Caderno de Provocações

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NAIÁ DELION

de carne e osso, encarcerados em ferro e vidro rastejam, enfileirados, a 3 km por hora rumo a um lugar logo em frente (40 mil carros, ordinariamente, circulam pelas ruas do centro), uma multidão a pé, de bicicleta e de moto ocupa ansiosamente os lugares vazios deixados pelos obesos prédios e seus frenéticos andaimes e compensados, pelas viciantes luzes de vitrines, lojas e outdoors. Corpos sendo comprimidos a espaços padronizados, tornado-se padronizados. Corpos que se tornam simulacro de um entretenimento chamado Urbe. Um espetacular ambiente aparentemente pronto. Sexualidades definidas? 18H30min, Praça Silviano Brandão. A praça espera. O grupo Beba do Samba prepara uma roda de samba ao lado do Coreto. Um cortejo composto pelos grupos “O Bloco” (grupo percussivo de maracatu), “Ganga Zumba” (capoeira regional), “Angoleiros do Mar-Tribo do Morro” (capoeira angola) e entidades políticas ligadas a causa negra, descem a Av. PH. Rolfs batucando, cantando e dançado rumo a Praça. 19H00min, Coreto da Praça Silviano Brandão. A praça canta, samba, se expressa. Os grupos se encontram na Praça para a grande festa em homenagem a Zumbi. Corpos suados e cansados se abraçam, se beijam e dançam compulsivamente um no outro aos sons de tambores, violões, vozes e falas de protesto contra discriminação racial, vindos da roda de samba. Ao redor da poeira levantada, corpos observam. Uns se aproximam, pedem cachaça e dançam, outros, do outro lado da rua ou do alto de um prédio, olham encantados, outros reprovam a libidinosidade e se distanciam rapidamente. Se configura ali, um lugar de conflitos entre os corpos. Do meio da praça, espaço público, emerge uma realidade em que os corpos – que a construiu – se comportam sexualmente, diferenciam dos padrões da praça. Os rodeiam olhos da rua, olhares dos prédios a denunciar os rebolados. 04H00min, fim de festa. Os corpos voltam a se diluir no asfalto, transpõem pilastras, ocupam carros, escalam prédios, enchem salas de aula. São apenas padrão Homem e Mulher? Quais as marcas das músicas, danças e protestos naqueles corpos? Como construir a arte que interpreta, critica, transcende e transforma as relações padronizadas entre os corpos citadinos?

Bailarina, graduada em Artes do Corpo THAÍS GERMANO Psicóloga, psicoterapeuta, bailarina, estudante em dança FAV (DES)ENCARNADOS: PROPOSTA DE PERFORMANCE DE DANÇA

Este trabalho será resultado de uma pesquisa corporal sobre movimentos urbanos mesclando experiências que chamamos de \”encarnado\” e \”desencarnados\”. O significados destes termos estão de encontro com o texto provocador deste seminário, visto que o estímulo de nossa pesquisa partiu desta provocação.

ÍCARO VILAÇA NUNESMAIA CERQUEIRA Estudante em arquitetura da UFBA – Salvador – Bahia Grupo de pesquisa Laboratório Urbano – PPG-AU/FAUFBA icarovilaca@gmail.com Participante (RJ e SSA)

Como dialogar com a subjetividade dos habitantes de uma cidade? Quando o campo do urbanismo finalmente vai se deter nessa questão essencial? De que adianta pensar desenhos de calçada, mobiliários urbanos e paginações de piso sem levar em conta o desenho que os corpos em movimento configuram no espaço urbano? É escandaloso que a maior parte dos arquitetos e urbanistas simplesmente não se interesse por esta escala do corpo. muitos de nós (e isso é ainda mais escandaloso) não apenas não se interessa, como atua no sentido contrário: este “fazer cidade” frequentemente se traduz como ordenação, “requalificação”, pacificação, gentrificação... Se pretendemos perpetuar este ofício com alguma dignidade, precisamos garantir que as memórias, os percursos e os desejos sejam conduzidos ao centro do debate.

IAZANA GUIZZO Arquiteta, urbanista, mestre em psicologia, estudante em dança FAV e doutoranda em urbanismo UFRJ – Rio de Janeiro – RJ - iaguizzo@yahoo.com.br

INÊS BONDUKI

MARIANA PORTELLADA Bailarina, estudante em dança FAV

Arquiteta- urbanista, São Paulo - SP ines_bonduki@yahoo.com.br Participante (RJ)

VERENA THAN Bailarina, estudante em dança FAV e em filosofia UFRJ

Diante da realidade metropolitana paulistana de que faço parte, o deslocamento pelo espaço público é uma questão latente. O ir e 75

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