Revista Atuação, Edição 5, dezembro de 2012

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tou. Além do ensino médio, Carolayne também é aluna do Curso Técnico de Operador de Máquinas e Implementos Agrícolas, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

Jovens moradores do Assentamento Itamarati querem estudar e permanecer na comunidade O diretor da Escola Nova Itamarati, José Carlos de Brito, que coordena a instituição de ensino, com 82 professores e 1.747 alunos distribuídos em três períodos, da pré-escola ao 3º ano do ensino médio, lembra que uma das maiores dificuldades encontradas no início foi a integração das crianças e dos jovens dos diferentes movimentos sociais. “Transformar as experiências e os ideais desses alunos em uma mesma linguagem foi um desafio. Conquistamos a integração com a implantação de diversos projetos socioculturais”, contou José Carlos. Segundo o diretor, além das diferenças de ideais, os movimentos sociais estavam separados pela distância física dentro do assentamento. Sendo assim, os projetos esportivos e culturais foram fundamentais para aproximar os estudantes, que aos poucos, passaram a compartilhar dos mesmos anseios, dificuldades e conquistas. Desafios atuais “Hoje, as disputas dos movimentos sociais não são tão visíveis. Várias atividades de interesse comum são desenvolvidas pelos grupos. Exemplos disso são o Movimento de Mulheres 16 | Revista ATUAÇÃO | Dezembro 2012

Camponesas e o Núcleo de Agroecologia, coordenados pela Irmã Olga Manosso. Já nas escolas, com a oferta da educação, os integrantes dos movimentos passaram a frequentar as reuniões escolares como pais interessados no aprendizado dos filhos”, explicou a coordenadora pedagógica da Escola Nova Itamarati, Rosemeire da Silva, que está no assentamento desde 2006. Para Rosemeire, o desafio atual é aumentar o quadro de trabalhadores efetivos nas escolas rurais, para garantir atendimento educacional de qualidade. Segundo ela, a maioria dos funcionários são convocados, o que gera instabilidade para as escolas. “Além disso, os moradores do Itamarati precisam de melhorias em outros setores, como saúde e infraestrutura. A manutenção das estradas é um jogo de empurra entre Prefeitura, Incra e Estado”, disse. A educação que mantêm o homem no campo Com o desenvolvimento desses projetos em favor da integração dos movimentos, já é possível verificar uma mudança na visão da nova geração de assentados, em relação aos mais anti-

gos. É comum os jovens falarem da vontade de permanecer no campo, mesmo após a conclusão do ensino superior. É o caso do jovem Carlos Augusto, de 20 anos, que considera fundamental a educação para melhorar a qualidade de vida de todos os moradores do Itamarati. Carlos cursa o 3º ano do ensino médio, na Escola Nova Itamarati, e é aluno do Curso Técnico de Operador de Máquinas Agrícolas. Sonha em ser técnico agrícola ou cursar faculdade de Geografia. Áreas que, segundo ele, poderão atender às necessidades existentes no assentamento. “Falta muita coisa aqui, mas já melhoramos bastante, especialmente no que diz respeito a busca pelo conhecimento. Os cursos oferecidos e os projetos desenvolvidos na escola contribuem para o nosso aprendizado”, disse. Carolayne Vieira, de 15 anos, também está se capacitando para permanecer nas atividades da agricultura familiar. Ela está no 1º ano do ensino médio e é moradora do Assentamento Renovação, localizado à 30 km da Escola Nova Itamarati. Para ela, a distância percorrida diariamente compensa. “Na Escola, podemos perceber que todos temos as mesmas necessidades”, comen-

Projeto Agroflorestal recupera áreas degradadas A Escola Estadual Carlos Pereira da Silva, que fica à 30 km da sede do Assentamento Itamarati, tem uma proposta pedagógica voltada para impulsionar o desenvolvimento sustentável na prática da agricultura familiar. Desde 2006, a comunidade escolar, em parceria com técnicos da Embrapa, Curso Saberes da Terra e Comissão Pastoral e Federação da Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul, desenvolve, em uma área de 1/4 de hectares, doados pelo Incra, o projeto Sistema Agroflorestal (SAF). Em sua primeira etapa, o SAF recuperou uma área degradada em função da braquiária (capim que sufoca o crescimento dos campos nativos), usando o modelo sustentável de exploração do solo. O professor de Biologia, Willian Bitencourt, que acompanha o projeto desde sua implantação, contou que, com o acompanhamento técnico da Embrapa, toda a comunidade escolar se dedicou à iniciativa de recuperar a área. “Após revirar e preparar a terra, foram cultivadas leguminosas, que contribuem na recuperação do solo. Este sistema é natural e dispensa a utilização de fertilizantes, agrotóxicos e, por isso, é um modelo sustentável”, explicou. O Sistema Agroflorestal obteve resultados satisfatórios ao longo dos anos. Hoje, a área que estava degradada tem outra paisagem, existe cultivo de abacaxi, banana, abóbora, mandioca, mudas de ipê e jurubeba. “Esse

sistema de cultivo permite uma diversificação na produção, sem comprometer o solo”, frisou o professor de História Helton Alves Costa. A prática sustentável envolve todas as disciplinas escolares. “O cultivo é uma realidade no dia a dia da comunidade escolar, já que alunos e pais utilizam o sistema como vitrine, uma experiência para ser aplicada nas lavouras das famílias assentadas”, ressaltou o professor de Matemática Gildo de Lima. Projeto fica entre os cinco vencedores no concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais Em 2010, o projeto Sistema Agroflorestal do Itamarati: um instrumento pedagógico para a construção de conhecimentos em agroecologia, ficou entre os cinco vencedores do país no 2º Concurso Aprender e Ensinar Tecnologias Sociais promovido pela Revista Fórum e a Fundação Banco do Brasil. Com a premiação, professores da Escola Estadual Carlos Pereira da Silva representaram a região Centro-Oeste brasileira no Fórum Mundial Social, que aconteceu em Dacar, no Senegal, em 2011. Durante o encontro internacional, a Escola recebeu um troféu de reconhecimento e ganhou a assinatura anual da revista Fórum. Lixo vira adubo, utilizado no cultivo de hortaliças A Composteira é outro projeto de desenvolvimento sustentável que é executado pela Escola Estadual José Edson Domingos dos Santos, também instalada no Assentamento Itamarati. O projeto visa o aproveitamento do lixo orgânico gerado pela comunidade local. O que antes era lixo, vira adubo e é utilizado no cultivo de hortaliças que enriquecem a merenda escolar. “A iniciativa permite que os

alunos cuidem melhor do meio ambiente, o adubo orgânico é uma solução viável e proporciona benefícios à saúde”, comentou uma das coordenadoras do projeto, professora Elisandra Tomasheiki. A professora Florisa Nantes, que mora há 20 anos no Itamarati, lembra que a Composteira impulsionou outros projetos como Horta na Escola e Maracujá, que são desenvolvidos em parceria com a Embrapa. “Essas ações permitem a integração dos alunos e o aprendizado sobre agroecologia”, lembrou.

Lixo vira adubo, utilizado no cultivo de hortaliças

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