O teorema katherine john green

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coisa que Colin se propõe a fazer, ele se dedica insanamente a essa coisa. Tipo, digitar. Ele só aprendeu a digitar no nono ano, quando ficamos amigos. A professora de inglês exigiu que entregássemos os trabalhos digitados. Aí, durante, tipo, umas duas semanas, o Singleton aprendeu sozinho a digitar. E ele não fez isso digitando os trabalhos de inglês, porque aí não seria bom o suficiente em digitação. O que ele fez foi se sentar na frente do computador todo dia depois da aula e copiar as peças de Shakespeare. Todas elas. Literalmente. E depois copiou O apanhador no campo de centeio. E ele ficou redigitando e redigitando até conseguir fazer isso como um fugging gênio. Colin se afastou da porta nesse momento. Ele se deu conta de que aquilo era só o que havia feito em toda a sua vida. Anagramas; repetir informações que aprendeu nos livros; decorar 99 dígitos de um número que todo mundo já conhece; se apaixonar pelas mesmas nove letras várias vezes: redigitar e redigitar e redigitar e redigitar. Sua única esperança de originalidade era o Teorema. Colin abriu a porta e encontrou Hassan e Lindsey sentados um em cada ponta de um sofá verde de couro num cômodo dominado por uma mesa de sinuca com feltro cor-de-rosa. Eles estavam assistindo a uma partida de pôquer numa TV enorme fixada na parede. Hassan se virou para olhar para Colin. — Cara — ele disse —, dá para ver todas as espinhas deles. Colin se sentou entre os dois. Lindsey e Hassan falaram sobre pôquer, espinhas, TV digital e DVR enquanto Colin colocava seu passado num gráfico. Ao fim da noite, uma fórmula ligeiramente modificada havia funcionado para mais duas K: IX e XIV. Ele nem reparou na mudança do ambiente quando Lindsey e Hassan desligaram a TV e começaram a jogar sinuca. Simplesmente continuou rascunhando. Adorava o barulho do lápis no papel quando estava concentrado daquele jeito: significava que alguma coisa estava acontecendo. Quando o relógio marcou meia-noite, Colin largou o lápis. Olhou para Lindsey, que estava com apenas um dos pés apoiado no chão, debruçada na mesa de sinuca num ângulo absurdamente embaraçoso. Hassan parecia ter deixado o cômodo. — Oi — disse Colin. — Ah, cê saiu da quinta dimensão — ela disse. — Como tá o Teorema? — Bem. Na verdade, ainda não sei se vai funcionar. Cadê o Hassan? — Foi dormir. Perguntei se cê queria jogar, mas acho que cê não me ouviu, então resolvi jogar contra mim mesma por um tempo. Tô ganhando de mim com uma certa folga. Colin ficou de pé e fungou. — Acho que tenho alergia a esta casa. — Deve ser a Princesa — Lindsey disse. — Na verdade, esse aqui é o quarto da Princesa. Shh. Ela tá dormindo. Colin seguiu Lindsey até a mesa de sinuca e ajoelhou-se ao lado dela. Embaixo da mesa, uma grande esfera, que a princípio parecia ser uma bola peluda de carpete, aumentava e


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