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DESTAQUE 3

O Mensageiro 23.Setembro.2010

Homilia da Ordenação Presbiteral de P. Miguel Sottomayor

Te Deum laudamus, Te Dominum confitemur! Nós Te louvamos, ó Deus; nós Te bendizemos, Senhor! O dia tão esperado Chegou finalmente o dia tão esperado! Antes de mais, esperado pelo Senhor Jesus. Foi Ele, o Senhor, que atraiu com o seu amor este jovem diácono que hoje se apresenta para ser ordenado presbítero. Foi Jesus que o chamou e o pôs no caminho do seminário, suscitando nele a decisão de acolher o desígnio do Pai sobre a sua vida. É Ele, o Senhor Jesus, que agora ouve ressoar com imensa alegria o “sim” definitivo como resposta ao chamamento de Deus. É o dia tão esperado pela nossa Igreja, aqui tão amplamente representada, após dois anos sem uma ordenação sacerdotal. É esta Igreja que acolhe o novo padre com alegria e em acção de graças a Deus. Ela sabe que sem sacerdotes não pode realizar a sua missão na história. É o dia esperado por ti, caro Miguel, com tanta emoção e alegria; e, de igual modo, por mim que, pela imposição das mãos, invocarei para ti a abundância do Espírito Santo. Este é o dia esperado, também com emoção e alegria, pelos teus caros familiares e amigos, pelo seminário e pelos padres que te acompanharam e apoiaram, pelo nosso presbitério, pelas paróquias que serviste e vais servir, por toda a comunidade diocesana. A todos, particularmente a ti, caro Miguel e aos teus familiares, saúdo, de todo o coração, com fraterno afecto. Com todos me congratulo porque a festa é de todos nós. A vossa participação tão numerosa é um sinal claro de que o povo de Deus tem necessidade de sacerdotes, deseja-os, estima-os, reza por eles, está-lhes grato pela sua missão. O sacramento da Ordem que vais receber toca profundamente o teu coração; mas também toca profundamente a todos nós como Igreja. É um acontecimento de graça que diz respeito a toda a Igreja: é sinal do infinito amor de Deus por nós, seu povo, e pela humanidade. Convidovos, pois, a contemplar algo da beleza deste sublime

mistério que nos supera e envolve, deixando-nos iluminar pela Palavra de Deus proclamada e pelos gestos celebrativos que, de algum modo, a tornam visível aos nossos olhos. Nas Tuas mãos, Senhor, está a minha vida O rito da Ordenação começou com o chamamento do candidato que respondeu: “Presente”. Expressa o sim definitivo que resume todo um percurso existencial para responder ao chamamento de Deus através da Igreja: eis-me aqui, estou pronto para que possas dispor de mim. Um sim que vai ser ratificado pelo gesto impressionante e comovente da prostração como sinal do despojamento total e da dádiva inteira de si mesmo ao Senhor, sem reservas, sem condições, sem cálculos. Este significado é bem traduzido pelo lema que o Miguel escolheu: “Totus tuus – Todo teu”! Um gesto insólito que não encontramos em nenhuma investidura ou tomada de posse de algum cargo. A este gesto de entrega, o Senhor responde com um outro que está no centro da

celebração : o da imposição das mãos do bispo sobre a cabeça do ordinando, seguido pela oração de consagração. Com este gesto, o Senhor toma posse dele como que dizendo-lhe: “Tu pertences-me. Tu estás sob a protecção das minhas mãos, do meu coração, do tecto imenso do meu amor”. Não esqueças, caro Miguel: a tua vida está nas suas mãos. São as mãos que os discípulos puderam ver abertas e trespassadas na cruz. São as mãos que Cristo mostrou aos seus

após a ressurreição e que Tomé queria tocar. São as mãos que partiram o pão e tomaram o cálice na última ceia; que lavaram os pés sujos dos doze apóstolos; que agarraram Pedro quando se afundava nas águas do lago; que levantaram a filha de Jairo já sem vida; que tocaram e curaram o leproso; que se estenderam sobre as crianças para as abençoar. A estas mãos a Igreja confia hoje este candidato para que, com a força do Espírito Santo que delas sai, façam dele ministro de Cristo ao serviço da sua Igreja e da humanidade. Mas lembremo-nos de que, por detrás das mãos trespassadas de Cristo, está o seu coração com todo o mistério de amor até à cruz. Por isso, o significado da imposição das mãos é iluminado e explicitado pelas palavras de Jesus: “Já não vos chamo servos; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai”. O Senhor torna-nos seus amigos e confia-nos tudo; confia-se a si mesmo de tal modo que possamos falar e agir em seu nome, na sua pessoa. Os sinais da Ordenação são manifestações desta comunhão de amizade e confiança: a imposição das mãos com o dom do Espírito; a entrega do Evangelho, já realizada no diaconado, isto é, da sua Palavra que Ele nos confia para a semear no coração dos homens e do mundo; a entrega do cálice com o qual nos transmite o seu mistério mais profundo e pessoal; a unção das mãos com o óleo que é sinal da força e do perfume do Espírito Santo. Este último gesto adqui-

re realce como contraponto e como complementar ao da imposição das mãos. O Senhor impôs-nos as mãos e agora quer as nossas mãos – as tuas mãos - para que no mundo se tornem a extensão das suas, pondo-as ao serviço do seu amor. Se as mãos do homem representam, simbolicamente, as suas faculdades de relação, comunicação e acção, então as mãos ungidas do sacerdote devem ser um sinal da sua capacidade de dar e levar aos homens os dons da misericórdia, do perdão, da reconciliação, da consolação, da paz e da alegria oferecidos por Deus. Nas tuas mãos de sacerdote a vida de muitos Uma última palavra dirigida ao ordinando. A tua vida, a partir de hoje, está a um novo título nas mãos de Deus, nas mãos de Cristo crucificado e ressuscitado. Mas de ora em diante, em virtude do teu ministério presbiteral, também as vidas de muitas pessoas estarão nas tuas mãos, ou melhor, nas mãos de Cristo através das tuas. Dar-te-às conta de que muitos irmãos e irmãs, por causa do sacramento que hoje recebes, te confiarão a sua vida, te abrirão o seu coração, partilharão contigo os seus sofrimentos e confessarão os próprios pecados. As tuas mãos erguer-se-ão sobre eles para abençoar, baptizar, ungir, absolver, levantar. Nas tuas mãos o pão da Eucaristia tornar-se-à Corpo de Cristo, Pão de vida eterna, mistério admirável e adorável da nossa fé! Muitas vezes, as tuas mãos apertarão outras em sinal de amizade e de paz.

Oxalá possam fazer sentir o calor da caridade, a energia da misericórdia, a alegria da redenção. Oxalá os outros possam ver, por detrás das tuas mãos, o teu coração de pastor moldado segundo o coração de Jesus. Caros amigos, através da simbólica das mãos pudemos contemplar um pouco da beleza do sacerdócio como um reflexo da beleza do Amor Eterno que sustenta e salva o mundo e como um serviço para a beleza espiritual das almas e dos corações. Que grande confiança Jesus Cristo e os fiéis põem no sacerdote! Que grande responsabilidade pesa sobre ele tão humano e tão frágil! Conforta-nos a advertência de S. Paulo: “Nós trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério, para que se conheça que um poder tão sublime vem de Deus e não de nós”. Por isso mesmo, o dom do sacerdócio requer uma grandeza daqueles que o recebem: a grandeza da humildade e da fidelidade no ministério, a partir da intimidade com Cristo que nos dá a mão que nos sustém e guia, e a partir da fraternidade com os irmãos padres e fiéis leigos que nos oferecem o apoio humano para vivermos com coragem e alegria o nosso ministério. A Mãe de Deus, que vela pelos seus filhos com amorosa ternura, acompanhe o caminho do teu ministério, caro Miguel, te defenda de todo o mal, te guarde na paz e te confirme na alegria da doação sacerdotal a Cristo e aos irmãos. Ámen! † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima


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