CHICHICO VENÂNCIO E SUA ADORÁVEL LALINHA

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Não sei se por paranóia ou por instância real, os dois amantes passaram a ser incomodados por ruídos e deslocamentos na vegetação próxima, até que um dia Lalinha acordou e se sobressaltou na penumbra com a visão de dois olhos flamejantes que pareciam estar espreitando-a. Gritou. Saíram procurando por perto à volta. Nada foi encontrado – ser humano, animal ou qualquer alma viva. Os encontros começaram a ser postergados, dificultados, quase suspensos, por única e racional determinação dela. Passaram menos frequentemente a se encontrar em locais próximos de suas residências, em momentos propícios, mas com extremamente menor possibilidade de se continuar mantendo o necessário anonimato. Aproximadamente um mês após, num final de tarde, Lalinha estava sozinha na sua residência, todos tinham saído, e foi até o terreiro próximo ao pasto de porcos magros para pegar umas folhas de carqueja para fazer um chá. Voltando se deparou com o vaqueiro Deolindo - baiano rude, amorenado, de meia idade, mal encarado, alto, esguio. Nunca havia trocado uma única palavra com ele. Há quinze anos vivia com a mulher e sete filhos menores, numa pequena casa e num pedaço de terra que seu pai lhe dera para plantar à meia. Ninguém sabia com certeza das origens dele, detalhes de sua vida pregressa e o verdadeiro porquê de ter vindo para tão longe viver sua vida. Era detestado pelo padre local, porque recebia em domicilio clientes para ver suas sortes e seus destinos através dos búzios. Somente quando atendia aos que o procuravam se podia escutar sua fala. Nas outras condições era um sujeito mudo, sorrateiro, esquisito. Deolindo postou-se na frente de Lalinha, olhou-a fixamente como se a hipnotizá-la, pegou-a pelo pulso direito e foi puxando-a, sem pronunciar um “a”, para um pequeno cemitério dentro da própria fazenda. Ela não resistiu. E em meio aos túmulos de descanso eterno dos antepassados dos proprietários da fazenda, rasgou os botões de sua blusa e começou a chupar seus seios primorosos com uma fome desvairada, bestial, incontida. Sua boca faminta aninhava de uma só vez cada um deles, em cada bocada, e só os alternava quando sua respiração se interrompia ou quando beijava seus mamilos, que foram ficando ingurgitados, vermelhos, quais duas pontas ígneas. Apesar do escabroso e do inusitado daquele momento, Lalinha se mostrou serena, inteira, empedernida.

A adorável Lalinha - 51


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