(Im)permanências e (in)seguranças da mulher na cidade

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Explanamos até então conceitos que envolvem ser mulher e a relevância dos estudos de gênero e feminismo para o trabalho. No presente capítulo, relacionaremos tais assuntos com a cidade, entendendo-a enquanto elemento material que, não apenas abriga as questões imateriais, como também é utilizada para pensa-las.

3.1. O espaço urbano enquanto construção social

algo enrijecido, neutro e alheio ao sistema de produção. O espaço urbano é produzido socialmente, e não só é reflexo do modo de produção atual, como é dele produto. A cidade tem aparecido como elemento exterior à sociedade, mas na realidade a cidade tem história, é uma obra e está sempre em construção (Ibidem, p. 9).

O espaço é visto não apenas como sede de todas as atividades da sociedade, mas enquanto processo e movimento, que:

A leitura e o entendimento da posição da mulher na cidade - que é possivelmente a questão central deste trabalho -, não é praticável sem antes compreendermos o que, para o estudo, será definido por espaço urbano. Começaremos, então, com a afirmação de que “todo o social realiza-se no espaço e, portanto, as relações sociais de gênero não saem dessa regra” (FARRET, 1985, p. 12 apud GONZAGA, 2011, p. 2). Considerar o espaço das cidades como um dos lugares do fazer social é, por consequência, indicar que o mesmo, “ao reproduzir relações sociais, reproduzirá também inevitavelmente a lógica de dominação. Vai expressar as desigualdades estruturantes do sistema, quais sejam classe, raça e gênero. Estas determinarão o espaço urbano e nele se manifestarão” (VIANNA, 2014, p. 16). Neste sentido,

Neste trabalho, a cidade não é entendida como “apenas um cenário onde ocorrem determinadas relações” (PINTO, 2011, p. 22), mas como “produto de uma construção histórica, política e social gerada pelo fato da vida coletiva. É meio e produto das relações de uma sociedade“ (PECCINI, 2016, p. 42). Mas qual seria este panorama em que a cidade se fundamenta (ou ao menos tem se fundamentado até então)?

Não se pode entender o espaço urbano como um palco no qual as relações sociais acontecem, como

Consideramos aqui que o alicerce das cidades – e entendemos a cidade como um reflexo da sociedade - são as relações de poder e, consequentemente, de dominação.

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[...] tem seu conteúdo definido e determinado pelo conjunto das relações sociais em seus momentos constitutivos específicos. Nessa direção, o espaço é o lugar da reprodução social de forma indissociável: produto, meio e condição dessa reprodução (CARLOS, 2014 apud VIANNA, 2014, p. 10-11).


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