Jornal A Parada n.6 - boirboletra

Page 20

anu 07 anos

Em 2008, Anu, de Wilmar Silva, completa 7 anos de publicação. A propósito dessa data, 7 fragmentos do poema são aqui reproduzidos (p. 21~27), juntamente com um trecho da resenha publicada por Alécio Cunha no jornal Hoje em Dia, à época do lançamento (p. 20). Além disso, Alécio conversa conosco sobre Anu e crítica literária em geral (p. 28 e 29).

nu”, novo livro do poeta mineiro Wilmar Silva, que está sendo lançado pela Orobó Edições, de Belo Horizonte, marca um salto radical nas experiências lingüísticas do autor, um dos destaques da atual cena poética em Minas e no Brasil. O título da obra poderia ser tolo trocadilho se não ocultasse uma aventura estética de grandes proporções. Podendo significar tanto o despir-se do poeta como o nome de uma ave, a denominação abre espaço para um vôo lírico, dando asas para a materialidade de sua linguagem, conforme os preceitos do lingüista Roman Jakobson, aqui transmutados ao território da palavra. Silva, autor de “Cilada” e “Seiva”, busca aqui a pré-história da palavra, em um permanente jogo de desconstrução vocabular e síntese semântica. À procura da primeira dentição do poema, ele não se importa em corporificar o balbucio, a palavra em formação, o gesto vocabular inaugural. O resultado pode causar estranhamento, dar a impressão de um enigma cifrado, mas o poeta quer mesmo é demonstrar a força da letra, mesmo em um estado morfológico.

“A

As influências de Wilmar Silva passam necessariamente pelas experiências neoconcretistas de Ferreira Gullar, em especial, o final de “Poema Sujo” e as peripécias gráfico-espaciais de “As Formigas”. O aspecto sensorial de seus poemas aproxima-se mais da gramática do neoconcreto. Há uma preocupação com o rigor da palavra, mas não de forma exacerbadamente racional como no concretismo dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, embora sem a existência deste projeto poético não seria possível suas derivações e antíteses. Silva define sua atual produção como “biopoesia”, uma nova definição para o conceito de Mário Faustino de “vida toda linguagem”. Ator, o poeta sempre teve uma grande preocupação com a mescla de linguagens, levando a palavra ao palco e ao vídeo. Com projeto gráfico do poeta e editor Anelito de Oliveira, “Anu” radicaliza as propostas iniciais do autor, sempre preocupado com questões ecológicas e ambientais, sem nunca cair na cilada panfletária pura e simples.

CUNHA, Alécio. Silva define “Anu” como exemplar da “biopoesia”. Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 23 out. 2001. Caderno Cultura, p.8.

.20


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.