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DESMILITARIZAÇÃO O país precisa de duas polícias? Reportagem especial aborda a necessidade de manter o efetivo de policiais militares UNA - Ano 6 - BELO HORIZONTE - Outubro - Novembro 2013 Distribuição Gratuita JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA
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EDITORIAL
Foto do CONTRAMÃO ilustra livro de Geneton Moraes Neto Em 13 de maio de 2013, uma equipe do Contramão e da UNA.TV, composta pelos repórteres Alex Bessas e Juliana Costa, pela cinegrafista Fernanda Kalil e o repórter fotográfico João Alves, o Tupi, entrevistou o jornalista e escritor Geneton Moraes Neto. Na ocasião, o escritor divulgava o livro Dossiê Drummond e o documentário Garrafas ao mar no projeto Sempre um papo, no Palácio das artes, em 14 de maio. Geneton Moraes Neto recebeu a equipe no mezanino de um hotel da região centro-sul de BH e conversou com os repórteres por mais de 60 minutos. A entrevista foi publicada no CONTRAMÃO ONLINE, em 16 de maio e versou sobre os desafios do jornalismo na contemporaneidade. Neto não poupou críticas às narrativas “robotizadas” em prática nas redações e defendeu a urgência de “ressuscitar o jornalismo minimamente autoral”. Durante a entrevista exclusiva, Geneton Moraes Neto foi fotografado por Tupi que tinha por pauta produzir uma galeria de fotos dos bastidores para a fanpage do CONTRAMÃO, no Facebook. A mesma pauta seria posta em prática no Sempre um papo. Na palestra, o jornalista mencionou, de forma elogiosa, a equipe de universitários que o entrevistou na noite do dia anterior e solicitou ao Tupi as fotografias para seu acervo pessoal, no que foi prontamente atendido. O jornalista foi capa da edição 23 do CONTRAMÃO. Em agosto de 2013, Geneton Moraes Neto entrou em contato com a redação solicitando ao João Alves que encaminhasse uma das fotografia que ele havia escolhido para a orelha de deu novo livro Dossiê 50. A obra reúne depoimentos dos 11 jogadores titulares da Copa de 1950. A foto foi publicada no livro (com crédito para “João Alves/Jornal Contramão”).
Em 26 de novembro, o nosso Tupi recebeu do jornalista e escritor (via sedex) um exemplar autografado do Dossiê 50. O texto do autógrafo diz: “Para João - fotógrafo de olhar afiado - com meus votos de sucesso na profissão. Um abraço Geneton Moraes Neto”. A alegria estampada no rosto do nosso estagiário que, em 7 de setembro de 2013, foi agredido na cabeça, em meio às manifestações e confrontos na avenida Amazonas, em Belo Horizonte, é o reflexo da opção do Contramão de sair da redação e praticar de forma consciente a reportagem multimídia. O Núcleo de Convergência de Mídias (NuC), que abriga as duas versões do jornal-laboratório, vem se firmando como um espaço de qualificação profissional e produção ininterrupta de notícias no âmbito universitário. Esse caráter laboratorial garantiu ao NuC o reconhecimento no 4º Simpósio de Ciberjornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande. Naquela ocasião, produtores laboratoriais e pesquisadores, de todo o país, tentavam elucidadar os caminhos do Jornalismo Multimídia, mas apenas o NuC mostrou uma metodologia de trabalho que tem por modelo a News Diamond, um modelo de construção de uma webnotícia factual, introduzida nos círculos acadêmicos por Andre Deak a partir da proposição de Paul Bradshaw. Nós, orientadores e estagiários do NuC, o espaço de visibilidade do curso de Jornalismo Multimídia, nos orgulhamos do que fazemos, sem vaidade, apenas pela vontade enérgica de fazer e fazer bem. O ano de 2013 se encerra com a felicidade imensa ver esse sorriso do nosso repórter fotográfico. Parabéns, Tupi, esse mérito é todo seu e você mais que ninguém merece esse presente neste ano difícil que passamos.
contramao.una.br EXPEDIENTE Núcleo de Convergência de Mídias (NuC) do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes (ICA) - Centro Universitário UNA. Reitor: Átila Simões. Diretor do ICA: Lélio Fabiano dos Santos. Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Piedra Magnani da Cunha. NuC/Coordenação: Reinaldo Maximiano Pereira (MTb 06489) e Jorge Rocha. Diagramação: Tiago Magno. Supervisão: Reinaldo Maximiano Pereira e Jorge Rocha. Revisores: Roberto Alves Reis e Piedra Magnani da Cunha. Estagiários: Alex Bessas, Aline Viana, Diego Gurgel, Fernanda Fonseca, Gabriel Amorim, Heberth Zschaber, João Alves, Juliana Costa, Luna Pontone e Tiago Magno. Tiragem: 2.000 exemplares. Impressão: Sempre Editora
Foto da capa
Edição Anterior 25 hitchcock & zé do caixão:
UNIVERSOS
MALDITOS
UNA - Ano 6 - BELO HORIZONTE -Abril - Maio 2013 Distribuição Gratuita JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA
Foto: Heberth Zschaber
Ilustração: Diego Gurgell
ESPORTES
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Embaixadores da Copa de 2014 em BH
A cerimônia de apresentação foi marcada por muita expectativa dos representantes escolhidos e dos políticos do estado
Foto: João Alves
Luna Pontone (2º período) - Jornalismo Multimídia
Convidados, homenageados e políticos de Minas Gerais se reúnem em cerimônia no Mineirão para apresentação dos embaixadores de BH Depois de 64 anos sem sediar uma Copa do Mundo, 2014 será o ano em que o Brasil receberá novamente as melhores seleções do futebol mundial em campo. Ao todo, 12 cidades contam com novos estádios, recentemente reformados, e que abrirão as portas para os milhares de torcedores que virão. Pela segunda vez, Belo Horizonte receberá novos visitantes para assistir aos 6 jogos da primeira fase, um da semifinal. A capital mineira tem vivido dias de preparação para a Copa do Mundo. Durante o evento de 6 de outubro, os embaixadores que representarão a cidade foram apresentados publicamente. Ao todo, são onze craques escolhidos a dedo, representando o futebol mineiro e brasileiro. São eles: Dadá Maravilha, Éder Aleixo, Gilberto Silva, Julio Baptista, Luizinho, Nelinho, Paulo Isidoro, Piazza, Reinaldo, Ronaldinho Gaúcho e o argentino Sorin. Eles foram agraciados com braçadeiras e troféus que os empossavam simbolicamente no novo “cargo”. Sorin era o único estrangeiro entre os “embaixadores”e se mostrou bem empolgado com missão concedida. “É a nossa imagem no mundo, convidando as pessoas da Espanha, da França, da Alemanha, Itália, onde tive a oportunidade de jogar, para conhecer esse lugar que eu escolhi para viver”, declarou. Os embaixadores da copa belo-horizontinos ou não, têm a tarefa de realizar ações que promovam a cidade. Entre suas funções, tam-
bém se encontram incentivar o turismo nos pontos mais famosos do município, a atração de eventos e negócios para o crescimento local e contribuir para que os moradores da cidade se sintam bem representados por eles.
Minas em foco O governador Antonio Anastasia manifestou contentamento com os jogadores escolhidos. “Desde o casamento da princesa Kate e do príncipe William, eu não via tantos reis reunidos”, disse o governador, referindo-se à importância dos “embaixadores”. Ele, também, não deixou de pontuar a boa fase que o futebol mineiro tem passado durante todo o ano de 2013. “Vivemos um momento extraordinário no futebol mineiro nesse ano. O Atlético, campeão da Libertadores, e o Cruzeiro com uma campanha maravilhosa, na certeza de que o campeonato será obtido em breve. Não tenho dúvidas que o ano que vem será muito especial”, declarou Anastasia. O prefeito de Belo Horizonte também esteve presente e não deixou de mostrar a sua expectativa para promover a cidade com a ajuda dos embaixadores. “O evento é importante na medida em que nós associamos a tradição, a herança, a bela história desses craques com a divulgação de Belo Horizonte, como a divulgação de Minas Gerais”, declarou Marcio Lacerda. Mas apesar de toda essa expectativa, ele afirmou que a cidade ainda não está pronta
para a Copa do Mundo 2014. “Tem ainda uma série de ações nas quais estamos trabalhando. É um trabalho permanente e ainda tem obras em andamento para serem concluídas nos próximos meses. Segundo o governo federal, que acompanha o andamento das cidades, nós estamos bem preparados e eu estou otimista”.
Homenagens Para lidar a contento com um evento esportivo dessa importância, a cidade precisa de novos voluntários. Como uma forma de incentivo, dois deles que atuaram em diferentes épocas foram homenageados durante o evento: Maria das Graças Pinho Tavares, voluntária na Copa das Confederações de 2013, e Elmo Cordeiro, na Copa de 1950, quando atuou como gandula, ainda aos 12 anos. Maria das Graças foi bem esclarecedora sobre a definição de voluntário: “é uma pessoa que se dispõe a dar um pouco do seu tempo para uma causa na qual ela acredita”.
Canção para BH Belo Horizonte terá uma nova trilha sonora para o mundial de 2014. Cláudio Venturini e Márcio Borges, da banda 14 BIS, foram os convidados para escrever uma canção especialmente para o evento da FIFA. Nomeada como “Sou BH”, a melodia apresenta diversas características de Minas Gerais como um todo e mostra o jeito de ser especial do mineiro. Além disso, a música convida os ouvintes para conhecer BH e seus atrativos.
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CULTURA
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Revivendo o Circuito Cultural Um panorama do maior complexo de Cultura de BH Por Aline Viana (4º período) e Luna Pontone (2º período) - Jornalismo Multimídia
Foto: Heberth Zschaber
Os museus e centros do Circuito Cultural Praça da Liberdade passaram por uma “avaliação” de estrutura e programação feita pelo Contramão
Considerado o maior complexo cultural do país, inaugurado em 2010, o Circuito Cultural Praça da Liberdade foi criado com a transferência da sede do governo de Minas Gerais para a Cidade Administrativa. O projeto foi desenvolvido pelo Governo de Minas, com a Secretaria de Cultura, em parceria com empresas privadas. Com o projeto já em mãos, os antigos prédios das diversas secretarias que compunham o entorno da praça foram reformados. Hoje, a cidade conta com espaços que buscam refletir a diversidade cultural de acervos históricos e artísticos no entorno da Praça da Liberdade. Mas será que o previsto para os museus e arquivos realmente cumprem com suas proposições? Para averiguar essa questão, o CONTRAMÃO fez um tour pelos prédios que compõem o Circuito Cultural, nos dias 13 e 14 de novembro. A interatividade é presente dentro e fora dos espaços do Circuito. A empresa que criou todo o projeto do Circuito Cultural desenvolveu um aplicativo para celular e tablet para garantir ao visitante uma maior visibilidade do local. O aplicativo conta com informações sobre os espaços que o integram, com fotos, ví-
deos, e textos descritivos sobre cada espaço, e claro, a programação completa dos próximos eventos que ocorrerão no Circuito. Além disso, é possível fazer uma visita virtual ou um audio tour entre todas as salas dos espaços, através do aplicativo ou pelo site(www.circuitoculturalliberdade.com.br). Dentro de todos os espaços do Circuito, há painéis interativos. Porém, estes painéis não funcionam como deveriam, não carregando as informações que o visitante espera encontrar, mas segundo a assessoria do Circuito estes totens de informação estão sendo reprojetados. O projeto conta com diversos parceiros, como o grupo EBX, que patrocina diretamente o Museu das Minas e do Metal. Outro parceiro do Circuito é a Vale que, dentro do Memorial Minas Gerais Vale, tem um espaço totalmente voltado para o patrimônio cultural e histórico do estado.
Os espaços
Arquivo Público Mineiro é a instituição cultural mais antiga do Estado e permanece com o caráter inicial de preservar os documentos mais importantes para a história de Minas Gerais.
Porém, os visitantes nem sempre têm acesso a todos os documentos, uma vez que são documentos muito antigos. Não possui nem loja e nem lanchonete por se tratar de um arquivo, mas é um dos únicos espaços do Circuito que tem estacionamento próprio e gratuito para os visitantes. Todos os arquivos são etiquetados com as devidas informações. Logo na entrada, há um guia com as principais informações do espaço. O acesso pode ser feito por escadas ou rampas. Por ter documentos muito antigos, o odor presente no local é forte, e os banheiros estavam com a limpeza precária, mas segundo a assessora do local, Paula Amorim, a limpeza dos banheiros é feita duas vezes ao dia e disse que a repórter foi ao local pouco antes da revisão às 14h. Centro de Arte Popular Cemig: é um espaço voltado para cultura de raiz, mantendo um grande acervo de obras de diversos artistas mineiros. O local é completamente arejado. Para fazer a visita com monitores é necessário agendar anteriormente. A lojinha é repleta de artefatos mineiros, com o preço dentro da faixa acessível ao público. O Café ainda está para ser instaurado,
CULTURA mas ainda sem previsão para inauguração. Os banheiros são extremamente limpos e bem cuidados. As exposições são temporárias. Assim como a grande maioria dos espaços, tem um guia informando aos visitantes as programações dos próximos dias e meses. O acesso ao local é feito por escadas, mas há elevadores dentro do local para pessoas com necessidades especiais. Centro Cultural Banco do Brasil: O mais novo espaço do circuito veio com o intuito de promover atividades nas áreas de artes plásticas, artes cênicas, música e programas educativos. O CCBB conta com o Programa Educativo que promove ações para os deficientes visuais e auditivos, além de cadeiras de rodas disponíveis. Para quem quiser fazer uma visita monitorada, é necessário verificar o horário em que estas visitas vão acontecer. Todas as exposições são temporárias. Apesar de não ter loja, ao lado do café tem uma livraria repleta de obras de diversos escritores do Brasil. Espaço do Conhecimento UFMG: com recursos tecnológicos avançados, o museu é dinâmico e cheio de abordagens lúdicas e interativas. Para fazer as visitas guiadas são disponibilizadas para grupos fechados ou escolas e é necessário agendar previamente. Assim como a maioria dos espaços do Circuito, o local não tem estacionamento próprio. As visitas aos ambientes expositivos é gratuita, mas
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para visitar o planetário é necessário pagar uma taxa de R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia). O acesso aos andares é feito por dois elevadores. Os banheiros são, extremamente, limpos e bem cuidados. Assim como a maioria dos espaços do Circuito, o local também possui guarda-volumes. Memorial Minas Gerais Vale: é o espaço mais interativo do Circuito e ainda tem uma sala destinada a computadores para os visitantes que quiserem utiliza-los e todas as exposições tem as etiquetas com as devidas informações. O café do local conta com uma parede com diversas cachaças de Minas Gerais. O banheiro é pequeno e individual. Apesar das escadas, o acesso para os deficientes pode ser feito pelos elevadores panorâmicos. Museu das Minas e do Metal: Popularmente conhecido como o “Prédio Rosa da Praça da Liberdade”, o local tem como objetivo mostrar a riqueza dos minerais e dos metais presentes em todo o espaço de Minas Gerais. De todos os espaços do Circuito, o Museu das Minas e do Metal é o único que possui uma taxa de entrada no valor de R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia). As visitas monitoradas precisam ser agendadas previamente por e-mail ou por telefone. O espaço tem lojinha e café, ambos num espaço bem organizado. Há acessibilidade para os deficientes, incluindo cadeiras de ro-
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das disponíveis. Museu Mineiro: Apesar de estar a um quarteirão da Praça da Liberdade, o museu integra o Circuito Cultural e reúne um acervo de documentos históricos de forma material em ocasiões importantes para o estado. Todas as visitas ao museu são guiadas, não só por monitores mas também por seguranças para garantir que as peças não sejam tocadas. Apesar de não ter loja e nem café, o local possui uma livraria vasta. Os banheiros são bem cuidados e limpos. Não há um guia exclusivo só com informações do Museu Mineiro, apenas do Circuito Cultural como um todo. É p único espaço que não possui guarda volumes.
Novos ambientes Segundo a assessora de imprensa do Circuito Cultural, Leticia Bessa, nos próximos anos serão inaugurados mais seis espaços no Circuito, Centro de Referência de Economia Criativa Sebrae Minas, Casa Fiat de Cultura, Centro de Ensaios Abertos, Escola de Moda e Design da UEMG, Inhotim Escola e Museu do Automóvel. Porém, nenhum desses espaços tem previsão de inauguração, uma vez que alguns projetos ainda estão para serem aprovados. A Casa Fiat de Cultura é o mais próximo de ser inaugurado, com previsão para 2014.
Arquivo Público
Centro de Arte Popular
Centro Cultural BB
Conhecimento UFMG
Memorial Vale
Minas e Metal
Museu Mineiro
Sim
Agendada
Horários determinados
Não
Não
Sim
Sim
Banheiros
Regular
Boa
Boa
Boa
Regular
Boa
Boa
Preço
Gratuito
Gratuito
Gratuito
R$ 6,00*
Gratuito
R$ 6,00*
Gratuito
Visitas monitoradas Loja Café Vagas
Etiquetas c/ informações Programas ou guias Interatividade Acessibilidade Guarda volumes Exposições temporárias
* Espaço do Conhecimento UFMG: o acesso ao planetário é pago. Minas e Metal: acesso gratuito às quintas-feiras e no último domingo do mês
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CIDADES
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Morte a céu aberto Desde 2011, BH, registra mais de 100 casos de homicídios de pessoas em situação de rua Por Alex Bessas e Gabriel Amorim (2º período) - Jornalismo Multimídia
Foto: João Vitor Fernandes
Para o CNDDH as vagas em instituiçoes públicas são insuficientes, na capital mineira, e é necessário desburocratizar o acesso aos serviços sociais
A Patrulha Fiscaliza BH iniciou suas ações no dia 1 de novembro e a operação visa autuar infrações referentes à faixas, cartazes, lixo fora do horário, bota-fora, obstáculos no logradouro, panfletos e camelôs. Segundo a Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos os artesãos de rua não serão alvos da fiscalização. A Patrulha Fiscaliza BH atuará para coibir, entre outras irregularidades, a ação de camelôs, que é proibida pelo Código de Postura. Os artesãos estão amparados por uma liminar judicial, portanto, não são alvo de ação fiscal. Segundo fontes ligadas ao setor de Fiscalização do Espaço Urbano, a PBH tenta derrubar a liminar que permite que pessoas em situação de rua possuam materiais como colchões, carrinho de supermercado e outros elementos que possam prejudicar o direito de ir e vir dos demais cidadãos. A declaração é coerente com o discurso da coordenadora do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política para a População de Rua, Soraya Romina, durante a reunião orgão, realizada no dia 13 de junho. Na ocasião, a coordenadora do comitê afirmou que a PBH aceita o direito da população de rua ficar na rua, mas não
o de se estabelecer. “Os objetos que possam obstruir o trânsito – colchões, por exemplo – deverão ser recolhidos”, informou na época.
o próprio CNDDH não sabe mensurar se houve crescimento no número de homicídios, por se tratar apenas de dados recentes.
Violência
Políticas públicas
Belo Horizonte, uma das capitais que vai sediar, no próximo ano, a Copa do Mundo de Futebol, é o cenário de uma série de assassinatos de pessoas em situação de rua, de acordo com lideranças de movimentos sociais. O técnico cientista social do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (CNDDH), Pedro Gonçalves, revela que desde que a medição passou a ser feita – em abril de 2011 – já foram registrados 107 homicídios, sendo que deste somatório, 26 aconteceram neste ano.
O Comitê de Acompanhamento de Políticas para População de Rua tem um grupo destinado a discutir o enfrentamento da violência física ou institucional contra as populações de rua e catadores de material reciclável. O grupo integra representantes da sociedade civil, do poder público e ex-moradores de rua e é dirigido por Soraya Romina.
Para a agente da Pastoral de Rua, Claudenice Rodrigues Lopes, o espanto com o número de assassinatos não se deve ao fato de terem aumentado, mas pela visibilidade possível a partir dos dados coletados pelo CNDDH, desde 2011. Claudenice Lopes pontua que a Pastoral de Rua, em parceria com outras entidades, tem se articulado no sentido de que os homicídios sejam investigados e que os culpados sejam punidos. “A impunidade banaliza a violência”, afirma. De acordo com Gonçalves,
No campo institucional, a advogada do CNDDH, Maria do Rosário, esclarece que, muitas vezes, estas pessoas deixam de ter acesso a serviços públicos por não possuírem residência fixa. Para ela, é preciso que o poder público ofereça propostas garantidoras de processos de saída e desburocratize serviços, para que não sejam negados a esta parcela vulnerável da população. “As vagas [para moradia] são ínfimas. Há um albergue para 400 pessoas, fora das especificações do SUS, tem um abrigo para 80 e uma república para 10. Isso para uma população de cerca de duas mil pessoas”, informa a advogada. “Deve-se
CIDADES pensar em políticas de moradia que atendam a essas populações. [...] Duas saídas possíveis são o programa de aluguel social e a ampliação do número de repúblicas”, sugere. Ainda no campo das políticas públicas, a PBH, através da Secretaria Adjunta de Assistência Social, inaugurou em outubro a Unidade de Atendimento Institucional de Pós-Alta Hospitalar. Localizado na rua Além Paraíba, 181, no bairro Lagoinha, a unidade irá atender usuários da região nordeste de BH. Com capacidade de acolher até 20 pessoas de ambos os sexos por até 30 dias, o objetivo é prestar atendimento continuado à pessoas em situação de rua. Segundo estimativas não oficiais da Pastoral de Rua, há, aproximadamente, duas mil pessoas vivendo nas rua da capital mineira. O crescimento é sensível quando comparado com o último censo, realizado em 2005, que indicava existir cerca de 1174 pessoas nesta situação.
Em outubro, um grupo de ativistas realizou o 1º Piquenique Solidário do AMOR (Ato a favor dos Moradores de Rua) – Lourdes, que marcou o repúdio da sociedade às declarações do presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro de Lourdes (Amalou), o empresário Jeferson Rios, ao jornal Estado de Minas. Ele revelou orientar os moradores e comerciantes a não doarem alimentos, agasalhos ou dinheiro para pedintes. Em outra ocasião, na semana anterior a realização da Copa das Confederações em Belo Horizonte, no mês de junho, ativistas de movimentos sociais acusaram a PBH de adotar medidas higienistas contra moradores de rua. Na ocasião o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos (IHG/BH) se manifestou através de uma nota de repúdio à repressão contra a população em situação de rua. Lê-se na nota emitida no dia 12 de junho: “Belo Horizonte mantém sua terrível tradição de grupos de extermínio e de grupos de policiais a paisana que reprimem moradores de rua patrocinados por empresários.”. No dia seguinte, 13 de junho, foi a vez da PBH lamentar a violência: “A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte vem a público externar sua completa indignação diante da violência praticada contra moradores em situ-
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ação de rua nos últimos dias, na capital mineira, culminando, lamentavelmente, com a morte de duas pessoas na cidade.”. Na época, a cientista social Rita Boechat revelou que pessoas ligadas aos movimentos sociais acreditavam que os moradores em situação de rua eram submetidos à remoção forçada em razão dos eventos esportivos na cidade. A Secretaria Municipal Extraordinária da Copa do Mundo (SMECOPA) desmentiu as denúncias: “O que a Prefeitura de BH faz é um trabalho social junto com as populações de rua. Existem leis, e a prefeitura as cumpre. Elas determinam que não podem acontecer remoções forçadas, todo mundo tem o direito de ir e vir”. A assessora Raquel Bernardes classificou a denúncia de “boato oportunista”. O impasse chegou ao Ministério Público, que mediou um acordo entre a PBH e o CNDDH em que ficou estabelecido que nenhuma ação agressiva de retirada da população de rua poderá acontecer. As denúncias ganharam eco no Facebook, ambiente em que foi criado o Grupo de Monitoramento de Ações Higienistas que visa a realização de rondas noturnas para assegurar o direito das populações em situação de rua evitando que aconteçam atos como a remoção forçada. O grupo continua ativo.
Foto: Hebert Zschaber
A Prefeitura planeja realizar outro censo até o final deste ano. Maria do Rosário acredita que essa população só poderá ser atendida se forem criados Centros de Referência em cada regional da cidade, ficando abertos 24 horas. Hoje, existe apenas um, no bairro Barro Preto, que funciona apenas na quarta-feira a tarde.
Higienização
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Informações desatualizadas: o censo de 2005 indica existir cerca de 1174 pessoas em situação de rua em BH, mas o número pode ser de duas mil
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SEGURANÇA
DESMILITARIZAÇÃO:
Foto : Heberth Zchaber
SEGURANÇA
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POPULAÇÃO E ESPECIALISTAS QUESTIONAM A NECESSIDADE DA PM Por Hemerson Morais e João Vitor Fernandes (5º período) - Jornalismo Multimídia
No dia 7 de Setembro de 2013, manifestantes voltaram às ruas de Belo Horizonte reivindicando, assim como nas Jornadas de Junho, melhorias na saúde, educação e segurança pública. Diferente das manifestações ocorridas anteriormente, a ação repressora da polícia chegou a ser comparada, em redes socais, como “tática de guerra”. Em todo o país, foram presos 335 pessoas e na capital mineira 16 manifestantes ficaram detidos durante uma semana, sob acusação de formação de milícia armada e corrupção de menores. O recrudescimento das ações de repressão dos policiais durante manifestadões e casos como o do policial militar (que postou uma foto em seu perfil do Facebook, onde ele aparece com o cassetete quebrado e os dizeres “foi mal, fessor”, em alusão a repreensão da PM a manifestação dos professores do Rio de Janeiro) deram força aos protestos dos movimentos sociais. A questão central reforçada em todos os debates era - e ainda é - a desmilitarização da Polícia Militar, tema que já esteve em voga em diversos outros momentos da história do Brasil, mas nunca com tanta intensidade como agora. Três projetos que tratam da desmilitarização tramitam no Congresso Nacional. O primeiro é o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 430/2009 do deputado Celso Russomano (PP-SP), e o segundo é a PEC 102/2011, do senador Blairo Maggi (PR-MT). Ambas visam criar uma polícia estadual e destituir as polícias Militar e Civil. O terceiro é o PL 4471/2012 do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que trata da mudança de artigos do Código Penal Brasileiro. A advogada do Coletivo Margarida Alves, Clara Moreira, afirma que os movimentos sociais sempre são vistos como “caso de polícia”. Ainda segundo Clara, a desmilitarização é algo que precisa ser discutido com urgência. “Se pensarmos que em todo o processo de construção de exclusão da história brasileira a violência através de diversas forças policiais foi e é um fator comum, percebe-se que a desmilitarização da polícia está não só entre os principais temas reivindicados pelos movimentos sociais, como pela população em geral”, explica.
Para o especialista em Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, Robson Sávio, a PM guarda resquícios de uma polícia violenta e voltada para a repressão social. “Historicamente, a Polícia trabalha muito mais com a repressão do que com a prevenção” esclarece. Já Ricardo Siqueira, assessor do Deputado João Leite, presidente da Comissão de Segurança Pública da ALMG, afirma desconhecer o assunto. Ainda segundo o assessor a comissão não recebeu nenhum material sobre a violência policial durante as manifestações.
Segurança Pública Para Clara Moreira, a reforma policial, além de diminuir gastos traria maior transparência para a população. Para a advogada, a possibilidade de ter uma polícia unificada e fiscalizada pela sociedade seria um grande passo para a construção de um espaço democrático. Para além da reforma policial, Robson Sávio defende uma reforma mais ampla na segurança pública. “É preciso uma reforma do sistema de justiça criminal brasileiro. Temos que ter uma reforma do sistema penitenciário e de medidas sócio-educativas. Este modelo que temos já deu provas que não é compatível com nossa sociedade”, declara Sávio.
Experiências A Scotland Yard, polícia metropolitana de Londres, funciona na perspecitava de ciclo completo, ou seja, faz todo o processo de investigação, prevenção repressão. Segundo o especialista em estudos de criminalidade e segurança pública da UFMG, a Scotland Yard teve seu início com uma perspectiva militar. “Porém, com o passar do tempo, foi se transformando em uma polícia que garante e defende os direitos do cidadão”, explica Sávio, mostrando um possível modelo a ser seguido no Brasil. Ainda segundo Sávio “No Brasil temos uma laranja divida ao meio, que são as duas polícias, e dentro delas existem outras divisões. Isto siguinifica dizer que elas nunca vão conseguir trabalhar como uma coisa só.”
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Baile de máscaras
Dois projetos de lei a respeito da legalidade dos “manifestantes mascarados“ tramitam na ALMG Por Fernanda Fonseca (2º período) - Jornalismo Multimídia
Foto: Heberth Zschaber
O número cada vez maior de manifestantes que cobrem o rosto em protestos levou a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a debater a prática que assusta as autoridades políticas e de segurança pública. Em resposta às empreitadas populares que se tornaram mais intensas após as jornadas de junho e julho de 2013, dois projetos de lei que proíbem o uso de máscaras em manifestações foram colocados em votação na Casa Legislativa. O primeiro deles, de autoria do deputado Sargento Rodrigues (PDT), estabelece sanção para quem desrespeitar a proibição e comparecer a eventos com aglomeração de pessoas trajando máscaras, vendas ou qualquer cobertura que oculte a face. No mesmo sentido, está a proposição do deputado Fábio Cherem (PSD), que traz requisitos para a realização de reuniões públicas para manifestação do pensamento. Na exposição de motivos do PL 4.474/13, Sargento Rodrigues explica que “o projeto em questão tem o propósito de coibir atos de violência praticados por vândalos que se es-
condem atrás de máscaras”. Para o deputado: “infiltrados entre os verdadeiros manifestantes, encontram-se criminosos que, com os rostos cobertos por máscaras ou qualquer outro objeto que assegure seu anonimato, praticam atos violentos contra a polícia e patrimônios público e particular”.
nal e monitoramento permanente em eventos semelhantes. De acordo com o texto original, as sanções serão aplicadas mediante processo administrativo. Segundo o advogado e professor de Direito Penal, Rafael Soares, um dos grandes problemas do projeto está nas sanções previstas além da multa.
Autor do PL 4.516/13, o deputado Fábio Cherem acredita que as pessoas que cobrem o rosto já saem predispotas a cometer excessos. “Eu nunca vi ninguém quebrar uma vitrine ou fazer algo de forma agressiva, nessas manifestações, com o rosto descoberto. Se a causa é nobre e o interesse é público, por que a cara tampada?”, indaga. Cherem ressalta que não é objetivo do projeto refrear as vozes populares. “Pelo contrário, o projeto serve para garantir que pessoas ordeiras exerçam o seu direito à livre manifestação em segurança, em um ambiente pacífico, sem quebradeira nem violência” garante.
Quanto à identificação criminal, Soares adverte que não se trata de pena ou sanção. “O procedimento de identificação criminal se aplica apenas aos casos em que há imprecisão no tocante à identificação civil de uma pessoa suspeita, acusada ou condenada pela prática de algum crime. A Assembleia Legislativa de Minas não pode e nem poderia tipificar como crime o uso de máscaras em protestos, porque não tem competência para tanto. Sendo assim, incabível qualquer identificação criminal para quem simplesmente porte ou use a máscara.”, esclarece.
Sanções e medidas Para quem burlar a lei, o PL 4.474/13 prevê multa, condução à identificação crimi-
Em relação ao monitoramento permanente em eventos análogos, o advogado avalia a disposição como muito abstrata. “Trata-se de algo completamente genérico que dificulta até mesmo a crítica, já que a redação do disposi-
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tivo inviabiliza a compreensão da natureza e funcionamento da medida, absolutamente ilegal na forma como foi proposta.”, pondera. “Ainda que pudesse se admitir tal medida, o que não me parece aceitável, qual será o prazo de sua duração? Serve para todos os tipos de eventos? O que são eventos análogos? Quem irá monitorar a pessoa e como isso será feito?”, questiona.
Livre manifestação O projeto de lei protocolado pelo deputado Fábio Cherem dispõe que “a pessoa com a face oculta deverá, imediatamente, retirar a máscara, venda ou cobertura congênere, apresentar identificação civil e, sendo o caso, aguardar orientação quanto à forma de proceder no evento”.
Foto: Heberth Zschaber
Para o especialista em Direito Penal, Rafael Soares, o PL 4.516/13 pretende disciplinar o comportamento das pessoas nas manifestações e se espanta com o conteúdo do dispositivo: “O policial irá nos dizer como devemos proceder no evento? Hoje se proíbem as máscaras. Amanhã os bonés. Depois podem ser as camisetas de times de futebol, até se chegar aos símbolos e bandeiras de partidos políticos como ocorreu na ditadura militar”, relembra. O autor da proposta entende que ela fornece instrumentos para que a segurança pública cumpra o que a Constituição estabelece: “A Constituição prevê em seu art. 5º, inciso IV, que qualquer manifestação é permitida, desde que não seja anônima. Essa norma não é algo que a Assembléia de Minas está inventando. Ela já existe de forma explícita e tem que se fazer valer”, esclarece. Porém, o especialista em Direito Penal
aponta que a regulamentação do dispositivo é desnecessária. “A manifestação de pensamento é livre e está amparada por uma norma constitucional de eficácia plena, que não carece de regulamentação por lei infraconstitucional”, assegura.
Vedação ao anonimato Os legisladores mineiros se utilizam do artigo constitucional que garante a livre manifestação do pensamento e veda o anonimato para justificar os projetos de lei que proíbem a utilização de máscaras em protestos. Mas qual é a correta interpretação deste dispositivo? Para o mestre em Teoria do Direito, Ipojucan Ayala, o anonimato nasceu no direito estadunidense com o objetivo de evitar perseguição e supressão de ideias. “No nosso ordenamento jurídico, a vedação ao anonimato serve para proteger o direito à honra, para que a pessoa não seja caluniada, injuriada ou difamada sem que saiba de onde partiu a ofensa”, revela. “A vedação não serve para que o Estado conheça os manifestantes de forma a repreendê-los e pressionar suas lideranças”, completa. Segundo o advogado Rafael Soares, as polêmicas medidas de proibição de máscaras não possui justa causa porque as situações que querem coibir não derivam diretamente do exercício da liberdade de expressão. “[Nas manifestações] ninguém está a cometer agressões decorrentes da liberdade de expressão. Logo, não estamos falando, ao proibir máscaras, de regulamentação do dispositivo constitucional que veda o anonimato, porque essa proibição constitucional é restrita a este tipo de situação”, explica.
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CIDADES
Transporte em BH é sinônimo de caos BH Trans e movimento Tarifa Zero buscam implementar modelos que solucionem os problemas de mobilidade urbana da capital Por Alex Bessas (2º período) - Jornalismo Multimídia
Foto: Heberth Zschaber
Em 2001, a frota de veículos da capital era de 841.060 carros, em 2011, e esse número alcançou a marca de 1,7 milhão, um aumento de 108,5% O trânsito na capital mineira é o terceiro pior do país, perdendo apenas para Rio de Janeiro e São Paulo, conforme aponta a publicação do Observatório Urbano das Metrópoles, do Instituto de Bem-Estar Urbano (IBEU). O documento indica que a principal causa para transtornos como a lentidão do deslocamento e engarrafamentos é a opção preferencial do brasileiro pelo transporte individual. Entre as maiores metrópoles, Belo Horizonte foi a que registrou o maior crescimento relativo no número de automóveis nos dez anos considerados nesta análise, com um percentual de crescimento superior, inclusive, a média nacional. O estudo mostra ainda que em 2001, a frota da metrópole era de 841.060 veículos e, com um aumento de 108,5%, atingiu a marca de 1,7 milhão em 2011. Na metrópole mineira, foram acrescentados - em média - a cada ano 91.235 veículos. Para o movimento Tarifa Zero BH, a aposta no transporte coletivo é a única solu-
ção para a fluidez no trânsito da capital, compromisso que foi assumido pela BH Trans em 18 de março de 2011, conforme publicação do decreto de Lei Municipal nº 10.134. Outro compromisso firmado pela BH Trans é o Plano de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte (PlanMob-BH), desenvolvido para atender ao disposto na Lei Federal n.º 12.587, de 03 de janeiro de 2012, que instituiu as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Neste documento, um dos objetivos destacados é tornar o transporte público mais atrativo que o individual. Segundo nota enviada pela assessoria de comunicação da instituição “a mobilidade urbana foi destacada [no Plano Estratégico de Belo Horizonte para 2030] como um dos principais desafios a serem superados para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento urbano em bases ambientalmente sustentáveis”. O Tarifa Zero BH vê os esforços da BH Trans como insuficientes, tanto que o grupo -
em constante diálogo, através da Assembléia Popular Horizontal (APH) de BH - criou seu próprio projeto de emenda de Lei Orgânica, que institui a gratuidade do transporte público, apresentado no dia 21 de setembro. O economista e ex-candidato a vereador pelo PSOL, André Veloso, fez um panorama histórico desta luta e cita que um dos fundadores e primeiro presidente da BH Trans, João Luiz, tinha estudos no sentido de tornar o transporte coletivo gratuito, pauta que caiu no final da década de 90. O ativista e membro do Tarifa Zero BH relembra que o projeto de lei de autoria popular foi debatido de forma ampla e heterogênea durante cerca de dois meses. Inicialmente era um texto extenso, com cerca de 30 artigos, mas, por orientação da OAB, que prestou consultoria ao grupo, o projeto passou a ser mais enxuto (com apenas 8 artigos) e se tornou uma emenda que altera a redação da lei orgânica do município, evitando que fosse considerado
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inconstitucional. O projeto institui, basicamente, que o transporte público deve ser gratuito para todo cidadão e que haverá um fundo municipal destinado ao cumprimento desta exigência. Tal arrecadação deve ser necessariamente controlada pelo Conselho de Mobilidade Urbana, que deve ser formado em sua maioria pela sociedade civil organizada. Veloso explica que o projeto poderia ser apresentado por algum parlamentar, mas que, por uma questão de mobilização e pressão, a escolha é que a emenda represente o anseio popular. Por se tratar de um projeto de lei de autoria popular, é preciso reunir 95 mil assinaturas para que seja encaminhado e colocado em pauta. Fazendo pouco mais de um mês desde sua apresentação, estima-se que já tenha 10 mil assinaturas.
Foto: Heberth Zschaber
O Grupo de Trabalho (GT) de Mobilidade Urbana da APH de Belo Horizonte encaminhou uma nota à imprensa com denúncias a
respeito do transporte público encaminhadas ao Ministério Público do Estado. Entre as denúncias estão a falta de transparência e irregularidade no processo licitatório, formação de cartel, quebra de sigilo no processo licitatório, irregularidade na execução contratual, destino dos créditos do cartão BHBUS não utilizados no prazo correto e que são invalidados para o usuário e a desobediência das empresas quanto a determinação de que receitas adicionais sejam utilizadas para reduzir o preço da tarifa. Há, também, a queixa quanto aos compromissos contratuais não cumpridos, como é o caso do sistema de transporte inteligente, que devia ser implantado em 2001 e a exigência da publicação dos produtos parciais da auditoria externa realizada pela empresa Ernst & Young, que também está prevista em contrato. Em meio às acusações de falta de transparência, a BH Trans lançou, em agosto deste
ano, no Portal de Transparência, a nota sobre transporte coletivo, prestação de contas e planos de metas. Dos 12 links disponíveis na página da web, oito direcionam o visitante a uma página de erro. Entre os links quebrados, estão aqueles que incluem arquivos relacionados aos consórcios Pampulha, BHLeste, Dez e Dom Pedro II e a planilha de custos elaborada em 2007, que definiu os parâmetros para a realização do processo de licitação de 2008. O diretor-presidente da BH Trans, Ramon Victor, foi procurado pela reportagem para esclarecer os apontamentos pela APH e sobre os links quebrados do Portal de Transparência, mas até o fechamento da matéria não havia comentado as informações. Ainda em relação à transparência, Veloso faz criticas à resistência da BH Trans em disponibilizar os resultados parciais da auditoria externa, cobrada pelo GT de Mobilidade Urbana e pela bancada de oposição da Câmara dos Vereadores.
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EXPEDIÇÕES ICA
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Nos bastidores da notícia Caco Barcellos, José Hamilton Ribeiro, Eduardo Faustini, André Luiz Azevedo e outros ícones da profissão, debateram, na PUC-Rio, os rumos da reportagerm investigativa no Brasil. Por Fernanda Fonseca, Mariana Lacerda, Robson Sales e Tiago Mattar (2º período) - Jornalismo Multimídia
Foto: Tiago Mattar
No Rio: conferência reune jornalistas brasileiros e estrangeiros para debater os rumos da reportagem investigativa em diferentes mesas temáticas A 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, realizada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 12 e 15 de outubro, na Pontifícia Universidade Católica (PUC). A programação incluía cursos práticos, sessões de autógrafos e palestras com personalidades do jornalismo brasileiro e estrangeiro. Foram realizados 100 painéis durante os quatro dias do simpósio. Dentre eles, “Os avanços e retrocessos institucionais”, tendo como palestrante o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, “Profissão: repórteres”, com os repórteres Caco Barcellos e José Hamilton Ribeiro, além de “Reportagem com câmera escondida”, liderada por André Luiz Azevedo e Eduardo Faustini, ambos da TV Globo. Entre ouvintes e palestrantes, passaram pelos corredores da universidade cerca de 1350 pessoas de 90 países, incluindo profissionais credenciados para a cobertura do evento. O Brasil, como anfitrião, foi o país com maior número de participantes (64%), seguido pelos Estados Unidos (5%) e Peru (3%). De acordo com a organização, o público estrangeiro foi
composto, basicamente, por profissionais. Dos brasileiros, 60% eram estudantes. O diretor-executivo da Abraji, Guilherme Alpendre, comemorou o sucesso do evento e a satisfação do público: “O evento teve grande êxito. Foram mais de 1300 pessoas aqui na PUC durante os dias de Conferência. Embora, claro, eventuais superlotações tenham levado algumas pessoas a ficarem meio insatisfeitas. De uma forma geral, o congresso foi um grande sucesso”, enfatizou.
Conferências
Ocorreram também, simultaneamente, três grandes congressos internacionais: o 8º Congresso Internacional da Abraji, a 8ª Global Investigative Journalism Conference e a 5ª Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación (COLPIN). Alpendre ainda observou que “talvez esse congresso sendo feito no Brasil, vai colocar o jornalismo brasileiro no foco das atenções das entidades internacionais e vai mostrar como a Abraji estava certa em apostar no acesso às informações, no treinamento de repórteres e na implantação dessa cultura de
reunião de congresso para o fortalecimento do jornalismo”.
Mídia Ninja
Criado em 2011, o coletivo Ninja – uma sigla para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação – ganhou notoriedade nas manifestações que tomaram conta do Brasil no último mês de junho. Transformando seu conceito em realidade, com a prática de narrativas independentes, jornalismo e ação, o grupo chamou a atenção dos “colegas” de mídia, mas, principalmente, do público brasileiro que acompanhou as recentes movimentações populares. Para relatar as experiências vividas na cobertura de um dos principais eventos da história do país, o jornalista e criador do grupo, Bruno Torturra, 34 anos, foi convidado a debater o tema no painel “Cobertura dos protestos de junho”. O painel contou com participações de João Wainer, responsável pela TV Folha, e Bruno Paes Manso, jornalista d’O Estado de S. Paulo. Antes, porém, em entrevista ao Jornal Contramão e a TV Una, Torturra contou sobre
EXPEDIÇÕES ICA a relação da Ninja com o processo investigativo e desenhou o futuro do grupo afunilando com um trabalho ainda maior de investigação. - O que a gente fez nos últimos meses eu não chamaria de investigativo, acho que foi muito mais o olhar subjetivo dentro das próprias manifestações. Acho que ele tem uma relação com o jornalismo investigativo na medida em que ele serve de matéria bruta, de ponto de partida e de levantar pautas que mereçam investigação, aprofundamento de tempo, de grana, de experiência - avaliou. O jornalista destacou ainda as restritas possibilidades que o mercado oferece para quem quer iniciar uma investigação. Torturra revelou suas opiniões sobre a nova viabilidade econômica do setor, abordando, a todo o momento no tópico sobre autofinanciamento. - Eu tenho a impressão que a nova viabilidade econômica do jornalismo investigativo – impressão, isso é um chute meu – vai se dar muito mais pela reputação e pela qualidade do jornalista, do que de um grande veículo que já não tem mais interesse ou condição de financiá-lo - pontuou. Bruno lembrou também do nascimento da Ninja, revelando que, a princípio, a ideia era produzir pautas investigativas, com a capacidade de se organizar, se financiar e de buscar assuntos que a “mídia tradicional não aborda por variados motivos”. “Como Mídia Ninja a gente tem a intenção e já começamos a fazer reportagens mais investigativas”, assegurou.
Reportagens
Para André Luiz Azevedo, a câmera escondida é apenas uma forma de contar uma história. - O grande repórter investigativo é aquele que a partir da fonte de investigação domina os mecanismos para transformar a informação, que é um material bruto, em reportagem. Às vezes você tem uma denúncia importante, mas é preciso saber como transformar essa história em uma reportagem de televisão, como conseguir imagens e provas absolutamente ostensivas -, pondera. Os limites éticos na utilização de câmeras escondidas também foram questionados. De acordo com Azevedo, “a ética é fundamental não só na reportagem investigativa, mas em todo trabalho jornalístico”. Ele defendeu a utilização do equipamento. - A câmera em si não é ética ou antiética. A gente já viu erros grosseiros, totalmente antiéticos, feitos com papel e lápis, como também vimos trabalhos brilhantes feitos com a micro câmera, que pode ser usada de maneira ética, mas também pode ser utilizada de maneira antiética. O jornalista é quem deve fazer uma avaliação ética do que ele está fazendo e de como está fazendo.Na atividade investigativa, muitas vezes o interesse público da matéria se torna maior que a individualidade do seu autor. É o caso
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de Eduardo Faustini, que recebeu a alcunha de “o cara sem cara da Globo” por nunca mostrar o rosto nas reportagens que assina. “Eu consigo fazer meu trabalho por causa desta ocultação”, justifica o repórter. Para não ser descoberto durante suas investigações, Faustini desenvolveu algumas táticas: “É preciso ter domínio do meu corpo, não posso suar ou tremer. Eu estou vivendo aquele mundo e preciso incorporar da melhor maneira. Prefiro atrair a pessoa para um local em que eu tenha total controle”, revela. Por trás das câmeras escondidas, as faces ocultas do jornalismo investigativo desmascaram criminosos, políticos e fraudadores. Segundo André Luiz Azevedo, “a importância de realizar esse trabalho está na satisfação de ver o resultado concreto de uma denúncia de corrupção, a grande alegria está em perceber que você recebeu uma informação em estado bruto e conseguiu transformá-la em reportagem”. Apesar de ser considerada uma atividade perigosa, Eduardo Faustini não tem dúvidas sobre o futuro. “Sou apaixonado pelo meu trabalho, trabalharia até de graça”, atesta.
9º Congresso: volta a São Paulo
De acordo com informações divulgadas pela Abraji no último dia 22 de outubro, em 2014, o evento voltará à São Paulo e à Universidade Anhembi Morumbi nos dias 24, 25 e 26 de julho. Alguns eixos temáticos já foram definidos pela organização para essa edição: jornalismo de dados; direito de acesso a informações (públicas e privadas) de interesse público; procedimentos de investigação policial que interessam ao jornalismo; cobertura esportiva; cobertura eleitoral. A participação no evento voltará a ser feita por meio de inscrição prévia.
Foto: Tiago Mattar
O jornalismo cumpre o seu papel quando revela fatos de interesse público até então desconhecidos. Mas como levar a informação
até o seu destinatário de forma objetiva? Uma das respostas a essa pergunta foi tema do painel que debateu o uso de câmeras escondidas em reportagens investigativas. O paradoxo de mostrar sem se expor permeou a discussão conduzida por André Luiz Azevedo e Eduardo Faustini, ambos da TV Globo, com participação de Fernando Molica, editor do jornal O Dia.
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O jornalista Caco Barcellos participou da mesa sobre reportagem investigativa e foi um dos profissionais mais procurados pelos estudantes presentes
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QUADRINHOS
Ainda tenho as canções Ilustração: Diego Gurgell Texto: Jorge Rocha
A primeira vez em que Johnny Cash falou comigo não foi de maneira direta. Havia essa canção sendo construída: ele a mostrava para alguém e eu estava ali.
Eu sabia que precisava lembrar de cada nota, de cada frase melódica, de cada estrofe daquela canção e que isso poderia ser a diferença entre a vida e a morte.
Uma parte falava sobre como é fácil sentir-se uma presa indefesa debaixo de um céu azul.
Demorou para que eu compreendesse que era uma forma de oração e essa compreensão me levaria a um choro piedoso, tempos depois.
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