixando para depois’ o cuidado da própria família. Várias organizações passaram a produzir os produtos necessários no combate à pandemia. Há informação jurídica disponível, webinars de formação gratuitos, avaliações online. Há toda uma abordagem de responsabilidade social ímpar que nos conforta.
"Esta pandemia põe-nos à prova na nossa humanidade, na nossa capacidade de superarmos a nossa própria condição e contrariarmos os nossos erros e enviesamentos, que são muitos."
Afinal, vale a pena termos enviesamentos e sermos humanos”.
Susana Almeida Lopes, Membro da Direcção da Ordem dos Psicólogos Portugueses
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Katia Guerreiro, fadista
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À SOLIDARIEDADE Katia Guerreiro, em conversa com a revista Liderança no Feminino, fala da sua passagem pela medicina até ao fado. Em momentos de crise, em que vê a sua atividade brutalmente atingida pelo novo coronavírus, Katia fala-nos de renascer e na solidariedade que ocupa o lugar do Fado.
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DA MEDICINA AO FADO Sempre assumindo a medicina como a sua vocação, Katia conta-nos que foi aquando o nascimento da sua filha, há 7 anos, que deixou de exercer. A certa altura, apesar dos esforços de conciliação, foi percetível que as duas atividades eram incompatíveis. Assumindo o Fado o full time da sua agenda e espaço integral no seu coração. Assume que apesar de dividir a sua vida entre as duas paixões, assume que o Fado “trocou-lhe as voltas”, sendo hoje uma das mais internacionais fadistas portuguesas. Entre a grande riqueza lírica, Katia conta com uma série de álbuns publicados como “Fado Maior” (2001), “Nas Mãos do Fado” (2003), “Tudo ou Nada” (2005), “Fado” (2008), “Os Fados do Fado” (2009), “Até ao Fim” (2014) e “Sempre” (2018), entre outras compilações e participações especiais.
"(...) partilha não ter qualquer estratégia para o futuro. A sua atividade profissional cessou antes de todas as outras cessarem. E será, infelizmente, a última a ser retomada."
AS MUDANÇAS EM TEMPOS DE COVID Graças à sua formação na área da medicina, há sempre questões que algumas pessoas esperam que Katia ajude a esclarecer. De forma a dar a resposta mais segura e fidedigna a quem a si recorre, afirma que acaba por recorrer a colegas para são atualizados diariamente. Colegas estes em quem tem muita confiança, pela sua qualidade clínica e humana. A estes, Katia quer transmitir-lhes a sua profunda solidariedade. No que respeita à mudança no familiar, partilha estar a viver, como todos, dias estranhos, em que de repente se viu 24 horas por dia rodeada da família. Sente que estão a criar laços mais profundos entre todos e, até mesmo, a conhecer melhor os limites de cada um.
O FADO À DERIVA Katia Guerreiro é, atualmente, uma intérprete consagrada e reconhecida como uma notável embaixadora da música portuguesa, chegando a receber o prémio Personalidade Feminina 2005. Uma das mais belas vozes portuguesas, afirma que também sente os dias penosos do isolamento social. Neste momento partilha não ter qualquer estratégia para o futuro. A sua atividade profissional cessou antes de todas as outras cessarem. E será, infelizmente, a última a ser retomada. Partilha que, como tantos portugueses neste momento, a sua única preocupação é tentar cumprir com todas as suas obrigações fiscais e compromissos financeiros. Não tendo qualquer rendimento, e não se enquadrando em nenhuma das medidas anunciadas
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pelo governo português até ao momento, afirma que vai gerindo, da melhor forma que consegue. Neste momento revela-se a incapacidade de resposta perante todos os setores, encontrando-se o Fado, tal como várias artes e artistas, à deriva, neste tempo de COVID. Na sua opinião, as empresas menos afetadas por esta crise, deviam ter a responsabilidade social de garantir o mínimo de qualidade de vida aos portugueses. Porque, neste momento, são as que menos perdem, entre todas. Medidas como redução de taxas de consumo, são algumas possibilidades que deviam ter em conta, com objetivo de ajudar as famílias que se vêm confinadas nas suas casas, durante este período.
RESILIÊNCIA, ACEITAÇÃO E COMPAIXÃO Para Katia, este é um tempo em que somos colocados à prova a todos os níveis. A nossa resistência, aceitação e compaixão podem ditar a força do que somos realmente feitos. Não é um tempo para baixar os braços, mas sim lutar com verticalidade para que, ultrapassada esta primeira fase de crise, sejamos capazes de nos reinventar e recriar o nosso mundo. Para a fadista, todos temos uma força estranha que nos move, muitas vezes escondida por detrás dos medos. Mas ela existe!
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Katia Guerreiro, fadista
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MOMENTOS DE ADVERSIDADE POTENCIAM A CRIATIVIDADE E GERAM INOVAÇÃO Anabela Braz é Coach & HR Adviser, com experiência consolidada em Recursos Humanos, um forte know-how em diversos setores do mercado e serviços profissionais. Em conversa com a Revista Liderança no Feminino, deu o seu contributo face à situação atual que não só o país, mas o mundo em geral atravessa.
AS NOSSAS CRENÇAS SÃO COLOCADAS EM CAUSA Com especialização em parceria de negócios e especialista em diversas disciplinas de Recursos Humanos (RH) em ambientes nacionais e internacionais, Anabela Braz demonstra uma sólida capacidade de trabalhar entre jurisdições, em diferentes estruturas organizacionais. Numa análise preliminar sobre o impacto do novo coronavírus na sociedade, Anabela aborda a crise económica que vivemos em Portugal, como idêntica ao que observamos noutros países. O COVID-19 originou uma perceção e interpretação da realidade atual baseada na ansiedade, medos e incertezas. Este vírus invisível aos olhos, veio pôr em causa as nossas crenças, gerando um sentimento de impotência. Facto é que algumas das consequências serão ao nível da saúde, do emprego, das condições de trabalho, da qualidade de vida das pessoas, das formas de estar no dia-a-dia e, inclusivamente, da situação climática do planeta. O que está a acontecer, hoje, não é mais do que o “retorno” de tudo o que fizemos até agora, explica. A crise irá agudizar-se antes de entrar em recuperação. Anabela Braz refere que devemos aproveitar esta pausa forçada para analisar como chegámos até aqui e o que queremos para o futuro. Delinear o mapa e, logo que possível, pôr pés ao caminho.
O POSSÍVEL IMPACTO NAS PMES Enquanto coach profissional e com experiência no ramo dos RH, Anabela Braz vê as PME’s como a representação da maior parte do tecido empresarial em Portugal e a área de maior empregabilidade do país. Assim sendo, acredita que as mudanças que se têm vindo a introduzir, nos últimos anos, sobre o posicionamento das empresas, relativamente, às estratégias de gestão de recursos humanos demonstram sinais bem claros de evolução.
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“CUIDAR DAS PESSOAS” O que esta pandemia nos deu a ver é que ainda temos um caminho a percorrer e isso é bom, pois significa que estamos no rumo certo. Anabela partilha ainda uma recomendação, como já alguém disse: “cuidem das vossas pessoas, elas são o garante do sucesso de negócio”. As empresas têm, neste momento, a oportunidade de realizar um exercício de análise sobre a sua cultura e adaptar-se à nova realidade, quer pelo contributo que podem dar para a comunidade, pelo que devem deixar de fazer e, o que falta colocar em prática.
AS PME’S PODEM APROVEITAR PARA COLOCAR PERGUNTAS SIMPLES, MAS PODEROSAS: “O QUE APRENDEMOS COM ISTO?”, “O QUE QUEREMOS EM VEZ DISSO?” E A QUESTÃO MAIS DESAFIANTE: “COMO GARANTIMOS QUE ISSO PASSA A INTEGRAR A CULTURA?” Numa sugestão, agora dirigida aos gestores das empresas, Anabela recomenda que partilhem as suas experiências, as suas boas práticas e as suas lições aprendidas. Este momento de pausa criou as condições ideais para estabelecer ligações e fazer aquilo que antes, por falta de disponibilidade, não conseguíamos fazer. Colocar de lado as estratégias de concorrência e unir esforços perante o verdadeiro concorrente económico atual: COVID-19. Os momentos de adversidade potenciam a criatividade e geram inovação. Um desafio que lança passa por criar uma plataforma de partilha do conhecimento para o sucesso de todos e, registar as vivências deste período para referência futura.
É PRECISO AGIR, REALINHAR, SER COLABORATIVO E COMUNITÁRIO É claro para todos que é necessário evitar o descala-
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Anabela Braz, Coach & HR Adviser
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bro económico. Para tal, o verbo da ordem do dia é «AGIR». Agir em conjunto, olhar não somente pelos colaboradores, mas igualmente contribuir para a comunidade onde as empresas estão inseridas, em conjunto com os clientes, parceiros, fornecedores e entidades com quem interagem. O espírito deve ser colaborativo e comunitário. A palavra que mais se tem ouvido é «solidariedade», voltámos a ser solidários. Isso é claro. Temos várias entidades e empresas que também se realinharam e interagem para produzir outros produtos: viseiras, máscaras, gel higienizante, entre outros. Muitos, e cada vez mais, são os exemplos. Para Anabela, isso demonstra que temos a capacidade de mudar as coisas, que somos capazes de rapidamente nos adaptar face às circunstâncias. Temos sucesso no curto prazo. Anabela Braz reforça que é importante colocar foco nas medidas a médio e longo prazo, de apoio à saúde, melhoria das condições de vida e zelar pelo que é essencial para viver e não para sobreviver. Gerir as nossas pessoas para evitar ter de contar o dinheiro no final do mês. Com fortes habilidades de liderança e capacidade
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comprovada de estabelecer relacionamentos com a empresa, Anabela foca na importância de zelar pela qualidade vida dos colaboradores para que a frase: “Tenho de trabalhar”, passe a ser “Gosto do que faço”.
É VITAL QUE OS GESTORES ESCUTEM AS SUAS PESSOAS A motivação dos colaboradores é de extrema importância e sabemos que os índices de produtividade e os resultados de negócio dependem de quem trabalha para nós. Para isso, é vital que os gestores, realmente, escutem as suas pessoas, para as conhecerem, saberem o que as move, o que pretendem para a sua carreira e definirem estratégias de gestão centradas nas pessoas. Não bastam discursos sobre o tema, é necessário e devemos passar à ação. Senão serão palavras que o vento leva e nada fica. No entanto, Anabela também sublinha que a responsabilidade sobre o que queremos, não depende somente dos gestores. Os colaboradores têm, igualmente, um papel determinante no estabelecimento destas novas estratégias e em procurar ser parte in-
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tegrante na definição de metas e processos. Todos, enquanto colaboradores, não podemos demitir-nos do nosso papel.
com as alterações introduzidas. Por fim, pensar novamente os princípios da Visão, da Liderança e da Gestão de pessoas.
É IMPORTANTE REFLETIR SOBRE VALORES E SOBRE O QUE REALMENTE IMPORTA
A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS
Anabela considera ainda que as metas de negócio são fundamentais para ultrapassar esta crise. Torna-se necessário aproveitar a paragem forçada para refletir sobre os valores e o que realmente importa. Realça que não estamos sozinhos e que o exercício da cidadania é fundamental, tal como a solidariedade é essencial e, a sustentabilidade, indicador de sucesso dos objetivos traçados. Estas ações poderão implicar: 1. Reagrupar: Rever as atuais metas e ajustar à nova realidade; 2. Redefinir as metas a médio e longo prazo para gerar sustentabilidade; 3. Re-focar: Envolver ativamente os colaboradores no estabelecimento dessas metas; 4. Reorganizar: Rever as políticas de RH em linha
Existe uma Responsabilidade Social Corporativa e Empreendedora nos seus diferentes eixos e, como tal, é necessário implementar efetivamente diferentes ações. Ao compreender o que estamos a viver, podemos tirar partido das sinergias e cooperação e gerar criatividade e inovação. Ajustar o foco, para adaptarmos às novas circunstâncias. De acordo com a expert, o coronavírus mostrou ao mundo que objetivos exclusivamente baseados na obtenção de lucro não beneficia nada, nem ninguém. Sejamos ricos ou pobres, estamos todos de forma igual vulneráveis ao contágio. Para Anabela, um maior equilíbrio entre objetivos financeiros e de responsabilidade social levará a maiores lucros. A recuperação económica virá ligada
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à responsabilidade social: Negócio, Saúde, Emprego, Educação/Formação e Ambiente.
É IMPORTANTE INTEGRAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO ADN DAS EMPRESAS Como tudo na vida, existe um lado positivo, e temos, neste momento, as condições mais favoráveis para as empresas exercerem a sua responsabilidade social. Temos excelentes exemplos, desde empresas que deixaram o seu negócio habitual para produzir produtos necessários a todos; alterações dos tempos de trabalho (redução, alterações de turnos, rotatividade); introdução de novas formas de trabalhar (como o teletrabalho); maior preocupação nas questões de higiene e segurança no trabalho (menos horas, maior espaço entre postos de trabalho, regras de higienização). E estas reduções já estão a ter efeitos no nosso clima (redução da emissão de CO2 e da poluição em geral). O desafio, para Anabela, será: “Conseguirão as empresas, aproveitar o momento e integrar a Responsabilidade Social no seu ADN?”
PARAR, AVALIAR E, EVENTUALMENTE, REINVENTAR Tempos difíceis se avizinham, mas para todos. Eventualmente, muitos trabalhadores independentes enfrentarão dificuldades para voltar às suas atividades profissionais. Existem medidas de apoio social também para estes profissionais e que também foram contemplados pelas medidas do Governo, divulgadas recentemente. À semelhança dos restantes agentes económicos, deverão parar para avaliar o seu estado e, eventualmente, reinventarem-se para prosseguir o seu caminho.
Reforça ainda que não é tempo de reclamar, não é tempo de intolerâncias, de apontar de dedos e de culpabilização. Já que a vida nos obrigou a esta paragem, devemos aproveitá-la para pensar positivo, refletir sobre as nossas escolhas de vida e desejos futuros. Devemos unir esforços.
É TEMPO DE ACREDITAR E DE FAZER ACONTECER A executiva e coach de equipas, resume esta conversas como o resultado de um contributo de vivências de pessoas que lhe são próximas e trabalham em diferentes áreas: Saúde, Educação, Indústria, Formação, Turismo, Terapias e, indica que aprendeu que o sentimento é igual, os medos são os mesmos e a incertezas são comuns. Contudo, também é comum o desejo de sair mais forte, de ultrapassar este momento e voltar à normalidade, sabendo que o conceito de normalidade não será igual ao anterior. Termina com um agradecimento a Isabel, Lígia, Anabela, Inês, Raquel, Paula, Ana Filipa, Bruno e Ricardo, por contribuírem de forma enriquecedora para esta conversa. Agora temos tempo para estar em recolhimento, fazer tudo aquilo que antes, por falta de tempo, fomos adiando. Não adiemos mais, é tempo de seguir vivendo e ACREDITAR que sim... «Vai correr tudo bem» e, está nas nossas mãos o Poder de Transformação e de Fazer Acontecer, porque afinal estamos todos no mesmo barco.
ESTAMOS NUMA FASE EM QUE DEVEMOS PENSAR POSITIVO E UNIR ESFORÇOS Anabela, que tal como muitos de nós nunca imaginou viver uma situação de pandemia, refere que durante as últimas semanas tem sentido a saudade de um abraço, de um beijo, de dar a mão, de passear, de tomar café numa esplanada, de estar com a família e com os amigos. Afirma que hoje, sente falta daquilo que sempre deu por adquirido, até nas mais pequenas coisas. Para além da desinfeção das mãos, a coach recomenda também desinfetar a mente das crenças limitantes, que nos impedem de atingir toda a nossa máxima capacidade.
ANABELA BRAZ Email: AMSBCoach@gmail.com
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Susana Silva, Diretora de Recursos Humanos do El Corte Inglés
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ADAPTAÇÃO E RESPONSABILIDADE SOCIAL, QUANDO AS PRIORIDADE SÃO AS PESSOAS O trabalho de Susana Silva incide na gestão de pessoas. Em entrevista à revista Liderança no Feminino explica-nos como o El Corte Inglés está a viver, junto dos seus colabores, esta crise pandémica, provocada pelo novo coronavírus COVID-19.
A direção do El Corte Inglés tem estado, desde o início desta crise, a adaptar sistemática e permanentemente, os processos de trabalho e as pessoas às necessidades ditadas pela evolução da pandemia, de acordo com as determinações das autoridades e as recomendações dos especialistas em saúde, tanto para proteger os seus colaboradores como os seus clientes. Susana Silva, Diretora de Recursos Humanos (RH), afirma que através da comunicação interna da empresa, têm informado os seus colaboradores das medidas e das alterações necessárias. A equipa de RH está, por sua vez, em permanente contacto com os colaboradores, procurando esclarecer coletiva e individualmente, as muitas dúvidas sobre o que devem fazer, de acordo com as novas regras e leis ditadas na sequência do estado de emergência.
todos os casos suspeitos, bem como, a planificação de quarentenas alternadas nas equipas, o que, a par com a redução do horário de funcionamento e do fecho de uma grande parte da superfície comercial, permite à empresa garantir que as equipas não se cruzam, e que é possível continuar a ter mais possibilidades de responder à sua missão de prover os bens alimentares e outros de primeira necessidade junto da comunidade. Contudo, a Diretora de Recursos Humanos, refere que têm a consciência de que esta é uma circunstância muito dinâmica e que, a cada dia que passa, serão impelidos a tomar novas medidas.
A EMPRESA ADAPTA-SE ÀS SUAS PESSOAS Quando os primeiros casos apareceram em Portugal, o El Corte Inglés decidiu elaborar um Plano de Contingência, onde consagrou procedimentos para cada circunstância possível de prever, incluindo a de existirem suspeitas de contágio entre os colaboradores. O seu Plano de Contingência conta com um serviço médico dentro das instalações da empresa que, conjuntamente com a equipa de Segurança e Higiene no Trabalho, tem prestado apoio aos colaboradores e tem implementado todas as medidas previstas no respetivo Plano, bem como outras, que, entretanto, foram adotando. Susana reforça que, para além de seguir as recomendações da Direção Geral de Saúde, a empresa foi adaptando as suas pessoas a cada medida que tem vindo a ser implementada, sempre a pensar no bem-estar de cada um e na segurança de todos. Logo que o Plano de Contingência foi ativado, as colaboradoras que se encontram grávidas e as pessoas consideradas de risco ficaram em casa. Susana informa ainda que existe um controlo exaustivo de
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RESPONSABILIDADE SOCIAL E ENTIDADE EMPREGADORA INCLUSIVA Susana confessa que gostaria que fossem os stakeholders da empresa, ou seja, os grupos de interesse, e não a própria empresa a aferir da responsabilidade social corporativa. Na área que lhe diz diretamente respeito, o pessoal, diz-se muito orgulhosa, justificando que foram a primeira empresa privada a receber o Selo de Entidade Empregadora Inclusiva, fruto da política de contratação, formação e condições laborais, e de acesso a pessoas portadoras de deficiência. Também os grandes investimentos em formação e os compromissos de igualdade, transparência, ética e solidariedade são exemplos da responsabilidade com que, todos os dias, procuram gerir as pessoas. Nas demais áreas, seja na relação com fornecedores, seja na relação com os clientes, com a comunidade e com o ambiente, também afirma encontrarem-se empenhados em agir, de forma responsável, e que têm um plano anual de ações concretas de responsabilidade assumida pela empresa. Neste caso, Susana refere-se ao código de ética com que asseguram a relação com os fornecedores, dos compromissos que assumem e cumprem com os clientes, do esforço de apoio à sociedade, seja no âmbito social, seja no âmbito cultural e, finalmente, no esforço e no investimento que fazem no tratamento de resíduos e nas alterações introduzidas para reduzir o consumo de plástico, o consumo de energia e no apoio a atividades social e ambientalmente sustentáveis.
A CRISE DESENCADEOU UMA ONDA DE SOLIDARIEDADE Como é de conhecimento público, o El Corte Inglés está com as suas lojas encerradas, só funcionando os supermercados e parafarmácias. Contudo, são várias as equipas a trabalhar remotamente em casa. Este foi o impacto direto da crise provocada pelo COVID-19 e por este momento de pandemia na empresa. Por outro lado, esta crise desencadeou uma onda de solidariedade entre todos os colaboradores que se voluntariaram para ajudar nas áreas que se mantêm ao serviço da população.
CADA UMA DAS SUAS PESSOAS É MUITO VALIOSA Susana partilha que todos vivem estas últimas semanas com algum receio e preocupação, em primeiro lugar, com a saúde das pessoas e também com o que aí vem. Mas diz ter reparado que nestes momentos de crise, as pessoas revelam o melhor
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"(...) para além de seguir as recomendações da Direção Geral de Saúde, a empresa foi adaptando as suas pessoas a cada medida que tem vindo a ser implementada, sempre a pensar no bem-estar de cada um e na segurança de todos."
delas, unindo-se e mostrando que juntos vão superar esta fase menos boa. Da parte da empresa, Susana garante que tudo será feito para proteger os postos de trabalho, as pessoas do El Corte Inglés, que sempre foram consideradas o ativo mais importante da empresa. São elas que garantem a principal diferenciação no mercado, que é a qualidade e a excelência do serviço e do atendimento. Cada um dos seus colaboradores é muito valioso e a empresa investiu muito na sua formação. Por isso, também tudo fará para continuar a apoiar as suas pessoas, garantindo que continuarão juntos até esta situação passar e trabalhando para que assim continue no futuro.
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OS AFETOS, AS LÁGRIMAS E O VALOR DAS MEMÓRIAS NESTE MUNDO NOVO UM ESPAÇO PARA NOS REINVENTARMOS MAIS FORTES?
Neste mundo novo, neste puzzle em que as peças não encaixam porque ficaram confinadas a um espaço demasiado pequeno, diferentes realidades são vividas com distintos sentires. Na realidade das crianças, o espaço escola é substituído pelo espaço casa, onde os pais reaprendem, porque são contentores de afetos, a transformar o corredor num campo de futebol, a mesa da cozinha num salão de cabeleireiro, onde os abraços passaram a acontecer sem pressas e saboreados, onde a minha neta de 4 anos dizia hoje: “mãe, sabes uma coisa? Eu não quero que os polícias tirem o COVID19 da escola porque quando isso acontecer eu já não vou poder estar em casa com vocês, e eu gosto”. E também existem os pais que não honram a infância dos filhos porque não se honram como adultos. Em casa impera o cansaço, o sufoco de ouvir as crianças. Vejo-me de costas. As lágrimas invadem-me o rosto. Tenho sete anos e o meu pai, o marinheiro, está longe, no meio do Atlântico. Tenho saudades. Dizem-me que está a ajudar os soldados feridos. Habita em mim a memória do seu último abraço na Doca de Alcântara. E fora do espaço casa existem centenas e centenas de seres humanos a adoecerem, a sofrerem muito e a morrerem sós, sem um último adeus dos familiares. Este é o mundo novo. Um mundo onde os profissionais de saúde assumem o compromisso diário de salvar vidas. E choram de dor porque perdem vidas, vidas que partem sem que lhes possam segurar a mão.
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E sofrem porque não estão no espaço casa a abraçar os que amam. E nesta viagem, existem casais que se descobrem e ousam viver, com criatividade, cada dia das suas vidas. Respiram o mesmo ar, são a melhor versão de si próprios. Um bife com batatas cozidas é um prato temperado com a cor dos afetos. E nesta viagem, existem casais que se assustam quando se encontram confinados no espaço casa. Não se conhecem, não gostam do cheiro dos corpos, inventam pequenas imperfeições, agora utilizadas como armas de arremesso. Viviam o trabalho, e a casa não era um espaço acolhedor, apenas onde se deitavam a correr. E esta realidade do “já não sei quem és” acontece enquanto, no mundo novo, os profissionais de saúde, com recursos escassos, se equipam meticulosamente para ajudar seres humanos. E vivem o drama de
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terem que escolher quem vão salvar. E este é um dilema que vai deixar feridas para o resto da vida. E um dia o meu pai voltou. Os sapatos azuis já não me servem. Estou crescida, estou na 3ª classe. O meu pai trazia um menino embrulhado no casaco. Era um menino com olhos gigantes. O meu pai, o meu herói, tinha salvo aquele menino em África. Conta-me que quando desembarcou viu uma aldeia com todos os habitantes sem vida. O menino estava assustado dentro de uma pipa de madeira. Esse menino, hoje, é médico em Coimbra. E neste mundo novo os filhos não se despediram dos pais. Como se faz o luto nestas situações? Guardam-se as memórias boas, que são atravessadas pela dor do abraço que ficou por dar.
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Será que neste mundo novo vamos ter um espaço interno para nos apaziguarmos e reinventarmos? Acredito que sim e que, os que ficarmos, vamos ser pessoas mais completas, mais contentoras de afetos, que vamos olhar para a vida com um olhar curioso e carinhoso. Ontem, a vida fez-me uma oferta de esperança. Tive duas sessões de Coaching com duas pessoas da mesma empresa. Ambos tem posições de topo. Começaram o processo há 3 semanas. Ana sabia que o seu poder estava na sua atitude bomba relógio e na sedução. João não sabia como falar com ela, nem com os colaboradores. Vivia prisioneiro do medo de falhar na comunicação. Senti que neste mundo novo também se ousa sorrir. Estes clientes já conversam, o João reconhece o esforço da Ana para falar com calma e ser solidária.
Executive Coach, Mentor & Supervisor Coach T.: 968 730 387 www.helenaanjos.coach Email: coach@helenaanjos.coach
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A PRODUÇÃO NACIONAL COMO PREFERÊNCIA DO CONSUMIDOR Enquanto inúmeras empresas pararam a sua atividade devido à propagação do novo coronavírus no país, a Aligrupo não pode parar. Em entrevista à revista Liderança no Feminino, Vanda Morgado partilha a missão do grupo para com as famílias portuguesas, e pede o apoio do consumidor à produção nacional.
Como diretora de um grande conjunto de empresas detidas por produtores de pecuária, Vanda Morgado partilha que a missão da Aligrupo é a de concentração da produção, possibilitando a criação de uma economia de escala para produtores de diferentes dimensões. O objetivo é garantir o poder negocial nas relações comerciais, assim como, colocar no mercado produtos diferenciados que respondam às exigências dos consumidores. Vanda afirma que o facto de concentrarem a produção confere uma maior capacidade negocial, sendo que são o primeiro agrupamento de produtores de suínos a ser reconhecido a nível nacional. Isto traduz-se em inúmeros desafios, nomeadamente, o da uniformização e redução dos custos produtivos dos seus agrupados e, principalmente, a obtenção das melhores condições para comercialização dos seus animais, que representam 8% da totalidade da produção nacional. Este empenho, esforço e dedicação faz com que a Aligrupo venda, desde o ano de 1994, os considerados melhores porcos do mundo.
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MANTER A ECONOMIA A CIRCULAR FAZ PARTE DOS OBJETIVOS DA ALIGRUPO A produção da Aligrupo não é centralizada, sendo o seu âmbito de atuação a nível nacional. O grupo tem agrupados do Norte ao Sul do país, do interior ao litoral. Apesar da oferta ser concentrada a partir de um escritório central, privilegiam que a colocação dos animais seja feita a nível local, resultando não só na redução de custos logísticos, como na redução da pegada de carbono. Vanda Morgado afirma que um dos valores transversais a todos os agrupados é o da sustentabilidade ambiental. A diretora destaca ainda a importância da economia circular no setor, afirmando que não consegue perceber porque é que o nosso governo, ao invés de incentivar a utilização de efluentes pecuários, numa ótica de economia circular e boas práticas ambientais, dá livre trânsito a fertilizantes químicos, que são utilizados na nossa agricultura, esses sim contaminantes dos nossos recursos.
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Vanda Morgado, diretora da Aligrupo
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O IMPACTO NO SETOR PODE SER MINIMIZADO COM O APOIO DO CONSUMIDOR Vanda concorda que se torna primordial optar pelos produtos nacionais e apoiar a agricultura portuguesa agora, em particular, mais do que nunca. Considera que é essencial incentivar o consumo de produtos nacionais pelo que, neste momento, os suinicultores portugueses estão com dificuldades de escoamento dos seus animais, enquanto a nossa autosuficiência é de apenas 75% do que produzimos. A grande distribuição do país continua a não priorizar a produção nacional e, só o consumidor pode mudar a forma da grande distribuição agir. Ainda sobre a situação atual, em que o país e o mundo atravessam uma situação de pandemia, Vanda acrescenta que Portugal não é soberano a nível alimentar e que, se as fronteiras fechassem, não seria possível alimentar o país. Pela sua análise, o setor primário nunca foi considerado essencial aos olhos dos governantes do nosso país. Com a crise com que todos nós nos vimos a braços, Vanda afirma que haverá um grande impacto no setor. É necessário que haja um apoio à produção nacional, para que num horizonte a 10 anos podermos ser autosuficientes em carne de porco.
A SITUAÇÃO ATUAL EXIGIU UMA MUDANÇA ESTRUTURAL, MAS A ALIGRUPO É DAS EMPRESAS QUE NÃO PODE PARAR Face aos ajustes da Aligrupo perante o novo coronavírus, COVID-19, Vanda Morgado afirma que os objetivos e metas delineados passam, acima de tudo, por garantir o bem-estar animal, garantindo a alimentação e os seus cuidados médico-veterinários, sabendo já que se vão deparar com várias limitações, pelas quais terão de redobrar esforços a fim de as contornar. Por outro lado, a diretora indica que é necessário garantir o escoamento da produção, o que confessa não estar a ser uma tarefa fácil, dado que o encerramento de toda a restauração e hotelaria levaram a uma alteração de consumos por parte dos portugueses. Relativamente às mudanças do modo de trabalho, Vanda partilha que o Plano de Contingência do grupo foi acionado e que toda a equipa está a dar tudo de si. Não é possível alimentar os animais à distância, por teletrabalho, tão pouco é possível produzir ração e fazê-la chegar às explorações através de videoconferências. A equipa trabalha por turnos, com regras de biossegurança muito apertadas. No que respeita aos fornecedores, estes têm garantido os serviços mínimos, embora o grupo já sinta vários constrangimentos. Os hábitos de consumo alteraram-se e os produ-
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tores de leitões sentem uma dificuldade de escoamento brutal.
SÃO AS FAMÍLIAS PORTUGUESAS QUE DÃO ÁNIMO PARA CONTINUAREM A TRABALHAR Vanda partilha que o tecido humano da Aligrupo é composto por mães, pais, filhos e filhas, mas, acima de tudo, tem pessoas fantásticas, que todos os dias conseguem fazer com que tudo continue a funcionar. Todos têm dado um bocadinho mais de si. Desta forma, juntos, conseguem que a roda continue a girar e o trabalho flua. Entre teletrabalho, turnos e receios, a equipa tem conseguido que todos os portugueses tenham carne à sua mesa, durante as refeições em família. “São também as famílias portuguesas que, neste momento, precisam de nós, que nos dão ânimo e que não nos deixam parar!”, afirma Vanda Morgado. Pelo valor que a produção do grupo tem, é importante que consumam o que é português, o que é nosso. É fundamental o apoio aos nossos suinicultores. Por isso, fica a mensagem a todos: “escolham comprar o que é nacional”.
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Sr. Vitor Menino Presidente do GrupoAli, a Ministra da Agricultura Maria do CĂŠu Albuquerque e Vanda Morgado, diretora da Aligrupo
Vanda Morgado Diretora da Aligrupo - Agrupamento de Produtores de Suinos C.R.L. T.: 212 326 720 | 932 326 720 www.grupoali.pt Email: geral@grupoali.pt vandamorgado@grupoali.pt www.facebook.com/GRUPOALI1997/ | www.linkedin.com/company/aligrupo-c-r-l/ | www.instagram.com/aligrupo/
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LAY OFF
REGIME CONCEDIDO AUTOMATICAMENTE, APÓS APRESENTAÇÃO DO REQUERIMENTO À SEG. SOCIAL Dec.-Lei n.º 10-G/2020 de 26 de Março
Carla Antunes Jurista, SGP & Associados
LAY OFF – REGIME CONCEDIDO AUTOMATICAMENTE, APÓS APRESENTAÇÃO DO REQUERIMENTO À SEG. SOCIAL DEC.-LEI N.º 10-G/2020 DE 26 DE MARÇO CASOS EM QUE PODE SER APLICADO: Encerramento total ou parcial da empresa por decisão das autoridades de saúde (encerramento obrigatório); Paragem total ou parcial da atividade da empresa, nomeadamente por quebra da atividade das cadeias de abastecimento ou suspensão/cancelamento das encomendas ou reservas; Queda acentuada de 40% da faturação por referência ao mês anterior ou período homólogo. Aplica-se a qualquer empresa, independentemente do setor de atividade e dimensão. Estabelecido o período máximo de utilização deste mecanismo – 1 mês, renovável pelo máximo de 3 meses. Condição: durante o período do lay off o empregador não pode proceder ao despedimento dos trabalhadores abrangidos pelo lay off, bem como nos 60 dias seguintes à aplicação do regime. É possível a fiscalização posterior.
COMO ACEDER? Comunicação prévia aos trabalhadores abrangidos sobre a decisão e duração previsível da mesma, depois de ouvidos os sindicatos (caso existam); Preenchimento de formulário disponível no site da Segurança Social; No formulário são identificados os trabalhadores a abranger pela medida; No caso dos pontos ii) e iii) é necessária declaração do empregador atestada pelo contabilista da empresa; Apoio é dado a partir do momento em que é pedido.
NO QUE CONSISTE O REGIME PROPRIAMENTE DITO? É pago 2/3 da retribuição bruta aos trabalhadores, até ao máximo de 3x do salário mínimo (1905,00€). O valor mínimo é o salário mínimo. 30% da retribuição é paga pela empresa e 70% é paga pela Segurança Social. Há uma suspensão do contrato – o trabalhador não presta o trabalho; ou há uma redução da jornada de trabalho; Durante este período mantém-se os deveres e direitos das partes, com exceção da prestação do trabalho no caso da suspensão do contrato.
O REGIME É O MESMO PARA OS DOIS CASOS? Não. No caso da redução da jornada de trabalho as horas trabalhadas são pagas por inteiro pela empresa; Retribuição contributiva pelas horas não trabalhadas. Esta tem de fazer a diferença para atingir os 2/3 da retribuição bruta. O critério é o mesmo: 30% pago pela empresa, 70% pago pela Segurança Social. A empresa fica isenta do pagamento da TSU (37,35%) relativamente aos trabalhadores abrangidos e durante os meses que vigorem as medidas; O trabalhador tem de continuar a fazer as contribuições.
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SUSPENSÃO DE PAGAMENTO DE RENDAS EM ESTADO DE EMERGÊNCIA POSSIBILIDADE EXCECIONAL DE SUSPENSÃO DE PAGAMENTO DE RENDAS HABITACIONAIS E COMERCIAIS
Catarina Santos Jurista, SGP & Associados
Foi aprovada na generalidade no parlamento no passado dia 3 abril uma lei com um regime excecional e temporário para, fundamentalmente, apoiar arrendatários neste período especial de pandemia, sendo que esta legislação carece ainda de regulamentação quanto a aspetos procedimentais.
ALGUMAS QUESTÕES PRÁTICAS FUNDAMENTAIS QUANTO ÀS REGRAS DO NOVO REGIME: ARRENDAMENTO HABITACIONAL Sou inquilino, posso não pagar a renda neste período especial? Sim, se estiverem verificados determinados pressupostos o pagamento das rendas pode ficar suspenso, concretamente: a. Se o agregado familiar com esta situação excecional tiver uma quebra de rendimento superior a 20%. b. Se a renda corresponder pelo menos a 35% do rendimento mensal do agregado familiar (será necessário fazer prova destes pressupostos); c. Para beneficiar deste regime, será necessário avisar o senhorio, por escrito, com a antecedência de 5 dias sobre o vencimento da renda que pretendem beneficiar, juntando a documentação comprovativa da situação. ATENÇÃO: No caso das rendas que se vençam no dia 1 de abril, a notificação deve ser feita até 20 dias após a data de publicação deste diploma. A demonstração da quebra de rendimentos será efetuada nos termos da portaria a aprovar pelo membro do Governo responsável pela área da habitação. Quando deverão ser pagas estas rendas agora suspensas? As rendas agora suspensas deverão ser pagas um
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mês após o termo do estado de emergência, sendo que o respetivo pagamento pode ser diluído em duodécimos pagos ao longo dos 12 meses subsequentes, em conjunto com o pagamento normal da renda. Por exemplo, se um arrendatário tiver 3 rendas suspensas ao abrigo deste regime no valor global de 3600 euros(renda mensal de 1200 Euros), deverá começar um mês após o termo do estado de emergência o valor normal da renda acrescido de um valor que terá que ser no mínimo 1 duodécimo do valor em atraso, ou seja neste exemplo 300 Euros, por mês (neste exemplo num total de 1500 Euros/mês). Sou inquilino, posso beneficiar de outros apoios se não conseguir pagar a renda? Sim, é possível solicitar a concessão de um empréstimo especialmente previsto para esta situação. Concretamente, os arrendatários habitacionais e estudantes que não aufiram rendimentos do trabalho, os respetivos fiadores, que tenham as características acima referidas, e se vejam incapacitados de pagar a renda das habitações que constituem a sua residência permanente ou, no caso de estudantes, que constituem residência por frequência de estabelecimentos de ensino localizado a uma distância superior a 50 km da residência permanente do agregado familiar, podem solicitar ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, I. P. (IHRU, I. P.), a concessão de um empréstimo sem juros. Este regime não será aplicável aos arrendatários habitacionais, cuja quebra de rendimentos determine a redução do valor das rendas por eles devidas. Sou inquilino e suspendi o pagamento durante o estado de emergência porque tenho os requisitos legais para o efeito. Tenho alguma penalização? Não, concretamente nestes casos o senhorio não pode exigir indemnização por mora do locatário (prevista no 1401º Código Civil) por atraso no pagamento
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de rendas que se vençam entre o dia 1 de abril e o dia 1 de julho de 2020. Eu sou senhorio e o meu inquilino não me paga as rendas durante este período com base nas normais excecionais que permitem a suspensão de pagamento. Tenho algum apoio financeiro? Quais as condições? a. Sim. Posso obter a concessão de um empréstimo sem juros desde que: Comprove a existência de uma quebra superior a 20% dos rendimentos do agregado familiar do senhorio face aos rendimentos do mês anterior ou do período homólogo do ano anterior; b. Os arrendatários não recorram a empréstimo do IHRU, I. P.; Podem solicitar ao IHRU, I. P., para compensar o valor da renda mensal, devida e não paga, sempre que o rendimento disponível restante do agregado desça, por tal razão, abaixo do IAS.
NÃO HABITACIONAIS (CHAMADOS ARRENDAMENTOS COMERCIAIS) Podem beneficiar de suspensão de pagamento de rendas? Sim. Esta suspensão não abrange todos os casos, mas apenas aqueles cuja atividade tenha sido encerrada e/ou suspensa, incluindo os restaurantes que façam serviço take away.
pagas juntamente com a renda do mês em causa. Como inquilino posso ter penalizações pela suspensão destas rendas? a. Não pode ser invocada como fundamento de resolução, denúncia ou outra forma de extinção de contratos, nem como fundamento de obrigação de desocupação de imóveis. b. Aos arrendatários não é exigível o pagamento de quaisquer outras penalidades, que tenham por base a mora no pagamento de rendas que se vençam. c. Não exigibilidade da indemnização por mora do locatário (prevista no 1401º Código Civil) por atraso no pagamento de rendas que se vençam entre o dia 1 de abril e o dia 1 de julho de 2020. Esta lei já está em vigor? Já posso pedir a suspensão/adiamento das rendas? Não. Aguarda-se a publicação da lei que deve ocorrer nos próximos dias, só a partir da entrada em vigor da lei será possível solicitar a aplicação deste regime.
OUTRAS QUESTÕES RELEVANTES Posso ser despejado? Não. As ações e procedimentos especiais de despejo estão suspensas.
Quando e como deverão ser pagas as rendas suspensas? O arrendatário pode diferir o pagamento das rendas vencidas nos meses em que vigore o estado de emergência e no primeiro mês subsequente. As rendas, agora suspensas, poderão ser pagas de forma diluída em duodécimos, pagos ao longo de 12 meses posteriores ao término desse período, em prestações mensais não inferiores a um duodécimo do montante total (1/12),
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AS CRIANÇAS TAMBÉM QUEREM SABER O QUE SE PASSA
O novo coronavírus, que surgiu na cidade de Wuhan, na China, no final do ano 2019, passou a integrar o noticiário de todos nós, todos os dias, quando chegou à Europa. Os coronavírus são um grupo de vírus de genoma de RNA simples de sentido positivo, ou seja, serve diretamente para a síntese proteica, conhecidos desde meados dos anos 1960. Somos infetados, na maioria, com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo a causa comum de infeções respiratórias brandas a moderadas, de curta duração. Entre os coronavírus, encontra-se também o vírus causador da forma de pneumonia atípica grave, conhecida por SARS, o MersCov e, o novo coronavírus. Relativamente a sinais e sintomas, a Direção Geral
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de Saúde avança que as pessoas infetadas podem apresentar sinais e sintomas de infeção respiratória aguda como febre, tosse e dificuldade respiratória. Em casos mais graves, pode levar a pneumonia grave, com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos e, eventualmente, à morte.
MAS COMO EXPLICAR O QUE É O COVID-19 ÀS CRIANÇAS? De certeza que eles já ouviram falar em “coronavírus” ou “COVID”, seja pelos adultos com quem vivem ou na televisão, mas podem não entender do que se trata. Caso ainda não tenha explicado, mas agora os seus
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As crianças foram as primeiras a sentirem as mudanças que o coronavírus impôs ao país: as escolas fecharam. Algumas, encontram-se desde o dia do fecho em isolamento social, mas nem sempre é fácil explicar-lhes o que se está a passar.
filhos começam a questionar-lhe sobre o assunto, anote as dicas que seguem: 1. Para crianças mais pequenas, pode falar-lhes do coronavírus como uma história. “Há bichinhos que vieram do outro lado do mundo. Como gostam muito de viajar, passaram de pessoa em pessoa para chegar mais longe e mais rápido, atravessando assim países, chegando a conhecer praticamente todo o mundo. Mas são bichos matreiros pois, para chegarem longe, agarraram-se às pessoas sem pedir permissão. As pessoas começaram a ficar cansadas, com tosse, febre e falta de ar. Algumas tiveram de ir ao hospital, para os médicos e os enfermeiros os ajudarem. Quando alguém tem os bichinhos, basta espirrar para o ar, tossir ou até um abraço ou beijinhos para
passar a outra pessoa, por isso, temos de ter cuidado! Temos de tossir e espirar, tapando a boca com o cotovelo e lavar muitas vezes as mãos! Como eles são malandros e não nos ouvem, tivemos de ir todos para casa. Assim, eles não têm como andar mais a passear. E, se temos de ir à rua, temos de lavar muito bem as mãos e tirar os sapatos logo ao chegar a casa, não vá acontecer deles se agarrarem aos nossos sapatos!” 2. Seja realista e claro, adaptando as palavras à idade de cada criança. Crianças mais crescidas ou já com alguma maturidade, não gostam que lhes falem de forma como se eles não entendessem o que lhes estão a dizer. Mais importante que querer mostrar-lhes do que se trata o coronavírus, é explicar-lhes de forma since-
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ra, adaptando à sua capacidade de compreensão. Aqui inclui-se que se deve valorizar os seus medos e ouvir as suas questões, na tentativa de lhes saber responder e deixá-las esclarecidas. 3. Seja qual for a idade da criança, é fundamental explicar-lhes a importância das medidas de segurança: a. Devemos tossir e espirrar com o braço à frente da boca e do nariz; b. Só usar o lenço para limpar o nariz uma vez e deitar fora; c. Evitar levar às mãos à cara: olhos, boca e nariz; d. Lavar várias vezes as mãos com água e sabão, enquanto cantam a música dos “parabéns” (aproximadamente 20 segundos); e. Não partilhar objetos e comida com outras pessoas. É importante transmitir-lhes que em casa estarão seguros, resguardados do vírus que corre na rua. Com todos os cuidados, será difícil que apanhem o coronavírus e não precisam de ficar ansiosos com isso. Relembrar que é fundamental beber muita água e, na eventualidade de alguém da família adoecer, transmitir-lhes que podem ser tratados. Seja em casa, com medicamentos que existem para a febre ou, junto dos profissionais de saúde, que tratam cada pessoa com todo o seu conhecimento. Por fim, é importante não esquecer de lhes falar de esperança. Este é um problema que ainda está a ser estudado, mas temos vários cientistas e médicos a trabalhar para descobrir tudo o que for possível sobre este novo vírus. Aos poucos e poucos, sabemos mais, como tratar melhor e de forma mais rápida todas as pessoas que ficaram doentes, até chegarmos a um plano de tratamento e a uma vacina.
JÁ ESTÃO A ACONTECER MUDANÇAS NA NOSSA SOCIEDADE Devemos aceitar que há coisas que jamais serão iguais. Por mais que não seja, existem já mudan-
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ças em determinadas áreas da nossa vida: a forma como pensamos, o exercício de pensar antes de agir, cuidados pormenorizados com a higiene, que antes eram um pouco desvalorizados, entre outros. Socialmente, estamos a assistir a uma mudança inevitável. A máxima “vai tudo ficar bem” é esperançosa, principalmente para usá-la com as crianças. Podemos e devemos apoiar-nos nela. Contudo, sabemos que para determinadas pessoas e, até, determinadas empresas, já não vai mais ficar tudo bem. Já tudo mudou e, algumas mudanças, são irreversíveis. Resta-nos aproveitar o momento para sermos mais conscientes, para aprendermos a apreciar as mais pequenas coisas da vida de uma outra forma.
"(...) a forma como pensamos, o exercício de pensar antes de agir, cuidados pormenorizados com a higiene, que antes eram um pouco desvalorizados, entre outros. Socialmente, estamos a assistir a uma mudança inevitável."
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COMO O MINDFULNESS PODE AJUDAR A CONTROLAR A ANSIEDADE E STRESS NESTA QUARENTENA É normal que a situação atual nos leve a um maior stress e, aliado a ele, a ansiedade surge e invade os nossos dias. O mindfulness é uma ferramenta útil para esta fase de isolamento social.
O stress assume, cada vez mais, como parte integrante das nossas vidas. A falta de uma adequada gestão e prevenção do stress leva à carência de um melhor estado de saúde e, consequentemente, a uma reduzida qualidade de vida. Apesar de, por um lado, o stress poder apresentar-se como positivo, pela adrenalina que nos confere, quando se torna crónico torna-se um problema sério. A ansiedade junta-se e agrava o problema. Tanto o stress quanto a ansiedade são dois problemas comuns no dia a dia de muitas pessoas, contudo, agora em tempo de quarentena, provocado pelo novo coronavírus COVID-19, algumas pessoas vêm estes fatores agravados. Se, por um lado, sentem um maior stress, por exemplo, associado ao teletrabalho, seja porque não querem baixar o seu rendimento ou porque têm de mostrar os mesmos resultados, enquanto se dividem por outras tarefas, como cuidar e apoiar os filhos no âmbito escolar; por outro lado, sentem ansiedade com receio de terem de sair de casa para trabalhar, quem não pode ficar resguardado, ansiedade face aos noticiários e atualizações da situação atual do país, entre outros fatores de motivação. Contudo, é possível controlar e gerir este stress e ansiedade que surgem na quarentena. Aliás, este pode ser o momento para começar a utilizar ferramentas que depois, após o fim deste período de confinamento, podem vir a aplicar na sua vida diária. O Mindfulness apresenta-se como uma ferramenta de auxílio no controlo do stress e ansiedade. Significa Atenção Plena e a sua prática ajuda na regulação de emoções, pensamentos e sensações, à medida que estas surgem no nosso quotidiano.
A PRÁTICA DE MINDFULNESS De acordo com vários estudos já publicados sobre o Mindfulness, é possível identificar vários benefí-
cios associados à sua prática diária. Para tal, serão necessárias sessões diárias de aproximadamente 15 minutos. Ao final de uma semana já é possível aperceber-se dos efeitos no praticante e ao seu redor.
O MINDFULNESS PERMITE ALCANÇAR VÁRIOS ASPETOS QUE CONSTITUEM UMA MAIOR QUALIDADE DE VIDA, SENDO ALGUNS DELES: • Resposta mais eficaz ao stress; • Reduzir a ansiedade; • Aumentar a capacidade de concentração e foco; • Melhorar o estado de humor; • Fomentar capacidade de regulação emocional; • Cultivar um senso de bem-estar e de autocuidado. A mudança que a prática provoca no praticante leva a uma redução da descarga de hormônios como a adrenalina e o cortisol, o hormônio do stress. A adrenalina, quando em excesso, pode aumentar o risco de ataques cardíacos e derrames. O cortisol, por sua vez, funciona como um alarme e, em situação de risco, ele funciona como indicador ao organismo de que é hora de parar. As práticas de Mindfulness vão permitir que crie uma distância saudável entre si e os pensamentos ansiosos, dando espaço e oportunidade para escolher como lhes responder.
O PODER DO AQUI E AGORA: A CONSCIENTIZAÇÃO O stress e a ansiedade podem esgotar-nos completamente e trazer consequências severas ao nosso organismo. Algumas pessoas chegam a paralisar, sentir apertos no peito, dores de cabeça, entre outros sintomas. Com o Mindfulness têm em mãos uma ferramenta que permitirá recordar uma capacidade humana
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básica, porém muito difícil atualmente, que é a de estarmos totalmente presentes e conscientes do que estamos a fazer. A prática não priva os sentimentos difíceis, mas ensina a não os analisar, suprimi-los ou incentivá-los. A mente aprende a lidar com as preocupações, irritações, lembranças mais penosas ou outros pensamentos, sensações ou emoções mais difíceis. Permite reconhecer quais os medos que nos invadem e que nos criam mais stress e ansiedade, compreender o que está a acontecer e a criar oportunidade de gerir melhor o que motivam as nossas preocupações, antevendo também situações que possam vir a gerar stress e ansiedade.
APRENDER A LIDAR EM VEZ DE FUGIR O Mindfulness não é a cura para todos os males, não é “A” solução, contudo, é uma prática que ajudará a conduzir a uma vida mais saudável, equilibrada e de qualidade. O Mindfulness é capaz de reprogramar as vias neurais no cérebro, melhorando a nossa capacidade de regular as emoções. Jon Kabt-Zinn, que apresentou ao mundo o que se tornou o programa de
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Redução do Stress com Base no Mindfulness, no ano de 1979, descreve isso como “a conscientização que surge ao prestar atenção, de propósito, no momento presente, sem julgamento, a serviço da autocompreensão e da sabedoria”. Em vez de agir e reagir no piloto automático, estar atento permite analisar os sentimentos de stress e ansiedade, do ponto de vista do observador. Exercício prático: 1. Escolha um lugar confortável e tranquilo, garantindo que não será incomodado por um período de 15 minutos, aproximadamente; 2. Pode sentar-se no chão, de pernas cruzadas, ou numa cadeira. O importante é que mantenha a postura correta e esteja sentado de forma confortável. Os seus pés devem tocar no chão. Feche os olhos; 3. Comece por observar a sua respiração. Observe a respiração a entrar e a sair do corpo. Não force ou altere a respiração. Respire naturalmente e possibilite as mudanças de forma natural; 4. Se a sua mente divagar, não tem problema. Dê espaço a esse pensamento e logo volte, calmamente, a atenção para a sua respiração; 5. Pode fazer um scanner do seu corpo, começan-
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do nos pés. Sinta o toque no chão. Suba, pelas pernas, e sinta a roupa a tocar na sua pele; 6. Pode colocar as suas mãos no abdómen e sinta como se move aquando a inspiração e expiração. Sinta o ar a entrar pelas suas narinas; 7. Continue a observar a sua respiração. No final da prática, observe como a sua mente e o seu corpo se sentem e, lentamente, volte a sua atenção para o local ao seu redor.
PRÁTICAS APLICADAS ÀS ROTINAS DO QUOTIDIANO As práticas de Mindfulness podem ser subdivididas em formais (exercícios de respiração estruturados) ou informais (vivenciar situações do quotidiano de maneira plenamente consciente, com atenção plena no que está a acontecer). Pequenas atividades da nossa rotina diária possibilitam a prática: ao lavar a louça, ao caminhar, ao escovar os dentes, entre outras. O Mindfulness é um treino mental. Adotar uma mente plena e consciente do “Aqui e Agora” é adotar um outro ponto de vista, uma nova forma de pensar e agir. Como num exercício físico, é neces-
sária uma prática regular, disciplina, para verificar resultados e para que estes permaneçam no dia a dia. Não existe a forma mais ou menos certa de praticar a meditação. Esta não tem hora mais certa ou mais errada. Tudo depende da sua intenção, paciência e persistência. O reconhecimento é a qualidade de conhecer a sua experiência como ela é e, a autoconfiança, surgirá com a prática. Para terminar, o Mindfulness não é uma fórmula temporária, mas sim, um estilo de vida para aprender e aplicar na quarentena e levar para fora desta.
Catarina Fernandes Filósofa e Socióloga. Mindfulness Practitioner.
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OPINIÃO
E AGORA, COMO COMUNICO SEM MEGAFONE? Estamos todos no “mesmo barco”, mas cada um destes barcos tem uma construção com caraterísticas bem diferenciadoras entre nós. O “barco” de cada um é o espelho do mergulho da viagem, é o espelho de todos os momentos com que a vida nos presenteou e que aproveitámos. Agarremos os momentos que a vida nos traz e neste grande momento de reflexão, trabalhemos a melhor versão de nós próprios. Que sabor me estou a permitir sentir? Que sentimento obtenho do “meu barco”, ao saborear estes momentos em que todos estamos mergulhados? Consigo apreciar e saborear o que estou a produzir? Que resultados e que sabor espero? E o que estou a fazer por eles? O que criei? O tempo é fundamental, é precioso e de uma forma geral estamos todos mais ricos de tempo. Uma certeza navega no “barco”: é o tempo que se TEM hoje. Tempo para ME conhecer melhor. Conhecer melhor QUEM está a minha volta. Neste momento, mais do que nunca, estamos todos conectados /ligados, talvez mais do que gostaríamos e não dá para pensar que “o outro não é da minha conta “, agora é que não dá mesmo. Mudanças de comportamentos se esperam com a aprendizagem do ato de velejar “este tempo” … pois estamos mais “ricos”, temos tempo de sobra.
A felicidade bate à nossa porta e como a deixamos entrar? Tempo para estar em família, ligar para aquele amigo ou parente. Tempo para pensar o que fazíamos com o nosso tempo e que dávamos desculpas e os “mas” …. Tenho cada vez mais a consciência de que o tempo que me predispunha a olhar para os meus filhos no momento de estes acordarem quase não existia ... Ao acordarem, os seus agora gigantes braços se elevam com harmonia e graciosidade, e percecionei que sinto os meus olhos num afundar de emoções que me posicionam em momentos de felicidade plena. Voltei a observar a harmonia e a elegância com que a minha filha segura os seus cabelos longos, momento em ausência desde o tempo das aulas de ballet em criança. O momento do acordar e do levantar em família é mais calmo, o “barco” está mais coeso, pois estamos a ser presenteados com um tempo que faz parte da nossa viagem e nos permite reforçar o nosso “barco”. A Magia do dia que estou a fazer acontecer. Decisão de ficar em casa.
Paula Melo Coach Organizacional paulatmelo@gmail.com T.: 962 786 590
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LIDERANÇA NO FEMININO | Abril de 2020
PRIMEIRO GINÁSIO 100% ONLINE CHEGA A PORTUGAL Ficar em casa, pela saúde de todos, não tem nem deve ser uma limitação à atividade física. É neste contexto que é lançado, em Portugal, o ginasio-online.pt, o primeiro ginásio 100% virtual que traz, todos os meses, 250 novas aulas das mais variadas modalidades de fitness e uma série de outros conteúdos, para que os portugueses se mantenham ativos e saudáveis, mesmo neste período de confinamento.
Acessível através do telemóvel, tablet ou computador, sem ter de pagar mais, no ginasio-online.pt cada utilizador pode treinar ao seu próprio ritmo, no horário que lhe for mais conveniente e contando com o acompanhamento dos melhores profissionais de fitness. Na biblioteca de conteúdos disponível na plataforma é possível encontrar aulas, galeria de exercícios, planos de treino por objectivo que incluem com mais de 1.000 exercícios e artigos variados com dicas de treino e fitness, nutrição e receitas. Brevemente a plataforma possibilitará também a realização de sessões individualizadas com personal trainer, assim como, consultas de nutrição. Na prática, o ginasio-online.pt disponibiliza todos os serviços que um ginásio tradicional oferece aos seus clientes, com excepção dos equipamentos que ainda assim, poderão ser adquiridos através da plataforma com condições vantajosas proporcionadas pela rede de parceiros. Daniel Pereira Martins, director de Marketing do ginasio-online.pt, afirma: “A prática de atividade física é fundamental para o bem-estar dos portugueses, que nem sempre conseguem deslocar-se para ginásios físicos ou locais de treino. Com o ginasio-online.pt têm agora a possibilidade de treinar em casa, quando e sempre que quiserem, seja participando nas aulas em directo, executando exercícios já preparados ou beneficiando do apoio de um personal trainer. Na situação atual de pandemia e isolamento social, a nossa proposta torna-se ainda mais relevante, pelo que vamos realizar uma campanha de lançamento que permite aos portugueses beneficiar de alguns dos nossos serviços de forma gratuita”. Na campanha de lançamento, o acesso ao ginasio-online.pt é gratuito até ao próximo dia 5 de abril, bastando fazer o registo no site. Após este período,
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as aulas poderão ser adquiridas avulso, a partir de 3€/aula, ou em packs de 6 ou 15 aulas. Face à situação atual, durante todo o período da pandemia o ginasio-online.pt oferece acesso totalmente gratuito a todos os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e auxiliares) que se encontram ao serviço de todos os portugueses, a prestar cuidados de. Para usufruir do acesso basta que enviem email para suporte@ginasio-online.pt, com prova da situação profissional. O novo ginásio está disponível através do site www.ginasio-online.pt e acessível 24 horas por dia, em qualquer dia e em qualquer lugar.
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LIDERANÇA NO FEMININO | Abril de 2020
ATIVIDADES QUE PODE FAZER EM CASA O novo coronavírus ou, como é também conhecido, o COVID-19, leva-nos para períodos de quarentena preventiva que, até ver, ainda não sabemos quanto tempo poderá durar. Ficar em casa não tem de ser sinónimo de aborrecimento. Atualmente já foram divulgadas várias atividades, desde concertos, espetáculos, aulas online, museus virtuais, entre outros. Foram muitas as entidades culturais que também se juntaram e abriram as suas portas online.
REUNIMOS AQUI UMA SÉRIE DE ATIVIDADES QUE PODE FAZER A PARTIR DE CASA. TOME NOTA: 1. Aulas online: cursos gratuitos através, por exemplo, da Udemy. Aulas de exercício físico e outras estão disponíveis essencialmente pela rede Instagram. 2. Espetáculos online: desde concertos, como o Festival Fique em Casa, transmitido em direto pelo Instagram, a musicais partilhados na rede Facebook, do Teatro Politeama ou, peças de teatro, partilhadas pelo Teatro de S. João ou Teatro D. Maria. Bastará entrar nas redes sociais de cada um deles e há espetáculos para todos os gostos! 3. Museus, palácios e outros monumentos nacionais: a par com a Google Arts & Culture, vários monumentos abriram as suas portas virtuais. Basta entrar no website e escolher o que mais lhe agrada, podendo ir até ao outro lado do mundo! Para não esquecer o que é nacional, sugerimos quatro museus:
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a. Palácio Nacional de Mafra b. Museu Nacional do Azulejo c. Museu do Fado d. Palácio Nacional de Sintra
INVESTIR EM TEMPO DE QUALIDADE O período de confinamento pode ser aproveitado para investir no seu perfil profissional, frequentando cursos e aulas online sobre determinada especialidade, aumentando-lhe competências profissionais, como pode servir para descobrir um hobbie ou uma nova área de interesse. Muitas pessoas têm aproveitado para descobrir técnicas e ferramentas para trabalharem o corpo, o relaxamento, através de partilhas de desafios e sessões de exercícios físicos ou yoga, por exemplo. Os espetáculos de concertos, teatros ou outros permitem também alargar horizontes. Quem nunca experimentou uma peça de teatro musical, tem agora aqui a oportunidade. E este pode ser um excelente serão em família também. Os museus virtuais, por sua vez, tornam-se igualmente excelentes alternativas para enriquecer a sua cultura e conhecer melhor a história do mundo, a partir de sair de casa. A era digital tornou imensa coisa possível, antes inimaginável. Aproveite a quarentena, o tempo em casa, para experimentar coisas novas e aproveitar o máximo do que está a ser disponibilizado pelas diferentes entidades.
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#PORTODOS APOIAMOS QUEM ATUA PELA VIDA