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- Eu também preciso de você – respondi baixinho. - Não, não precisa – Gabe afastou o olhar. – Você não pode precisar de mim, pra mim é muito difícil lidar com essa situação. Tenho sido egoísta, Jenna. Você deve procurar seu próprio caminho no mundo. Além do mais, o que está em jogo não é apenas Cleo. - Você está usando a doença dela como um pretexto? – Me irritei. - Não, mas essa crise dela me fez pensar novamente sobre nós. Não é justo com você, Jenna. - Já sou bem crescida e quero ficar com você. Você me explicou alguns dos riscos que posso correr; posso aprender mais em nosso convívio. Lembre que você é o meu amor – segurei o rosto dele firmemente com as mãos e voltei-o para mim. Ele desviou o olhar. - É porque a amo, Jenna, que preciso ficar algum tempo sem vê-la. Não quero que você tenha de lidar com essa situação se eu ficar muito doente. Você é jovem demais. Precisa de espaço para respirar. Não sei direito se estou pronto para lidar com um relacionamento desses. A proximidade me dá medo. O medo do que pode acontecer... - Você está me abandonando... - Vou para a Itália com Cleo. Um primo de papai tem uma casa de campo lá, e acho que o clima poderá ajudá-la. Eu já pensava em fazer isso antes de nos conhecermos. A voz de Gabe estava fria e firme. - Não posso ficar tão longe, sem manter contato com você – disse. – É horrível até mesmo pensar nessa possibilidade. - Todo ano, no primeiro sábado de agosto, às dez da noite, olhe para o céu e verá Cassiopéia, ao norte. Eu estarei fazendo o mesmo. A dor de perder Gabe era tão intolerável que eu só conseguia dizer: - Até mais, então – e voltei para o chalé sem olhar para trás. Nada que eu pudesse dizer ou fazer mudaria a situação. Me enfiei na cama, chorando muito. Mamãe teve a delicadeza de me deixar sozinha. As lágrimas secaram e atenuaram minha dor. O fato de me dizer que talvez tivéssemos de esperar anos seria o jeito de Gabe se livrar de mim? Ele talvez não estivesse vivo dentro de dois ou três anos... Eu não suportava essa idéia. Não. Eu sabia que ele me amava. A ultima crise de Cleo o abalara, ele decidira fazer a coisa mais nobre em relação a mim e a Cleo. Ele ía manter a promessa feita à mãe de Cleo e ficar ao lado da amiga, dando-lhe toda a força num momento muito difícil. Ao me deixar, talvez ele estivesse fazendo aquilo que via como a coisa certa. Talvez nós dois precisássemos de um pouco mais de experiência de vida. Amei-o ainda mais por isso. Ele estava assumindo a responsabilidade por alguém, e mantendo a promessa feita. Era uma promessa que precisava ser cumprida. Não o tipo de promessa ao qual gente como Mia estava acostumada. Nem o tipo de promessas fúteis que gente como Kai fazia e quebrava a cada minuto. Que tipo de relação poderíamos ter no futuro se ele não apoiasse Cleo agora? Eu teria de aprender a lidar com a dor de me separar de alguém que amava tanto. Mas havia uma ultima coisa a fazer. Deixar Gabriel saber o quanto eu o amava.


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