OJB Edição 45 - Ano 2017

Page 3

o jornal batista – domingo, 05/11/17

reflexão

3

MÚSICA ROLANDO DE NASSAU

Música nos lares

(Dedicado aos leitores Nor- cra”; então, em 1958, ele convidou-nos ao seu palacete ma e Alfon Kruklis) na Lagoa Rodrigo de Freiizemos algumas visi- tas, para ouvir, em gravação tas e observamos que, completa, o “Requiem”, de em cada uma delas, o Mozart. Em 1961, estávamos em dono da casa exibia Porto Real - RJ, onde enconsua preferência musical. Em outubro de 1954, a tramos um huguenote; agora convite de um colega católi- era industrial na área de refrico da Faculdade Nacional de gerantes; convidou-nos à sua Direito, que desejava inaugu- fazendola, quando ouvimos rar a vitrola (antigo aparelho salmos compostos por Swepara reproduzir sons grava- elinck, seu ancestral. As obras de Palestrina, Hados em disco), fomos ao seu apartamento no Méier - RJ, e endel, Mozart e Sweelinck ouvimos os motetos do renas- foram ouvidas por nós na centista Palestrina, baseados intimidade de alguns lares. no Cântico dos Cânticos, de Por isso, em várias oportuniSalomão; ficamos maravilha- dades, escrevemos que aquedos com a clareza da textura. les eram os “anos dourados”. O desenvolvimento da foEm abril de 1956, fomos convidados por um casal nografia tornou possível a para visitá-los em seu aco- expansão do repertório da lhedor apartamento em Co- música sacra gravado em pacabana - RJ; ouvimos, na disco; ficou muito mais diíntegra, o oratório “Messias”, fícil a escolha de uma obra. de Haendel, impressionados Pressentimos que viriam anos com a competência do coro em que a qualidade do gosto musical decairia. e dos solistas. A decepção ocorreu em Em 1957, fomos a uma bela casa na Floresta da Ti- Brasília, em 2014: em uma juca - RJ, para ouvir trechos visita, durante todo o tempo da cantata “Jauchzet Gott in os adolescentes tocaram um allen Landen” (“Jubilai ao “rock” psicodélico da banda Senhor em todas as terras”), “Pink Floyd” e disseram que BWV-51, de Bach, interpre- aprenderam com seus pais a tados por uma soprano de gostar desses roqueiros cinquentões; tivemos a sensação passagem pelo Rio. Oferecemos ao presidente de uma queda no abismo. Para ajudar nossos leitores, da empresa privada em que trabalhávamos um exemplar inventamos uma tabela, com de “Introdução à Música Sa- escala descendente do nível

F

5 para o nível 1, que serve para avaliarmos a música que ouvimos; serve também para o crente escolher a forma que deve usar no louvor a Deus, para ouvi-la ou cantá-la. O nível 5 é o de maior complexidade composicional e o de maior dificuldade de execução. Tabela de avaliação Nível 5 - música sacra erudita, para coro, composta, nos séculos 16, 17 e 18, na liturgia católica, principalmente por Giovanni Pierluigi Palestrina (1526-1594), Thomas Luis de Victoria (1548-1611), Claudio Monteverdi (15671643) e Antonio Vivaldi (1678-1741); nos séculos 17 e 18, na liturgia luterana, por Heinrich Schütz (15851672) e Johann Sebastian Bach (1685-1750); nos séculos 16, 17 e 18, na liturgia anglicana, inicialmente nas catedrais, por William Byrd (1543-1623), Thomas Tomkins (1572-1656), Thomas Weelkes (1575-1623), Henry Purcell (1659-1695) e William Croft (1678-1727). Nível 4 - música religiosa erudita, para coro, composta por outros compositores católicos, luteranos e anglicanos; nesse grupo, Georg-Friedrich Haendel (1685-1759), que foi “A figura dominante na vida musical inglesa na primeira metade do século 18” (ver: Fellowes, Edmund H. English

Cathedral Music. London: Methuen, 1973). Entretanto, Haendel nada escreveu para os cultos regulares da Igreja Anglicana; nenhuma de suas obras religiosas é apropriada ao uso litúrgico; ele não aceitou o estilo paroquial. Nível 3 - apenas para ilustração do leitor, devemos lembrá-lo de que, ao lado da música erudita do século 16, sacra ou religiosa, existia a salmodia calvinista, composta pelos franceses Claude Marot (1496-1544), Loys Bourgeois (1510-1561) e Claude Goudimel (1510-1572), e pelo holandês Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621), e a salmodia anglicana, pelos ingleses Thomas Sternhold (1500-1549), Francis Rous (1579-1659), Nahum Tate (1652-1715) e Nicholas Brady (1659-1726); depois da salmodia, veio a hinodia primitiva, composta, nos séculos 17 e 18, por Martin Rinckart (1586-1649), Paul Gerhardt (1607-1669), Georg Neumark (1621-1681), Joachim Neander (1650-1680) e Gerhard Tersteegen (16971769), alemães luteranos; somente no século 18, por Thomas Ken (1637-1711) e Isaac Watts (1674-1748), dissidentes ingleses. Nível 2 - a nova hinodia, no século 18, influenciada pelos dissidentes da Igreja Anglicana, representados por Philip

Doddridge (1702-1751), John Wesley (1703-1791), Charles Wesley (1707-1788), John Newton (1725-1807), Augustus Montague Toplady (1740-1778) e Reginald Heber (1783-1826). Nível 1 - a hinodia evangélica dos séculos 19, 20 e 21, representada por Thomas Hastings (1784-1872), Lowell Mason (1792-1872), Fanny Crosby (1820-1915), Robert Lowry (1826-1899), Paul Philip Bliss (1838-1876), Ira David Sankey (1840-1908) e Will Lamartine Thompson (1847-1909); desde o surgimento do “rock”, em 1955, abriga a chamada música cristã contemporânea (roque santeiro), e os cânticos contemporâneos e tolera os “musical shows” (espetáculos musicados), que revelam uma constante e crescente preocupação com o efeito teatral (uma jovem levando ao colo um boneco, para representar a virgem Maria e o Menino Jesus, ou um barítono barbudo, com olhos esbugalhados, no papel de Jesus crucificado); há um marcante declínio na musicalidade. Se tivéssemos essa tabela por ocasião das visitas, poderíamos ter informado aos nossos hospedeiros, se perguntassem, em que nível estava a música em sua casa... Ela estava no nível 5!


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.