Tomo II. Subjetividade, Corpo, Arte

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Até o momento, tínhamos apenas a virtualidade e a imaginação. Não sabíamos exatamente quantos membros teríamos, se estariam de corpos dispostos à troca, se teríamos tempo e espaço para tentar uma dinâmica mais profunda e que ultrapassasse os antigos moldes de outros eventos acadêmicos, que configuram-se em apresentações seguidas de comentários rasos, onde as articulações não cabem efetivamente. Não queríamos apresentações, por isso elas já foram feitas através da plataforma virtual. Nosso planejamento se baseava em nossa imaginação de como seria o momento. A imagem que tínhamos do futuro ilustrava nossas duas tarde de trocas no Corpocidade 4. 3º encontro: As paredes falam em desapego Alguns corpos; Vinte propostas de articulação coladas na parede; Desapego e intervenção.

E estes acessórios todos: as plataformas, a virtualidade, as táticas do encontro, todo o mistério e o romantismo do imaginário, se desfazem mesmo somente ao se fazerem as linhas desprendidas de cada palavra dita em roda. Olho a olho, corpo a corpo. Cada um tensionando sua linha, amarrando o outro. Tudo aparece mesmo quando o corpo e a voz se fazem: o ego, as sutilezas, os abraços (mesmo que com os olhos) e o dissenso. O corpo a corpo ali é fazer cidade. É então no encontro físico que Rancière reaparece com palavras certeiras: “O dissenso coloca em causa, ao mesmo tempo, a evidência do que é percebido, pensável e executável, e a partilha entre aqueles que são capazes de perceber, pensar e modificar as coordenadas do mundo comum” (RANCIÈRE, 2008 apud MARQUES, 2011, p. 32). Para ele, as “cenas de dissenso” constituem-se quando ações de sujeitos irrompem e provocam rupturas no comum ou evidente, para desenhar uma nova “topografia do

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SUBJETIVIDADE CORPO ARTE


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