Agosto de 2009 Número 2
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juízes e desembargadores. Alguns deles pe-
casa, mas gravaria um disco apenas aos 92
diam que ele deixasse o violão lá para que pu-
anos – como conta Ricardo Cravo Albim no
dessem fazer um sarau no fim da tarde. A vida
depoimento exclusivo dado para esta maté-
dele era a música. Ele foi, acima de tudo, um
ria. Além do lado festeiro, sempre com a casa
violonista renomado e respeitado”, lembra.
aberta a uma roda de samba e cercado de
Depois de viúvo, Donga voltou a casar-se,
nomes consagrados da música brasileira, Lí-
com Maria, em 1953. Ela também cantava em
gia lembra outro lado de Donga, pai. “Na épo-
Donga, o imortal Por Ricardo Cravo Albin Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin
O
samba só veio a ser registrado com esse nome em disco, indicando pela primeira vez o gênio musical, pelo pioneiro Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga
(Rio, 1899 - Rio, 1974). Filho de Tia Amélia, mas também frequentador dos folguedos de Tia Ciata, Donga gravou uma música feita por ele e pelo cronista carnavalesco do
Jornal do Brasil, Mauro de Almeida, o Peru dos Pés Frios, baseada em motivo popular, a qual intitularam Pelo Telefone. Esse fato – aparentemente banal – teria a mais profunda repercussão tanto para a história do samba (apesar de Pelo Telefone ser mais para maxixe do que para o samba, tal como hoje o reconhecemos), quanto para a definição do começo da profissionalização da MPB. Era janeiro de 1917, e a primeira providência de Donga foi registrar música e letra na Biblioteca Nacional, o que equivalia a tirar patente da música. Trocando em miúdos, significava que uma música popular estava a atingir o estágio importante de produto comercial passível de ser vendido e de gerar lucros. Pelo
Telefone, gravado em janeiro de 1917 pela Banda Odeon e logo depois pelo Bahiano da Casa Edison, deu a Donga as glórias da posteridade. Foi o primeiro samba gravado,