O misterioso caso de styles - Agatha Christie

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— Poirot — gritei — Parabéns! É uma grande descoberta. — O que é uma grande descoberta? — Ora, o chocolate e não o café que estava envenenado. Isso explica tudo! Claro, não fez efeito até bem cedo, de manhã, pois o chocolate só foi ingerido no meio da noite. — Então você acha que o chocolate — marque bem o que estou dizendo, Hastings, o chocolate — continha estricnina? — Mas é claro! O que mais poderia ser aquele sal na bandeja? — Bem podia ser sal mesmo — respondeu Poirot, placidamente. Sacudi os ombros. Se ele iria conduzir a questão daquela maneira, não adiantava argumentar. Uma ideia passou por minha cabeça, e não foi a primeira vez: o pobre Poirot estava ficando velho. Particularmente, achava que ele tinha sorte de ter-se associado a alguém dotado de uma mente mais perspicaz. Poirot me observava com olhos silenciosos e pestanejantes. — Não está satisfeito comigo, mon ami? — Meu caro Poirot — disse, friamente —, não devo ditar regras a você. Tem o direito de ter suas próprias opiniões, simplesmente como eu tenho de ter as minhas. — Um sentimento muitíssimo admirável — salientou Poirot, subitamente pondo-se de pé. — Agora já terminei o trabalho aqui nesta sala. A propósito, de quem é esta escrivaninha aqui no canto? — De mr. Inglethorp. — Ah! — Poirot tentou erguer a tampa. — Trancada. Mas talvez uma das chaves de mrs. Inglethorp possa abri-la. — E experimentou várias delas, girandoas e ajeitando-as na fechadura com suas mãos hábeis, até finalmente declarar satisfeito: — Voilà! Não preciso de chave, vou abri-la com um safanão. E assim conseguiu abrir a tampa, logo correndo os olhos sobre os documentos caprichosamente arrumados. Para minha surpresa, não os examinou, apenas aprovou o que viu, recolocando a tampa no lugar: — Decididamente, um homem de método esse mr. Inglethorp! Um “homem de método” era, segundo o julgamento de Poirot, o mais louvável elogio que um indivíduo pode receber. Senti que meu amigo já não era o mesmo de antes na medida em que divagava em pensamentos desconexos: — Não havia selos na escrivaninha, mas bem podia ter havido, não é, mon ami? Podia? Sim — seus olhos passeavam pela sala. — Este toucador não tem mais nada a nos dizer. Não nos rendeu muita coisa, apenas isto. Ele tirou um envelope amassado do bolso e jogou-o para mim. Era um documento curioso. Um envelope simples e encardido, com algumas palavras rabiscadas, aparentemente ao acaso. Este é um fac-símile desse envelope:


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