Arte e Política: Inquietações, Reflexões e Debates Contemporâneos

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REFLEXÕES SOBRE ARTE E POLÍTICA

e de sua entronização nos museus, isto é, estar fora dos circuitos da arte, buscando atingir com sua obra, tanto o domínio público (ruas, praças e jardins), como distantes paragens desérticas, como fizeram os artistas do Land Art. Ström observa que em ambos os casos os artistas buscaram um maior diálogo da obra com o lugar e, por meio desta, procuravam transformar o entorno e principalmente agenciar novos espaços políticos para a arte. Arte existencial, arte marginal, letrismo, cobra, arte beat, neodadá, brutalismo, arte funk, novo realismo, internacional situacionista, arte pop, arte performática, GRAV, Fluxus, arte conceitual, earth art, site works, arte povera, e grande parte das vertentes pósmodernas utilizaram e utilizam o espaço público como dispositivo político. Os grafites marginais e as pinturas murais representativas dos grupos étnicos, principalmente os latinos americanos de Chicago, Los Angeles e Nova York ainda hoje são um exemplo marcante do espaço político ampliado pela arte pública. Richard Serra é um dos artistas que contribuiu de forma significativa ao debate sobre o espaço político da arte pública. Os lugares conferem às suas obras existência definitiva, toma os paramentos específicos do lugar como partidos, mas não oferece sua arte para embelezar esse lugar, nem pretende adaptar-se mimeticamente com ele. O que caracteriza suas esculturas inseridas nos espaços públicos é o jogo em provocar e ameaçar a ordem espacial. Além de não fazer nenhuma concessão ao cenário urbano, tão a gosto dos arquitetos que ele repudia, utiliza suas esculturas para decompor lugares subversivamente. Sobre a sua polêmica obra Tilted Arc (1987) escreveu o seguinte: Na praça existe uma fonte e as pessoas esperavam que houvesse uma escultura junto a ela, de modo que o conjunto se tornasse mais bonito. No

entanto descobri um caminho para dissociar ou alterar a função decorativa

da praça e para que as pessoas se integrassem ativamente no contexto da escultura. (SERRA apud GERMER, 1992, p. 61).

As obras de muitos outros artistas e coletivos de ação direta apresentam algumas proposições fundamentais para compreender os caminhos que tem tomado a arte pública contemporânea. Primeiro, o vínculo direto da obra com o contexto “site”, em segundo, a constatação de que os artistas utilizam a ARTE PÚBLICA como dispositivo político para provocar tensões, despertar, revelar, expor, fazer lembrar, rememorar, dizer como foi um dia, atravessar, entrar, escancarar, agredir, marcar, dividir, somar, atuar, vomitar, estar no entre, penetrar, transgredir, somente riscar, posicionar e relacionar. Um desafio artístico está presente nas obras de Giovanna Zimermann (Figura 1), Nani Eskelsen (Figura 2), Teresa Siewerdt (Figura 3), Piatan Lube (Figura 4) e tanto outros artistas que vêm atuando no espaço público como dispositivo de provocar situações, fazendo da Arte Pública contemporânea um palimpsesto da cultura urbana e, acima de tudo, um espaço político.

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