(Im)permanências e (in)seguranças da mulher na cidade

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ainda o importante papel de provedora que a mulher realiza há séculos (ALAMBERT, 2004, p. 81).

Trabalhavam em jornadas de 12 a 15 horas [...] (ALAMBERT, 2004, p. 81-82).

Também registram-se mulheres importantes no período imperial, como a destacada figura da escrava negra Anita Garibaldi na Guerra dos Farrapos e Chiquinha Gonzaga na campanha antimonarquista e abolicionista. Estas, aliás, foram pautas que marcaram esse período e foi nas últimas décadas do século XIX que a militância política tomou frente da luta pela abolição. Neste momento, as mulheres negras foram fundamentais. Elas, que foram também – e são até hoje – as figuras mais exploradas, porque “as mulheres negras, enquanto trabalhadoras, não podiam ser tratadas como o ‘sexo frágil’ ou ‘donas de casa’” (DAVIS, 1994, p. 20).

É importante enfatizar, apesar da situação do escravo negro também ser de submissão, as mulheres negras:

Foram importante instrumento de trabalho, sobretudo no campo em que realizavam todos os tipos de atividade. Cultivavam a terra. Usavam foice e enxada como os homens. Faziam feixes de cana; nos engenhos colocavam a cana-de-açúcar para moer e tiravam os bagaços. [...] Nas pequenas propriedades, elas participavam do desmatamento e corte de lenha. Eram empregadas na manufatura do açúcar, no descaroçamento do algodão, no beneficiamento da mandioca, na limpeza da roça de milho, na colheita de produtos silvestres e na ordenha. As mais velhas cuidavam dos galinheiros e colhiam café.

É possível notar na fala de Alambert que elas também estavam – e sempre estiveram – mais presentes nas ruas26 em função de seu trabalho. Por exercerem muitas atividades, estas frequentaram tanto os espaços públicos – seja por determinação de seus senhores ou para exercer um comércio informal – quanto nos espaços privados da casa grande - onde muitas delas trabalhavam ou executavam serviços. Desse modo, aquelas que iam às ruas tornaram-se intermediárias dos quilombos e tinham

Em seu livro, Angela Davis (1994) traz um estudo de W. E. B. Du Bois (1920), colocando que “proporcionalmente, as mulheres negras sempre trabalharam mais fora de casa do que suas irmãs brancas” (DU BOIS, 1920). Apesar da fala referir-se ao contexto de escravidão norte-americana, ela, assim como muitos

outros discursos do livro, é cabível também no cenário brasileiro. Ela complementa que “o ponto de partida de qualquer exploração da vida das mulheres negras na escravidão seria uma avaliação de seu papel como trabalhadoras” (DAVIS, 1994, p. 17).

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[...] sofriam de forma diferente, porque eram vítimas de abuso sexual e outros maus-tratos bárbaros que só poderiam ser infligidos a elas. A postura dos senhores em relação às escravas era regida pela conveniência: quando era lucrativo explorá-las como se fossem homens, eram vistas como desprovidas de gênero; mas, quando podiam ser exploradas, punidas e reprimidas de modos cabíveis apenas às mulheres, elas eram reduzidas exclusivamente à sua condição de fêmeas” (DAVIS, 1994, p. 19)


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