Jup Abril 2012

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Cultura ou Violência?

Liberdade acima de tudo, eu não quero obrigar ninguém que não gosta, a ir ver corridas de toiros (…) Diogo Costa Monteiro, secretário geral da Prótoiro

AS TOURADAS SÃO UM TEMA QUE TEM GERADO MUITA DISCUSSÃO AO LONGO DAS ÚLTIMAS DÉCADAS, DIVIDEM OPINIÕES E QUESTIONAM O SENTIDO DA PALAVRA CULTURA. É UM ESPECTÁCULO QUE PARA UNS É VISTO COMO UM COSTUME E PARA OUTROS NÃO PASSA DE UMA CRUELDADE. O JUP FOI INVESTIGAR A EVOLUÇÃO DAS TOURADAS, DESDE A ANTIGUIDADE ATÉ AOS TEMPOS QUE CORREM DE FORMA A MOSTRAR DUAS PERSPECTIVAS OPOSTAS SOBRE O ASSUNTO. por Melina Aguiar e Luis Rodriguez Amayuelas ilustração Toni Toninha

A

primeira representação de espectáculos com touros é de 1400 a.C e encontra-se no Palácio de Knossos, na ilha de Creta. Pode ser observada a dança que alguns habitantes minoicos mantinham junto ao touro. Este culto, estendido pelo litoral mediterrâneo, manteve-se, principalmente, na península ibérica durante milénios e os registos históricos dos celtiberos assim o demonstram. Na Roma antiga, utilizavam Uros nos espectáculos, uma antiga raça de bovinos já extintos. Durante a idade média a tauromaquia foi tomando forma e cultivada por parte da classe alta cortesã e das famílias reais. Os nobres protagonizavam os espectáculos lidando o touro a cavalo, enquanto num canto da arena os plebeus eram encarregues de impedir que os animais saíssem do recinto. À medida que as touradas foram evoluindo, os plebeus foram ocupando um espaço maior até se tornarem os actuais forcados e toureiros a pé. O nascimento moderno da tauromaquia surgiu no século XVIII. Neste século as touradas tiveram uma grande evolução, incluindo novos procedimentos que culminaram com o estilo actual das corridas de touros à portuguesa.

Na actualidade, a tourada é praticada em diversos países além de Portugal, como México, Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, sul da França e Espanha. A monumental Praça de México é a maior do mundo, com capacidade para 41000 pessoas e encontra-se na capital, Cidade do México. Em Portugal, a maior é a Monumental Celestino Graça e encontra-se em Santarém, com um espaço para 13.500 pessoas. Presentemente é estudada a possibilidade da construção de uma nova praça com características polivalentes para substituição. Em Portugal as touradas duram, normalmente, cerca de duas horas, mas não há limite de tempo. A corrida inicia-se com o ritual da cortesia, reunindo todos os participantes, entre cavaleiros até os campinos, para cumprimentarem o público e o director da corrida a partir da arena.

a favor Diogo Costa Monteiro, secretário geral da Prótoiro, afirma que as touradas “são violentas” e que isso “é evidente”. Mas sublinha: “É um espectáculo muito rico em rituais e em simbologias e obedece realmente a muitas regras, e precisamente por obedecer a muitas regras é que não é bárbaro, porque a definição de uma coisa bárbara é precisamente uma coisa que não tem regras. E é cultura porque eu olho para aquilo e a pessoa que está ao meu lado olha também e nós sentimo-nos um elemento comum, com um sentimento de comunidade. E a festa dos toiros é precisamente isso, daí a sua importância cultural, daí a sua importância como identidade, porque é evidente que não é um espectáculo consensual, mas não é por ser um espectáculo consensual que deve ser proibido, porque há muita gente que gosta. A causa é cultura, identidade e liberdade, são estas três palavras que eu gostaria que ficassem bem explícitas. Liberdade acima de tudo, eu não quero obrigar ninguém que não gosta a ir ver corridas de toiros, vai quem quer, quem não quer, não vai. As touradas vão acabar no dia em que deixarem de haver pessoas que as vão ver.” O secretário geral da Prótoiro diz ainda que muitos dos que criticam nunca viram uma corrida e que “a única coisa que conhecem são as imagens ou informações que lhe chegam através da Internet”.


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