O SÃO PAULO - edição 2975

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Fé e Vida

www.arquidiocesedesaopaulo.org.br 22 a 28 de outubro de 2013 Gabirante

frases da semana

“A Igreja, de certa maneira, afinava-se com a sociedade. O Vaticano 2º acontece nos anos 1960 quando várias lutas libertárias aconteciam pelo mundo. Ele as incorporou em boa parte, mas a da emancipação da mulher teve que esperar um pouco.”

Maria Clara Bingemer, sobre os 25 anos da Mulieris Dignitatem

“Não é mais uma Igreja voltada e centralizada no presbítero, no clero, mas é uma Igreja que quando celebra, revela o corpo místico de Cristo. Cristo que tem muitos membros e cada membro exerce uma função no corpo.”

Padre Hernaldo Pinto Faria, durante a Semana Nacional de Liturgia

“O objetivo é lutar pela memória, ou seja, apresentar fatos que a maioria da população não conhece, sobretudo os jovens. É também uma exposição de obras de arte, que apresenta de que maneira o artista plástico reagiu à ditadura.”

José Luiz Del Roio, sobre a exposição “Resistir é preciso...”

você pergunta

Espiritualidade

Com cruz de madeira no terço, ganha-se a indulgência plenária?

Quem te falou pela primeira vez de Deus? Frei Patrício Sciadini

Diretor do O SÃO PAULO, semanário da Arquidiocese de São Paulo

Padre Cido Pereira

Tereza, que não explicitou onde mora, me enviou a seguinte pergunta: “É verdade que, quando rezamos o terço com crucifixo de madeira, ganhamos a indulgência plenária?”. Tereza, sei lá quem inventou isso, sei lá quem disse isso para você. O que eu sei é que nós precisamos muito crescer no conhecimento de nossa fé. Pense comigo, Tereza: em que aumenta ou diminui o valor do terço se o crucifixo é de madeira ou de metal? O valor da oração está no que dizemos a Deus e não nos objetos que usamos, seja para contar as preces, seja para nos ajudar a fixar a atenção na oração. Coloquemos isso no nosso coração, Tereza. Não façamos das medalhas, dos santinhos, das imagens, uma espécie de patuá para fechar o corpo. Nós criticamos tanto os irmãos do candomblé e da umbanda pelos seus patuás, pelos penduricalhos que usam no pescoço, e acabamos fazendo o mesmo com nossos objetos de piedade, imaginando que a força está neles e não nas preces que brotam de nosso coração enquanto os usamos. Tereza, reze o terço sempre. Ganhemos todas as indulgências que pudermos. Elas nos ajudam a chegarmos perto de Deus. Elas descontam as penas de nossos pecados. Mas, tiremos de nossa cabeça e de nosso coração as crendices e superstições que acabam criando uma religião do medo, do interesse, e não uma religião do amor e da comunhão com Deus. Deus abençoe você, minha irmã.

Tiremos de nossa cabeça e de nosso coração as crendices e superstições que acabam criando uma religião do medo, do interesse, e não uma religião do amor e da comunhão com Deus

Semanário da Arquidiocese de São Paulo

É verdade, a fé é um dom de Deus, mas Deus oferece seus dons também por meio das mediações humanas. São muitos os caminhos através dos quais ele, na sua bondade, chega ao nosso coração, nos fala, nos seduz e nos doa o seu amor. Como é importante perceber que a pregação é um dos meios mais eficientes, através dos quais chega até nós o conhecimento de Deus. O papa Francisco, na sua encíclica “A Luz da Fé”, diz que a fé é como uma longa corrente, cujos anéis se unem com o passado e estão abertos para se unirem com o futuro. Cada um de nós forma este anel, que não deve ser mais rompido nem interrompido, é a transmissão da fé.

Essa imagem da corrente que continua na história e no tempo é de uma beleza única. Nestes dias, estava refletindo na minha oração e agradecendo a Deus o dom da fé que ele me deu. Mas quis fazer uma ladainha das pessoas que Deus colocou na minha vida e que me ajudaram a receber a fé, a reavivar a fé. Não posso me recordar de todos, seria difícil. Mas quero somente recordar três pessoas. Minha mãe, Domênica, que, mesmo sendo analfabeta nas letras e nas leituras dos livros sagrados, sabia ler a vida de todos os dias à luz da vontade de Deus. Em todas as coisas, apelava a Deus. Uma mãe educadora, que me conduziu pelos caminhos não do conhecimento teórico de Deus, mas do conhecimento amoroso de Deus, mediante a oração e a sua vida simples. A segunda pessoa de quem não posso esquecer foi um sacerdote, dom Tiago, homem velho, que me queria

bem e que, quem sabe, viu em mim os primeiros sinais vocacionais. E, sabendo que eu não tinha pai, sempre foi atento para comigo e me ajudou com sua vida simples e pobre a compreender a beleza da liturgia. Foi ele quem pela primeira vez me convidou a ser coroinha e que, uma vez, quando eu disse que queria ser padre, me olhou e disse: “Anda, para chegar lá deve comer 20 sacos de batata”. E isso ficou tão impresso na minha mente que queria só comer batatas. A minha fé foi crescendo e se purificando, especialmente no contato com o Carmelo, com os místicos carmelitanos, com os santos do Carmelo e com as monjas carmelitas descalças, que, com sua vida simples, sempre conquistaram o meu coração. E, para ti, quem te ensinou o caminho da fé? Quem foi que te falou pela primeira vez de Deus, do seu amor e da sua bondade? Reze hoje esta ladainha das pessoas de fé que Deus colocou na tua vida.

palavras que não passam

A Igreja reconhece no mundo seu interlocutor PADRE AUGUSTO CÉSAR PEREIRA

Já havia diálogo entre Deus e a humanidade, no paraíso terrestre. Iniciado muito afetuosamente, mas com final desagradável. Em Jesus Cristo, Palavra de Deus em carne e osso, somos interlocutores uns dos outros. A Igreja, em sua renovação conciliar, não pode ficar fora disso. Inter, prefixo latino, significa “entre”; loqui, “falar”. Para ser interlocutor, é preciso que se encontrem ao menos duas pessoas. Em Jesus, nós não só ouvimos, Deus fala, mas podemos conversar para ele nos ouvir, isto é, tornamo-nos interlocutores de Deus. Afinal, conforme Paulo, para o Pai, nós somos “imagem do Filho” (Rm 8,29). Interlocutores, porque Jesus é um homem para a nossa humanidade; é

Deus para a nossa fé. Interlocutores, porque Jesus é a Palavra eterna que desde sempre existe em Deus, porque ela mesma é Deus (cf. Jo 1,1). Interlocutores, porque recebemos da própria Palavra a capacidade de dialogar com ela. Interlocutores, porque a Palavra de Deus, a qual já se fez ouvir na oportunidade da Primeira Aliança, agora, além de falar, se torna visível em Cristo. Interlocutores, porque essa Palavra eterna que era Deus se fez carne da nossa carne e armou sua tenda entre nós (cf. Jo 1,14). Interlocutores, porque a Palavra de Deus se coloca à altura do relacionamento humano, para dialogar conosco como nós dialogamos: fazendo-se entendida como entre nós nos entendemos. Somos, em Cristo, filhos com toda a chance de relação filial com o amor paterno de Deus. Interlocutores, porque, se assim estamos em condições de nos entender com ele e ele conosco, e nós entre nós,

a Palavra nos dá a possibilidade de nos conformarmos a ele, nosso Mestre, para que cada qual de nós possa viver Cristo em si próprio (cf. Gl 2,20). Ainda Paulo: “Não vos conformeis às estruturas deste mundo, mas transformai-vos pela renovação da mente” (Rm 12,2). Interlocutores: “Nestes dias, Deus falou em seu Filho” (Hb 1,12). Interlocutores, porque nesse diálogo, o homem descobre a manifestação do Pai em seu Filho (cf. Ef 4,13); Jesus comunica-nos as coisas do Pai (cf. Jo 12,50); “Dei-lhes as palavras que tu me deste” (Jo 17,8). Interlocutores, porque, se o homem penetra nos mistérios de Deus, a Palavra de Deus também aceita o diálogo para penetrar nas dúvidas, anseios e questionamentos do homem moderno. Tudo revela que Deus, na sua revelação, é profundamente adepto do diálogo com os humanos. Percebemos que a interlocução é o maior distintivo da grandeza da pessoa humana. Só pode haver interlocutores nas relações entre pessoas humanas.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação Semanal • www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Antônio Aparecido Pereira • Reportagem: Daniel Gomes e Edcarlos Bispo de Santana • Colaboração: Nayá Fernandes • Fotografia: Luciney Martins • Administração: Maria das Graças Silva (Cássia) • Assinaturas: Djeny Amanda • Projeto Gráfico e Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: Atlântica Gráfica e Editora Ltda. • Redação e Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700 e 3760-3723 - Telefax: (11) 3666-9660 • Internet: www.osaopaulo.org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinatura) • Números atrasados: R$ 1,50 • Assinaturas: R$ 45 (semestral) • R$ 78 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail• A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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