Contramão no.8

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contramão

Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia do Centro Universitário UNA. Distribuição gratuita.

nº8

Ano 3 - julho e agosto/2009

Savassi se renova Coleta seletiva: adesão popular ainda é baixa

Entrevistacom a artista plástica Raquel Schembri

Páginas 6 e 7

Páginas 8 e 9


2 a Opinião

Contramão - 8ª edição

Editorial O Jornalismo recebeu no mês de junho a desagradável notícia do fim da obrigatoriedade do diploma. O desgosto veio com o impacto da novidade, mas passados alguns dias fica mais fácil compreender que essa mudança é apenas mais um reflexo das intensas alterações que o Jornalismo vem passando. A popularização dos meios multimídia permite que as informações circulem, e que as pessoas divulguem seus pensamentos, opiniões e fatos cotidianos. Isso nos parece uma ótima possibilidade de se fortalecer a democracia. Sendo assim, seria negativo para a sociedade que apenas os diplomados em Jornalismo pudessem, por exemplo, ter um blog, ou fazer vídeos para a rede. Mas ser jornalista é muito mais que publicar as próprias idéias. Ser jornalista é saber lidar com a informação numa perspectiva social. Nesse cenário multimídia, o jornalista se torna um agente social ainda mais necessário, pois é preciso separar o joio do trigo entre tanto blá-blá-blá digital. No passado, a função de um jornalista era informar as pessoas. Hoje, o bom profissional da Comunicação é aquele que ajuda a comunidade a hierarquizar e refletir sobre tantos fatos publicados. E no meio às turbulências da profissão, este jornal laboratório tem a sua oitava edição, sendo a segunda com a versão on-line (http://contramao.una.br). As matérias sobre a Savassi mostram que não é apenas as profissões que estão mudando, pois a tradicional região está recebendo investimento do governo e de lojistas para se renovar sem perder o encanto do passado. A entrevista com a artista Raquel Schembri nos ensina sobre uma forma de manifestação da arte urbana: os stickers. O jeito de fazer compras sem sair do carro, o drivethru, foi adotado por escolas, bancos e até noivos na hora do casamento. Enquanto isso a reciclagem e a coleta seletiva ainda engatinham e a população continua produzindo toneladas e mais toneladas excessivas de lixo que vão para os aterros, e que poderiam ser reduzidas a apenas 5,31%. Boa leitura.

Fotos da capa Felipe Rezende - Praça da Savassi. Ana Paula P. Sandim - Quadro de Raquel Schembri. João Henrique Almeida - Lixo reciclável em um galpão de coleta seletiva de Belo Horizonte. CONTRAMÃO Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia da Faculdade de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela Teixeira Vice-reitor: Átila Simões Pró-reitor de graduação: Prof. Johann Amaral Lunkes Pró-reitor de pós-graduação: Ricardo Viana Carvalho de Paiva Diretor da FCA: Prof. Silvério Otávio Marinho Bacelar Dias Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Joana Ziller Contramão - Tel: (31) 3224-2950 - contramao.una.br Coordenação: Isadora Camargos (JP-07449-MG) e Reinaldo Maximiano (MTb 06489) Diagramação: Áurea Maíra Costa Estagiários: Ana Paula P. Sandim, Áurea Maíra Costa, Felipe Rezende, Hélio Monteiro, Juliane Schlosser, Matheus de Azevedo e Natália Oliveira Tiragem: 2.000 exemplares Impressão: Sempre Editora

CARTA DE LEITOR Foi com estranheza que tomei conhecimento de artigo publicado sobre a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, no jornal Contramão, edição abril e maio de 2009, amplamente distribuído e divulgado ente leitores e funcionários desta Biblioteca, com depoimentos de uma servidora dessa instituição, Sônia Regina de Morais, e por outra pessoa, Shirley Coelho, que não é e nunca foi servidora da Biblioteca Pública. Além disso, nomes, cargos e fatos foram equivocadamente informados e, além do mais, o tema escolhido e principalmente a forma como foi tratado, não condizem com o verdadeiro ambiente da biblioteca, pois 99% dos seus freqüentadores são pessoas normais, equilibradas, interessadas tão somente em leitura, pesquisa, empréstimo de livros, estudo, participação em diversos eventos proporcionados pela Superintendência de Bibliotecas Públicas. Esta é a primeira biblioteca pública estadual a ser informatizada no Brasil. No ano de 2008, atendeu 485.000 usuários. Dispõe de um acervo riquíssimo, cerca de 250.000 obras, dentre as quais uma bela coleção de Obras Raras e tantas outras preciosas e relevantes para a cultura universal; a coleção Mineiriana, que reúne acervo referente à cultura mineira, sua história, seus escritores, sua gente, além das demais obras literárias, informativas, de referência. Dispõe, ainda, de um Teatro, Galeria de Artes, Sala de Cursos, onde eventos culturais variados acontecem. Não vamos negar que casos isolados e muito esporádicos já tenham acontecido aqui, como é normal acontecer em qualquer órgão de acesso livro ao grande público. Porém, isto deve equivaler a menos de 1% de seus usuários. Com tantas coisas interessantes, verdadeiras, úteis, importantes a dizer sobre a Biblioteca Pública que proporcionariam a divulgação de seus serviços, eventos, atividades, acervos, não precisamos e não autorizaríamos reportagens que denegrissem e jogassem por terra sua credibilidade, seus esforços em prestar, cada vez mais, um bom trabalho à comunidade. Cordialmente, Áurea Eloísa Godinho Piacesi Diretora da Biblioteca Pública Estadual Luiz Bessa (Carta resumida pela equipe do jornal)

RESPOSTA DO CONTRAMÃO Sobre a carta da Diretora da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, Áurea Eloísa Godinho Piacesi, gostaríamos de esclarecer: - O jornal Contramão tem o objetivo de contar histórias de pessoas comuns da sociedade, com uma abordagem diferente da grande imprensa. - A reportagem “Histórias que dariam um livro sobre livros que contam histórias” não tem a intenção de questionar a sólida imagem da biblioteca. Os fatos relatados são sobre pessoas comuns e poderiam ter acontecido em qualquer lugar. Como a biblioteca é um espaço verdadeiramente democrático, entendemos que atende a todo e qualquer cidadão e, por consequência, está sujeita a ser cenário de diferentes atitudes. A reportagem não questiona ações ou decisões da diretoria da biblioteca e se limita a contar histórias que foram lembradas pelas entrevistadas, sem citar nomes de envolvidos. - As entrevistadas não foram escolhidas por serem portavozes da instituição – e não são apresentadas como tal – e sim por estarem presentes na biblioteca há anos e terem acompanhado, com os próprios olhos, as histórias contadas. Professores-coordenadores


Cidade a 3

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Alguns prédios da Praça da Liberdade já estão em reforma

a oportunidade certa, já que nossa rede hoteleira é tão deficitária?”, questiona. A afirmação do historiador de que é um projeto autoritário e sem participação popular foi rebatida por Jô Vasconcellos, que disse que foi feita uma pesquisa, na qual cerca de 90% das pessoas entrevistadas aprovaram a idéia. O estudante Pietrini Paiva não foi uma dessas pessoas: “Eu não posso dizer se sou a favor ou contra, pois não conheço bem o que eles estão querendo fazer aqui”, diz. Com os prédios públicos se tornando museus, e a praça deixando de ser palco de

manifestações políticas, estaria a praça perdendo a sua alma, a sua identidade? Com a revitalização da Savassi, requalificação da Praça Diogo de Vasconcelos e ressignificação da Praça da Liberdade, tenta-se resgatar o espaço de convivência, objetivo principal da praça pública, e desviar o foco do trânsito e do comércio de mercadorias. A tendência do mundo é recriar espaços para aliar qualidade de vida à cultura urbana contemporânea.

Continua nas páginas 4 e 5

PROJETO DE RE-SIGNIFICAÇÃO CARREGA POLÊMICAS

Foto: Juliane Schlosser

Há mais de três anos o Governo do Estado aprovou um projeto que transformará a Praça da Liberdade em um grande corredor cultural. Mas o que seria esse projeto? Derrubariam os prédios públicos e construiriam teatros, cinemas e feiras de artesanato? Nada disso! Os prédios públicos estão sendo reformados para deixarem de ser espaços burocráticos e se tornarem espaços culturais, como museus e locais de convivência. De acordo com Jô Vasconcellos, assessora de Arquitetura e Urbanismo do Governo de Minas Gerais, a população e a cidade ganharão com esse espaço, e a praça passará a ser mais frequentada e valorizada. Mas nem todos pensam assim. O historiador José Newton Meneses, professor do departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que esse é um projeto autoritário, pois não foi aberto e discutido com toda a população. Ele diz que não há sustentabilidade e que transformar a praça em um corredor cultural é re-significar toda uma história de protestos, de passeatas e de manifestações políticas, que até os dias de hoje pulsam o coração da região. E o Palácio da Liberdade, sede do governo atualmente, também será transformado em museu? De acordo com o Governo, o palácio continuará sendo o local de encontros políticos, mas os assuntos burocráticos serão resolvidos no novo Centro Administrativo, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer em construção no antigo hipódromo Serra Verde, na região Norte de Belo Horizonte. O historiador José Newton acredita que a região Norte será valorizada com a chegada do Centro Administrativo, mas cita exemplos de cidades que valorizaram suas regiões pobres de outra maneira: “Barcelona e Sevilla, nas Olimpíadas de 1992, construíram centros olímpicos e hotéis nas regiões mais pobres. Por que não fazer o mesmo em Belo Horizonte? Vamos sediar uma Copa do Mundo em 2014. Não seria

CIDADE

Corredor cultural em questão

Por Henrique Carmo


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PONTO DE ENCONTRO DE BH TENTA RECUPERAR O GLAMOUR

Revitalizar para não esquecer

Por Márcia Collares

Foto: Felipe Rezende

ESPECIAL SAVASSI

4 a Especial Savassi

Cafeteria tradicional da Savassi divide espaço com uma das quatro lojas de celulares que ocupam a Praça Diogo de Vasconcelos

Importante pólo econômico e cultural de Belo Horizonte, a Savassi deve receber nos próximos meses um investimento da ordem de R$15 milhões para a requalificação da Praça Diogo de Vasconcelos e adjacências. As obras incluem melhorias nas calçadas, implantação de fontes e marco escultório no centro do cruzamento das avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas, rampas, canteiros, jardineiras, sistema de irrigação, entre outros, segundo a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas. A requalificação é uma tentativa de resgatar o glamour que marcou as décadas de 50 a 70 na região, que era o principal ponto de encontro da cidade. Dona Alda Savassi, filha de um dos fundadores da Padaria Savassi, inaugurada no início da década de 40, se recorda dos bons tempos da praça. “Todos da cidade passeavam de bonde e combinavam de se encontrar na padaria do meu pai. Com o tempo, a praça Diogo de Vasconcelos ganhou o apeli-

do de Savassi. A padaria era muito bem frequentada, até o Juscelino Kubitschek aparecia por lá”, diz. A partir dessa época, houve crescimento econômico e valorização da região. Atualmente a praça mudou de ponto de encontro para ponto de venda, e virou a “praça do celular”. Das oito esquinas da “Praça da Savassi”, quatro estão ocupadas por lojas de telefonia móvel das operadoras Vivo, Oi, Tim e Claro. Nos quatro imóveis restantes estão Melissa, Centro Ótico, Elmo e Mc Donald’s. Levy Coelho, 63 anos, mora na região desde que nasceu. Ele reclama da saída de A Cafeteria, ponto de encontro tradicional de uma das esquinas, para dar lugar à Claro. “Isso foi motivo de protesto na época”, lembra-se Levy. Agora, A Cafeteria funciona ao lado, com um espaço físico reduzido. No prédio onde era a Padaria Savassi funciona, atualmente, a Vivo. “A estratégia de lojas concorrentes bem próximas uma das outras é

uma tendência no Brasil inteiro e isso ajuda o cliente a comparar os serviços e escolher sua operadora em um só local”, avalia Rodrigo Magalhães, gerente da Claro da Praça da Savassi. A revitalização da região é uma forma de aquecer o mercado. Um exemplo desse resgate é o restaurante Chez Bastião, fundado em 1965, que se viu perdendo parte de sua clientela e passou há pouco tempo por uma grande reforma. O novo projeto arquitetônico criou um espaço com mais requinte, desde a adega até o mármore da calçada. O restaurante está localizado na Rua Alagoas, antigo corredor do álcool da capital mineira. O gerente geral do Chez Bastião, Frederico Rezende, conta que os empresários que frequentam a casa para um happy hour durante a semana, voltam com a família no fim de semana para desfrutar da cozinha internacional, com tendências franco-italianas.


Especial Savassi a 5

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do Norte, fica aberta diariamente até às 5h, sendo ponto de encontro das mais variadas tribos, todas em busca dos tradicionais e famosos pratos. A fama é tamanha, que, aos domingos, costuma manter fila de espera durante todo o dia. Segundo Patrícia Crespo, vice-presidente da Associação Brasileira de Gastronomia e Cultura, fast-food e self-services oferecem uma “comida de sobrevivência”. Como o bairro é comercial durante o dia, as pessoas procuram esse tipo de comida na hora do almoço. Mas, ainda assim, a região mantém casas com roteiros gastronômicos para todos os gostos, começando pela cozinha mineira e passando por outras, não menos apetitosas, como a árabe, a italiana, a francesa e a oriental. Márcia Carolina, proprietária da Loja Maria Boutique, localizada na Rua Fernandes Tourinho, conta que adora sair do trabalho e encontrar as amigas em algum lugar da Savassi. Segundo ela, o prazer de comer tem que estar conciliado ao charme do espaço. “Eu sempre marco um jantar com minha turma em algum restaurante aqui perto. Prefiro os ambientes mais bonitos, com gente bonita e pratos gostosos. Preço não é problema. Pago caro pelo meu bem-estar”, conta a lojista em meio a gargalhadas.

A culinária da Bahia também está presente na Savassi. Oito irmãos baianos trabalham no restaurante Baiana do Acarajé, na Rua Antônio de Albuquerque. Todos servem as comidas típicas com vestimentas características de sua terra. Ana Ilda, uma das irmãs – todas se chamam Ana – lembra que, quando ainda moravam na Bahia, um de seus irmãos sempre falava que iria montar um restaurante em Belo Horizonte. “E tinha que ser na Savassi” – diz ela – “porque era a referência que a gente tinha de BH”. Em outros endereços também pode-se encontrar uma culinária sofisticada. O restaurante Santa Fé, localizado na Rua Santa Rita Durão, tem, entre os seus freqüentadores, políticos e famosos. Logo à frente, o Vila Arábia oferece culinária especializada e atrai seu público com apresentações de dança do ventre e fornecimento de narguilés, cachimbos de água, de origem oriental, utilizados para fumar especiarias. O restaurante Surubim na Brasa, também localizado no antigo corredor do álcool, permanece cheio por quase todo o tempo em que está aberto, assim como o vizinho e novíssimo restaurante do Royal Hotel, aberto ao público.

O COMÉRCIO DÁ LUGAR AO ENTRETENIMENTO

De dia, praça do celular, à noite, praça de fastfood. Lado-a-lado estão o Mc Donald’s e o carro de cachorro-quente de Antônio Carlos Panicali, de 62 anos. Panicali trabalha há 33 anos na Praça da Savassi. Chega às três da tarde e só sai às sete da manhã. Diz que seus clientes são desde a pessoa que está trabalhando durante o dia até a que está voltando da “balada” de madrugada e que a concorrência com o Mc Donald’s é boa e ajuda nas vendas. A Savassi não dorme e, de acordo com Wellinton Macedo, garçom do Café e Livraria Travessa, localizado na Praça Diogo de Vasconcelos, “o movimento fica cada vez mais intenso com o cair da noite”. Seguindo essa tendência, restaurantes que durante o dia funcionam como fast-foods abrem suas portas no período da noite com outra “cara”. Alguns apostam em atrações musicais, outros em drinks sofisticados, mas sempre se preocupando com a comida que será posta à mesa, garante Wellington. “Nós queremos atrair os clientes, já que a concorrência é grande, então procuramos oferecer cardápios saborosos e que agradem aos paladares mais exigentes”, enfatiza o garçom. A Casa dos Contos, localizada na Rua Rio Grande

Foto: Felipe Rezende A esquina da avenida Getúlio Vargas com rua Pernambuco abriga um dos pontos de encontro mais conhecidos da Savassi

ESPECIAL SAVASSI

Mutação do dia para a noite

Por Márcia Collares e Fernanda Grossi


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UMA MANEIRA PRÁTICA DE CUIDAR DO MUNDO

Atitude que dá certo

Por Érica Maruzi e João Henrique Almeida

O lixo é um problema social e ambiental em todo o mundo. A cada dia são pensadas novas alternativas e tecnologias que permitam práticas ambientalmente corretas. Com a palavra sustentabilidade em moda, muito se discute sobre práticas sustentáveis e de como se tornar um cidadão ecologicamente correto. Uma alternativa simples e pouco explorada é a coleta seletiva. No Brasil, segundo dados da associação sem fins lucrativos Compromisso Empresarial para Reciclagem, Cempre, cerca de 7% dos municípios realizam algum tipo de coleta seletiva. Em Minas Gerais, dos 853 municípios, apenas 37 deles disponibilizam o serviço aos cidadãos. Belo Horizonte está nesta pequena lista, e sua coleta seletiva já alcança 30 bairros da cidade. A iniciativa surgiu em novembro de 2007, em alguns bairros da região Centro-Sul. Na época foram realizadas reuniões com a comunidade além de campanhas de divulgação. De acordo com Aurora Pederzoli, chefe do Departamento de Programas Especiais da Superintendência de Limpeza Urbana, SLU, apesar de o serviço existir há quase dois anos, a adesão da população ainda é considerada baixa. “Do total de pessoas atendidas pela coleta, apenas 20% separam o lixo de maneira adequada”, comenta. Segundo estimativas da SLU, cerca de 354 mil pessoas já contam com o serviço, que é realizado nos bairros Cidade Nova, São Luiz, São José, Buritis, Estoril, na área comercial do Barreiro e na maioria dos bairros da regional Centro-Sul, exceto a área central e nos aglomerados e vilas no entorno. A coleta seletiva é realizada uma vez por semana em cada bairro, com horários e dias definidos. São recolhidas diariamente cerca de 20 toneladas de materiais recicláveis, que são encaminhados para galpões de triagem, onde os catadores realizam a separação dos materiais. Após a separação, o material é estocado para juntar um volume maior e, posteriormente, vendido. Além de disponibilizar

Foto: João Henrique Almeida

MEIO AMBIENTE

6 a Meio ambiente

a maioria dos galpões, a prefeitura doa o material a sete associações de catadores, que vendem os materiais e repartem o lucro entre si. Segundo Aurora Pederzoli, a meta para o ano que vem é ampliar a coleta para mais 15 bairros. Mas, para isso, a Prefeitura de Belo Horizonte, PBH, está enfrentando um outro problema: a falta de estrutura e espaço físico nos galpões. De acordo com Pederzoli, esses galpões estão com a capacidade esgotada e falta de espaço. Aliada a outros problemas, a situação resulta em condições inadequadas de trabalho para os catadores. “Muitos trabalhadores realizam a separação dos materiais em pé ou sentados em fardos” admite. Para sanar o problema, a prefeitura está construindo um novo galpão de triagem de materiais recicláveis, com previsão de entrega para o início de 2010. Segundo a coordenadora, o galpão está sendo construído na Zona Leste da cidade e atende a todos os requisitos necessários. “Este galpão vai se tornar referência, pois ele possui uma ótima estrutura física e aten-

de as normas de segurança e ambientais”, diz. Outro programa de coleta seletiva realizado pela PBH é direcionado a sacolões e restaurantes. A SLU realiza a coleta do material orgânico nesses estabelecimentos das regiões Nordeste e Noroeste e encaminha à Central de Compostagem, localizada na BR 040, onde funcionava o antigo aterro de Belo Horizonte. Lá o lixo orgânico é armazenado e se transforma em adubo, que é utilizado na manutenção das praças e canteiros da cidade. Os moradores dos bairros que ainda não possuem coleta seletiva podem utilizar outras alternativas para ficarem em dia com o meio ambiente. Uma delas é levar o material separado a postos de coletas, que geralmente ficam em supermercados, bancos e demais estabelecimentos comerciais. Outra opção é se unir aos vizinhos para juntar uma quantidade maior de materiais e combinar com os catadores um dia específico para a coleta. Um meio ambiente sem poluição é direito e dever de todos. Faça sua parte!


Meio ambiente a 7

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A rotina de trabalho dos catadores de lixo começa cedo. Às oito horas da manhã os caminhões saem da garagem e seguem o seu caminho para a coleta seletiva. O pessoal se organiza em grupos de quatro pessoas por veículo: um motorista e três catadores, que se revezam nas tarefas de recolher o lixo ou ficar dentro do caminhão organizando os materiais coletados. Acompanhamos a coleta seletiva no bairro Serra. A harmonia entre catadores e moradores é percebida logo no início. “Sempre eles nos dão alguma coisa que não usam” diz o motorista Agamenom Gomes de Souza, 38. Além de dirigir o veículo, ele também coordena a viagem. Com uma prancheta na mão, Souza anota todos os pontos onde há materiais que não são coletados por eles. “Nós apenas coletamos materiais recicláveis. Os outros materiais são coletados pelo outro caminhão. Sempre anoto o nome da rua e o número da casa onde o lixo não está de acordo, pois se eles reclamarem que não pegamos o lixo, te-

mos como provar” explica. Depois de uma hora de coleta sentimos mais uma amostra da solidariedade das pessoas. Em uma creche do bairro, fizemos uma parada para recarregar as energias. No cardápio, servido por uma funcionária do local, saboreamos biscoitos, café e uma deliciosa vitamina de banana. “Todas as vezes em que passamos por aqui a proprietária da creche nos serve um lanche. Isso é muito bom, pois a maioria das pessoas nem passam perto da gente”, conta Souza. A coleta segue por mais uma hora, até encher o caminhão. Depois disso, vamos até o depósito na Avenida dos Andradas. Lá o lixo é descarregado e separado pelos catadores de diversas associações, para depois ser vendido. O caminhão da coleta seletiva é menor que o veículo da coleta normal, por isso é necessário realizar mais viagens. Essa é a primeira parte da viagem. Após o descarregamento, o caminhão retorna para o bairro Serra e continua a coleta na outra parte do bairro.

UM DIA NA VIDA DE QUEM VIVE PARA CUIDAR DO MUNDO

Foto: João Henrique Almeida

Catadores separam o lixo reciclável em um dos galpões cedidos pela Prefeitura de Belo Horizonte

MEIO AMBIENTE

oletando histórias

Por Érica Maruzi e João Henrique Almeida

Infográfico: Henrique Carmo


8 a Entrevista

“Acredito Por Ana Paula P.Sandim

Popularizado na déca-

da de 90 entre grupos urbanos, da cultura alternativa, Sticker é considerada uma subcategoria da arte pósmoderna e é uma forma de transmitir uma mensagem, sentido, uma manifestação ou simplesmente o prazer de enfeitar a rua do seu gosto ou ponto de vista seja no alto de um poste, no final de uma placa ou até mesmo em casas abandonadas. Em entrevista ao Jornal Contramão, Raquel Schembri, 25 anos, formada em Artes Plásticas e pós graduada em Moda, conta um pouco sobre seus trabalhos com arte urbana. Foto: Ana Paula Sandim

muito na arte nas ruas como um convite a mudança na percepção de cada um.” (Raquel Schembri)

ENTREVISTA

Contramão - 8ª edição

bert Baglione e Os Gêmeos. Tem um artista que cria animações, o Hayao Miyazaki, que é meu “guru”, me identifico muito com as obras dele. Uma de suas obras mais conhecidas é “A Viagem de Chihiro”. Na rua, o artista que me despertou para o mundo da arte na rua foi Xereu. Fiquei instigada com as caras que ele distribuía na cidade, mas só fui conhecer ele pessoalmente um tempo depois. O artista Ramon Martins foi quem me introduziu nesse universo, principalmente no grafitti. Trabalhamos juntos por um bom tempo.

Jornal

Contramão

Você participou de algum curso de desenho ou design etc.?

Raquel Schembri - Me

formei na Escola Guignard, UEMG, em Artes Plásticas. Depois fiz pós-graduação em Design de Moda na Fumec.

Jornal

Jornal Contramão Quando começou a fazer Stickers e quadros? Raquel Schembri - Co-

mecei a desenvolver o meu trabalho em 2003/2004, tanto o de pintura e desenho quanto o trabalho nas ruas e em lugares abandonados. Na época já estava na Escola Guignard.

Jornal Contramão - Algum artista o incentivou? Quem, e com qual trabalho?

Foto: Arquivo pessoal Raquel Schembri

Raquel Schembri - São vários artistas que me incentivaram e que me inspiram. Atualmente de artistas que tem ou tiveram uma ligação urbana, admiro o Blu, o Her-

Trabalho feito em homenagem a mãe

Contramão

Qual material você utiliza na execução dos trabalhos?

Raquel Schembri - Mi-

nhas pinturas em tela ou papel são na maioria das vezes com tintas acrílicas. Comecei esse ano a experimentar tinta a óleo, mas estou “apanhando” muito. O tipo de raciocínio para a execução é muito diferente. Na arte urbana, utilizo pigmentos, tintas próprias para parede, nanquim, e outros materiais como guache, acrílica, spray, carvão e por aí vai.

Jornal

Contramão

Quanto tempo gasta?

-

Raquel Schembri - Bom,

depende do que estou fazen-

do. Não gosto de ficar “fritando” muito tempo no mesmo trabalho. Fico feliz quando consigo terminar no mesmo dia! Pinturas em quadros são as que demoram mais, às vezes fico 4, 5 dias em um único retrato. Já na rua o máximo que gastei foram duas tardes, mas normalmente gasto uma tarde só.

Jornal Contramão - Em qual o horário você faz os trabalhos de rua? Já foi pega executando o trabalho em alguma área proibida? Existe algum risco? Raquel Schembri - Gos-

to de trabalhar durante a tarde (não consigo acordar cedo, só funciono legal depois das 16h) espichando pra noite dependendo do lugar, pois gosto mais de pintar em casas e lugares abandonados, normalmente não tem iluminação. Já fui pega umas vezes sim, mas nunca tive grandes problemas. Primeiro porque mesmo sendo ilegal, pintar num ambiente que vai ser demolido é bem mais tranquilo do que na fachada de uma casa, de um prédio ou de algum comércio. É mais escondido, poucas pessoas veem. E sinto que eu sendo mulher e sabendo “trocar idéia” faz diferença. Pra mim o maior risco é de estar pintando sozinha. Adoro trabalhar só, chega a ser espiritual pra mim. Mas também é perigoso. Uma vez numa casa enorme três caras cheirando cola começaram a mexer comigo. Se eles quisessem fazer alguma coisa, ninguém ia ver nada, mas não aconteceu nada. Jornal Contramão - O que te motiva a continuar


Entrevista a 9

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Arquivo pessoal Raquel Schembri

“Pássaro de duas cabeças”, trabalho feito pela artista no Natal em uma casa abandonada.

fazendo os trabalhos sem lucros? Raquel Schembri - Pra mim tem lucros, sim. Não relacionados à grana, mas pra mim, gerar um questionamento em alguém, despertar algo, mudar nem que seja um pouquinho o cotidiano de uma pessoa, já é um lucro. Acredito muito na arte nas ruas como um convite à mudança na percepção de cada um. São poucas as pessoas que conseguem observar o que está ao seu redor. Acredito que a contemplação é um elemento importantíssimo para saber viver melhor o presente. Faço minha arte sem grandes expectativas, mas gostaria muito que fosse como quando colocamos o dedo num redemoinho de água de uma banheira que está esvaziando. Já reparou que a água se dissipa? Jornal Contramão - Você acredita que com os manifestos cria nas pessoas uma ideia critica? Raquel Schembri - A minha preocupação não é criar uma ideia crítica, mas despertar algo nas pessoas. Jornal Contramão Como surgem as ideias, qual é o sentindo? Raquel Schembri - As ideias não são muito elabo-

radas. Normalmente eu decido na hora o que vou fazer, e as ideias são meio vagas. O resultado final sempre é uma surpresa pra mim. Jornal Contramão - Que ideia você acha que passa para os conhecedores e não conhecedores do seu trabalho? Raquel Schembri - Cada um interpreta como quer e com a sua percepção. É muito mais individual do que imaginamos. Jornal Contramão - Os trabalhos já foram apresentados em alguma exposição de arte? Raquel Schembri - Já cheguei a pintar duas casas inteiras junto com o artista plástico Ramon Martins e fizemos um convite da exposição, chamava “Sem Dono”. Era legal porque ninguém esperava que fosse uma casa abandonada, suja, com mau cheiro. Teve gente que teve que pular o muro para poder ver. A galeria para os artistas de rua é a cidade. Como a característica desse trabalho é a efemeridade, o registro que tenho são as fotos. Expus algumas delas em Torino, na Itália, na exposição “Viver Minas”. Minhas pinturas e desenhos já foram expostos em galerias e em

feiras nacionais e internacionais como em Montevidéu (Uruguai), Hollywood, NY (EUA), Londres (Inglaterra). Jornal Contramão - Qual trabalho foi mais importante? Por quê? Raquel Schembri - Pra mim, todos os trabalhos têm sua importância. É claro que tem uns que eu gosto mais que outros. Teve uns que foram mais especiais, como a pintura que eu fiz para a minha mãe, nos dias das mães. O pássaro de duas cabeças que eu fiz no dia do Natal também estava incrível o ambiente. Senti uma paz muito grande enquanto fazia, minha mente estava em outro nível. Jornal Contramão - Qual a diferença do seu trabalho para outras consideradas poluições visuais, como pixações e outdoors? Raquel Schembri - A intenção. Isso muda completamente. A intenção das propagandas é o dinheiro, e o povo tem que “engolir” essa imposição diariamente. Muitos pixadores e grafiteiros já têm a questão da auto-afirmação muito forte. As pessoas têm que parar de pensar muito nelas mesmas e voltar um pouco para o outro. Todos têm uma responsabilidade

com o que mostram com o que passam à diante. O mundo está precisando de pessoas que acrescentam. Sempre tenho o cuidado de não passar algo negativo, apesar disse ser subjetivo. Também não faço questão de assinar. Jornal Contramão - Qual é a sensação depois do trabalho feito? Raquel Schembri - Normalmente, quando termino um trabalho, não tenho uma opinião formada sobre ele. Não sei se gostei. Vou sentindo com o tempo que vai passando. Fico feliz em rever um trabalho, mas na maioria das vezes duram muito pouco tempo, as demolidoras não perdem tempo. A sensação durante e depois do processo nunca é igual, mas pra mim é sempre íntimo. A essência e a crítica andam sempre juntas e vêm sempre condimentando nossas vidas com ataques de humor, misturando ícones da mídia em massa e das mídias alternativas, questionando suas tendências manipuladoras. Assista o vídeo com a entrevista completa e confira mais fotos no site contramao.una.br


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ÓRFÃOS DE UMA ERA Mudança cultural na música deixa os vinis orfãos de uma era.

MÚSICA

10 a Música

Texto e arte por Natália Oliveira

A música passou por uma mudança cultural e surgiu uma nova era: a digital. Com ela os artistas passaram a disponibilizar suas canções na internet, em sites como MySpace e Last.fm, ou para dowload. Assim, o antigo “ritual” praticado para escutar música se modificou. A capa é apenas virtual, o encarte e o objeto físico já não existem mais. Não se pega no disco, basta dar um enter e deixar o computador fazer o resto. Essa mudança cultural fez com que a música ganhasse alguns órfãos: os vinis ou “bolachões”, como são conhecidos. Controle remoto? Play? Enter? Nada disso. É preciso levantar de seu comodismo, abrir a tampa de vidro, colocar o LP (Long Play), ajeitar a agulha milimétricamente na faixa, ouvir o chiado inicial e deixar a música fluir. Muitos audiófilos, amantes da música, ainda sentem prazer em pegar aquela capa grande com as duas mãos, observar a arte no papelão, retirar com cuidado o vinil, sentir seu cheiro, mantê-lo seguro e longe de seu pior inimigo: a poeira. Se você nasceu depois da supremacia dos CDs, saiba que o vinil surgiu em 1948. Ele

contém um lado A e um lado B, no primeiro aparecem as músicas de mais sucesso do artista e no segundo ficam as mais desconhecidas. Eventualmente um hit aparece no lado B. Por muitos anos o vinil foi o suporte físico mais utilizado para se armazenar e ouvir as músicas. Porém, no fim dos anos 80 surgiu o CD (Compact Disc). E o CD se tornou mais popular e mais utilizados do que os LPs, por ser, em geral, considerado uma tecnologia com qualidade superior. Mas os fãs dos vinis afirmam que a qualidade sonora do “bolachão” é superior, pois a música não é compactada. Com a era digital muitas pessoas deixaram os vinis de lado e alguns deles passaram a ser vendidos por centavos, embora outros, considerados relíquias, cheguem a custar R$ 300 ou muito mais que isso. Hoje ele não é mais vendido em escala comercial, mas pode ser encontrado em lojas de colecionadores, brechós e antiquários, que além de vender vinis, vendem também roupas estampadas com capas dos LPs. Edu Pampani, colecionador de vinis e coordenador da discoteca pública, casa de discos em BH, é um padrinho desses órfãos, “todo disco que chega à discoteca é um órfão, é de alguém que morreu, de um cara que não gosta mais deles. Se não tiver alguém para tomar conta ele vai ficar no meio do mofo, da poeira”, constata. Assim como Edu, vários outros apreciadores da música apadrinham os vinis e ainda cultivam o velho hábito de ouvi-los, mesmo com a praticidade da era digital. Os bolachões também não foram esquecidos pelos que difundem a música. Exemplo disso é a banda Radiohead que em 2008,

segundo a revista Bravo!, foi recordista em venda de LPs nos Estados Unidos, com 61 mil cópias comercializadas, sendo que 26 mil foram do último álbum, In Rainbows. O curioso é que a banda disponibilizou para download esse álbum na internet, deixando que o público pagasse o preço que quisesse pelo disco, inclusive nada. No cenário nacional vários músicos, além de gravarem em outras mídias, gravam também em LP. A banda mineira The Dead Lover’s Twisted Heart lançou no início do ano seu álbum em vinil. O grupo ainda não tinha suas músicas, que estavam disponíveis na internet desde 2006, em um suporte físico. “O vinil nos pareceu interessante por não ser um suporte tão usual mais. Porém ele desperta um interesse como objeto. As pessoas acabam criando uma relação diferente com o disco, o vinil nos remete a uma outra estética, tanto musical quanto plástica. As pessoas, mesmo não possuindo mais vitrola, compraram o disco. Estamos finalizando nosso disco novo agora e vamos lançá-lo também em vinil”, conta Ivan Vaz, integrante da banda. Apesar dos vinis não serem tão usuais, como foram antes das mídias digitais, esses órfãos representam a memória palpável da música, documentos em forma de imagem, de som, de tamanho e de material físico. As imagens das capas representam uma época, pois retratam a moda e a arte daquela década. O tamanho e formato uma era, uma vez que são os primeiros suportes físicos da música e representam um tempo em que não existiam as novas mídias musicais. As músicas no vinil são documentos, pois muitas não foram digitalizadas.


Entretenimento a 11

Contramão - 8ª edição

tura e ser desinibida. Também precisam saber continuar com as piadas, mesmo se as pessoas não rirem. “Quando você não tem medo de ser ridículo, ninguém te segura”, brinca Paloma.

QUEIJO, COMÉDIA E CACHAÇA

ENTRETENIMENTO

não sabiam o que esperar do público, mas a recepção foi surpreendente. “Ficamos impressionados com a educação das pessoas. Acho que os mineiros estavam carentes de humor”, lembra Gabriel. Os textos criados pelo grupo são muitas vezes sobre experiências pelas quais eles já passaram ou assuntos que os interessam. O processo criativo conta com a participação de todos os integrantes. O grupo se reúne pelo menos a cada 15 dias, quando compartilham dicas e testam as piadas uns com os outros. O roteiro muda a cada quatro apresentações, mas eles pretendem implementar um rodízio para que cada semana um integrante mude seu texto. O grupo avisa que para ser um stand-up comedian, a pessoa tem que ter desenvol-

STAND-UP MINEIRO UNE PIADAS E CERVEJA

Fotos: Felipe Rezende

Um palco, um microfone, uma platéia e uma piada. É o que você precisa para ser um stand-up comedian. A prática teve início na década de 50, principalmente entre os negros, que já possuíam uma cultura forte de humor. Nos intervalos de apresentações musicais, alguns músicos subiam ao palco e entretinham o público contando casos engraçados. Com uma grande aceitação, essas esquetes deixaram de ser o “show do intervalo” e se tornaram a atração principal. Na década de 90, o stand-up comedy ultrapassou a barreira dos palcos e chegou à TV americana com o programa do humorista Jerry Seinfeld. Nos últimos anos, o grande responsável pela divulgação de novos comediantes foi o YouTube. Em Belo Horizonte, o grupo Queijo, Comédia e Cachaça foi o pioneiro nesse estilo de humor. Os cinco integrantes se conheceram por meio de uma comunidade no Orkut, onde ficaram sabendo sobre um curso de stand-up. Paloma, Gabriel, Arthur, Bruno e Edgar subiram ao palco pela primeira vez em Julho de 2008, no Bar Canapé, onde se apresentam até hoje. “É um desafio, pois estamos de cara limpa, não tem como se sustentar. Se você foi mal, foi mal e pronto”, conta Paloma. A localização para os shows não tinha como ser melhor. A combinação entre lazer e cerveja é a preferida para muitos mineiros. Por terem sido o primeiro grupo da capital, eles

Toda terça-feira, às 20h Local: Bar Canapé Rua Major Lopes 470, São Pedro Por Felipe Rezende e Juliane Schlosser

Couvert: R$5

Fotos: Juliane Schlosser

Arthur Ottoni, Edgar Quintanilha e Bruno Berg animam a plateia na terça-feira de comédia em Belo Horizonte


12 a Cidade

Drive-thru de crianças Enfrentar o trânsito

Escolas de BH lançam método próprio para

CIDADE

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Por Hélio Monteiro

Nos horários de pico, os asfaltos da capital se superlotam e o trânsito se torna lento e estressante. As filas duplas nas portas das escolas contribuem para esse cenário e os pais ficam sujeitos às multas. Preocupadas com essa questão, algumas escolas de Belo Horizonte encontraram no “drive-thru de crianças” a solução para diminuir a confusão na hora de levar os filhos para o colégio. O sistema funciona sob a mesma lógica dos drive-thrus de lanchonetes, garante a comodidade, e em alguns casos melhora o trânsito. Como no colégio de educação infantil Jardim Azul do Imaculada, com pista própria para o serviço que está presente há 4 anos. “Agora o pai entra na escola onde um funcionário recebe ou entrega seu filho sem que ele saia do carro.O objetivo maior era melhorar o trânsito, para acabar com o problema de fila dupla na porta”, explica Laura Suvalsky Vieira, coordenadora comunitária da escola. Antes era necessário procurar um local para estacionar, caminhar até o colégio e voltar com a criança para o local onde o carro estava, procedimento que demandava tempo. As melhoras no trânsito são notáveis, como afirma Paulo Henrique, pai de um dos estudantes do Jardim: “melhorou bastante, antes o trânsito na Rua da Bahia era pior do que já é”. Na rua Rio Verde, no bairro Sion, onde fica a escola Lúcia Casasanta, foi demarcada uma área para embarque

e desembarque nos horários de entrada e saída. O colégio também disponibiliza dois porteiros e duas atendentes para ajudar as crianças a descer dos carros e conduzi-las até a entrada. Apesar da contrapartida, a diretora Mariana Casasanta reconhece que as filas duplas continuam a existir, mas lembra que antes disso era inviável. “Às vezes, o trânsito embola, mas foi a melhor maneira que encontramos até agora”, ressalta. De acordo com o quadro de infrações do Código de Trânsito Brasileiro, estacionar ao lado de outro veículo em fila dupla é infração grave, com perda de 5 pontos na carteira. A multa é no valor de R$ 127,69. Segundo dados da BHTrans, no mês de maio a frota de veículos de Belo Horizonte ultrapassou 1,1 milhão, sendo 70,5% de automóveis. Somente na área central trafegam 400 mil veículos por dia. Como os horários de entrada e saída das escolas e dos trabalhos se coincidem, as condições para que o trânsito flua são menores e não há vagas de estacionamento nas ruas para todos os veículos.

A invenção

Segundo a revista Superinteressante, 1931 é o ano de nascimento do drive-thru. E ao contrário do que se pensa, o famoso Mc Donald’s somente incorporou a idéia 44 anos depois de sua existência. O pai do confortável serviço se chama Royce Hayle e a lanchonete pioneira foi a Pig Stands, em Dallas (EUA).

O período era desanimador para o comércio. Com 21 anos Hayle foi promovido a gerente da lanchonete. E com o cargo também ganhou a responsabilidade de encontrar alguma maneira para que os clientes voltassem a freqüentar o local. Um dia seu patrão dizia que as pessoas que possuíam carros eram tão preguiçosas que não queriam sair do carro nem para comer. Foi tudo que o jovem precisava ouvir para agir. Afinal, um novo público, o dos “motorizados”, surgia e precisava ser conquistado. Hayle providenciou uma placa na entrada do restaurante onde se lia drive-thru, literalmente “dirija por”. Os clientes aderiram à novidade, causando um congestionamento de Ford Modelos T diante da lanchonete. O sistema foi responsável por tirar a lanchonete do vermelho. A idéia original se estendeu. Atualmente, alguns bancos, no intuito de facilitar a vida dos clientes, investiram no drive-thru banking, onde não é necessário descer do carro para retirar o dinheiro. Em Santa Catarina foi lançado o drive-thru SPA, que permite o relaxamento do corpo com massagens e outras técnicas de beleza em um único aparelho. E não termina por aí. Em Las Vegas nem mesmo pra casar é preciso sair do carro. Sem o trabalho de descer as escadas do altar, os recém casados seguem direto para a lua de mel, sem nenhum desvio.

Foto: Hélio Monteiro


Diversão a 13

Contramão - 8ª edição

Foto: Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes - Divulgação

os eventos, proporcionando diversão completa para o meu filho. E o mais importante é que ele ama estar lá e se divertir com os amigos que faz”, diz. Vanessa acrescenta que a criança chega mais cansada em casa, mas não é um cansaço ruim, apenas a consequência de um dia repleto de brincadeiras. O Palácio das Artes promove o evento gratuito “Retrospectiva Jean Rouch”. Nele serão exibidos 77 filmes (entre curtas, médias e longa metragens) deste teórico do cinema directo, sem contar

outros 14 filmes sobre Rouch. Ao todo serão 92 sessões apresentadas no Cine Humberto Mauro (situado no próprio Palácio das Artes) entre os dias 22 de junho e 19 de julho. Segundo Laura Barbosa, assessora de imprensa do Palácio, acontecerão ainda os projetos “Terças Poéticas” e “Quarta Erudita”. O primeiro acontece nos Jardins Internos do Palácio das Artes, às 18h30, com entrada franca. Nele, poetas homenageiam outros poetas, cronistas e dramaturgos. Já no segundo evento acontecem apresentações dedicadas à música erudita. Ele é realizado na sala Juvenal Dias, às 19h30. Os ingressos custam R$5,00 (inteira) e R$2,50 (meia entrada conforme a lei). No campo intelectual, o Instituto Cultural Brasil Estados Unidos - ICBEU programou um curso superintensivo de inverno, no qual as aulas de um semestre são minisitradas em um mês (de segunda a sexta-feira). De acordo com Raquel Mariana, funcionária do instituto, o superintensivo é destinado à aqueles que desejam um curso rápido, mas com a mesma carga horária do curso normal. Outra vantagem do superintensivo é o desconto de 50% no valor do curso. Fora de BH o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana é uma opção de lazer extensionista, cujo objetivo é ligar comunidades e visitantes ao patrimônio cultural e ambiental das duas cidades. O festival é aberto ao público e acontecerá entre os dias oito e 26 de julho, com o tema “Clube da Esquina e Chão da Nossa Terra”. O festival busca estimular olhares e debates em geral sobre as cidades através de seminários, cursos, apresentações culturais, entre outros; criar espaços nas cidades para estudo das artes; fazer um levantamento da memória histórica e, consequentemente, promover o turismo. Haverão oficinas durante todo o evento, além da exibição de filmes, peças teatrais e shows. É atividade que não acaba mais! Portanto, tédio nas férias? Nem pensar.

OPÇÕES NÃO FALTAM PARA OS BELO-HORIZONTINOS CURTIREM AS FÉRIAS DE JULHO

Julho, mês de férias, de relaxar, viajar e ficar enfurnado em casa, jogando videogames e vendo televisão o dia todo? Nada disso! Em Belo Horizonte existem programas recreativos, de entretenimento e até intelectuais que ajudam a quebrar a rotina. Vanessa Gomes, 37 anos, é profissional autônoma e não tem 30 dias de férias. Para que seu filho não fique em casa sozinho, ela o inscreve na colônia de férias do Minas Tênis Clube, entre os dias 20 e 31 de julho. “O local é muito seguro e bem equipado para

DIVERSÃO

Pensando nas férias

Por Bárbara Pampolini


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O OUTRO LADO NO JORNALISMO ESPORTIVO

A notícia como você nunca viu

Por Matheus de Azevedo

Nos dias 25 e 27 de maio o Jornal Contramão acompanhou o treino de dois grandes times do futebol brasileiro: Atlético e Cruzeiro. A intenção era conhecer os bastidores da imprensa esportiva e descobrir como a reportagem chega ao telespectador. O jornalismo segue a rotina do imprevisto. O dia no Centro de Treinamento do Atlético ia calmo. A jornalista da TV Alterosa, Maíra Lemos, 27, conversava com os futuros “focas” (jornalistas recém-formados) e teve de parar a conversa no meio, sem tempo de dar o lead, porque a pauta do dia virou: de um simples treino para a notícia da contratação do goleiro Aranha, anunciada pelo assessor de imprensa do clube Domenico Bhering.A jornalista pediu licença para a nossa equipe e ligou imediatamente para a Tv Alterosa, para que a notícia entrasse na próxima edição do jornal. Os jornalistas estavam acompanhando o treino do time alvinegro, quando um deles perguntou quais os jogadores iriam participar da coletiva de imprensa. Depois de alguns palpites um jornalista resolveu mudar um pouco as escolhas e justificou o seu critério “eu gostaria de ouvir o Renan (volante), além de ter muito tempo que ele não é escolhido ele fala muito bem” explica. Sendo assim os jornalistas escolheram os jogadores Renan (meio campo) e Welton Filipe (zagueiro).

Toca da Raposa II Os jogadores do cruzeiro começaram a segunda feira se preparando para o primeiro jogo decisivo contra o São Paulo pela copa libertadores da América. Assim que saíram da academia as câmeras de Tv já se posicionavam para não perde nenhum detalhe dos jogadores. Enquanto os jogadores treinavam, o jornalista da Tv alterosa Péricles de Sousa,49,(foto) estava gravando uma reportagem para o programa Alterosa esporte.Depois de dois erros consecutivos, ele consegui ter o seu trabalho concluído na terceira tentativa.O repórter

Foto: Matheus de Azevedo

BASTIDORES

14 a Bastidores

Péricles de Sousa gravando uma repórtagem para o Alterosa Esporte

nos contou como faz para a matéria sair do jeito que ele deseja ““Improviso com o cinegrafista, eu procuro mostrar o que ninguém está mostrando, ou seja, o detalhe”, explica. Antes do treinamento, durante uma conversa, os jornalistas decidiram os três jogadores que participariam da coletiva de imprensa e os escolhidos foram: Henrique, Leonardo Silva e o Gladiador Azul, Kleber. A escolha é feita sem nenhum constestamento, alguns jornalistas dão seus palpites e logo é aceito pelos demais. A coletiva durou uma hora e cada jogador por vez respondeu a varias perguntas dos jornalistas. Os jornalistas, entretanto, não paravam de anotar as respostas dos jogadores. A coletiva na Toca da Raposa II é um pouco diferente da Cidade do Galo. Enquanto no lado Azul os jogadores realizam a coletiva de imprensa ao mesmo tempo para o rádio, Tv e jornal impresso, na Cidade do galo as coisas não são bem assim.No lado alvinegro os jogadores respondem primeiro as perguntas da televisão e jornal imprenso e em seguida é a vez dos jornalistas de rádio fazer as suas perguntas.

Como organizar a noticia A Cidade do Galo e a Toca da Raposa II se transformam em local de trabalho para os jornalistas. Depois de acompanhar os treinos e a entrevista coletiva eles come-

çam a escrever as matérias e transmitir informações ao vivo. Em pouco tempo o jornalista da rádio CBN Cláudio Rezende, 25, prepara qual matéria irá para o ar ele iria conversar com o apresentado ao vivo direto do estúdio. Ele nos explicou como administra o tempo que possui. “Eu coloco a parte mais interessante da entrevista, por exemplo, quando tenho cinco minutos para falar coloco dois minutos de entrevista e os três restantes eu comento”. O jornalista da rádio Inconfidência Paulo Henrique, 26, também conversou ao vivo com o apresentador, mas direto da Cidade do Galo. Os ajustes técnicos são realizados por ele mesmo, o nervosismo toma conta, mas no final as principais informações do dia chegam tranquilamente no rádio do ouvinte. O jornalista ainda contou para a nossa equipe que prefere transmitir as informações ao vivo. A mulher no esporte A Toca da raposa II tinha apenas uma jornalista do sexo feminino. A jornalista do programa Minas esporte Alba Juracy, 25, começou a gostar do futebol porque o pai dela mostrou o esporte desde criança.A jornalista ainda nos conta que a interação com o mundo dos esportes não foi tão difícil “os jornalistas esportivos são muito unidos” justifica.


Opinião a 15

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“Não muda muita coisa do que vem acontecendo no mercado de trabalho. Sabemos que hoje as pessoas atuam sem o diploma. Mas acredito que a formação acadêmica é importante para qualquer profissão e necessária para um bom profissional. Entendo a decisão do Supremo como posicionamento político com uma ponta de represália. E temos que dar uma resposta à altura. Os profissionais devem se empenhar mais e cabe aos estudantes mostrar o valor de ter uma formação superior. Mesmo assim não será o diploma que irá nos valorizar no campo de trabalho.” Aurélio José, jornalista e professor

“Na minha opinião, assim como em qualquer profissão, o jornalista precisa ter uma orientação profissional durante o perído da graduação. Além disso é necessário que ele possua conteúdo” Gil de Carvalho, jornalista da Globo Minas “Só acredito em obrigatoriedade do diploma na medicina e na engenharia. No caso do jornalismo ao tornar obrigatório o diploma para exercer a profissão estaríamos jogando fora a história que alguns locais do país registram. Em especial nos jornais do interior onde geralmente não tem jornalista formado. Sou a favor do fim do diploma, mas não discuto o valor de passar por uma faculdade.” Divino Advíncula, Bacharel em Letras e repórter fotográfico

“O fim da exigência de diploma para trabalhar em jornalismo não significa o fim do Ensino Superior em Jornalismo, nem o fim dos Cursos de Comunicação que nunca foram tão valorizados. Outros cursos, extremamente bem sucedidos e disputados no campo da Comunicação (como Publicidade) não tem exigência de diploma para exercer a profissão e são um sucesso com enorme demanda. A qualidade dos cursos e da formação sempre teve a ver diretamente com projetos pedagógicos desengessados, com consistência acadêmica, professores de formação múltipla e aberta, diversidade subjetiva e não com “especificidade” ou exigência corporativa de diploma.” Ivana Bentes, jornalista, www.cartacapital.com.br

“Pelos corredores da universidade, alunos e professores se olhavam num misto de consternação, receio e certa vergonha. Claro que sempre houve a possibilidade de uma decisão como aquela, na medida em que o assunto seria julgado, mas pelo jeito, não era o que se esperava. Um silêncio cúmplice pairava, e o ar frio e pesado da noite envolvia a todos, como numa espécie de transe, transe de velório.” Rogério Chritofoletti, jornalista e professor monitorando.wordpress.com

O QUE DIZEM OS JORNALISTAS sobre a formação dos profissionais

O dia 17 de junho entrou para a história do jornalismo brasileiro. A data marcou o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. A discussão toma outro rumo e busca uma formação de qualidade que torne o diploma uma necessidade e não uma obrigação. Confira.

JORNALISMO

A resignificação do diploma

Por Áurea Maíra Costa e Hélio Monteiro

“O relatório do ministro Gilmar Mendes é uma expressão das posições patronais e entrega às empresas de comunicação a definição do acesso à profissão de jornalista.” Sérgio Murillo de Andrade, presidente da FENAJ

“A queda da obrigatoriedade não proíbe o funcionamento das faculdades e nem torna ilegais os diplomas já expedidos e a expedir. O diploma não “foi derrubado” nem “está extinto”, como dizem alguns comentários. Estudar jornalismo pode ser bastante útil para se tornar um jornalista, se o curso for bom. Algumas empresas continuarão contratando apenas formados, e é razoável.” Marcelo Soares, blogueiro dicasdeumfucador.blogspot.com


16 a Ensaio fotográfico

Fotos da Savassi e Praça da Liberdade. Por Felipe Rezende e Ana P. Sandiim.

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