Jornal Laboratorial Contraponto - Ano 19 - Número 119 - Março/Abril 2019

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ONTRAPONTO

Crise na Venezuela escancara desinformação na era digital Por: Daniel Gateno e Giovanna Colossi

Com veículos hegemônicos dentro de empresas e uma mídia contra hegemônica pouco influente, a fonte mais segura de informação continua sendo nossos próprios olhos

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De forma desonesta e nada humanitária os Estados Unidos vem fechando o cerco contra a Venezuela. Dentre todos os embargos já realizados, alguns chamam mais atenção; Em julho de 2017, o Banco Citibank se negou a receber fundos venezuelanos para a importação de 300 mil doses de insulina. O ingresso de vacinas no país atrasou por quatro meses, em outubro de 2017, devido ao bloqueio americano, que impossibilita

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - PUC-SP

Março/Abril 2019

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epública Bolivariana da Venezuela. Talvez a resposta para a animosidade da mídia hegemônica com o país, esteja exatamente aí. No meio da palavra que une todas as nações sul-americanas, com exceção a Bolívia (Estado Plurinacional da Bolívia), e a nomenclatura de um país que sofre, segundo a literatura, a maldição dos recursos naturais e, segundo a política, a indisciplina ao capitalismo neoliberal. Dona da maior reserva de petróleo do mundo, a Venezuela possui a 8ª maior reserva de gás natural, e 8.900 toneladas de ouro em seu território. Cerca de 37% das exportações venezuelanas são oriundas do petróleo. É de surpreender que a Venezuela tenha resistido aos avanços imperialistas americanos, não só agora, mas durante a política de contenção ao comunismo, e também nos anos 60 quando, apoiados pelo governo Nixon, países da América do Sul foram tomados por ditaduras militares. No começo de 1999, Caracas produzia quase 3 milhões de barris por dia, hoje produz cerca de metade deste valor, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A Petróles de Venezuela S.A, empresa estatal que organiza a exploração de petróleo no país caribenho, é um poço de má gestão e corrupção. Em setembro de 2018 a justiça venezuelana mandou prender nove diretores da empresa em um esquema que supera 18 milhões de dólares. Noventa funcionários já foram processados por envolvimento em esquema de corrupção na PDVSA e parte da oposição venezuelana discute o fim da estatal. Porém, a nova ameaça vem através do 45° presidente americano Donald Trump, que foi eleito em 2016 realizou pouco dos seus compromissos de campanha até agora e encontra forte resistência do Congresso para passar o orçamento da sua promessa mais aclamada, o muro na fronteira com o México. Conseguir o petróleo da Venezuela garantiria não só a sua reeleição, como traria muito dinheiro para os Estados Unidos. Por esse motivo, as sanções americanas miram a empresa estatal, um golpe duro a um país que tem suas finanças, quase em sua totalidade, atreladas ao petróleo. O atual cenário econômico venezuelano respalda o discurso de Trump amplamente divulgado pela mídia hegemônica, de que é necessária uma intervenção americana para garantir os direitos humanos no país vizinho. Essa é uma das razões para o Presidente Nicolás Maduro recusar a ajuda humanitária dos Estados Unidos. Segundo Maduro, a ajuda é apenas um pretexto para uma suposta intervenção militar, por isso as fronteiras com Brasil e Colômbia foram fechadas, gerando a uma enorme quantidade de críticas da oposição e de organizações internacionais. As sanções impostas pelos Estados Unidos, desde o governo Obama em 2015, ficaram ainda mais rígidas sob a administração republicana.

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Petróleo é o grande motivador da nova crise geopolítica mundial

o pagamento ao Swiss Bank UBS. A entrega de medicamentos para a malária também foi bloqueada pelo governo colombiano em novembro do mesmo ano. Segundo um relatório da organização “Humans Right Watch” houve um aumento de 1000% dos casos de malária no país caribenho entre 2009 e 2017. Além disso, o sarampo e a difteria, doenças que já estavam erradicas na Venezuela, voltaram ao país.


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