Ídolos do Judô Gaúcho #1

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Joテ」o Derly A vida e as histテウrias do テコnico judoca brasileiro BICAMPEテグ MUNDIAL


Editorial

Continuando o processo iniciado na gestão do presidente Carlos Eurico, a Federação Gaúcha de Judô alcança mais um sonho, o de ter a sua própria publicação, exaltando atletas e histórias que fizeram o nosso esporte ser reconhecido em nível nacional e internacional. Muitos personagens foram importantes para chegarmos onde estamos. O judô gaúcho deve muito a professores, treinadores e dirigentes abnegados que dedicaram muita energia para atingirmos o que temos hoje. Vários poderiam ser destaque desta edição inicial. A escolha por João Derly se deu em função tanto de seu currículo esportivo ímpar, quanto por sua admirável conduta fora dos

Expediente:

tatames ao longo desses anos. Derly é um exemplo a ser seguido, respaldado pelo seu bonito trabalho social e dedicação em levar o judô àqueles que não têm condições de frequentar um clube. Esta revista que está em suas mãos é mais uma homenagem a esse grande atleta, assim como um reconhecimento a todos que se dedicaram ao engrandecimento do judô no nosso Estado. Nos próximos números estaremos enfocando outros que merecem destaque e procuraremos realizar um necessário resgate histórico. Uma ótima leitura a todos. Luiz Maduro, presidente da FGJ

Federação Gaúcha de Judô Presidente: Luiz Alcides Maduro Vice-presidentes: Carlos Eurico da Luz Pereira e Henry Maggi Revista Ídolos do Judô Gaúcho, edição 1 Jornalista responsável: Tiago Medina / Reg. profissional: 14.238 MTB/RS Colaboradores: Ana Maria Bicca e Pedro Dreher Fotos: Fotocom.net, Vipcomm, COB, Arquivo Pessoal e Divulgação Sogipa

Da asma ao ouro Quando ouviu do médico a recomendação de que precisaria praticar um esporte para melhorar da asma que o afetava, o pequeno João Derly não sabia, mas estava dando uma guinada na sua vida. E também na do judô brasileiro. O ano era 1988 – o mesmo do primeiro ouro olímpico do judô do Brasil, com Aurélio Miguel – e João vestiu quimono e iniciou a prática da arte marcial, já tendo Antônio Carlos Pereira, o Kiko, como professor, no colégio. O sensei logo percebeu o potencial naquele guri e o levou para treinar na Sogipa, onde também dava aulas. Aí começou uma carreira de sucesso. De categoria em categoria, João foi vencendo adversários e somando títulos. A Seleção Brasileira tornouse uma rotina. Em 2000, na Tunísia, João Derly conquistou o Mundial sub-20. Levar o Brasil ao pódio mundo afora passou a ser algo costumeiro para esse gaúcho de 1,64m de altura. Cinco anos mais tarde Derly escreveu para sempre seu nome na história do esporte brasileiro. Em uma campanha memorável, chegou

à final do Campeonato Mundial de 2005. O rival era de se temer: Masato Uchishiba, ouro em Atenas-2004. O currículo, porém, não pesou e o gaúcho – que começou no judô para vencer a asma – aplicou um ippon e sagrou-se o primeiro brasileiro campeão mundial. A façanha lhe rendeu o reconhecimento do COB, que o elegeu o melhor atleta daquele inesquecível ano. Tal qual como sugere o hino de seu time de coração, Derly seguiu sua senda de vitórias. No ano seguinte, protagonizou outra conquista inédita para o judô brasileiro: o ouro na super copa do mundo de Paris. Se o desempenho até aí estava bom, melhorou ainda mais em 2007. Num espaço de três meses, Derly conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos e o bimundial, ambos no Rio. A sonhada medalha olímpica, em 2008, não se tornou uma realidade. Mas nada de tristeza. Meses depois, Derly faturou o título Pan-Americano de 2009. As lesões, entretanto, começaram a se tornar cada vez mais frequentes e impediram novos títulos.

“O João é um grande atleta e uma pessoa extraordinária. Venceu no tatame e na vida sempre buscando fazer seu melhor”, KIKO, técnico de judô.


Um campeão além dos tatames De nada adiantaria ser um ídolo, um bicampeão mundial no esporte que pratica, se não houvesse um legado. Pensando nisso que João Derly fundou em 2005 o Instituto Pódium, que leva judô gratuitamente a crianças de baixa renda. “Achei que difundir o judô, um esporte que deu tudo o que tenho na minha vida, seria a maneira mais adequada de retribuir a felicidade que senti nos principais momentos da minha carreira”, conta Derly. “Sou bicampeão do mundo, mas tenho que pensar no que deixo para os outros.” Em 2008, o projeto recebeu um grande incentivo e chegou a ter mais de 100 crianças participantes. Hoje, 20 delas ainda seguem no Pódium e buscam até o alto rendimento. “O Pódium já conquistou títulos estaduais, além de boas participações em eventos nacionais”, relata o professor Daniel Pires. Mas o legado de João Derly vai muito além dos tatames. Desde sempre ele, sem2005: Derly é recebido por multidão em POA pre que pôde, participou de outras ações

“O João sempre foi bastante preocupado com as crianças do Instituto. Mas não com os resultados e sim com o retorno social”, Daniel Pires, professor do Instituto Pódium.

sociais, como visitas a hospitais e instituições de caridade. “É algo que aprendi na igreja que frequento desde que sou criança”, conta. A igreja, por sinal, é uma estrutura importante na vida de Derly. “Foram diversos valores que aprendi e adquiri, junto com o esporte. Só me fortaleceu durante as competições para lidar com a parte emocional, assim como contagiar com alegria a vida do próximo. Deus representa tudo na minha vida. Sem Ele, nada do que eu tenho teria valor.” Derly sempre buscou ajudar entidades beneficentes, como foi o caso da campanha que participou gratuitamente para a Kinder, em 2010. “Me faz um bem enorme. Poucas coisas são mais recompensadoras que receber o sorriso de uma criança ou o afago de um idoso cheio de histórias pra contar.” Ao longo dos últimos anos, o judoca esteve diversas vezes em hospitais de Porto Alegre, levando, além de alegria, solidariedade e fé aos Koka! Derly é bicampeão do mundo em 2007 enfermos.

“Derly é um jovem de muitas qualidades, um bicampeão mundial que mantém a humildade do guri simples. Um batalhador”, Manuela D’Ávila, ex-presidente da Frente Parlamentar do esporte.


Família é a base É preciso se dedicar para chegar ao auge. Mais que isso. É preciso se superar, ir além das expectativas. Assim, e tendo a fé e a família consigo, que João Derly alcançou o topo do mundo duas vezes. Confira na entrevista. Pergunta básica: um momento marcante da sua carreira? Antes do Mundial de 2005 estava machucado no abdomem e ia fazer a final da seletiva com o Leandro Cunha. Lembro-me que orei e me veio uma palavra: “O cavalo se prepara para a batalha, mas vitória vem do Senhor”. Mesmo lesionado, eu senti uma paz imensa. Venci e essa história acabou no título no Egito. Para quem quiser ler, é Provérbios 21: 31 na Bíblia. Menos mal que essas dores terminaram antes do Mundial, pelo jeito. Nesse sim. Mas vou contar um pequeno segredo: 2007 foi um ano complicado. Tanto nos Jogos Pan-Americanos, quanto no Mundial daquele ano lutei com o ligamento cruzado anterior do joelho rompido. Segurei o tranco na musculatura. Foi sem dúvida a maior prova de superação da minha vida. Ao menos deu tudo certo (risos).

Qual é a sua maior conquista na carreira? Claro que o bicampeonato do mundo foi a maior conquista de resultados. Mas paralelo a isso, hoje me sinto feliz por todas as amizades que fiz e, por conta disso, poder contribuir em outras áreas e não apenas no esporte. Você é um cara muito família? Sim e acho que vem de berço. Sou de família grande e acostumada a grandes reuniões. Gosto desse contato entre as pessoas, através de um chimarrão ou de um bom churrasco (risos). A família é e sempre foi a base de tudo, mas talvez esse conceito tenha se perdido um pouco nos dias de hoje. E como é a relação com os fãs? É ótimo ver teu trabalho ser reconhecido através de palavras ou de uma foto, por isso sempre procuro atender quem vem falar comigo, porque pode ser a única impressão de que as pessoas podem ter de quem eu sou de verdade. Já tive e tenho meus ídolos e sei como esse momento pode ser especial.

“O João é um divisor de águas do judô do Brasil. Ajudou muito na visibilidade do nosso esporte e entrou para o hall dos grandes da história”. Paulo Wanderley, presidente da CBJ.

Antenado e conectado Tornar-se um ícone do judô mundial não fez de João Derly uma pessoa diferente. O guri simples e brincalhão que cresceu treinando na Sogipa não mudou por causa das conquistas. Desde sempre, foi atencioso com todos, sejam funcionários do clube, fãs ou políticos que o vinham cumprimentar. “Nunca quis criar uma distância”, conta Derly. “De que adianta se transformar um ídolo no esporte e não dar exemplo como pessoa, ser humano”, completa. Sempre antenado em novas tecnologias, João Derly aproveitou redes sociais para aproximar-se ainda mais dos fãs. Só no ano passado criou uma conta no Twitter (@joaoderly) e dois perfis no Facebook – um deles lotou em pouco tempo. “A internet é uma forma muito boa para se aproximar das pessoas, trocar e debater ideias sobre todos os assuntos”, justifica. “Admito que comecei meio receoso nessas redes sociais, mas hoje já posso me considerar um fanático”, brinca ele. E Derly é ativo no Facebook e no Twitter. “Ele passa muito tempo mesmo”, entrega a esposa Gabriela Pisoni.

“Fanático por internet”, João interage com fãs

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@joaoderly Ainda assim, Derly não dispensa o contato pessoal. “Todo mundo tem uma experiência para passar, uma energia única. Para o atleta de alto rendimento, isso é fundamental”, conta. “Em 2007, no Mundial do Rio, lutei a decisão com o joelho lesionado. Cheguei a pensar em desistir, mas a torcida estava linda e me apoiando. Não devia decepcioná-los. No fim, deu certo.”

“João Derly é, e sempre será, referência como judoca brasileiro de sucesso. Sempre lembrado na história da nossa modalidade.” Ney Wilson, coordenador técnico da Seleção.


JOÃO DERLY

Decacampeão gaúcho Atleta da década da FGJ Prêmio Brasil Olímpico 2005 Cinco títulos continentais Ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 Campeão mundial sub-20 17 medalhas no circuito internacional Bicampeão mundial (2005/2007)


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