Cartilha CineEMA 2012

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Escola da Mata Atlântica De 10 a 12 de Maio de 2012 Quilombo São José Valença/RJ

A P R ES E N TA Ç √ O O CineEMA é um projeto de exibição gratuita de filmes em comunidades rurais, realizado pela Escola da Mata Atlântica desde 2006. Em Aldeia Velha, as sessões já foram realizadas em diversos locais públicos como a escola, a praça, o bar e o campo de futebol.

Esse ano vamos ampliar nosso trabalho porque ganhamos dois prêmios do Ministério da Cultura: Prêmio Tuxaua "Semeando Cinema na Mata Atlântica" e o Prêmio Mídia Livre "A MiMoSA que dá Filme", que consistem na exibição e também na distribuição de filmes de licença livre, movimento agroecológico e filmes com autorização de exibição e distribuição.

Com essas ações pretendemos aumentar nossa rede de criações colaborativas e de acesso aos bens comuns, num debate crítico ao sistema de patentes e da ideia de patrimônio intelectual.

O público alvo são os assentados da Reforma Agrária, agricultores familiares, membros de pontos de cultura, moradores de comunidades rurais, ativistas de mídias livres, ambientalistas e pessoas interessadas nos temas da Agroecologia e Cultura Livre.

Além de Aldeia Velha, o projeto passará ao longo de 2012 por mais 3 comunidades: Quilombo São José de Valença, Comunidade Caiçara do Pouso da Cajaíba e Bairro Rural Macharete.

Imagens e Bibliografia: Semente Crioula, cuidar, multiplicar e partilhar. AS-PTA. (2009) Texto Flavia Londres, Ilustrações PSIKHE Design, Amanda de Carvalho, Alex MacDowel. Passo Fundo, Gráfica Battistel.

Legan, Lucia. (2004) A Escola Sustentável. IPEC. São Paulo, Imprensa Oficial.

Banco de Sementes - Projeto Tecnologia Socialmente Apro- priada.

Emater-BA/IBF/CAR/SERAC/Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário. Salvador, Editora Arembepe. “o que é cineclube” (Felipe Macedo) http://www.culturadigital.br/cineclubes/ (dezembro de 2011) Cartilha distribuida pelo Cineclube Falcatrua (UFES)

Coordenam: Carlos Henrique Nicolau (Curumim), Julia Botafogo, Surian dos Santos, Tadzia Maya e Tainá Mie Seto Soares.

Fazem parte: Argeu Peclat e Milton Machado - Mestre Griõ.

Textos e Pesquisa: Julia Botafogo, Surian dos Santos, Tadzia Maya e Tainá Mie Seto Soares.

Edição: Escola da Mata Atlântica Diagramação: Julia Botafogo Impresso na Gráfica Caipira Maio de 2012 http://www.escoladamataatlantica.org Copyleft: Esta obra é livre, você pode copiar, compartilhar e modificar sob os termos da Licença da Arte Livre http://artlibre.org/licence/lal/pt/

ES CO L A DA M ATA AT L ¬ N T I C A

Educação Popular em Agroecologia e Cultura Livre A EMA ou Escola da Mata Atlântica é um coletivo autônomo baseado nos princípios da ecopedagogia e que é legalmente constituída como uma associação cultural sem fins lucrativos que trabalha com a valorização da cultura tradicional e a conservação ambiental.

Desde 2006 possuímos uma parceria com a Escola Municipalizada Vila Silva Jardim, em Aldeia Velha, onde está nossa Horta Ecopedagógica, onde esse ano distribuímos 1000 mudas de verduras. Na horta procuramos inserir a Agroecologia como tema transversal de Meio Ambiente em todas as matérias escolares e remuneramos um mestre agricultor agroecológico e dois jovens bolsistas, além de participarmos no processo da Agenda 21 Escolar.

Colaboramos com a manutenção da rádio livre local, remunerando outro morador para focalizar suas atividades e o trabalho com sementes tradicionais, na Casa das Sementes Livres, construída em 2009 através de uma parceria entre a EMA e a Associação de Software Livre do Rio Grande do Sul e o Festival Eletrorgânico.

Para difundir a Cultura Digital e os Softwares Livres, contratamos uma professora para dar aulas gratuitas de informática básica para mais de 15 alunos da comunidade, e para iniciar o projeto de metareciclagem de computadores para o segundo ano do Ponto de Cultura Caipira. Esse ano, o Ponto lança seu I Almanaque Sonoro da Cultura Caipira e se prepara para a etapa de vídeo que se iniciará em 2012.

Fortalecendo a Economia Colaborativa, criamos a Rede dos Produtores de Aldeia Velha, articulando experiências da agricultura familiar e agroecológica tanto em Aldeia Velha quanto no Assentamento da Gleba, na beira da BR 101.

Nossa verba é integralmente advinda de editais públicos, sobretudo do Ministério da Cultura e de parcerias com órgãos municipais e estaduais, sem financiamento de nenhuma empresa poluidora, além de ações autônomas como a venda de produtos do coletivo.

Semeando Cinema na Mata Atlântica O Semeando Cinema na Mata Atlântica tem seu foco na exibição de Filmes Livres, Independentes, de Agroecologia e da Cultura Rural.

Com Feiras de Sementes Crioulas e oficinas de tecnologias apropriadas em comunidades tradicionais, busca instigar o debate sobre o acesso às mídias audiovisuais. O projeto replica a experiência do Prêmio Tuxaua de Pedro Guimarães - “Semeando Cinema” - de Alto Paraíso de Goiás, através do Prêmio Tuxaua de Tainá Mie, adaptando o projeto para englobar os temas da cultura livre e das sementes crioulas.

A MiMoSA, que dá filme!

A idéia de MiMoSA (Mídia Móvel S.A?) é inspirada em máquinas lúdicas de intervenção midiática criadas por diversos coletivos ao redor do mundo. No Brasil, assim como nós, outros criadores desenvolve-ram suas MiMoSAs a partir de oficinas de metareciclagem com lixo eletrônico e objetos obsoletos, criando suas próprias máquinas de registros do cotidiano.

Replicando essa ideia, selecionamos e distribuimos filmes de licença livre e outros autorizados, e população escolhe aqueles que quer cópiar, estimulando a criação de cineclubes e o debate sobre o acesso à cultura audiovisual sem barreiras monetárias.

Q U I LO M B O S Ã O J O S É

Uma breve história...

O quilombo São José da Serra é uma comunidade descendentes de escravos que está localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, na cidade de Valença, e faz parte de um universo quilombola de 13 comunidades no estado e mais de 1000 comunidades espalhadas por todo o Brasil.

Quilombo não é algo que fazia parte apenas do nosso passado escravista. Tampouco se configura como comunidade isolada, no tempo e no espaço, sem qualquer participação na sociedade. Pelo contrário, hoje as comunidades mantêm se vivas e atuantes, divulgando sua cultura negra, e lutando pelo direito de propriedade de suas terras consagrado pela Constituição Federal desde 1988.

O Quilombo São José existe a cerca de 150 anos e é o mais antigo do estado. Cerca de 200 quilombolas moram no local, em suas casas de adobe ou pau-a-pique e telhado de palha. O trabalho em conjunto na agricultura de subsistência, o catolicismo, a umbanda, o artesanato tradicional, o fogão à lenha, o Jongo e o Terço de São Gonçalo fazem parte do cotidiano dos moradores desde a chegada dos seus antepassados na fazenda, por volta de 1850.

Nessas terras, os negros de São José constituíram um núcleo religioso e cultural procurado não só pelos moradores das cidades próximas, mas de vários outros pontos do Brasil e do mundo que visitam a comunidade ao longo do ano.

Visitar São José é uma viagem ao passado com direito à uma bela receptividade de seus senhores, senhoras, jovens e crianças que nos recebem com alegria, simpatia e satisfação, sempre convidativos a nos sentar nos sofás de suas casas, tomar um café, e passar uma bela tarde de conversa.

M O N TA N D O S E U C I N E C L U B E .

Atividade cultural sem fins lucrativos não é pirataria! Pela livre circulação da cultura!

O dicionário define cineclube como uma “associação que reúne apreciadores de cinema para fins de estudo e debates e para exibição de filmes selecionados”, o senso comum trata o cineclubismo como uma mera atividade cultural. Mas cineclube é outra coisa...

Três “leis” do cineclube: 1.O cineclube não tem fins lucrativos.

2.O cineclube tem uma estrutura democrática.

3.O cineclube tem um compromisso cultural ou ético.

Material Necessário: Computador (Linux!), datashow, um bom par de caixa de som, Lençol branco, extensão/adaptador, mesa, cadeiras (pode pedir para cada um levar a sua, ou uma canga). Para acesso a todos esses equipamentos procure: Secretarias da prefeitura de sua cidade, Pontos de Cultura próximos e Universidades.

Local: O ideal é que seja um lugar plano, silencioso e fresco Criando seu acervo: Você pode começar organizando os filmes que você tem. Crie uma biblioteca digital, copiando filmes de amigos e parceiros para um HD externo. Em muitos catálogos de mostras e festivais vem o contato do diretor/produtora. Escreva para eles, conte seu projeto e peça para que eles enviem uma cópia para você.

Diretores, principalmente de curtas metragem, querem compartilhar seus filmes. Busque informações dos filmes que possui: ficha técnica, sinopse e uma imagem para ilustrar. Depois monte um catálogo com essas informações.

Como montar uma programação: Não copie as programações.

Escolha os filmes pensando no público e que dialoguem com algo que esteja acontencendo em sua cidade. Pense em recorte temáticos: meio ambiente, cultura negra, homenagem a um ator etc.

Sites Úteis: http://www.cineclubelumiar.org/ Como integrar a comunidade: http://www.culturadigital.br/cineclubes/ Procure saber qual é o melhor dia http://pec.utopia.com.br http://www.cinemateca.com.br/ e horário para as exibição. Se não casa com a missa da igreja, se é http://www.programadorabrasil.org.br/ http://portacurtas.com.br melhor antes ou depois do jantar http://www.mamrio.org.br Videoteca Gregório Bezerra: das crianças etc. Convide a comunidade para participar das esco- http://www.armazemmemoria.com.br/cd roms/videotecas/MST/ lhas dos filmes.

P E L A C U LT U R A L I V R E !

Imagine se a gente não pudesse fazer uma galinha à caipira porque uma empresa é dona da receita? Imagina agora se esta empresa cobra muito caro para deixar que outros façam esta receita em casa? Pois é, isso, que parece mentira, já está acontecendo em muitos lugares. Empresas e corporações se tornam donas de receitas de comunidades, modos de fazer de artesãos e fazem patentes até mesmo sobre frutos e comidas. Isso quando não querem privatizar bens ainda mais preciosos como terras públicas ou a nossa água, como a Nestlé já declarou publicamente seu interesse. Por isso nos unimos em torno de pessoas e organizações que não vão deixar isso tão barato assim não! Fazemos parte do movimento global contra a privatização dos bens comuns, que são nossas riquezas comunitárias como rios, matas e o ar por onde circulam as ondas de nossas rádios livres.

Valorizamos um espírito de generosidade e colaboração que está se espalhando pelos outros campos da nossa vida. Usamos e estimulamos o uso de softwares livres como o sistema GNU/Linux, que além de ser muito bom e gratuito, tem sua receita aberta para todos mexerem! Não é preciso privatizar a cultura para valorizá-la, muito pelo contrário, quanto mais acessível as coisas são, mais pessoas podem cuidar delas. Você cuida do patrimônio da sua comunidade?!

“As monoculturas ocupam primeiro a mente e depois são transferidas para o solo. As monoculturas mentais geram modelos de produção que destroem a diversidade e legitimam a destruição como progresso, crescimento e melhoria." Vandana Shiva 2003.

A monocultura foi e é a matriz da agricultura desenvolvida comercialmente, não coincidentemente, há também uma pressão muito forte para a existência de uma monocultura das práticas sociais, ou monoculturas da mente, contrastantes com a diversidade cultural das comunidades tradicionais habitantes de áreas tropicais megadiversas, como é o caso da Mata Atlântica em que vivemos. A Agroecologia é um conjunto de filosofias que tem em seu centro a colaboração e a diversidade de espécies para criação de um ambiente equilibrado, ou seja, sua raiz na policultura tradicional, resgata a ideia de convivência entre múltiplos agentes.

A G R O E CO L O G I A

"Como os antigos agricultores controlavam as pragas e a escassez das colheitas se o Roundup, o tordor e outros venenos e fertilizantes químicos não existiam?

Buscando perguntas como essa que a Agroecologia, como movimento social, busca aprender com os agricultores familiares e tradicionais em comunidades rurais e nas cidades. Valorizando as sementes crioulas, o manejo de plantas invasoras e a adubação natural, estimula a troca continua de saberes populares e técnicas científicas em um constante diálogo de saberes.

Hoje sabemos que a Agroecologia e a Agricultura familiar não só sustentam o mundo, como são uma ameaça para as indústrias e latifundiários que buscam convencer as populações de comprar agrotóxicos e sementes híbridas para ganhar cada vez mais dinheiro, não se importando com o aumento da epidemia de cancêr mundial. Sabe-se que a produção agrícola que sustenta o povo brasileiro vem 70% da agricultura familiar e grande parte dela é produzida de forma policultural e com baixo uso de produtos químicos.

Ao contrário, os grandes latifúndios monocultores produzem grãos transgênicos que são exportados para ração de animais na China e Estados Unidos e para produção de biodiesel, ou seja, não alimentam a população. A Agroecologia luta pela Soberania dos Povos, plantando as Sementes Crioulas, que são um patrimônio ancestral a serviço da humanidade.

CO M O S E FA Z U M A G E O D É S I C A ?

P E R M A C U LT U R A

Algumas informações importantes: A Nova Lei de Sementes e Mudas se chama, oficialmente, Lei 10.711/03 Dá para pegá-la na internet, no endereço: http://.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.711.htm O Artigo 2, inciso XVI é que reconhece a existência da semente crioula.

O Artigo 8, parágrafo 3, é o que diz que os agricultores fami-liares, assentados da reforma agrária e indígenas não precisam ser registrados no Registro Nacional se Sementes e Mudas (Renasem), do Ministériio da Agricultura para produzir, trocar ou vender sementes ou mudas entre si.

O Artigo 11, parágrafo 6, é o que estabelece que as variedades crioulas não precisam da inscrição no Registro Nacional de Cultivares (RNC).

E o Artigo 48 proíbe o estabelecimento de restrições a inclusão de sementes e mudas de cultivar crioula em programas de financiamento ou em programas públicos de distribuição e troca de sementes.

CO M O M O N TA R U M A C A S A D E S E M E N TES