Jornal de Fato

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Cinema

Bons filmes na programação do cinema em Mossoró

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Quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

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Luma Costa abusa da sensualidade como "stripper" bissexual em "Pé na Cova"

Filmes de

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Argentina, Chile e Brasil lançam olhar sobre ditaduras militares

Luiz Zanin Oricchio O Estado de S.Paulo

D

ois ótimos filmes em cartaz - Infância Clandestina e No - têm mais de uma coisa em comum. Além de produções sul-americanas, falam do período ditatorial em seus países, Argentina e Chile, e o fazem de maneira completamente original. Qual a novidade? Pode-se dizer que não é de hoje que o cinema sul-americano vem digerindo os tempos difíceis das ditaduras do continente. Pelo contrário, essa ruminação do terror tem sido uma constante na filmografia da região. Em especial, Brasil, Chile, e Argentina têm se debruçado sobre os períodos de interrupção da democracia em seus países e examinado, através de documentários ou de ficções, as sequelas do autoritarismo. Exílio, morte, desaparecimentos, crianças adotadas por famílias de militares, etc. - tudo isso tem sido há alguns anos matéria para filmes, desde que esses países conseguiram superar as ditaduras e se redemocratizaram. A novidade é a maneira inusitada com que esse período tem vindo à tona em produções recentes. Em Infância Clandestina, é verdade, volta-se ao tema das crianças vivendo em tempos difíceis. Não chega a ser uma novidade, dito assim. O ótimo filme brasileiro O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, passava por ele. Com algumas diferenças importantes. No filme de Hamburger, os pais militantes saíam de cena logo no início e o menino era deixado com uma pessoa da família, no bairro do Bom Retiro. A sua descoberta da vida passava pelo sumiço dos pais e pela socialização feita em outro lugar. A ditadura, assim como a Copa do Mundo de 1970, eram apenas pano de fundo do que realmente acontecia em sua vida. Acontece que o garoto de Infância Clandestina é colocado no olho do furacão. Passa pela fronteira com seus pais, guerrilheiros

montoneros que estavam em Cuba e voltam, através do Brasil, para participar da luta armada contra o regime. É obrigado, como um adulto, a trocar de nome e inventar uma história pregressa que não é a sua. Dissimula, pois se sabe na clandestinidade. No meio tempo, interessa-se por uma garota, mas participa de forma direta do dia a dia de quem arrisca a própria pele na luta contra o regime militar. É uma senhora novidade, inclusive por discutir o tema da responsabilidade de adultos em colocar em risco a vida de uma criança. Esse polo, o da responsabilidade familiar, é representado por uma avó que deseja levar o menino para longe dos pais - e colocá-lo ao abrigo do perigo. E é repudiada pela própria filha, que afirma preferir que o menino seja criado por estranhos do que por uma reacionária como ela. No ambiente de dureza da luta, há o lirismo do primeiro amor, mas é a aspereza que predomina nessa opção radical da mãe. O filme fora indicado pela Argentina para o Oscar e não passou pelo crivo da Academia, o que parece bem compreensível conhecendo-se a mentalidade conservadora de Hollywood. Já o chileno No mostra uma situação particular, o plebiscito organizado por Pinochet em 1988 para ver se arrancava da população anuência para permanecer mais oito anos no poder. Pinochet havia assumido em 1973 com o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende. Pressionado pela opinião pública mundial, organiza o referendo para atenuar as denúncias de assassinatos em massa de opositores. Inesperadamente, o Não sai vencedor, precipitando o declínio da ditadura. A novidade do filme é apresentar a campanha do No orquestrada não por um militante antipinochetista, mas por um hábil marqueteiro político interpretado por Gael García Bernal. René Saavedra, seu personagem, tem o insight de transformar o repúdio ao ditador em produto vendável. Tira das mensagens da oposição o ranço ressentido e denuncista e faz do voto negativo uma ação

propositiva - isto é, voltada para o futuro e não para uma revanche dos crimes do passado. No é o fecho de uma trilogia do diretor Pablo Larraín, iniciada com Tony Manero e Post Morten. Os três filmes foram

A novidade é a maneira inusitada com que esse período tem vindo à tona em produções recentes

bem recebidos nos principais festivais de cinema do mundo, o que prova o bom momento do cinema chileno e a atualidade da reflexão sobre o período da ditadura. No é um passo adiante nesse debate.


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