Para Mainha
Ao
fotografar,
sou
respiro,
expansão,
compulsão,
liberdade, reflexo,
repetição; começo, meio e fim. Foi
a
Fotografia
que
auxiliou
o
desenvolvimento da minha relação com a subjetividade, mesmo que tenha resultado na minha completa submissão às imagens, a ponto de acreditar que as palavras não deveriam acompanhá-las. “Uma imagem vale mais que mil palavras”: esta frase, atribuída a Confúcio, surge em minha mente como mantra dessa crença
que
aqui
intento,
brevemente,
transcender. As palavras e as imagens movem-me para
lugares
diferentes,
dimensões,
sensações. Em conexão ou desconectadas, provocam encontros.
Em meio à pandemia de Covid-19, como
parte
de
um
exercício
de
autoconhecimento, fotografei o que escrevia, o que encontrei em jornais e revistas, o que me
permiti
ilustrar,
colar,
recortar,
caleidoscopiar. Abracei a resiliência à vergonha que desenvolvi após a “Mentoria para Novos Artistas”, ministrada por Hannah23, e me vi muito mais artista visual, colagista e pessoa capaz de ilustrar (precariamente). Descobri o prazer de aproximar a câmera do celular de imagens construídas com minha escrita, desenho, fotografia e colagem, e de ressignificar imagens através do
efeito
espelhado,
como
caleidoscópio. Ao me debruçar para fotografar ou
num
colar
imagens
refletidas,
reescrevi
e
reescrevo o propósito da repetição – que, como o reflexo, reverbera em mim como uma perspectiva que não é vista no cotidiano. Da ausência de cor à presença ou ausência das palavras, muitas presenças de tons de azul; a presença ou a ausência da água; as cores do hidrocor ou as cores da cidade. Encaro a ânsia de desvendar cada uma das imagens reunidas neste livro. E não me permito descrevê-las, por acreditar que elas não mais me pertencem, nem precisam ser entendidas para serem apreciadas. Todas as obras reunidas aqui foram criadas ou recriadas em isolamento, diante da interrupção dos encontros com
superfícies refletidas, do uso da reflexão a partir da repetição de imagens e/ou através de aplicativos que reproduzem o efeito de um caleidoscópio. A relação com a Arte, há algumas décadas,
contribui
desenvolvimento
para
humano,
o mas
meu apenas
quando me vi numa jornada de trabalho de 40
horas
semanais
foi
que
pude
compreender a necessidade de ressignificar o cotidiano por meio da expressão artística. Acreditar que era capaz de criar por intermédio das fotografias refletidas foi o combustível de que precisei para crer em mim como profissional, amadora, mulher, agente cultural, político e social. Movida pelo desejo de compartilhar minhas fotografias, aprendi e aprendo a me
permitir
e
a
vislumbrar
possibilidades.
Embora não tenha incentivos do mercado, possa não encontrar meu lugar como profissional
e
colecione
negativas
das
submissões a concursos ou editais de fotolivros e fotografia, aprendi que silenciar é dar força ao medo, à vergonha; é negar espaço e voz para a vulnerabilidade. As frustrações e os gatilhos não serão extintos; é preciso cuidar para que eles não nos definam, trabalhá-los, desenvolver resiliência e construir nossas janelas. Esta aqui é para todes: conhecides, desconhecides,
lembrades,
esquecides,
visibilizades e invizibilizades, com afeto e gratidão.
Sobre a autora
Larissa Lisboa é uma artista visual alagoana, que trabalha com colagem, fotografia e
audiovisual.
comunidade
Idealizadora fotográfica
e
gestora
Diário
da
Refletido
(@diariorefletido). Reúne seus trabalhos com imagens fixas e em movimento no @larefletida. Desenvolve animações em stop motion a partir de fotografias. É autora, diretora e montadora de mais de 20 filmes, dentre eles: Na Mão (2007); Cia do Chapéu (2011); Entrerio (2017); Outro Mar (2018); Meu Lugar (2019) e Negativo (2021). Tem experiência em assistência de produção, produção de ações formativas e em curadoria (Mostra Sesc de Cinema e mostras do Sesc Alagoas); ministra oficinas de introdução à linguagem cinematográfica e sobre o panorama do audiovisual alagoano. Atuou como analista
em cultura em audiovisual do Sesc Alagoas, entre 2012 e 2020. Larissa é graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo (Ufal, 2008), e é especialista em Tecnologias Web para Negócios (Cesmac, 2010). É também idealizadora
e
gestora
do
site
Alagoar
(www.alagoar.com.br) e uma das produtoras do Festival Alagoanes. Foi contemplada no Edital nº 18/2020 – Prêmio Vera Arruda, com o trabalho Webinário: Cultura e Cinema, de que assina a produção e a realização, pelo Alagoar.
Para assistir aos filmes: msha.ke/larefletida | Página no Facebook: fb.com/larefletida Artigos personalizados no Colab 55: www.colab55.com.br/@larislisboa
Texto e fotografias: Larissa Lisboa Revisão de texto: Carol Almeida Ribeiro