A Terra Das Sombras - A Mediadora

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tinha culpa. Se estivesse na situação dela, sem saber o que eu sabia, provavelmente eu também conversaria com a caneca. Mas, como você vê, era aí que todas aquelas pessoas do meu quarteirão se enganavam. Meu pai estava morto, é verdade. Mas eu realmente voltei a vê-lo. Na realidade, é provável que o veja mais hoje em dia do que quando ele estava vivo. Quando estava vivo, ele tinha de ir para o trabalho quase todo dia. Agora que está morto, já não tem muito o que fazer. De modo que o vejo um bocado. Às vezes até demais, no fundo. O passatempo favorito dele é aparecer de repente quando eu menos espero. É meio chato. Foi meu próprio pai que finalmente me explicou tudo. De modo que num certo sentido é bom que ele tenha morrido, pois de outra forma eu nunca ficaria sabendo. Na verdade, não é bem verdade. Certa vez, uma cartomante de tarô disse algo a respeito. Foi numa festa na escola. Eu só fui porque a Gina não queria ir sozinha. Para mim ia ser uma chatice, mas acabei indo porque é para essas coisas que servem as melhores amigas. A mulher — Zara, médium vidente — leu as cartas da Gina, dizendo exatamente o que ela queria ouvir: você terá muito sucesso, será neurocirurgiã, vai se casar com 30 anos, terá três filhos, blablablá. Quando ela acabou, eu me levantei para ir embora, mas Gina insistiu em que Madame Zara também lesse cartas para mim. Você pode imaginar o que aconteceu. Madame Zara leu as cartas uma vez, ficou confusa, embaralhou-as e leu de novo. Depois olhou para mim: — Você fala com os mortos — disse ela. Gina ficou


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