Quando a noite cai carina rissi

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Constrangida por ter sido flagrada espiando a intimidade dos dois, eu me viro para o outro lado. E então percebo que sou alvo de interesse. Uma garota, talvez dois ou três anos mais jovem que eu, de feições meigas e uma longa trança negra pendendo no ombro, acena da porta de uma das casas. Um tanto sem jeito, retribuo a saudação. A moça entende aquilo como um convite e decide se aproximar. — Que bom que despertou — ela diz tão logo me alcança. — Sou Dana, filha de Alistar Higgins. Todos estávamos preocupados com a senhora. Chegamos a pensar que tivesse sido atacada por um dos mercenários. Mas Ailín a examinou e garantiu que não era o caso. Os galls estão por toda parte. — Foi o que eu ouvi — comento. Mas não me recordo de Ailín na pequena cabana. Talvez ela tenha estado lá enquanto eu me perdia em um daqueles terríveis pesadelos com Fergus. — Não é para menos que o rei MacCarthy tenha mandado o exército acampar aqui perto. — Dana baixa a voz e chega mais perto. — Creio que os galls estejam querendo dominar nossa aldeia, como fizeram com aquela outra. Mas não se alarme! Enquanto Lorcan estiver nos liderando, não temos com que nos preocupar. Dana me deixa um pouco tonta com tanta informação, e tento ordenar os pensamentos. O exército dos MacCarthy montou acampamento nas redondezas? Será que encontrou meu rastro e me seguiu? Ou teria sido um dos mercenários? — Seu vestido é muito bonito — a menina elogia, mudando de assunto. Olho para baixo e meu estômago revira ao pensar no que a vestimenta representa. No que quase representou. Ao ver o desejo em seu semblante, penso em lhe doar o traje, mas mudo de ideia. Dana poderia querer usá-lo, e talvez um dos galls, ou até mesmo os soldados de papai, a vissem e desconfiassem de que estou por perto. Isso se algo pior não acontecesse. — Eu gostaria de poder queimá-lo — declaro. — Está falando sério? — Os olhos da menina se alargam. — Ele é de seda! — E representa o mal, Dana. A maldade está impregnada em cada fibra do tecido. Estou ansiosa para me livrar dele. Foi por isso que o sr. O’Connor me trouxe à aldeia. Para meu estarrecimento, ela de fato parece compreender o que sinto. — Então deve tirá-lo imediatamente e fazer uma bela fogueira! — E começa a andar na direção de Lorcan e Ailín. — Venha. Tenho mais vestidos do que preciso. Estou certa de que algum dará em você. — Oh, Dana... — Nem pense em me agradecer — interrompe. — Ofereço com muito gosto. Eu agradeço, de toda maneira. Lorcan nos avista, se despede de Ailín e vem ao nosso encontro. Mas alguém o intercepta. — Lorcan! — grita um homem quase tão forte quanto ele, com cabelos negros encaracolados pendendo nas costas. — Aquele é Brian, pai de Art. — Dana enlaça o braço no meu. — É o melhor amigo de Lorcan e de meu pai. — Ainda não o conheci.


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