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Dessa maneira, para optar entre as duas teorias, temos que examinar as exceções. É o que vamos fazer agora. A primeira coisa que podemos notar é que, em duas culturas primitivas, os esquimós da América do Norte e os Masai da África Oriental, a dieta alta em gordura nenhuma correlação apresenta com doença cardíaca, e sim, virtualmente, com uma ausência quase completa da mesma. Vejamos agora a situação em dois países ocidentais atípicos. Na Islândia, a doença cardíaca (e o diabetes) era quase desconhecida até a década de 1930, embora os islandeses adotassem uma dieta altíssima em gordura. Em princípios da década de 1920, contudo, carboidratos refinados e açúcar entraram na dieta islandesa e, confirmando a Regra dos 20 Anos de Cleave, as modernas doenças degenerativas chegaram na hora marcada. Finalmente, na Iugoslávia e na Polônia, o aparecimento de altas taxas de doenças cardíacas, em meados do século XX, foi concomitante à quadruplicação da ingestão de açúcar e oco"eu a despeito de uma queda na ingestão de gordura animais. Esses estudos nada provam. De modo geral, estudos epidemiológicos jamais provam, mas, de fato, lançam uma séria dúvida, exatamente como aconteceria com um estudo da história, com base na teoria de que dietas altas em gordura constituem a principal causa da epidemia de doenças cardíacas no século XX.

E O Que Dizer da História? Por que essa gente não sofreu de ataques cardíacos em séculos anteriores? Porque não comiam o que comemos, diz você. Exatamente. Não seguiam a dieta alta em açúcar e farinha de trigo branca que comemos hoje. Oh, você não quis dizer isso, quis? Você quis dizer que quis mesmo dizer que eles não faziam uma dieta alta em gordura? Mas faziam! Sem a menor dúvida, um número muito grande deles fazia isso. Todos os que tinham uma boa situação financeira, e em fins do século XIX esse grupo incluía no mínimo vários milhões de pessoas, para mencionar apenas os americanos, adotavam uma dieta muito alta em carne, peixe, aves, ovos, manteiga e toucinho. Não havia margarina - que gente mais sortuda! Essas pessoas comiam, como os abastados em toda parte sempre fIzeram, quantidades enormes de alimento de origem animal - seus jantares eram banquetes, com a galinha assada seguida pela truta fresca e precedida por um assado de porco. Leiam os romances do século XIX e vão fazer uma boa idéia da situação. Sei que vocês todos viram fIlmes de faroeste. Aquele trabalho gigantesco de tocar boiadas na década de 1860 tinha o objetivo de levar os animais para Chicago, de onde era distribuída a carne vermelha da América. E aquela gente tinha ataques cardíacos como nós? A verdade é que não tinha, absolutamente. Durante toda a segunda metade do século XIX, pesquisas foram feitas, revistas médicas estavam sendo publicadas, mas as doenças coronarianas eram tão insignifIcantes em número que o primeiro estudo a respeito delas - o exame de quatro casos - só surgiu em 19126. Aqueles vários milhões de americanos comedores de carne, de toucinho, abastados, alimentavam-se alegremente como reis e rainhas da gordura da Terra e jamais pagaram o preço coronário, aparentemente por que não havia preço coronário apagar. Na verdade o final do século XIX foi a grande era dos patologistas e uma oclusão de coronárias, visível mesmo a olho nu, jamais foi noticiada. Paul Dudley White, que seria mais tarde cardiologista particular do presidente Eisenhower, lembrouse de que em um ano (princípios da década de 1920), durante seu internato como residente no Massachusetts General Hospital, não viu um único caso de infarto do miocárdio (ataque cardíaco). Disso se segue a conclusão inescapável de que doenças das coronárias eram raras no século XIX. Mas por que começaram a aparecer por volta de 1912? Lembrando-nos da regra de Cleave, dos 20 anos, não posso deixar de me perguntar se esse fato não começou com a revolução da cola, em princípios da década de 1890, que coincidiu também com a criação de moinhos de trigo que produziam uma farinha muito mais refinada. Após 25 anos tratando pacientes cardíacos que apresentaram melhora contínua com a dieta que lhes receitei, exatamente como aconteceu com Patrick McCarthy - de carne, peixe e aves, sem restrição -, e que haviam exibido todos os tipos de efeitos negativos quando seguiam dietas altas em carboidratos, julgo que há um argumento muito forte no sentido de que as características excepcionais da dieta do século XX são exatamente o que há de errado com essas pessoas. Essas características não dizem respeito à gordura, mas aos carboidratos refinados - a praga de nossa época. Dou por encerrada minha apresentação de provas. Agora, vamos dar uma rápida olhada no câncer.

Câncer

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