Super interessante nº 207

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Física Como estudar outros mundos

Apanha a LUZ! Encontrar planetas como a Terra, no espaço longínquo, não será tarefa fácil. Para o conseguir, é preciso recorrer a diferentes métodos, capazes de os achar e caracterizar, a exemplo do que se fez para os 1900 planetas extrassolares já descobertos. O astrónomo Jorge Martins testou uma nova técnica e conseguiu detetar, pela primeira vez, o espectro da luz refletida por um planeta fora do Sistema Solar.

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a Grécia Antiga, Belerofonte era o herói que capturou e cavalgou Pégaso, o mítico cavalo alado, mas que logo caiu em desgraça quando, montado no dorso do animal voador, tentou visitar os deuses no monte Olimpo. Para os astrónomos, Belerofonte é a alcunha do planeta extrassolar 51 Pegasi b, o primeiro do seu género a ser encontrado em torno de uma estrela como o Sol: a 51 Pegasi, situada na constelação de Pégaso, a pouco mais de 50 anos-luz da Terra. O planeta, pouco maior do que Júpiter e com metade da sua massa, causa espanto por circundar a sua estrela-mãe em somente quatro dias. A grande descoberta, feita em 1995, abalou o que até então se conhecia sobre os sistemas estelares. Afinal, era possível a um planeta gigante gasoso, semelhante a Júpiter, ter uma

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órbita muito próxima da estrela que o alberga. A esta nova classe de planetas, deu-se o nome de “Júpiter quente”. Passados 20 anos, uma equipa internacional de investigadores, encabeçada por Jorge Martins, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e da Universidade do Porto, publicou um estudo em que afirma ter detetado diretamente, pela primeira vez, o espectro da luz visível refletida pela atmosfera de um planeta extrassolar, usando uma nova técnica que desenvolveram. O centro das atenções recai, mais uma vez, sobre o 51 Pegasi b. Os dados obtidos não trouxeram grandes novidades sobre o planeta, mas o que se pretendia é que a nova ferramenta de análise provasse o seu potencial. De futuro, quando combinado com a próxima geração de telescópios e de espectrógrafos, espera-se que seja capaz

de caracterizar planetas longínquos parecidos com a Terra. O teste que se fez, recorrendo ao espectrógrafo HARPS, instalado no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul (ESO), no deserto chileno do Atacama, utilizou o espectro da estrela 51 Pegasi como referência para procurar um sinal similar, refletido pelo planeta que a orbita. Foi assim que se conseguiu, pela primeira vez, a deteção espectroscópica da luz estelar refletida pelo 51 Pegasi b, o que, na prática, significa que se está a observar diretamente o planeta, afirmam os investigadores por detrás do estudo, grande parte deles ligados à Universidade do Porto. “Esta técnica de deteção tem grande importância científica”, explica Jorge Martins, “pois permite-nos medir a massa real do planeta e a sua inclinação orbital, o que é essencial para compreendermos completamente o sistema.


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