Tomo i 1 310

Page 258

70

MONARQUIA PORTUGUESA

TOMO I

Do Azinhoso, continua Teixeira, partiram as tropas em dois corpos distintos. Foi o condestável, com a sua gente, demandar a Torre de Moncorvo, onde foram recebidos com delirante entusiasmo, por aqueles povos se verem livres das devastações dos castelhanos, que, senhores das praças de Chaves e Bragança, onde acoitavam os roubos, assolavam aquela região, obrigando frequentemente seus moradores a passarem da enchada ou fouce à espada, lança e chuço, quando não era a clássica roçadoura ou bordão de carvalho. No dia seguinte marcharam para o vale da Vilariça ou Valariça, como escreve Fernão Lopes, onde el-rei veio reunir-se, o que deve ter tido lugar pelos 15 de Maio de l386, pois desse dia e lugar data a carta de privilégios concedidos por D. João I ao Azinhoso (193), que «visitou a muitas povoações abertas daquela raia em que não encontrou mais que nas ruínas incentivos a lástima e a vinganças; consolou os moradores que se carpiam das perdas dos bens e do descanso, porque os castelhanos talando os campos, discorriam até às portas de Vila Real e Murça com absoluto domínio, por povoações abertas aonde os míseros moradores entregavam as fazendas a troco das vidas» (194). É certo, porém, relativamente ao respeito da propriedade, que ainda nessa ocasião o fértil vale experimentou grandes devastações nos pães e semeados (195), mesmo pela nossa soldadesca, a despeito das expressas determinações régias. Foi nos planos da Vilariça que teve lugar a famosa revista ou «alardo de todas as gentes que aí eram e este foi o mais formoso alardo que até ali em Portugal fôra visto. Eram 4.500 lanças e eram aí também muitos homens de pé e muita bestaria» (196). Entretanto, o nosso rei, para divertir as forças de Castela, tinha procurado interessar João de Gand, duque de Lencastre, filho de Duarte III, rei de Inglaterra, animando-lhe as pretensões que tinha ao reino de Castela por parte de sua mulher em segundas núpcias, D. Constança, filha de Pedro, o Cruel, assassinado por seu meio irmão D. Henrique, como já dissemos. D. João ofereceu auxílio ao inglês, que aceitou e veio desembarcar com tropas no porto da Corunha, na Galiza. Entrevistaram-se os dois em Ponte de Mouro, perto de Melgaço, onde estipularam as condições

(193) (194) (195) (196)

VITERBO — Elucidário, artigo «Azinhoso». TEIXEIRA, Domingos, Fr. — Vida de D. Nuno Álvares... LOPES, Fernão — Crónica de D. João I, parte 2, cap. 73. Ibidem, cap. 71.

MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.