Esperando por Doggo - Mark B. Mills

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diante da porta da frente. — Ela quer você de volta, Dan. — Você não sabe disso. Uma sombra de decepção passa pelo rosto dela. — Resposta errada. Você deveria ter dito que não quer voltar com ela. Eu quero dizer isso, mas não consigo encontrar as palavras. — Edie... Mas ela já foi, e desce os degraus da frente e sai pela rua. Sei que Clara estará assistindo a tudo isso lá de cima e não posso dar um show de lambuja para ela. Não fico surpreso com a frase de abertura de Clara quando volto lá para cima. — Ela é um pouco nova demais para você, não é? — Nós trabalhamos juntos. Ela é a minha nova parceira na agência. Por que estou me justificando? Não preciso dar satisfação nenhuma. — Vocês estavam trabalhando de casa hoje? Trocando de mesas? — Houve um problema na agência e tiramos a tarde de folga. — Daniel, eu sou uma mulher, ela é uma mulher. Eu conheço aquele olhar. Tudo bem. — Ela se aproxima de mim. — Me abraça. Só mais uma vez, eu digo a mim mesmo, só porque não tive a oportunidade quando ela foi embora. Eu bem que queria não gostar disso, mas é como vestir uma antiga luva de novo, ou um sapato lasseado por anos de uso. — Vim direto do aeroporto — ela sussurra no meu pescoço. — Eu sinto muito, eu pisei na bola de verdade. — E agora ela está me segurando e chorando baixinho. — Você tem que me perdoar. Por favor, me perdoe. O diabinho apoiado sobre o meu ombro está dizendo que quatro anos não podem ser apagados de uma hora para outra, ao contrário de toda a dor e tristeza que ela me causou. Não há anjo nenhum no outro ombro, mas há o Doggo. Ele não está simplesmente assistindo a tudo do outro lado da sala, está me encarando, me olhando nos olhos, e, apesar de ser um olhar penetrante e difícil de interpretar, há algo distintamente pronto para dar o bote, quase ameaçador, nos ombros dele. Dou um sorriso fraco. Ele não vai aguentar isso, não. Ele fica ali, inerte, como se tivesse sido esculpido em pedra, minha consciência, meu guia... meu anjo da guarda. Como é que demorei tanto tempo para entender? Eu me vejo no meu cinismo vagabundo, tirando uma com a cara de Clara por causa de Kamael. Vejo Fran, bonitinha e sarcástica, me chamando na chincha no almoço da minha irmã Emma: “Talvez você esteja procurando halos e asas enquanto deveria estar procurando outras coisas”. E vejo Zsa Zsa, só pele e osso em sua cama de hospital, satisfeita por desistir da luta e se deixar ir. Solto a Clara com toda a gentileza e passo os dedos pelo cabelo dela, meus polegares sob seus olhos, secando as lágrimas. Eu me sinto purgado, despido de qualquer má vontade para com ela. Estou livre para amá-la de novo, mas não como antes.


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