30.º Festival Música em Leiria 26 de maio a 30 de junho 2012 O reencontro com o prazer. É comum haver momentos em que paramos para olhar para trás e escolhemos o sentido dos nossos próximos passos: avaliamos o passado, refletimos o presente e perspetivamos o futuro. Seria estranho não o fazer no presente momento, em que se assinala a 30.ª edição consecutiva do Festival Música em Leiria (FML), em que a atividade cultural do País se encontra particularmente debilitada em face das presentes prioridades traçadas no atual cenário político-económico, em que se adivinha um reequacionamento profundo do relacionamento entre o indivíduo e a sociedade nas mais diversas vertentes. A proximidade, seja geográfica seja temporal, é quase sempre um entrave a uma análise lúcida de qualquer situação. É por isso que me é de algum modo difícil traçar um retrato do que tem sido o Festival sem que o envolvimento pessoal de cerca de dez anos com este projeto possa trazer alguma parcialidade nesta análise. Mas mais do que falar da orientação que, ano após ano, os sucessivos diretores artísticos do Festival escolheram dar a cada uma das orientações programáticas, será interessante um olhar retrospetivo para o que verdadeiramente está na origem do Música em Leiria. Será escusado repetir a importância do FML quer para a região quer enquanto agente cultural a uma escala nacional. O Festival é, sem dúvida, um momento único na vida cultural da região, e o seu mais significativo momento no que respeita ao domínio da música. Foi com esse espírito que ele foi criado e é com esse mesmo espírito que permanece hoje. Mas o que está na origem da criação do Festival tem um alcance maior do que a mera oferta de concertos públicos de qualidade. O Festival nasce de uma força endémica, de uma vontade local de qualificar a oferta cultural/musical. Mas antes disso, já se encontrava estabelecida uma tradição musical bem enraizada que se consolidara com a instituição do Orfeão de Leiria enquanto agrupamento coral. O gosto pela música e, mais do que isso, o gosto de fazer música de uma forma espontânea e sincera, porque comportava em si uma componente amadora, foi o que, afinal, esteve na origem do que é hoje o Festival Música em Leiria. É deste reencontro com as origens, num gesto que pretende ser também um tributo ao prazer de fazer e de ouvir música que até aqui nos conduziu, que surge a orientação programática da presente edição do Festival, de imediato visível nos vários formatos em que a música coral é referenciada nos diversos concertos. Paralelamente, reforça-se neste programa a ideia da música enquanto elemento unificador de culturas, que, não olhando a leis ou credos, quebra fronteiras mais eficazmente do que a tinta de mil tratados. O norte e o sul, o oriente e o ocidente, as nossas raízes mediterrânicas de que tanto nos devemos orgulhar pela riqueza da diversidade que nelas soubemos reter, tudo isso encontramos refletido na presente programação, desde os cantos de amor e mistério que nos traz a voz de Arianna Savall logo no concerto inaugural, à sensualidade das melodias árabes contaminadas pelo Jazz e por outras múltiplas tendências com que o cantor e alaudista tunisino Dhafer Youssef encerrará o Festival. Miguel Sobral Cid